Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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França – A Ruptura com a GLUI

Tradução José Filardo

Conde de Clermont, O filhinho do Rei Sol

Importada da Inglaterra, a maçonaria rapidamente se aclimataria na França. Com a eleição em 1743 de Louis de Bourbon-Condé, conde de Clermont, ela tem como grão-mestre um príncipe de sangue, educado, mas mais interessado em seus prazeres que nas especulações filosóficas.

Sainte Beuve pintou este retrato vívido: “príncipe de sangue, abade, militar, libertino, amante das letras e dos meios acadêmicos, da oposição ao Parlamento, devoto em seus últimos anos…”

Nascido em Versailles em 15 de junho de 1709, Louis de Bourbon é o filho mais novo do 6º príncipe de Condé e da Senhorita de Nantes, filha legitimada de Louis XIV e de sua amante Montespan. Tonsurado com a idade de 9 anos, com o título de conde de Clermont, ele recebe em comenda as ricas abadias, antes de obter do papa a missão de portar armas. “Metade plumas, metade bandas”, tenente general do rei e provará seu valor nos Países Baixos e na Boêmia. E assim, seu renome militar será empanado pela derrota de Crefeld em 1758, diante das tropas hanoverianas. Mas, neste meio-tempo, Clermont terá sido eleito grão-mestre de todas as lojas regulares da França…

É por volta de 1725 que nobres emigrados jacobitas, fiéis aos Stuarts implantam a maçonaria na França. O primeiro grão-mestre de fato será Charles Radclyffe, 5º conde de Derwentwater. Em 1738, Louis Antoine de Pardaillan de Gondrin, Duque d’Antin o sucederá, enfrentando assim a ameaça de Louis CV que falava em mandar para a Bastilha todo francês que aceitasse ser grão-mestre! Cinco anos mais tarde, com a morte do duque d’Antin – e para se colocar sob as boas graças do poder – os Irmãos vão colocar no comando da ordem um filho do Rei-Sol.

A eleição do Conde de Clermont parecia hábil no plano político, mas ela se revelaria pouco benéfica para a Ordem. Constituída em filial da Grande Loja da Inglaterra, a Grande Loja de França pouco se preocupa este príncipe epicurista, mais ávido de glória e de amor que de estudos sérios. Não que ele não seja educado nem avido de belos espíritos. E ele chegará, por vezes, a testemunhar algum interesse em relação à maçonaria – com o desprendimento característico de grande senhor. Sua “academia do Petit-Luxembourg” reunia sábios e artistas e ele virá, em 1756 a se fazer eleger para a Academia Francesa, onde ele comparecerá muito raramente. Porque, apaixonado pelas letras, Louis de Bourbon-Condé se apaixona mais ainda pelas dançarinas da Ópera. E uma delas, Elisabeth Leduc lhe dará dois filhos.

Para administrar a Grande Loja, Clermont nomeia um substituto na pessoa do banqueiro Baure, com o título de Grão-Mestre Adjunto. Mas este também se revela tão pouco zeloso quanto o seu comitente. A anarquia ganha as lojas, em Paris quanto nas províncias. Cada venerável tende a se tornar independente e se atribui o direito de criar novas lojas. Imitando seu grão-mestre, os aristocratas e outras “pessoas de qualidade” deixam suas funções para os burgueses, por vezes de origem obscura.

Diante da imperícia de Baure, o grão-mestre decide substituí-lo por seu mestre de dança, um certo Lacorne. Este não tem o espírito vulgar e venal com que os detratores o pintam. Mas ele povoa a Ordem com suas criaturas, enquanto os maçons “antilacornistas” furiosos o abandonam…

A partir de 1756, a Grande Loja conhece, enfim um salto salvador. Ela se emancipa da tutela inglesa e adota as obrigações gerais inspiradas nas Constituições de Anderson.  Diante deste momento decisivo, o conde de Clermont resolve, em 1762 destituir Lacorne, que suscita uma dissidência, aumentando assim a confusão. O novo substituto geral, Chaillon de Jonville reorganiza os trabalhos e edita novos regulamentos para restabelecer a união, sem contudo ter sucesso nessa empresa. Quanto ao conde de Clermont – “esta massa pesada” diz um epigrama da época – ele não sai de sua indolência, a partir daí sobretudo ciosos de sua saúde eterna. E somente após sua morte, ocorrida em 16 de junho de 1771, que um vento de renovação soprará sobre a maçonaria.

 Philippe Delorme  – Revista Histoire – Abril 2012- www.journaux.fr

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