Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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A Ordem do Templo

Tradução José Filardo

Por Ir.´. John Yarker

capital a

pesar de a Ordem dos Cavaleiros Templários ter sido suprimida pelo martírio do seu Grão-Mestre em 1314, ela nunca foi totalmente extinta. Em primeiro lugar, o rei de Portugal protegeu a Ordem em seus domínios, mas cedeu ao pedido do Papa João XXII em 1319, para alterar o nome para “Cavaleiros de Cristo” e sobrepor outra cruz branca à Cruz Vermelha da Ordem. Com estas pequenas alterações, a ordem permaneceu intacta até 1552, quando, o rei fez da Coroa os seus Mestres.

Na Escócia o nome é frequentemente encontrado nos documentos de 1314 a 1590, embora houvesse claramente uma ordem unida nominal, quando James IV, em 1488, confirmou por Patente a propriedade concedida por seus antecessores ao “Sancti Hospitali de Jerusalém et fratibus eiusdem Militiae Templi Salomonis.” Em 1560, esta Ordem Unida perdeu suas terras, mas há alusões aos Templários após essa data.

Na Hungria, o Ir.´. Ladislaus de Malczovich encontrou traços de uma existência continuada naquele país. “Um bispo erudito e autoridade muito boa menciona certo lugar no ano de 1334: Templariio ibidem ad hue existentubus’, e o rei Mathias Corvinus diz em uma carta escrita ao Papa,. 1460 D.C.: * Proepositura quel dam de Glogonza, Ordinis Templariorum, qui ordo iam pere ubique, et poesertin iu hoc regno defecit, incorpuretur Ecclesia Zagrabiensi.’

Sem querer ir passo além os registros, podemos nos sentir bem certos de que os Cavaleiros desses diferentes países preservariam algum tipo de comunicação entre si, e que nunca poderia ser favorável à Hierarquia Papal. É igualmente certo que qualquer continuação seria na forma de uma sociedade secreta. Mesmo neste país, depois da reforma, ela só poderia ter uma existência ilegal. Muitas vezes há alusões na literatura, dos séculos XVI e XVII, à Ordem dos Templários, e um dos amigos de Ashmole fala até mesmo de um parente ser “um templário”, embora fosse realmente um Cavaleiro de São João.

Na França os Templários produzem uma “Carta de Transmissão” a partir de 1324, com os nomes dos diversos Mestres que “pela graça de Deus aceitaram a Suprema Magistratura.” Numerosos escritores capazes sustentam a sucessão ininterrupta da Ordem e a genuinidade de seus Estatutos. Como muitas traduções foram impressos, todo o documento não precisa ser transcrito aqui. Basta dizer que o almirante Sir William Sidney Smith sucedeu Fabre Palaprat e acreditava em suas reivindicações e deixou a seus Grão-mestres em sucessão uma magnífica Cruz, que ele havia adquirido em Jerusalém, e que se dizia ter sido usada por Ricardo Coração de Leão.

Uma cláusula deste Estatuto tem as seguintes palavras: “Eu digo e declaro serem os Templários Escoceses desertores da Ordem, para serem feridos com a excomunhão e com os irmãos de São João de Jerusalém, destruidores da milícia (de quem Deus tenha misericórdia), são agora e para sempre excluídos dos limites do Templo”.

Inimigos, durante este século, surgiram no seio desta instituição, que, embora reconhecendo a autenticidade da assinatura do Duque de Duras em1681, afirmam que a carta surgiu de uma sociedade um pouco licenciosa chamada “Petite Ressurrection des Templars”, de 1682, cujos membros naquele tempo incluiam o Duque de Gramont, o Marquês de Biron, o Conde Tallard, etc. Em seguida, diz-se que Philip, Duque de Orleans, recolheu os membros dispersos da antiga sociedade, com um objetivo político; que ele fez com que novos estatutos fossem compilados que ele assinou e contratou um padre italiano jesuíta de nome do Bonani para fabricar o documento conhecido como “Estatuto de Larmenius,” e – sendo um erudito antiquário e excelente designer, ele efetuou isso de forma calculada para enganar o mais experiente especialista em paleodocumentação. O Duque de Orleans, em seguida, enviou dois membros a Lisboa para abrir negociações com a antiga “Ordem de Cristo”, mas o rei de Portugal, após consulta a Corte da França, ordenou a prisão dos embaixadores; um escapou para Gibraltar e daí para a Inglaterra; mas o outro foi preso e banido para Angola, na África, onde morreu após dois anos de prisão.

A ordem continuou sua existência em segredo até a Revolução francesa e supõe-se que seja idêntica à “Societé d’Aloya,” então apelidado devido à preferência dos seus membros, por lombo em seus jantares. Seu grão-mestre, o Duque de Cossl Brissac, pereceu na guilhotina em 1792. Os documentos da Ordem, então, passaram às mãos do irmão Ledru, de Cosse Brissac, que em conjunto com o irmão Bernard Raymond Fabre Palaprat e outros Cavaleiros da Ordem, a reviveram no contexto de uma loja, ou um Corpo Maçônico existente em Paris sob o nome de Cavaleiros do Oriente. Em 1805, eles admitiram Francisco Alvarada Sylva Frey de Porta, um membro real da ordem de Cristo portuguesa, que então enviou ao rei d. João VI uma cópia do Estatuto com um pedido de reconhecimento, que foi recusado. Por volta de 1838 o então Rei de Portugal fez uma oferta de reconhecimento a Sir William Sidney Smith desde que ele fosse eleito Grão-Mestre, mas Smith recusou isso.

Não existe, naturalmente, qualquer prova a oferecer dessa alegada falsificação de 1705, ela é uma teoria, e admite-se que a Ordem tenha uma história autêntica a partir dessa data. Se o Estatuto não é genuíno, é bem possível que a Ordem possa ter uma origem portuguesa ou britânica, embora ela sempre tenha se voltado para Portugal e condenado a Escócia.

O estatuto acima mencionado é escrito em uma grande pele de pergaminho e ocupa duas colunas e meia, está decorado ao gosto do século XIV com capitais floreadas, em prata e ouro. No cabeçalho está um cavaleiro apoiado sobre um escudo que traz a Cruz da Ordem. Ao pé está o selo da Milícia suspenso por tiras de pergaminho. As aceitações dos Grão-mestres começam no meio da terceira coluna e continuam em duas margens menores à direita. Esta Carta e os Estatutos são escritos em língua latina. Os estatutos do ano da ordem 587 (1705) ocupam vinte e sete folhas de papel, em pequeno folio e são encadernados em veludo carmesim, sem ornamentos, folhas douradas, uma folha em branco no início e quatro ao final. Título —”Ad majorem dei gloriam, Statuta Commilitonum, Ordinis Templi, E Regulis, In Conventibus Generalibus Sanctis, A Conventu Generali Versaliano, Anno Millesemi Septingentesimi quinti Confecta. Et in unum codicem coacta.” Uma fita de seda carmesim suspende o grande selo, oval, gótico, de cera verde, a efígie de São João Batista e sobre essa a Cruz do templo, Legenda: “Mil. Tempi. Sigillum.” No verso está a cruz da Ordem sobre um escudo redondo. Na vigésima sétima folha está a assinatura de Philippus e também de seus quatro lugar-tenentes, permitidos pelo Estatuto: Jean Hercules d’Afrique, Francis Louis Leopold d’Europe, Flavia d’Asia, Marie Louise d’Amerique; e abaixo desse o Secretário Magistral Pierre d’Urbin.

Os Cerimoniais têm a aparência de ser da data dos Estatutos e contêm matéria que, mesmo em 1310, era suspeita ao papado. A primeira recepção é Escudeiro Noviço, que, para além de uma lei estatutária de que tenha direito de vestir armadura, nada tem de notável. Ele se compromete à obediência implícita, é formalmente investido com o hábito e lhe é atribuído algum cavaleiro como Comandante. O Cerimonial de Feitura de Cavaleiro, que realmente não é feitura, mas Profissão entra em uma categoria diferente. Como na antiga ordem, o Neófito é alertado três vezes para os rigores da Ordem e suas sanções, e se ele persistir, então conduzido à sala. Em outro ponto da cerimônia estas três advertências novamente são repetidas duas vezes. O voto é lido sobre ele de que ele pode saber o que ele está para realizar, e esse voto não difere muito daquele d a antiga Ordem de Cavalaria, exceto que ele adiciona uma ou duas cláusulas de qualificação. Quando ele entra no Salão do Convento, é imediatamente colocado em um caixão verdadeiro pelos quatro cavaleiros mais recentes, segurando uma mortalha sobre ele; primeiro, ele e o capelão e seus assistentes fazem cinco viagens em torno do caixão — estando ele no caixão, são feitas três viagens adicionais — repetindo uma ladainha, que tem a referência à morte e o renascimento do Neófito. O Presidente então pergunta se o neófito decidiu irrevogavelmente renunciar às vaidades do mundo e consagrar-se à ordem; e quando ele responde afirmativamente, é retirado do caixão e faz o Voto, que assina com seu próprio sangue e uma madeixa de cabelo, como uma tonsura, é cortada e fixada com o voto. Os capelães o ungem com crisma, o incensam, aspergem água benta sobre ele e sobre os hábitos com os quais ele é revestido. Um capítulo da regra de São Bernardo é lido, e a cerimônia se conclui com o Salmo 132. Não há o menor vestígio de Maçonaria ou seu simbolismo em qualquer parte da cerimônia.

Podemos agora tomar a parte maçônica aceita em 1805 e designada nos Cerimoniais da Ordem do Oriente. Sabe-se que em 1755, existia uma Ordem do Oriente em Paris, da qual Valoisand de Tschoudy era membro, e que parece ter sido Adoniramita, em contraposição a Hiramite. Em 1787, foi impresso um extenso ritual deste sistema, de modo que nós não precisamos encontrar qualquer dificuldade em aceitá-lo como um fato de que uma Loja daquela natureza indicada existisse em Paris quando Palaprat, como Grão-mestre, começou o renascimento da Ordem do Templo, e sem dúvida ele foi levado a isso pela popularidade dos Templários maçônicos.

As lojas e capítulos da Ordem do Oriente assume de certa forma a mesma posição em relação a Ordem do Templo na França, que os graus maçônicos fazem neste e em muitos outros países, em relação a Ordem de Cavaleiro Templários. A diferença aqui é que estes “Cavaleiros do Oriente” franceses estão inteiramente sob o domínio de, e sujeitos aos Cavaleiros do Templo e os rituais foram revistos com esse objetivo; eles são admitidos, por “favor da arte.” Um trono vazio, com cinco lugares, para o mestre e seus quatro adjuntos, encontra-se em todas as reuniões. Por outro lado, os graus maçônicos deste país estão apenas sujeitos a seus próprios órgãos governamentais, pois os Cavaleiros Templários não têm qualquer jurisdição sobre eles. Isso não significa que este era o caso quando as Ordens de Cavalaria estavam na plenitude de seu poder, pois eles tinham artesãos de todos os tipos agregados às suas casas como irmãos leigos. Portanto, nada há que seja absolutamente anti-histórico nos desenvolvimentos de Palaprat. Torna-se simplesmente de uma questão de política.

Pessoalmente, eu sempre acreditei que nosso próprio grau de Templário tivesse uma origem verdadeira dos antigos Cavaleiros; e que ele surgiu de alguma Ordem de Cavalaria central, expulsa de sua Casa com seus artesãos. Tal Loja poderia continuar a manter sua própria conexão com os Cavaleiros, e quando os dois corpos de Templários e Maçons passaram a consistir praticamente dos mesmos membros, a Ordem de Cavalaria transformou-se gradualmente em um grau. Neste período um arco Irmandade significava simplesmente uma autoridade governante antiga ou central. Ela não tinha qualquer referência a um grau maçônico ou não.

Quando descobrimos a influência, civil ou religiosa, que causou o uso da palavra “Templários”, ou “Templo” na Escócia, depois de 1314, em detrimento de “Hospital”, ou “São João”, compreenderemos melhor a posição histórica. Uma nova edição dos Estatutos Escoceses está prestes a aparecer, com o antigo prefácio histórico, e é lamentável que o editor não tenha incorporado a ele muitas outras alusões conhecidas que foram negligenciadas quando aquele prefácio foi elaborado em 1843.

No extinto sistema de 1805 da Ordem no Oriente temos seis graus, dos quais os cinco primeiros formam a Casa de Iniciação e o último ou sexto, a Casa de Postulância. Os graus são habilmente desenhados, e as cerimônias são de caráter mais simples, sendo inteiramente simbólicas e explicadas por uma “Instrução”, em perguntas e respostas.

1o. — Iniciado. A prova da água, as mãos e pés sendo lavados; do fogo, através de uma ligeira exposição às chamas; e do sangue, simulando a abertura de uma veia. A instrução explica isso referindo-se aos julgamentos dos antigos Mistérios.

2o. — Iniciado do Interior. A instrução é sobre geometria, boas e más construções e as falhas em fundição de metais. A partir daí, analogias morais são tiradas.

3o. — Adepto. Supõe-se que represente os Mestres que tiveram o encargo do trabalho mais sagrado do Templo de Salomão. O candidato é deixado sozinho em uma antecâmara, onde três Iniciados do Interior entram, vendam seus olhos, atam suas mãos e pés e o ameaçam de morte, a menos que ele consinta em lhes revelar os segredos que ele está prestes a receber como Adepto. Eles estão prestes a matá-lo; um tem um martelo, outro um nível e o terceiro uma alavanca. Eles fogem com a chegada do irmão encarregado do neófito, e não são descobertos, apesar da busca feita por eles.

4o. — Adepto do Oriente. Um crime horrível é descoberto. Durante a noite, Adoniram, o Grande Intendente foi sequestrado. Salomão convoca todos os Iniciados do Interior e descobre que Belial, Sihor e Nimrod estão ausentes. Hiram é nomeado para suceder Adoniram. Salomão, portanto, escolhe quinze Eleitos para ir até Joppa para procurar em todos os lugares prováveis onde possam encontrar os irmãos pérfidos.

5o. — Adepto da Águia Negra. Nove dos Adeptos Eleitos devem procurar em Jerusalém, os outros seis se dividem em dois bandos e prosseguem até Gabes e Joppa. Um pastor informa Benhail, Obadias e Horam que tinha visto um homem, correspondendo a descrição de Belial, deixando Gabes. O bando envia Horam para informar isso a Zorababel e Schomer e Neeman. Horam encontra este banco no momento em que eles foram atraídos pelo voo de uma águia negra pairando no ar, que lhes parece estar indicando o caminho que eles devem seguir. Assim, os quatro seguem o voo da águia. Neste meio tempo, um cão saindo de uma caverna atrai a atenção de Benhail e Obadias, e dessa forma os traidores são descobertos. Nimrod está arrependido e se mata, e Belial e Sihor são mortos. Descobre-se, então, que Adoniram foi crucificado em uma árvore de sândalo, orando a Deus para perdoá-los pelo crime que tinham cometido, e enterrado em uma vala. Finalmente, o rei Solomon ordena o enterro de Adoniram perto do Templo; Nimrod deve ser enterrado no “Lugar de Arrependimento;” e os corpos de Belial e Sihor devem ser queimados, suas cinzas espalhadas aos ventos e seus corações dados como presa às aves do céu; um destino não muito pior, se tão ruim, que nossos castigos muito modernos por alta traição.

Estes cinco graus formam a Casa de Iniciação e, em seguida, segue-se a Casa de Postulânce, de um grau: —

6o. — Adepto Perfeito do Pelicano. Este é o grau de Rose Croix, embora mais próximo da Ordem Escocesa da Rosa Cruz do que da nossa própria Rosa Cruz.

Antes do ano de 1830, havia um Convento desta ordem em Liverpool, chamado Jacques de Molay. Havia também um Convento Metropolitano em Londres, do qual o Dr. Robert Bigsby era membro, e que, antes de sua morte, admitiu alguns membros. Um terceiro Convento na Índia. Deixamos o da Escócia por último, pois sua existência teve um efeito permanente sobre a Ordem naquele país, quando eles se fundiram à Ordem Maçônica dos Templários. O escritor examinou o Voto da Ordem Escocesa e descobriu que ele não passa de uma modificação daquele da Ordem Francesa. O Certificado em Latim da Ordem Escocesa é palavra por palavra aquele da Ordem Francesa, exceto pelos nomes dos oficiais; e a ideia de conceder certificados a Comandantes e a Grande Cruz é retirada dos Estatutos Franceses impressos em 1825 e anteriormente por Thory em 1815.

(AQC-Vol 1. p. 21)


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