Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Museu da Árvore. Ou “É possível ter uma ação Operativa na Maçonaria Especulativa?”

Por Walter Roque Teixeira **

VELHAS ÁRVORES

Olavo Bilac (1865-1918)

Olha estas velhas árvores, mais belas

Do que as árvores mais novas, mais amigas:

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas

Vivem, livres de fomes e fadigas;

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!

Envelheçamos rindo! envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,

Agasalhando os pássaros nos ramos,

Dando sombra e consolo aos que padecem!

A esperança permanente é de que em algum lugar, em algum momento,  parcial ou totalmente, esta ideia venha a ter algum eco.

(O autor)

O progresso é apenas a materialização de utopias.

Oscar Wilde

Utopia?

Discordarmos é normal, porém, dispendermos forças para evitar realizações só porque não concordamos é doentio. Quando discordamos, mas avaliamos e estimulamos a discussão de ideias, mesmo que no final cheguemos a um contexto diferente e melhor que o original,  comportamo-nos como verdadeiros humanos facilitando a criação de utopias.

Motivação?

Nosso cérebro é extremamente otimizado e evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Por isso, quando vivemos uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e “apagando” as experiências duplicadas.

Quando somos iniciados na Maçonaria, todo o nosso cérebro se volta para o novo, para o inesperado. Nossa atenção busca os detalhes, as emoções do momento. Por outro lado, o risco quase sempre presente é o da automatização destes processos, com a perda do entusiasmo, do interesse, do encanto.

De quem é a responsabilidade em manter este cérebro sempre em busca do novo?

Cidadania?

Sem atentar, voluntariamente, para fatos históricos oou etimológicos, preferi abicar nossa embarcação na contemporaneidade, onde, na vida em sociedade, deveres e direitos necessitam ter o mesmo peso. O conceito passa muito além de comportarmo-nos como apenas meros coadjuvantes na cidade (ou sociedade) ou cidadãos cheios de direitos; hodiernamente, entra em jogo uma palavra crucial: Responsabilidade!

Ou melhor ainda: Responsabilidade Social!

E esta responsabilidade é pelo global; não só para nossas individualidades ou interesses; especialmente quando pertencemos a uma entidade com um caráter social marcante, seja por suas relações internas, seja por seus compromissos com a sociedade.

O artigo primeiro da Constituição do Grande Oriente do Brasil (GOB) – e foco aqui por razões óbvias: a Loja que frequento é do GOB – mas isto é maçônico e inclui todas as potências – diz que “Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, cujos fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Mas adiante, no item segundo deste artigo, afirma que “pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade”. Por fim, é determinante no décimo-segundo item do mesmo artigo quando afirma que “condena a exploração do homem, os privilégios e as regalias, enaltecendo, porém, o mérito da inteligência e da virtude, bem como o valor demonstrado na prestação de serviços à Ordem, à Pátria e à Humanidade”.

Isto, por si só, no contexto socioeconômico e político-institucional traz para nossa Instituição, a meu entender, uma imensa responsabilidade participativa ou responsabilidade social!

Não o fazer é olvidar seus princípios!

Dentro destes aspectos, promover a Cidadania implica em uma atuação social individual e coletiva, preferentemente planejada, tentando melhorar a interação do ser humano dentro da sociedade em seu micro e macroambiente.

Isto significa, pois, tentar melhorar o meio ambiente, a educação, o civismo, a convivência social, o aproveitamento adequado dos recursos públicos e tantos outros aspectos que fazem parte do dia a dia de todos nós cidadãos de nossos Municípios, de nossos Estados, do nosso Brasil e por que não, do mundo. A Instituição é “Universal”!

Todo o mínimo que se consiga, já será um grande passo à frente.

Não nos assustemos, pois, com o que parece difícil, mas sim, com a nossa constante capacidade de criar obstáculos mentais e de buscar argumentos para a fácil desistência.

Enfim, após esta introdução um tanto escalofobética, chegamos ao título:

Museu da Árvore!

PROCURO HOMENS PARA VIAGEM ARRISCADA.

Salário baixo, frio enregelante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso.

Sir Emest Shackleton (1874-1922), explorador inglês da Antártica, colocou este anúncio nos jornais de Londres em 1900, quando preparava a Expedição Antártica Nacional (que não chegou a alcançar o Polo Sul). A propósito da procura de voluntários, Shackleton disse mais tarde que “a julgar pelo volume de respostas, parecia que todos os homens da Inglaterra estavam decididos a me acompanhar”.

Fonte: O Livro das Virtudes, uma antologia de William J. Bennett. 17ª Edição, Editora Nova Fronteira.

Não é possível que assistamos impassíveis à extinção de flora e fauna que fazem parte de nosso ambiente e que contribuem para que possamos continuar chamando o Planeta Terra de nossa casa.

Museu da Árvore” parece um nome estranho, mas ele foi inspirado a partir de um filme da década de 70, chamado “Soylent Green” com o título adotado em português de “No mundo de 2020”. O filme foi lançado no Brasil há quase 50 anos, mais precisamente, em julho de 1973 e chegou a ser identificado como a “distopia mais assustadora do cinema”. Em suas características apocalíticas impressionava pelo enredo e pela realidade das cenas. Tanto que nunca o esqueci.

Talvez, alguns que se submetem ao sacrifício de ler este texto, tenham assistido; aqueles que queiram revê-lo, ou mesmo, os jovens curiosos que o queiram assistir, têm oportunidade1. É possível também ler várias publicações que dão informações sobre o filme2,3.

E uma das cenas mais chocantes do filme que ficou como uma ostra grudada em minha memória foi ver naquele caos, um “Santuário da Árvore”!1

(“Santuário da Árvore” – Imagens retiradas das cenas do filme)1

No Mundo de 2020”, coincidentemente, foi ambientado em 2022.

O filme foi uma adaptação do livro “Make Room! Make Room!” (Abram Espaço! Abram Espaço!) de Harry Harrison, um dos mais prolíficos escritores de ficção científica norte-americano. Publicado em 1966, portanto, há 56 anos, foi, sete anos depois, adaptado ao cinema. 2,3

Chegamos a 2022 e, felizmente, esta ficção não se concretizou em sua totalidade, mas para alguns espécimes de árvores este já é o presente e para tantos outros, o futuro próximo. E alguém dotado de capacidade para tal poderia perguntar e ficcionar: o que acontecerá em mais meio século?


Vamos, como tantas outras ficções, permitir que esta também se concretize?

A facilidade e a rapidez4,5 com que derrubamos uma árvore centenária que leva dezenas de anos apenas para chegar à vida adulta, faz com que possamos imaginar e temer um quadro dantesco: sermos cobrados por netos e bisnetos por termos deixado desaparecer da natureza criaturas viventes incríveis que permitem que a própria humanidade continue sobrevivendo, sem fazer nada!

É tremendamente doloroso, pois, dizer a filhos, ou mesmo, a netos e bisnetos, que já tivemos árvores incríveis espalhadas pela natureza do porte de um Pau Brasil, Mogno, Itaúba, Cedro-Rosa, Imbuia, Araucária, Jacarandá-da-Bahia e tantos outros magníficos espécimes e que nada fizemos para preservá-los.6,7,8,9

A proposta do “Museu da Árvore” é muito simples e consiste, pois, com a orientação de técnicos na área10,11,20, estimular o plantio de árvores em risco de extinção ou já tecnicamente extintas, em áreas específicas, economicamente consolidadas, não destinadas à construção ou comercialização, seja em condomínios verticais ou horizontais, seja em empreendimentos industriais, especialmente em áreas públicas (parques, etc). E poderíamos dizer mais etcéteras.


Este projeto, reconhecemos, é um pouco mais complexo, pois necessita espaço, conhecimento especializado20 e, provavelmente, patrocínio; mas não é impossível, principalmente para o setor público que tem espaço à disposição e para nossa Instituição que tem saberes, participação social e, ainda, capacidade de buscar recursos como poucas!

Nesta proposta, sempre que possível, as árvores seriam identificadas em placa exposta ao lado da árvore, com uma ficha técnica onde, inclusive, poderia constar algum tipo de patrocínio.4,18

Nesta ficha técnica poderia constar, pelo menos: Nome Científico, Sinonímia, Nome Popular, Família, Divisão, Classe, Origem, Ciclo de Vida, Altura, Frutos, Partes usadas e Nomes em outros idiomas.

Desta forma, haveria maior conscientização da população e mesmo, condições de programar eventos com visitação de estudantes, distribuição de mudas e material educativo, apresentação de filmes educativos em escolas etc.

Uma ideia é antes de tudo uma proposta a ser minimamente analisada em sua viabilidade; podemos a partir dela, criar, copiar ou apenas participar; iniciativas não faltam!12,13,14,15,16,17

Como corolário desta proposta fica ainda, a sugestão de estudar-se a possibilidade de, por lei municipal ou outra forma qualquer, estimular e incentivar com benefícios comunitariamente aceitáveis, o plantio destas árvores em risco em empreendimentos (shoppings, outlets, condomínios etc.), no lugar de outras que são plantadas e que, na absoluta maioria das vezes, nada tem a ver com a flora local.19

Uma ideia é apenas uma ideia; planta-se como uma árvore; se a regarmos e cuidarmos, crescerá e dará frutos; se rejeitarmos seu “plantio” na primeira dificuldade, nunca teremos qualquer ambiente saudável e criativo.

Uma Maçonaria Especulativa com Responsabilidade Social, assumo o dito, causaria ainda mais júbilo aos seus membros!

A PERSEVERANÇA É ESSENCIAL A TODOS.

Sócrates, que se comparava a uma mosca para os atenienses, declarou com absoluta seriedade em seu julgamento (segundo a Apologia de Platão):

“Enquanto eu respirar não pararei de praticar a filosofia, de exortá-los a meu modo e de apontar a qualquer um que eu encontre: és um ateniense, um cidadão da maior cidade, com a melhor reputação de sabedoria e de poder; não te envergonhas do teu interesse em possuir tanta reputação, tantas riquezas e honras e não cuidar da sabedoria e da verdade, do melhor estado possível do teu espírito?”.

Fonte: O Livro das Virtudes, uma antologia de William J. Bennett.

17ª Edição, Editora Nova Fronteira.

Referências:

  1. Soylente Green – No Mundo de 2020;
  2. Soylente Green – No Mundo de 2020 – Crítica;
  3. Análise – Soylent Green é mais relevante agora do que nunca;
  4. Brasileiros de Bem;
  5. Museu da Árvore;
  6. Estadão – Terra Bruta – Árvores em extinção;
  7. Eco ambiental – 5 Espécies de Árvores Ameaçadas de Extinção;
  8. SOS Mata Atlântica;
  9. Nova Escola – Quais árvores brasileiras estão em extinção?
  10. Competências individuais e a Maçonaria pós-moderna;
  11. Propostas de Ação;
  12. Iniciativa Verde;
  13. Iniciativa Verde – Amigo da Floresta;
  14. Árvores pela Vida;
  15. Instituto Brasileiro de Florestas – Plantar – Diminuindo pressão sobre as Florestas Nativas;
  16. Arvoredo – Sua Empresa quer plantar árvores?
  17. Arvoredo – Plante uma Árvore;
  18. Toda Fruta;
  19. Associação dos Arquitetos, Engenheiros e Técnicos de Cotia – AETEC – Árvores nas Cidades e nos Condomínios;
  20. Associação dos Arquitetos, Engenheiros e Técnicos de Cotia – AETEC – O Plantio de Mudas de Árvores requer Conhecimento.

** Irmão Walter Roque Teixeira GOB – GOB/SC – CIM 184.372 – ARBLS Palmeira da Paz nº. 2121 Oriente de Blumenau – Santa Catarina – Brasil

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