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A verdadeira Maçonaria Operativa sobreviveu?

Tradução José Filardo

Por  Pierre Mollier

MAÇOPER

Depois de uma longa gestação ao longo do século XVII, a Maçonaria especulativa adotou a sua forma moderna em Londres, em 1717. Ela, então, conquistou a Europa e o mundo e estava fadada a ter um destino extraordinário. No entanto, desde o século XVIII, a legitimidade da Primeira Grande Loja do sistema maçônico que ela difundiu é contestada. A última dessas contestações aconteceu no coração da antiga Inglaterra, em 1909, em uma região de área de pedreiras, perto da antiga cidade medieval de Leicester. O depoimento e as declarações do irmão Clement Stretton estão na origem de um dos mitos maçônicos que fez correr grande quantidade de tinta … e de um sistema de altos graus bastante interessantes.

O caso começou em 1909, com uma palestra diante da Sociedade de Engenheiros de Leicester, seguida pela publicação de um pequeno livreto intitulado Arte Tectônica. Seu autor é um engenheiro de nome Clemente Stretton. Esse estudo de cerca de quinze páginas bastante densas é dedicado à história das guildas de construtores, à sua organização, a algumas das suas técnicas e às conotações simbólicas que elas podiam ter. Uma vez que seu estudo foi publicado, Stretton, que também era maçom, vai se concentrar em divulgar e promover suas ideias nos círculos maçônicos.

Stretton explica que a Maçonaria moderna foi, certamente, fundada na esteira da Maçonaria operativa. Mas Anderson, Desaguliers e seus fundadores – que ali foram perjuros em seu juramento – tendo sido recebidos apenas nos graus inferiores da Ordem e tendo apenas um conhecimento parcial. A Maçonaria “andersoniana” propõe, portanto, apenas uma educação incompleta e aproximada, bem longe de transmitir toda a riqueza simbólica e iniciática de antigas irmandades de maçons operativos. Stretton sabia o que dizia, já que sendo um engenheiro que trabalhara na construção de diversas estruturas dizia que ele próprio recebera de um dos sobreviventes desse Maçonaria operativa: “A Venerável Sociedade dos Maçons, Maçons de Grandes Obras, Construtores de Muralhas, Trabalhadores da Ardósia, Pavimentadores, Estucadores e pedreiros.”

A verdadeira Maçonaria era dividida em dois ramos: a Maçonaria do Esquadro ou Maçonaria Azul; a Maçonaria do Arco ou Maçonaria Vermelha. A primeira reunia companheiros que construíam elementos retos da arquitetura, os segundos às abóbadas, arcos e volutas. No percurso do Maçom – “de Esquadro” ou “de Arco”, há dois caminhos paralelos – não se desenrola em três etapas; a verdadeira Maçonaria tem sete graus: 1- Aprendiz engajado; 2 / Companheiro do Ofício; 3 / Companheiro Especialista da arte; 4 / Construtor do Templo 5 / Condutor Principal da obra; 6 / Mestre, 7 / Representante do Grão-Mestre Maçom, membro do Sinédrio. Além das passagens de grau, os “Operativos” tinham três grandes cerimônias anuais: em abril-maio a comemoração da fundação do Templo de Jerusalém; em 2 de outubro, a comemoração da morte de Hiram e em 30 de outubro a dedicação do Templo. A “Venerável Companhia” era dirigida por Três Grãos Mestres Maçons. Os rituais “operativos” apresentavam parte dos elementos maçônicos clássicos – depois todos os fundadores de 1717 tiveram um contato real com a “Venerável Companhia” – mas eles a complementam e a ampliam por meio de especulações sobre a arte de construir e o simbolismo geométrico particularmente rico no plano iniciático.

Stretton não teve grande sucesso com a Maçonaria institucional que quase não se interessou por suas revelações. Em contraste, dois círculos maçônicos marginais deram-lhe atenção sustentada e entraram em intenso intercambio sobre essa sobrevivência providencial da verdadeira maçonaria operativa. Um irmão erudito, John Yarker que animava então diferentes sistemas de algos graus do Iluminismo e a revista The Co-Mason, órgão de uma pequena obediência mista originária do Direito Humano britânico. Como parte desses intercâmbios, Stretton gradualmente revelou a Yarker e à Co-Mason todo o sistema dos “Operativos”. Depois de ser praticado principalmente por Miss Boswell-Gosse e seus amigos da “Ordem da Antiga e Aceita Maçonaria para Homens e Mulheres”, o rito dos “Operativos” passou para a Maçonaria inglesa institucional onde ele é hoje um dos muitos sistemas de “graus laterais” oferecidos aos membros da Grande Loja Unida da Inglaterra. O “A Maçonaria de Stretton” também teve um impacto na França através de René Guénon, que estava muito interessado nos “Operativos” de Stretton e usava os ensinamentos em sua obra.

Para ir mais longe:
Bernard Dat, « La Maçonnerie “opérative” de Stretton : survivance ou forgerie ? » em Renaissance Traditionnelle, n°118-119, abril-julho 1999, Número especial : « De la Maçonnerie opérative à la Franc-maçonnerie spéculative : filiations et ruptures », p. 149-212.

Sobre o autor

Pierre Mollier

Autor e historiador

Artigo publicado na – Revista Franc-Maçonnerie – http://www.fm-mag.fr/



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6 comentários em “A verdadeira Maçonaria Operativa sobreviveu?

  1. Ilustres Irmãos:

    No plano histórico todas os trabalhos que têm vindo a ser apresentados sobre se tem sobrevivido a Maçonaria Operativa são aceitáveis, mas sempre dentro de uma lógica histórica ligada à reconstrução do Templo de Salomão ., contudo, na nossa opinião pensamos que na realidade esse mesmo conceito histórico tem vindo a diluir-se com a passagem do tempo. A própria Maçonaria Especulativa tem vindo sistematicamente a sofrer na sua essência espiritualista um desgaste preocupante uma vez que a sua crescente materialidade está cada vez mais presente no pensamento dos maçons atuais com práticas diárias que apenas têm visado a satisfação de interesses materiais individuais e de grupo. Todos sabemos perfeitamente de que na Arte Real predomina como fundamento principal o “desbastar a pedra bruta” ou seja: a melhoria progressiva do carácter humano sempre numa perspetiva de um maior aprofundamento espiritual. Tal facto deixou de ser uma realidade marcante neste Século XXI que estamos vivendo.
    Face ao exposto achámos por bem aprofundar historicamente a questão relacionada com a Maçonaria Operativa sendo impossível compreender a essência do Martinismo de todas as épocas, se antes não estabelecermos a diferença fundamental existente entre uma sociedade de Iluminados e uma sociedade qualquer. Uma sociedade de iluminados liga-se ao INVISÍVEL ou seja: – liga-se às entidades espirituais superiormente evoluídas e habitantes nas dimensões superiores do Universo e que têm por finalidade orientar e superintender a vida no nosso planeta! Tal realidade não existe na Maçonaria atualmente existente no mundo!
    No nosso blogue – “circulodeestudoseclecticos.blogspot.com” desenvolvemos um novo conceito maçónico ao qual demos a designação de – “NOVA ESCOLA DA MAÇONARIA OPERATIVA.
    jACINTO aLVES Maçom 33º. Grau do REAA do Supremo Conselho de França – Membro nº. 1009.

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    1. Brother Jacinto,

      Existem pelo menos duas vertentes de estudo da origem da Maçonaria. Uma delas defende a Maçonaria atual como evolução da Maçonaria Operativa; a outra defende a posição de que a Maçonaria moderna foi uma invenção dos iluministas da Royal Society, calcada no modelo operativo que naquela altura era quase extinto.
      A transição ocorreu na Escócia com William Schaw, e algumas décadas mais tarde, as lojas militares já se descolavam dos maçons e assumiam um papel político de suporte à Casa de Stuart. Essas lojas já não têm a ver com a maçonaria operativa.
      Durante a crise da sucessão ao trono inglês que produziu a Revolução Gloriosa, as lojas apoiavam francamente o pretendente católico, vez que a maioria delas era originária na Escócia.
      Como reação a esse apoio, o Establishment inglês contrapôs uma instituição inventada sobre os mesmos princípios, muito mais sofisticada, e que emprestava suporte ao pretendente protestante, no caso um alemão que deu origem à Casa de Windsor (aliás Saxe-Coburg-Gotha), nome que foi alterado malandramente em 1917.

      Não concordo quando dizes “na Arte Real predomina como fundamento principal o “desbastar a pedra bruta” ou seja: a melhoria progressiva do carácter humano sempre numa perspetiva de um maior aprofundamento espiritual”. Esse é um aspecto da maçonaria conservadora inglesa. Não existe apenas uma Maçonaria. Existem pelo menos duas: a matriz inglesa e a matriz francesa.

      Isso pode ser aplicável à primeira, mas não representa, absolutamente, o pensamento de todos os maçons. Em França, a Maçonaria coloca a ênfase no papel de construtor social e defensora dos valores da República.

      No Brasil, por força da praxis maçônica, chegamos a uma terceira matriz, mista, entre uma posição conservadora no figurino inglês, aliada a uma atuação social e política no seio da sociedade.

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      1. Caros Irmãos:

        No plano histórico e político certamente que estamos de pleno acordo no que se refere às matrizes inglesa e francesa da Maçonaria e aqui convém destacar de que pessoalmente defendo a já existência de uma nova maçonaria operativa e daí pretender implementar “Uma Nova Escola da Maçonaria Operativa” que já não se dedica à construção de monumentos e ou catedrais, mas sim que actua no plano da espiritualidade ou seja: desenvolve um trabalho operativo, real, objectivo e prático numa cooperação activa com entidades espirituais superiores ligadas à Humanidade do planeta Terra quando nos referimos aos seres humanos quer encarnados quer desencarnados! Ver Racionalismo Cristão; Martinismo (Papus) ou ainda C.W. Leadbeater 33º. Grau) Esse trabalho extraordinário desenvolvido pelos Maçons do Século XXI na sua cooperação com as entidades espirituais do Astral Superior Terrestre fundamenta-se na “Limpeza da Atmosfera da Terra” conduzindo milhões de espíritos humanos desencarnados para os respectivos mundos espirituais de origem!

        Muito Fraternalmente – Jacinto Alves 33º Grau do SCF

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  2. Est.´. Ir.´.
    É sabido que a Carta da Bolonha, serviu de fonte para Anderson e outros para fincarem subsídios na Grande Loja Unida da Inglaterra. A Marinha do Brasil, cita em sua história, a presença de navios franceses iniciando pessoas para fazerem-se maçons. Navios ingleses, igualmente. Era a corrida de duas maçonarias e países rivais a espalharem Lojas e fazerem maçons por todos os quadrantes por onde atracavam. O sino até hoje usado em alguns ritos, é a lembrança dos toques do meio dia e meia noite, nas fragatas francesas e da mesma forma nas inglesas.
    Um belíssimo trabalho.
    Cumprimentos fraternais.
    Walmir Battu

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