Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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O Trinity Tripos, Jonathan Swift e a Maçonaria Especulativa na Irlanda antes de 1717

Tradução J. Filardo

Um manuscrito conhecido como “O Trinity Tripos”, datado de 11 de julho de 1688, foi trazido à luz em um livro publicado pelo Rev. John Barrett, (Vice-Reitor, de 1806 a 1821, Trinity College, Dublin) em 1808.  Este MS. (Manuscrito) mostra claramente que a Maçonaria especulativa estava sendo gerada na década de 1680, cerca de 37 anos antes da primeira reunião registrada da Grande Loja da Irlanda em 1725.

Rev. John Barrett, vice-reitor, [1] 

Trinity College, Dublin, (1753-1821)

A importância do Manuscrito Trinity Tripos de 1688 não pode ser subestimada, pois este documento, sem dúvida, estabelece que a Maçonaria especulativa era bem conhecida na Irlanda em 1688 cerca de trinta e sete anos antes da primeira reunião registrada da M.W,  Grande Loja da Irlanda em 1725.

Tripos foi um discurso satírico proferido por Terrae Filius [2], como era chamado, e apenas dois desses discursos sobreviveram, ambos datando da década de 1680 com o de 1688 recebendo especial atenção [3].

Tripos foi descoberto e atribuído a Jonathan Swift unicamente como resultado do livro do Rev. John Barrett, Vice-Reitor do Trinity College, Dublin (1806 – 1821), intitulado “Um ensaio sobre a parte anterior da vida de Swift” publicado em 1808.  Como se verá abaixo, agora é aceito que o Trinity Tripos não é atribuível a Jonathan Swift, mas a um colega estudante do Trinity College.

O Tripos foi reproduzido na íntegra pelo Rev. John Barrett em seu livro e por meio de sua análise do manuscrito, ele chegou à conclusão de que o Tripos de 1688 havia sido escrito por Jonathan Swift.  Essa conclusão era um dos objetivos do livro do Rev. Barrett, não estabelecer que a Maçonaria fazia parte da sociedade irlandesa durante a última parte do século XVII.  Assim, o Tripos apareceu em muitas publicações das obras de Jonathan Swift, por exemplo, por Sir Walter Scott em 1814 e 1824, entre outras.

Reproduzi, para fins de referência, uma cópia em .pdf do The Trinity Tripos de 1688 completo da edição de 1824 de “The Works of Jonathan Swift, DD, Volume VI” de Sir Walter Scott e ela pode ser acessada pelo link em parte inferior desta página da web. Você notará que a maioria das notas de rodapé são do livro do Rev. Barrett e seu objetivo é identificar os indivíduos mencionados no Tripos com o objetivo de atribuir o discurso a Swift, sendo os referidos indivíduos seus contemporâneos.

Reproduzi o Tripos na íntegra para mostrar que a menção à maçonaria é quase incidental para um documento que tem cerca de 35 páginas.

Conforme afirmado, o discurso de Terrae Filius ocupa no manuscrito original, 35 páginas in-quarto escritas cerradamente, e é dividido em três Atos ou seções, das quais apenas o fechamento do segundo e o epílogo do terceiro ato nos dizem respeito (enquanto Maçons ) Reproduzi a seguir trechos das seções do discurso relevantes para a Maçonaria.

No Trinity College, Dublin, o Tripos era distribuído na cerimônia de graduação que era chamada “Initia” ou “Commencements” [4] . O Terrae Filius que distribuiu o Trinity Tripos de 1688 em 11 de julho daquele ano, foi John Jones, um aluno do último ano.

O Terrae Filius, que por um longo costume deveria ter o privilégio, em atos públicos da universidade, de lançar sua sátira, impunemente, sobre os Membros e diretores do colégio, bem como entre a comunidade em geral[5] .

Os Membros do Trinity College, Dublin, que estiveram presentes na cerimônia de formatura em 1688, ficaram suficientemente chocados com o conteúdo e o tom do Tripos, que era uma mistura de discurso obsceno e dramatizações irreverentes que ridicularizavam funcionários e alunos para exigir que o homem em grande parte responsável por ele, o dito Terrae Filius, John Jones, fosse expulso do colégio[6]. A pena foi posteriormente mitigada em suspensão temporária de seu diploma e direitos acadêmicos [7].

Conforme afirmado acima, o Tripos foi atribuído a Jonathan Swift como resultado do trabalho do Rev. John Barrett, no entanto, o consenso subsequentemente é que Jonathan Swift não foi responsável pelo Trinity Tripos e encontramos Sir Walter Scott afirmando em sua publicação de 1861:  –

“É provável que…. os Tripos podem ter sido aumentados pelos toques satíricos de Swift…. Não creio que ele tenha sido o autor principal da obra pela qual Jones foi condenado à expulsão, pois, com toda a sua grosseria, mostrava pouco do seu humor[8]”.

Consequentemente, não apareceu em edições posteriores das compilações das obras de Swift por Sir Walter Scott. Apesar da opinião de Sir Walter Scott na época, de que a autoria dos Tripos não poderia ser atribuída a Swift, a questão continua a ser mencionada em trabalhos acadêmicos sobre Swift. Encontramos em um artigo de 2004 por Andrew Carpenter (UCD) concluindo que Swift ouviu John Jones proferir o discurso burlesco e paródico do Tripos e que o texto de 1688 era claramente o trabalho coletivo escrito por vários membros da Classe de Veteranos, da qual Swift era um membro[9].

O debate acadêmico quanto à se este MS de 1688 poderia ser atribuída a Jonathan Swift ou não, resultou em evidências da Maçonaria especulativa sendo trazidas à tona. Este Manuscrito tem recebido a atenção de acadêmicos como resultado da tentativa de estabelecer a autoria ou envolvimento de Swift no mesmo. Sem essa atenção, o manuscrito pode ter sido amplamente ignorado, sendo considerado uma curiosidade, não sendo mais do que um relato da performance artistica de um aluno do século XVII.

Quanto ao conteúdo maçônico do Manuscrito, Richard Caron e Antoine Faivre sugerem ao escrever sobre o envolvimento de Swift com os Tripos:  –

“O acesso inicial de Swift à Maçonaria de estilo escocês remonta a 1688, quando ele supostamente participava de uma Loja no Trinity College, Dublin (25). Trabalhando com um “clube” de colegas estudantes, Swift contribuía para um Tripos satírico, que utilizava conhecimento interno para satirizar os maçons.  Em sua burlesca engraçada, Swift e seus co-autores descreveram a filiação multiclasse da Trinity Lodge, as ligações de certos rituais com o equipamento militar cavalheiresco, as associações escocesas de seus números e novos métodos de iniciação de Maçons cavalheiros (ou especulativos). …(25) Philip Crossle “Freemasonry in Ireland circa 1725 – 31, The Lodge of research Transactions 1924 (1931) 169”[10].

Os extratos relevantes do Tripos também mostram que, em relação à Maçonaria, o Terrae Filius, pode contar com sua audiência compreender alusões às características proeminentes do Ofício e que ele estava se dirigindo a uma assembliia mista de homens universitários e cidadãos abastados, que se reuniram para testemunhar a principal função universitária do ano e seu uso do tema [maçônico] prova que a maçonaria conhecida por ele e seu público era conhecida por seu segredo e por sua beneficência. Podemos deduzir com justiça, também, que pertencer à Maçonaria Arte não se limitava aos Operativos, ou a qualquer classe, caso contrário, o catálogo de vocações incongruentes ficaria sem sentido[11] .

Eu também sugeriria que a frase “… maçonizado no novo jeito” é a observação mais reveladora no discurso e indicativa de uma mudança da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa durante a última parte do século XVII.

Em conclusão, o seguinte trecho notável estabelecido no Apêndice do Tripos demonstra que a Fraternidade dos Maçons era bem conhecida em Dublin em 1688 e a importância de tal notificação pública de Maçonaria naquela época não poderia ser subestimada, pois os exemplos de qualquer menção de nossa Fraternidade na Irlanda antes de 1700 são quase inexistentes.

APÊNDICE

“UM TRIPOS ou DISCURSO FEITO EM UMA

FORMATURA NA UNIVERSIDADE

DE

DUBLIN, IRLANDA

REALIZADO ALI EM 11 DE JULHO DE 1668,

POR

JOHN JONES,

ENTÃO A.B., DEPOIS D.D.

ATO [Seção] I.

[Nihil ad rem.)

ATO [Seção] II.

“…

Foi recentemente ordenado que, para a honra e dignidade da Universidade, deveria ser introduzida uma Sociedade de Maçons, consistindo de cavalheiros, mecânicos, carregadores,Caixa de Texto: 9 pastores, trapeiros, vendedores ambulantes, teólogos, funileiros, cavaleiros, sapateiros, telhadistas, poetas, juízes, desenhistas, mendigos, vereadores, pavimentadores, remadores, calouros, bacharéis, carniceiros, mestres, castradores, médicos, escavadores, proxenetas, senhores, açougueiros, e alfaiates, que se comprometerão por um juramento de nunca descobrir o seu poderoso não-segredo e de ajudar quaisquer irmãos em apuros que eles encontrem, seguindo o exemplo da Fraternidade de Maçons em e sobre o Trinity College, por quem uma coleta foi recentemente feita para, e a bolsa de caridade bem recheada para, um irmão em dificuldade, que recebeu sua beneficência da seguinte forma:

“De Sawny Richardson, uma garrafa de cerveja e dois pãezinhos.

“Do Sr. Hassett, um par de sapatos velhos.

“De um açougueiro de bom coração em Lazy Hill, a cabeça de um bezerro.

“Do Honorável Lord Charlemont, um chapéu de forma.

“De Long Lawrence, uma polegada de tabaco.

“Do Sr. Ryder, uma moeda antiga.

“Do Dr. Gwithers, um antigo clister de vidro.

“Do Sr. Marsh e Sir ‘Venison, um pacote de baladas divinas.

“Do Sr. Smith, um velho par de meias acolchoadas.

“De um taberneiro ao signo do Porco de Armadura, um chinelo.

“De Sir Goodlet, um pedaço de um velho Smiglesius[12] para uso natural, astutamente obtido por meio de Sir Goodlete

“De Sir Warren, por ser maçonizado da nova forma[13], cinco xelins.

”Do Sr. Edward um par de luvas noturnas engomadas.

“Por último, do Sr. Hancock, uma fatia de queijo Cheshire, que o irmão faminto come com tanto gosto e gostou tanto que roubou o resto dentro de suas calças.

“[EM LATIM]

Nosso Irmão, o malandro, tendo-se apoderado de tão generosa coleção, junta a sua  carteira com o objetivo de fugir e atravessa o Esquadro com uma covariância mais alegre que de costume. E enquanto isso, pelo excesso de alegria, ele avança com a cabeça erguida e espreita com passos empinados, quem entre todos os homens veio ao seu encontro, se não o mais fraterno dos irmãos, Cooper! Assim que ele reconhece este fiel companheiro, corre para ele a toda velocidade, cordialmente agarra sua mão e, como de costume, o beija com o mais melado beijo.  Em seguida, eles caminham em direção à Biblioteca, com o objetivo de ver Ridley entre as outras maravilhas do lugar.  Enquanto o visitante o examina com os olhos curiosos do lince e saqueia, com particular cuidado, tudo o que os juízes, o carrasco e os cirurgiões deixaram da carcaça do pobre coitado, ai de mim!  E ai! ele divisou se nas partes mais nobres ou traseiras, não sei ao certo – o Signum (em linguagem simples, a Marca dos Maçons). Assim que ele viu isso, meu Deus! com que grito ele encheu o prédio.  Repetidamente ele batia no peito, dilacerava suas faces pálidas e rasgava em farrapos suas vestes, ai de mim! esfarrapado demais. Depois de um tempo, quando seu paroxismo esfriou um pouco, ele derramou sua dor ridícula em versos dessa maneira.

“EULOGIUM RIDLAEANUM: UM ELOGIO A RIDLEY”

“Infeliz irmão, o que pode ser

Na miséria comparado a ti,

Tua aflição e vergonha de nossa Sociedade!

Tivéssemos nodevido tempo entendido

Que tu eras da Irmandade,

Por fraude ou força você se soltou 

Da árvore vergonhosa o laço sombrio: 

E agora talvez com a vida abençoada 

Tão formoso irmão quanto o melhor,

Não expôs assim um gracejo monumental. 

Quando a senhora anseia por cerveja da faculdade

Ou pequena dama ou escudeiro do campo

Sai uma tarde, para olhar

Sobre ti, e um livro que desperta o diabo; 

Quem gentilmente escolheu morrer,

A manchar a nossa Fraternidade,

O primeiro de nós jamais enforcado por modéstia.

E agora, ó que dia,

Tua pele de pergaminho recheada com feno: 

Não, pior: os Esculapios,

Para tua miséria muito mais aumentar,

Cortaram-te cruelmente o rosto fora;

E, para mostrar despeito espirituoso, ao mesmo tempo

Preservaram tua pele e perderam teus ossos.

Assim, aqui, na caixa de madeira em que estás,

Com o mosquete desdenhoso em sua mão:

A falsa sentinela de camundongos e ratos, 

Um pobre espetáculo ridículo

Para zombar de Joan, para Kate e Nan,

Tu és pior do que esqueleto de homem.

Aquele que mede a sua dor,

Pela perda de Irmão e de ladrão.

Não menos preocupado fica Cooper;

Mas soluçando com seu lenço na mão,

E destituído de consolo,

Passou o tempo com todas as suas tribulações.

Sua desgraça resmungante corre por eles;

Se todos fossem conhecidos, isso os desfaria.

Os suspiros que vão para cima e para baixo,

Sua tristeza sincera mostra:

Pois o diabo não está se eles fingirem,

Que extravasam sua dor em qualquer lado.

[ EM LATIM]

Atendendo cuidadosamente a esse dever, eles não mais cedem ao choro, mas, enxugando os olhos nos nós dos dedos [lit., sufocando a dor com o polegar], fogem em silêncio.  Eles convocam uma Loja imediatamente e informam todos os irmãos sobre a carga de desgraça que está reservada para eles e sobre o sofrimento de seu infeliz irmãozinho.  A Fraternidade e o citado irmãozinho levam isso muito a sério e em meio a suspiros que saem do mais íntimo do peito, arranjos são feitos no local, que daqui em diante ninguém que mereça a pena máxima da lei, ou certamente será enforcado, será admitido na Sociedade dos Maçons.  Tão logo isso tenha sido formalmente regulamentado, e o Registro da Loja produzido, cada um deles, cavalheiros e patifes igualmente, se despede do outro com beijos mais sólidos dados indiscriminadamente.

FIM DO ATO [Seção] II.


ATO [Seção] III.

[No epílogo, o orador faz referência com pesar aos resultados prováveis de seu trabalho da tarde, enumerando as várias classes cuja hostilidade ele provocou]

“. . .não me deixou nenhum amigo. . .

Se eu me dirigir à Biblioteca, o fantasma de Ridley me assombrará, por escandalizá-lo com o nome de Maçom. . . – Os Maçons banirão-me de sua Loja, e me barrarão a felicidade de beijar Long Lawrence. . . Eu me despeço.

“FINIS.”


[1] Professor e excêntrico, John Barrett nasceu em Ballyroan, County Laois, filho de um clérigo.  Educado no Trinity College, Dublin.  Tornou-se membro e professor de línguas orientais. Vice-reitor em 1807. Notável excêntrico, quase nunca deixava o colégio nos últimos cinquenta anos de sua vida. Morando em um sótão na praça da Biblioteca, ele não se permitia fogo, mesmo no tempo mais frio, e se dedicava às suas duas paixões, a leitura e o acúmulo de dinheiro.  Ele era baixo, com uma cabeça enorme e pés pequenos, e tão mau e esfarrapado em sua aparência que os funcionários da faculdade se opunham à sua presença.

 Ele era um homem de grandes aquisições e memória tenaz, mas extraordinariamente ignorante das coisas da vida comum.  Ele falava latim e grego fluentemente, mas tinha grande dificuldade para se expressar em inglês.

 Ele morreu em 1821, deixando £ 80.000.  Seu testamento afirmava: ‘Deixo tudo o que possui para alimentar os famintos e vestir os nus’.

[2] Lit. “Filho da Terra” ~ anteriormente, aquele nomeado para escrever um poema satírico [latino] nos atos públicos na Universidade.

[3] “Hermathena” (publicação do Trinity College) (1981).

[4] “Reimpressões maçônicas e revelações históricas …”, Henry Sadler & WJ Chetwode Crawley (1898).

[5] “As Obras de Jonathan Swift, DD,” Sir Walter Scott (1824).

[6] “Verse in English from Tudor and Stuart Ireland”, Andrew Carpenter (2004).

[7] “The Obras Diversas Em Prosa, Volume I”, Sir Walter Scott (1861).

[8] “The Obras Diversas Em Prosa, Volume I”, Sir Walter Scott (1861).

[9] “A Tale of a Tub as an Irish Text”, um artigo de Andrew Carpenter entregue à Reitoria de St. Patrick’s, Dublin (16-17 de outubro de 2004).

[10] “Esoterismo, gnoses & imaginário simbólico: misturas oferecidas a Antoine Faivre ”, Richard Caron etc. (2001).

[11] “Reimpressões maçônicas e revelações históricas …”, Henry Sadler & WJ Chetwode Crawley (1898).

[12] “um velho Smiglesius” é portanto um livro que era muito difícil de achar na época. Martinus Smiglecius foi um jesuíta polonês, filósofo e lógico conhecido por sua lógica escolástica erudita cujos manual era usado no Trinity College nas aulas de filosofia. 

[13] “Maçonizado da nova forma” parece indicar que seria no modelo de maçonaria especulativa introduzida no século XVII na Escócia e Irlanda, e não em 1717 pelos ingleses da Grande Loja de Londres.

PARA BAIXAR A INTEGRA DO TRIPOS DO QUAL FOI RETIRADO O TRECHO ACIMA CLIQUE AQUI :

PUBLICADO EM http://www.irishmasonichistory.com/the-trinity-tripos-1688.html

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