Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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A conquista do ocidente pelos cristãos

por Sérgio Koury Jerez

 Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae ecclesiae commoveret auctoritas[1]

“Como todas as civilizações, a nossa é uma conspiração. Um sem-número de divindades, cujo poder advém apenas do fato de aceitarmos não discuti-las, desvia o nosso olhar do semblante fantástico da realidade. A conspiração existente empenha-se em levar-nos a desconhecer a existência de um outro mundo dentro daquele que habitamos, a presença de outro homem no interior do que somos. Torna-se necessário romper esse pacto, transformando-nos em bárbaros e, mais que tudo, sermos realistas, ou seja, partirmos do princípio de que a realidade nos é desconhecida. Deveríamos, para tanto, utilizar sem restrições os conhecimentos que se acham à nossa disposição, estabelecendo entre os mesmos relações inesperadas e prestando aos fatos um acolhimento isento de preconceitos antigos ou modernos. Precisaríamos nos comportar, no meio dos produtos do saber, como espíritos estranhos, alheios aos costumes consagrados e esforçando-nos por compreender. Estaríamos, assim, aptos a ver, a cada instante, o aparecimento simultâneo do fantástico e da realidade.”

                                                       Louis Pauwels e Jacques Bergier, em “O homem eterno”

 Introdução

As religiões, como as demais formas de cultura, são frutos de um processo lento, porém contínuo, de acumulação e transformação de conhecimento através da interação do homem com o meio e com outros grupos sociais. Experiências, tradições, rituais e símbolos vão-se somando e, reciprocamente, se modificando, formando um amálgama às vezes tão coerente, coeso e completo que é quase impossível para o praticante religioso enxergar qualquer coisa fora de sua fé, tal a forma como ela se apodera de sua escala de valores e de sua razão.

A adoção do cristianismo pelo império romano

No início do século IV, a velha religião de Roma dava visíveis sinais de decadência. O panteão romano, que tivera nos deuses gregos sua fonte de inspiração, já não atendia mais aos anseios dos que viviam próximos à corte, nem aos dos habitantes das longínquas colônias. O próprio imperador, antes um eleito dos moradores do Olimpo, parecia não mais gozar da consideração divina como os césares de outrora. Ao mesmo tempo em que transformava a cultura dos povos conquistados, Roma também era transformada por eles, absorvendo seus mitos e suas crenças, e perdendo, com isso, muito de suas tradições religiosas.  Eram tantos os deuses e tão ricas as mitologias trazidas pelas milícias que voltavam das campanhas, que a metamorfose e adaptabilidade das divindades, antes um trunfo do império para impor sua cultura aos conquistados, começava a descaracterizar os objetos de culto, fazendo-os perder sua identidade. Tanto é assim que, impotente para impor sua fé a todos os súditos, no ano de 313, o imperador Constantino[2], acompanhado de Licínio, tetrarca oriental, e buscando aplacar as revoltas que vicejavam em todo o império, promulgou o Édito de Milão, também chamado de Édito da Tolerância, declarando a neutralidade de Roma com relação aos credos religiosos e acabando oficialmente com toda perseguição, por motivos de fé, do Estado contra seus cidadãos. Com isso, decretava a falência do modelo religioso herdado da Hélade.

Roma, que havia sido cidade-estado grega, tinha uma estrutura religiosa decorrente desta condição. Mas, com a expansão do império, pouco a pouco vinha sendo infiltrada por seitas das mais variadas tendências. Mitraistas, cristãos, israelitas, baalitas etc., além dos seguidores dos filósofos gregos – considerados rebeldes e, por isso, marginalizados – disputavam um lugar na mente e no coração do povo romano.

Talvez por não dispor de uma teologia unificada e de princípios doutrinais consistentes, e pelo fato de que os valores que a regiam fossem baseados no direito e na retórica – e não na religião – a cultura romana, quando as primeiras crises econômicas e sociais se abateram sobre o império, não dispunha de deuses nativos que pudessem trazer “alívio” ao sofrimento popular, pelo menos não nas proporções requeridas. Isso criou um campo fértil à proliferação das religiões salvíficas, que exigiam de seus seguidores um forte envolvimento pessoal. Se a moral religiosa até então vigente se baseava no fato de poder-se atrair o beneplácito ou a ira das divindades no aqui e agora, algumas das religiões forasteiras – especialmente o mitraismo e o cristianismo – traziam novas possibilidades, expandindo sua “área de atuação” a níveis esotéricos antes jamais imaginados pelos romanos. Se o antropoteísmo olímpico era forte na representação do caráter humano, suas qualidades e defeitos, os seguidores de Mitra[3] e Cristo podiam sonhar com mais: a superação das vicissitudes terrenas pela elevação do indivíduo a uma condição sobre-humana – e praticamente semidivina – após a morte, desde que se ativesse a viver uma vida ascética.

É muito provável que o mitraismo tivesse, à época da promulgação do édito, um número de adeptos bem superior ao de cristãos. Afinal, as escaramuças, batalhas e guerras de Roma contra os persas – povo que teria sido alvo das revelações de Mitra – faziam com que a religião desses últimos exercesse forte influência sobre as tropas do império latino, causando inquietação na corte.

Uma religião controlada por inimigos oferecia um perigo enorme à estrutura de poder do império. Se o mitraismo – que incorporava a veneração a Mitra – controlasse as mentes, a conquista dos territórios romanos pelos persas seria uma questão de tempo. Constantino, na medida em que ele mesmo cultuava o deus Sol[4] – culto do qual era sumo-sacerdote – sabia disso e talvez temesse uma conversão em massa de seus governados para a religião persa. Em Roma, a exemplo de todas as civilizações antigas, religião e governo andavam de mãos dadas, com os sacerdotes atuando sob a vigilância – ou, pelo menos, com a complacência – do estado e fazendo o papel de divulgadores da moral a ele (governo) conveniente. Desde o ano 44 a.C., quando Cesar Augusto reivindicara para si o título Filho de Deus (Divi filius, em latim), todos os imperadores romanos haviam assumido status de divindade. A crise que se abatia sobre o império, com rebeliões, inflação alta, insurreições, era um caldo de cultura para o enfraquecimento generalizado das instituições e levaria, inexoravelmente, e caso medidas drásticas não fossem tomadas, à derrubada do imperador e ao fim da hegemonia romana sobre suas colônias. A divindade imperial corria sérios riscos.

Movido pela idéia de afastar o mitraismo do império e de aplacar as revoltas nas províncias, Constantino enxergou no cristianismo uma oportunidade de manter sua soberania e garantir o controle sobre as populações. Talvez motivado pelas experiências da mãe[5], que se tornara adepta dos pregadores daquele ramo da religião israelita, o imperador e seus asseclas arquitetaram um plano que culminou com a realização do Concílio de Nicéia, no ano 325, e resultou na criação daquela que seria chamada de religião Católica Apostólica Romana. Católica, que significa universal, porque se pretendia que fosse praticada em todos os rincões do império; apostólica, porque era transmitida por apóstolos, ou seja, por aqueles que assumiam a missão de divulgar os preceitos do cristianismo, e romana, porque, a partir de então, o centro do poder se encarregaria de zelar para que, em termos religiosos, nada fugisse ao seu controle.

Sob a tutela do imperador, e certamente intimidados pela sua força, cerca de 300 bispos decidiram o que, da doutrina original cristã e das lendas que a envolviam, seria dali em diante aceito como verdade e o que dela seria eliminado. Vários relatos sobre a vida e os feitos de Jesus foram declarados falsos, aceitando-se apenas quatro deles,  e foi adotado o conceito de consubstancialidade entre ele e Deus. As convicções de Ário, bispo de Alexandria, defensor da condição humana daquele líder judeu, foram derrotadas e consideradas heréticas depois de grande controvérsia.

A religião que surgiria do concílio, diferentemente de suas concorrentes de então, seria centralizadora, autoritária, pautada pela rigidez, pela aceitação incondicional de dogmas, pelo conformismo como forma de superação das dificuldades do cotidiano e pela busca da santificação em detrimento de eventuais prazeres mundanos. Impelia o adepto a aceitar os sofrimentos e tribulações da vida diante da promessa de felicidade após a morte. Fez do exemplo através do altruísmo e da solidariedade o fermento de sua proliferação, e pela simbiose entre governo e igreja obteve a certeza de que aquilo que não fosse conquistado pela fé seria garantido pela força. De 8.000 praticantes no ano 100, já contava com 33 milhões em 350.  Constantino teria tanto sucesso na criação da religião imperial que, passados mais de mil e seiscentos anos, ela ainda prevalece em todo o ocidente. Como não poderia deixar de ser, e consoante com os ideais de conquista e domínio do império, o latim seria definido como seu idioma oficial e Roma como sua cidade-sede. Quanto ao imperador, seria declarado “bispo dos bispos” pelos líderes cristãos de então.

Conta a história que, ao contrário do que se poderia esperar, Constantino[6] jamais se converteu à nova religião. Teria apenas concordado em ser batizado no seu leito de morte, embora ainda no dia anterior houvesse oferecido um sacrifício a Júpiter. Depois disso, ainda se passariam 43 anos para que, sob o governo de Teodósio, em 380, através do Édito de Tessalônica, o cristianismo se tornasse a religião oficial do Império Romano.

Com isso, apoiada no pretexto de melhorar o mundo sob a tutela de um deus de amor e compreensão, mas tendo, de fato, como pano de fundo a preservação do poder e a unidade de seu território, Roma daria início a um dos períodos mais sombrios da história da humanidade[7], impondo um modelo de pensamento único que rechaçaria, expurgaria e esmagaria qualquer alternativa que não houvesse sido gerada no seu próprio ventre, embora – a bem da verdade é preciso que se diga – tenha sido complacente com a absorção de deuses pagãos sempre que isso se mostrou conveniente à expansão de seus domínios.

A partir daí, fundamentada nas tradições judaico-cristãs, mas profundamente enraizada no arcabouço mítico-religioso do zoroastrismo – em especial na sua vertente mitráica – a igreja de Roma foi, pouco a pouco, ampliando sua zona de influência até extrapolar as fronteiras do Império, como almejavam aqueles que a conceberam. E seus conceitos, hierarquias e estruturas doutrinárias se demonstraram tão eficientes que, mesmo quando a própria Roma imperial sucumbiu às invasões bárbaras, pode prosseguir firme em seu caminho.

Uma religião, muitas faces

Muito do poder e da influência do cristianismo advieram da sua capacidade de adaptação às crenças dos povos que pretendeu conquistar. Especialmente na igreja católica romana, a transformação de divindades pagãs em objetos de culto cristão sempre foi uma constante.  Trazendo consigo suas tradições sacras, liturgias e peculiaridades, essas divindades transformadas adquiriam feições cristãs próprias, na mesma medida em que os rastros de sua origem se perdiam no tempo. Os cultos à deusa-mãe retratam bem essa característica. No entanto, a mais notável absorção mitológica do cristianismo parece ser, efetivamente, a da religião mitráica.

Existem indícios de que o culto a Mitra já era praticado antes de 2.000 a.C.. A primeira menção a ele é de 1.400 a.C., descrito como o deus do equilíbrio e da ordem do cosmos. Por volta do século V a.C., passou a integrar o zoroastrismo persa, a princípio como senhor dos elementos e, depois, sob a forma definitiva de deus solar. Levado à Grécia pelas tropas de Alexandre, integrou-se aos cultos locais como um deus do bem. Sua influência no cristianismo se dá sob distintas formas e em diferentes aspectos tradicionais, como, por exemplo:

  • O nascimento de Mitra era comemorado no solstício de inverno do hemisfério norte. No calendário romano este solstício, por um erro que não cabe aqui discutir,  acontecia no dia 25 de dezembro. Na madrugada de 24 para 25 os romanos comemoravam o “nascimento do Invicto”, associando o surgimento do sol com o nascimento do menino Mitra;
  • O líder do culto mitráico era chamado, a exemplo do papa, de pater, e governava de um “Mitraeum” na Colina Vaticano, em Roma;
  • a Basílica de São Pedro foi construída sobre o local do último culto mitráico: o Phrygianum.[8]
  • Mitra nasceu numa manjedoura e foi venerado por humildes pastores;
  • Durante sua vida terrena Mitra manteve-se casto, pregou a irmandade universal e operou inúmeros milagres;
  • Celebrou uma Ceia, junto com 12 discípulos, antes de voltar para a casa do Pai;
  • Ascendeu ao Céu de onde prometeu voltar no fim dos tempos para o Juízo Final;
  • Garantiu a vida eterna a quem se batizasse;
  • Mitra foi gerado por uma virgem à qual se denominava “Mãe de Deus”. Não se pode dizer, no entanto, que o episódio da mãe virgem fosse uma herança apenas mitráica, já que ocorre em outras tradições e mitologias. Uma das lendas sobre Buda, por exemplo, diz que ele era filho de uma princesa virgem, por obra de uma divindade, representada por um elefante branco, que a atingira por um raio de luz;
  • A Igreja cristã incorporou várias práticas mitráicas, como a liturgia do batismo, da crisma, da eucaristia[9], da páscoa[10], e a utilização do incenso, das velas, dos sinos, etc. Até as vestimentas usadas pelo clero católico são extremamente parecidas com as dos sacerdotes de Mitra, como a tiara, a mitra e o anel;
  • São Justino Mártir atesta que existia uma eucaristia de Mitra onde os fiéis compartilhavam pequenos pães redondos e água[11] consagrada simbolizando, respectivamente, a carne e o sangue do deus encarnado;
  • A tradição dizia que Mitra encarnou-se para viver entre os homens e que morreu para que todos fossem salvos. Os fiéis comemoravam a sua ressurreição durante cerimônias onde eram proferidas as palavras: “Aquele que não comer o meu corpo e beber o meu sangue, ainda que ele seja em mim e eu nele, não será salvo.”;
  • Mesmo a passagem sobre os reis magos, que a tradição popular chama de reis, mas que seriam apenas sacerdotes zoroastristas, pode ser encarada como uma lenda cujo objetivo principal era mostrar que Cristo era maior que Zoroastro, já que até os sacerdotes deste último lhe rendiam culto[12].
  • Só os homens podiam sagrar-se sacerdotes mitráicos.

No sincretismo, a longevidade

Do ponto de vista histórico, não há como tratar qualquer religião de forma estanque, dissociada de influências, tanto as da época em que foi concebida como as que se sucederam desde então. O cristianismo não é, definitivamente, uma exceção, e as bases de sua formação têm raízes em inúmeras crenças não só meso-orientais, mas naquelas provenientes de todos os cantos do mundo antigo. Ecos de várias culturas são identificáveis nas religiões cristãs – especialmente na católica romana, mais suscetível e adaptável ao meio. Poderíamos citar aqui centenas delas, a começar pelo primitivo culto a Ki, a mãe-terra, passando pelas religiões mesopotâmicas, pelo judaísmo, desviando pela mitologia egípcia, com Osíris, e culminando, mas não encerrando essa relação, com a reverência à trindade, muito possivelmente introduzida na república romana através dos cultos órficos e do pitagorismo, séculos antes do nascimento de Jesus.

Mesmo depois de assentados os seus alicerces, e demonstrando perfeito domínio sobre sua estrutura administrativa e suas práticas, a tradição católica jamais hesitou em incorporar, à sua multidão de santos e beatos, elementos provenientes de credos pagãos. Sinteticamente, foi isso que, associado a uma extraordinária competência catequética, permitiu sua expansão a domínios sequer imaginados pelo próprio império romano que lhe deu origem.

Hoje o cristianismo, sob diversas denominações[13], ainda é a fé mais difundida no mundo, sendo praticado por cerca de dois bilhões de pessoas, concentradas em sua maioria no hemisfério ocidental. Após seus primeiros anos no Oriente Médio, propagou-se pela Europa e, posteriormente, estendeu-se, pelas mãos dos conquistadores e seus acompanhantes religiosos, às Américas, Oceania, África subsaariana etc., tendo chegado até mesmo a regiões do Extremo Oriente. Para conquistar almas e corações, na maioria dos lugares onde se fixou acrescentou cores locais ao seu arcabouço teológico, o que lhe garantiu, e permanece garantindo, a força e a longevidade.

Conclusão

Não há como discordar de Ernst Cassirer[14] quando ele afirma que “De todos os fenômenos da cultura humana, o mito e a religião são os mais refratários a uma análise meramente lógica.” São tantas as variáveis envolvidas e tão intrincadas as relações entre seus componentes mitológicos, sociológicos, políticos e geográficos, que dificilmente alguém pode dar por definitiva qualquer avaliação crítica de história religiosa. Foi este o ponto de vista que norteou este artigo.

De todo modo, essencial para entender o hoje e saber como poderá ser o futuro, é compreender como chegamos aqui. E por serem, as religiões, tão determinantes no caminhar da humanidade, estudá-las e desvendar o seu papel na formação das culturas em todos os tempos é fundamental. Desde os primitivos agrupamentos de caçadores-coletores até as comunidades científicas atuais, as perguntas são as mesmas, embora as respostas variem segundo o clima, a topologia, os recursos e desafios da natureza e, mais recentemente, a disponibilidade de tecnologia. Fruto das necessidades psicológicas humanas, a compreensão das razões de ser do mundo e da vida continua longe de chegar a um fim consensual. Explicações há muitas, mas poucas são as certezas. Logo, é indispensável prosseguir na procura de respostas.

Assim sendo, e para finalizar, é importante fazer a defesa da investigação da verdade, esse extenuante exercício, cada vez mais difícil num mundo dominado e sufocado pela comunicação de massa. Mesmo diante da constatação de que, se não há mérito na ignorância, tampouco haveremos de encontrá-lo intrinsicamente no conhecimento, o conhecer nos permite lidar melhor com o mundo em todos os seus níveis. E, somado à sabedoria, tornará mais efetiva a prática da arte-real, ampliando nossas chances de contribuir para o aperfeiçoamento dos costumes e para a harmonia universal.

Os que querem se dedicar ao livre-pensar devem, portanto, destemidamente, embrenhar-se na aventura arriscada e cheia de obstáculos que é a busca da verdade, sempre que isso puder conduzir à ruptura dos grilhões psicológicos que acorrentam a humanidade. Algumas vezes deparar-se-ão com caminhos tortuosos, com vias sem saída ou com trilhas circulares. Muitos, como mostra a história, terão que travar encarniçadas lutas contra a tirania mental e a sujeição intelectual, e ficarão indelevelmente marcados por isso. Uma parte deles, significativa, sucumbirá sem alcançar seu objetivo. Mas haverá aqueles que sobreviverão à jornada e, vencedores, deixarão registros de suas descobertas para que seus Irmãos possam ir ainda mais longe. A eles a glória, em nome da verdadeira liberdade!

Notas  

[1] “Eu não acreditaria no Evangelho se a autoridade da Igreja Católica não me impelisse a isso” (Sto. Agostinho – Contra epistulam Manichaei quam vocant fundamenti, 5,6).

[2] Segundo os relatos do bispo cristão e historiador do século IV, Eusébio de Cesaréia (vide nota 5), Constantino I, o Grande, teria tido, em 312, uma visão em que aparecia uma cruz no céu acompanhada das palavras In hoc signum vinces  (com este símbolo vencerás). Movido por esta aparição, Constantino haveria, durante a batalha contra Maxentius, ordenado que seus soldados pintassem uma cruz sobre seus escudos. Com isso, as tropas do imperador, embora em minoria, teriam imposto uma fragorosa derrota ao adversário.

[3] Alguns estudiosos preferem a grafia Mithra, com “h”,  para a versão romana do deus e adotam a escrita sem “h” para o deus védico, mais antigo. O nome também aparece grafado com “s“ no final. Como aparentemente não há consenso, inclusive sobre uma possível origem comum para ambas as versões, este artigo adota a versão mais simplificada, ou seja, Mitra.

[4] O culto ao deus sol era generalizado em todo o Oriente Médio.  O zoroastrismo, na figura de Mitra, também foi fortemente influenciado por ele. Para Zoroastro, Mitra era o Deus Criador. O mitraísmo começou a ser introduzido no império romano no século I a. C. e foi ganhando espaço nas crenças religiosas do povo.  Em 270 d.C., o imperador Aureliano oficializou um culto ao Sol, fazendo dele um deus que seria a principal divindade do império. Embora não associado formalmente a Mitra, o Sol de Aureliano tem muitas características próprias do mitraísmo, incluíndo a representação iconográfica do deus jovem e sem barba. O adoração do Sol Invictus (Sol Invencível) continuou a ser uma das bases de sustentação do paganismo oficial até ao triunfo da cristandade.

[5] Santa Helena, para os católicos. Foi acusada pela morte da mulher de Constantino, Fausta, sufocada num banho de água escaldante.

[6] Entre as incontáveis atrocidades que cometeu, constam que o imperador ordenou a morte de seu próprio filho, mandou estrangular o marido de sua irmã e chicotear o sobrinho até a morte. O bispo Eusébio de Cesaréia, em êxtase, chamou-o de “amigo e predileto de Deus”.  Como sua mãe, é considerado santo pela igreja católica.

[7] “…se um golpe de estado, dado pelos centuriões adoradores de Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer o cristianismo como a religião oficial do Império, o mitraísmo poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assistência teológica da heresia maniquéia e seus epígonos, assumindo “ipso facto” que os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido simultaneamente anulados e, talvez, com um número crescente de crucificações. Esta ausência do cristianismo, devido à continuação do mitraísmo no Ocidente, teria obstado o crescimento do Islã no século VII e a violência das Cruzadas necessariamente não teria ocorrido.” (CARVALHO, William Almeida,  Ascensão e queda do deus Mitra – Pietre-Stones)

[8] CARVALHO, William Almeida, Op. Cit.

[9] “O combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagão pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C.) que afirmava que esta religião utilizava indevidamente o batismo e a consagração do pão e do vinho. Dizia, ainda, que o mitraísmo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristãos com o intuito de levá-los para o inferno.” (CARVALHO, William Almeida, Op. Cit.)

[10] A páscoa já era celebrada pelos Babilônios, devido ao culto a Dagon, na semana de lua cheia da primavera (abril-maio, no hemisfério norte). É obrigatório, no entanto, mesmo diante da hipótese de que a origem seja a mesma, considerar a herança israelita da comemoração da festa do Pesach.

[11] Alguns achados arqueológicos revelaram que se tratava de pão e vinho.

[12] Apenas a título de curiosidade, lembramos que os nomes Baltazar, Melquior e Gaspar são de origem persa. Significam, respectivamente, rei-deus (ou deus-rei; etimologicamente, provém de Baal Shazzar), cidade-real e guardião do tesouro.

[13] Cerca de 38.000, segundo a Wikipedia.

[14] Em sua obra “Ensaio sobre o Homem”.

Bibliografia

 

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