Elson Levi Eustaquio Pinto, MM

O livro intitulado “Conspiração Casanova”, de Jacques Ravenne e Eric Giacometti, é um suspense policial, narra uma estória que se passa nos tempos atuais, envolvendo e entrelaçando com fatos do passado.

Não é intenção, relatar a estória do livro, mas um fato que chama a atenção, refere-se de um personagem do livro, que a maioria já ouviu falar, trata-se de “Casanova”. 

Quem foi Casanova?

Giacomo Girolano Casanova (simplesmente Casanova), nasceu em Veneza, Itália, em 2 de abril de 1725 e morreu em Duchcov, Reino da Boêmia, hoje República Tcheca,  em 4 de junho de 1798.

Filho de Gaetano Giuseppe Casanova e de Zanetta Farussi, ambos atores de teatro, desde cedo, foi entregue aos cuidados da avó materna,  tendo em vista que, os pais, viajavam constantemente com a companhia de teatro.

Na adolescência, residiu na casa de um abade enquanto estudava direito na universidade, também aprendeu filosofia, matemática, música e medicina. Tentou seguir a vida eclesiástica e depois a militar, porém em ambas, ele não se adaptou. 

Mas a vida lhe reservou outros destinos. Casanova gozou seus plenos setenta e três anos apaixonantes, marcados, sobretudo pelas suas aventuras amorosas, jogatina e festas. 

Foi perseguido e preso em Veneza, 26 de julho de 1755, sendo condenado a cinco anos de prisão, sob a acusação de levar uma vida dissoluta (libertina), de possuir e divulgar livros proibidos e de fazer propaganda antirreligiosa. 

Na madrugada do dia 1 de novembro de 1756, conseguiu fugir da prisão e foi viver na cidade de Munique, na Alemanha, em seguida, passou a morar em diversos países, entre eles: França, Suíça, Itália, Inglaterra, Bélgica e Espanha. Como lembranças, ele deixava para traz, amantes, dívidas de jogo, amigos e inimigos. 

Entretanto nesse período, teve o privilégio  conhecer e conviver como muitos personagens relevantes da sua época, para citar alguns: Rousseau, Voltaire, Diderot, D’Alembert e outros nomes expoentes da cultura europeia. 

Pelo lado cultural e intelectual, escreveu 42 livros, traduziu “Iliada” de Homero do grego para o italiano e deixou um romance de ficção em cinco volumes, além disso, era um profundo conhecedor de filologia, teologia, matemática, física e música, tendo sido até violinista profissional. 

Regressou, a Veneza, dezoito anos mais tarde, em 1774, com a incumbência de escrever relatórios secretos para a Inquisição de Veneza, “ entregando” as pessoas em que ele frequentava, com as suas longas noites de jogatina e festas, nos seus tempos de juventude.

Em 1785, já com idade avançada, foi nomeado bibliotecário do Conde de WaldsteinWartenberg, em Duchcov, na Boêmia, permanecendo no cargo até o fim de sua vida.

Dedicou os seus últimos anos à escrita de um romance, Isocameron e especialmente, à redação das suas memórias, História da minha vida

O outro lado da vida de Casanova

Esse homem, por diversas vezes retratado no cinema, em séries de TVs e na literatura, sempre foi e é apresentado, por uma aura mágica que envolve toda a sua vida de debochado, libertino, escroque, jogador inveterado e conquistador empedernido, que percorria as grandes Salões das cortes e os bordéis das cidades, por onde passava; colecionando mulheres, de todos os tipos, das meretrizes do mais baixo nível, às senhoras e senhoritas da nobreza e da burguesia europeia.

Pois bem, ele tinha outro lado da vida, pouco conhecido, ele era Maçom. Para Alguns historiadores maçônicos, esse homem oportunista, que só viveu para o ócio, a libertinagem e à custa dos outros, usava a maçonaria para “abrir as portas” nos mais altos círculos das sociedades europeias daquela época. 

Entretanto, outros afirmam que, Casanova, levava Maçonaria muito a sério. Ele foi iniciado na Franco-Maçonaria, em Lyon, França, em 1750. Esse é um fato desconhecido, por muitos e pouco explorado de sua identidade esotérica. 

Casanova, dedicou sua vida aos estudos do ocultismo e dos mistérios, frequentou as antigas escolas de alquimia e cabala. Casanova desvendou os segredos da Alquimia e completou o Magnum Opus – a Grande Obra – descobrindo o segredo da Pedra Filosofal, tal como fez, seu companheiro de estudos, Saint-Germain.

A Maçonaria do século XVIII, da qual fizeram parte Casanova e outros personagens ilustres, era um tanto diferente do que temos hoje, principalmente em questão de práticas. A Fraternidade, a Espiritualidade e a busca pelos mistérios eram parte da rotina maçônica. 

A mensagem de Casanova era como um aviso aos que desejam entrar na Maçonaria e aos que lá permanecem e sentem que existe algo faltando no âmbito espiritual. Somente aqueles que ingressarão e os Maçons ainda dispostos a mudar essas condições, conseguirão restaurar o espírito da Franco-Maçonaria em suas Lojas. Aqueles que desejam se dedicar a Magnum Opus revelada através da Arte Real ensinada pelos rituais da Maçonaria.

Como Casanova via a Maçonaria?

Casanova descreveu os seguintes comentários a Maçonaria:

 “Foi em Lyon que um respeitável indivíduo, que conheci na casa de M. de Rochebaron, obteve para mim o favor de ser iniciado na sublime ordem da FrancoMaçonaria. Eu cheguei em Paris um simples Aprendiz; poucos meses depois de minha chegada eu me tornei Companheiro e Mestre; o último é certamente o maior grau da Franco Maçonaria, todos os demais graus que iniciei depois são apenas invenções agradáveis, que, além de simbólicos, nada acrescentam à dignidade do Mestre. ”

“Ninguém nesse mundo pode obter conhecimento de tudo, mas todo homem que se sente dotado de faculdades e consegue perceber a extensão de sua força moral, deve esforçar-se para obter a maior quantidade possível de conhecimento. Um jovem bem-aventurado que deseja viajar e conhecer não só o mundo, mas também o que é chamado de boa sociedade, que não quer se encontrar, em certas circunstâncias, inferior aos seus iguais, e evita sua participação em prazeres mundanos, deve iniciar-se no que é chamado de Maçonaria mesmo que seja somente para conhecer superficialmente o que é a Franco-Maçonaria”.

“É uma instituição de caridade, que em certos tempos e em certos lugares, foi pretexto para criminosos agirem contra a ordem pública, mas existe algo abaixo do céu que não foi deturpado? Não vimos os Jesuítas, abaixo das vestes da santa religião, impulsionar a mão com a adaga cujos reis deveriam ser assassinados? ”

“Todos os homens de importância, eu me refiro aqueles cuja existência social é destacada pela inteligência e mérito, pelo aprendizado ou pela prosperidade, possam ser (e muitos destes são) Maçons. É possível supor que tais significados no qual os iniciados, fazendo a lei de nunca falar entre si sobre política, ou de religião, ou de governos, conversem somente emblemas de moral triunfante? (…)”

“Mistério é a essência da natureza do homem, e tudo que se apresente para a humanidade abaixo de uma aparência misteriosa, sempre existirá a curiosidade e será investigado, mesmo quando os homens estão certos que os véus nada cobrem além de um código cifrado. ”

“Sobre tudo, eu gostaria de advertir os jovens bem-aventurados que desejam viajar (buscar o conhecimento) a se tornarem Maçons; mas gostaria de adverti-los para serem cuidadosos em escolher uma Loja, porque, embora a má companhia não possa influenciar enquanto dentro de uma Loja, o candidato deve-se guardar contra conhecimentos ruins. ”

Segredos da Maçonaria segundo Casanova:

“Aqueles que se tornam Maçons apenas para uma questão de descobrir o segredo da Ordem, correm o grande risco de envelhecerem encobertos de sombra, ou sob a colher de pedreiro, sem nunca descobrir os propósitos da Ordem. Porém há um segredo, mas é tão inviolável que este nunca foi confidenciado ou murmurado para ninguém. Aqueles que param sua jornada na crosta externa imaginam que o segredo consiste em palavras passe, sinais e toques ou que o principal segredo será encontrado somente ao alcançar o grau mais alto. “

“Esse é um ponto de vista equivocado: o homem que advinha o segredo da Maçonaria, e para sabê-lo você precisa adivinha-lo, alcança esse ponto somente por um longo comparecimento em Lojas, através do profundo raciocínio, comparações e deduções. Esse homem não confiaria o segredo nem ao seu melhor amigo da Maçonaria, porque ele está ciente de que se seu amigo não descobriu, ele não poderia fazer nenhum uso deste após ter sido sussurrado em seu ouvido. Não, eles mantem sua paz, e o segredo será, portanto sempre um segredo. ”

“Tudo feito em Loja precisa ser um segredo; mas aqueles que inescrupulosamente revelaram o que foi feito em Loja, são incapazes de revelar o que é realmente essencial; eles não têm o conhecimento do segredo, e se soubessem, eles certamente não teriam revelado o mistério das cerimônias.·. ”

Bibliografia  

Bianchini, M. F. O Segredo da Maçonaria Segundo Casanova

Ravenne, J et Giacometti, E., Conspiração Casanova

Hamal, Franco Maçonaria por Giacomo Casanova 

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