Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

Maçonaria – crise e oportunidades

José Filardo – M.´.I.´.

Uma das questões mais sérias enfrentadas pela atual instituição que substituiu a Maçonaria no Brasil é a diminuição do número de obreiros. Em todo o mundo, as lojas se perguntam sobre os motivos para esse desinteresse.

É o momento ideal para um pouco de autocritica e análise do panorama.

Minha análise limita-se ao Brasil, e leva em consideração dois aspectos que reputo mais importantes: desencanto dos obreiros e a critério de distribuição das lojas.

É sobre isso que gostaria de falar.

Primeiro, vamos abordar o desencanto dos obreiros e para isso precisaremos recordar a história.

Embora sua origem seja controversa, pelo menos existe uma data exata em que oficialmente nasceu a instituição que é uma modalidade de fraternidade existente atualmente em quase todos os países ocidentais e, inclusive, alguns países orientais.

Uma corrente defende a teoria da evolução das guildas de construtores, que com a redução das encomendas de grandes obras teriam começado a receber em seu meio os patrocinadores cuja presença alterou a natureza operativa daquelas agremiações, transformando-as em entidades especulativas.

Outra corrente, com a qual comungo, defende a teoria da criação da maçonaria especulativa em 1717 como uma reação protestante à invasão das lojas jacobitas (escocesas e irlandesas) católicas. As lojas jacobitas não eram lojas maçônicas. Elas eram lojas rosa-cruzes com um viés de estudo de alquimia, assuntos que estavam em moda na Escócia nos séculos XVI e XVII.

Essas lojas se popularizaram na corte e entre os militares escocês-irlandeses e apoiavam a pretensão do Rei James Stewart ao trono da Inglaterra

É preciso considerar que desde 1543, a Inglaterra rompera com Roma e desde então, com exceção da Rainha Mary, todos os reis ingleses eram protestantes. James II, católico, sucedeu seu irmão em 1685 tendo sido deposto três anos depois com a Revolução Gloriosa.

A ocupação do trono por um católico naquele momento ameaçava a sociedade inglesa e em 1701 o Parlamento votou uma lei segundo a qual só protestantes poderiam ocupar o trono. Isso foi uma consequência da Revolução Gloriosa. Em 1714, o parlamento também baixou o Riot Act, uma lei draconiana segundo a qual as reuniões de mais de 12 pessoas estavam terminantemente proibidas, sob pena de morte. Também nessa época, surgira o Iluminismo, uma corrente de pensamento baseada na razão que tinha um forte potencial subversivo dos valores contemporâneos.

A nova instituição nascia assim por uma necessidade política, contrapondo-se às lojas jacobitas que apoiavam James II Stewart e concebida sob cânones protestantes, por protestantes, com o beneplácito e talvez o patrocínio da Coroa Inglesa, mas com inovações revolucionárias que atendiam aos anseios dos iluministas e, ao mesmo tempo, oferecia ao Establishment a possibilidade de enquadrá-los em regras rígidas e impedir a discussão das duas maiores questões daquele momento conturbado: política (sucessão real) e superstição (a questão da legitimidade da dinastia Stewart versus a casa de Hannover).

Dois aspectos revolucionários da nova instituição eram o ecumenismo (a aceitação de membros independente de suas crenças e superstições) e a democracia interna. O primeiro tinha um viés anticatólico, já que Roma não aceitava a coabitação de pessoas de diferentes superstições, visto que considerava a superstição católica como a única via de salvação da alma. Por isso, os protestantes que elaboraram a nova instituição fizeram questão de introduzir este elemento. E o segundo elemento, a democracia, era algo revolucionário em um mundo marcado pelo absolutismo monárquico. A eleição interna dos maçons agradava aos Iluministas, e estes eram os cidadãos pensantes da Inglaterra do início do Século XVIII.

Mas, para nosso estudo de caso, é preciso avançar um pouco além da fundação da ordem maçônica em 1717.

Pois bem, os escoceses (que na verdade são irlandeses que se mudaram para a Escócia) tinham sido infectados pela superstição católica desde o século V. Quando se colocou a sucessão ao trono inglês por um católico contra um protestante, as lojas escocesas e irlandesas (jacobitas) que preexistiram à fundação da Grande Loja de Londres (1717) e que teriam se originado das antigas lojas escocesas rosa-cruzes-alquímicas muito em moda na corte escocesa no século XVI e XVII, apoiaram James II Stewart em massa. Na Revolução Gloriosa, os católicos foram fragorosamente derrotados e forçados a procurar refúgio na França que os tinha apoiado na luta contra os ingleses.

Na transferência desse contingente de escoceses para a França, também se transferiram as lojas rosa-cruzes-alquímicas que haviam sido o modelo para as lojas inglesas e, também lojas maçônicas que prosperaram em território francês. Entre estes nobres escoceses estava o Cavaleiro de Ramsay que inconformado com a “lenda” da origem operativa escolhida pelos ingleses para a Maçonaria, inventou uma nova lenda, na qual a Ordem teria tido sua origem entre os Cavaleiros Templários em Jerusalém. Essa origem era muito mais aceitável para a nobreza da época, que era o principal “cliente” ou “consumidor” da novidade.

No decorrer do século XVIII, a Maçonaria se expandia na Inglaterra de vento em popa, com exceção de um entrevero entre os maçons escocês-irlandeses e a nova Grande loja inglesa. Aqueles, por suas raízes católicas não se conformavam com a declaração de visão contida nas Constituições de 1717 em relação à superstição e adotaram uma postura conservadora, baseada no costume medieval das guildas que naturalmente eram compostas por homens supersticiosos, predominantemente catolicos. Alcunharam a si mesmos de Antigos – que exigiam referências religiosas em loja – ao passo que alcunharam os ingleses, pejorativamente, de Modernos cuja constituição preconizava uma postura secular. Estes últimos, pragmática e habilmente, cederam naquele ponto crucial para os escoceses e a Maçonaria inglesa prosperou, serviu de instrumento para o imperialismo inglês, e constitui-se no Vaticano da Maçonaria Mundial, ditando normas de “regularidade”.

Na França, as lojas congregavam em seu meio pessoas de todos os tipos, inclusive senhoras da corte que chegavam até a ter suas próprias lojas, inventavam-se novidades, rituais estranhos como Memphis Misraim, por exemplo, enfim… era o reino do “achismo”.

Alguns maçons verdadeiros, por outro lado, resgataram o espírito de 1717 e recriaram a Maçonaria, baseada nos princípios das Constituições de Anderson. A partir daí, criou-se o Rito Francês, ou “dos Modernos”, em contraposição ao Craft inglês que era um rito que havia sido desfigurado pela imposição dos Antigos. Paralelamente, a ordem de cavalaria de inspiração maçônica apelidada de Rito Escocês Antigo e Aceito também prosperava, visto que atendia aos anseios dos aristocratas.

A carruagem andou e em 1789, a vaca foi para o brejo para os aristocratas com a eclosão da Revolução Francesa, da qual participaram muitos maçons, em ambos os lados das trincheiras. Do rescaldo da revolução, surge a maçonaria autêntica, voltada para a sociedade, influente e combativa, motivada pelo dístico da revolução: Liberté, Egalité et Mort.

Com o aumento da influência da maçonaria na política francesa, o antigo slogan revolucionário foi aperfeiçoado para “Liberté, Egalité et Fraternité” e inscrito para sempre na política francesa.

Esse espírito combativo e revolucionário adotado pela Maçonaria na França começou a se espalhar pelo mundo com as tropas de Napoleão, para grande pânico e pavor das cabeças coroadas do mundo inteiro. E essa maçonaria autêntica não se curvava aos interesses da Ordem Maçônica inglesa retrógrada, voltada apenas para o controle social através do controle de seus membros. Servia também como instrumento do imperialismo britânico, onde as lojas de além-mar serviam de porto de abrigo para oficiais ingleses itinerantes – maçons em sua maioria – ao mesmo tempo em que permitia cooptar as elites nativas, contribuindo para sua anglicização e a defesa dos interesses britânicos.

Via Junot e suas tropas, a Maçonaria chega a Portugal e via marinha mercante ela desembarca no Brasil e “infecta” os intelectuais da colônia que imbuídos (alguns) do espírito revolucionário francês, vão colaborar para viabilizar o interesse crescente dos comerciantes brasileiros e da nascente nobreza crioula de criar um Brasil Independente.  As lojas funcionam como centros de discussão política e conspiração, coordenando o movimento e otimizando os resultados.

Os maçons brasileiros desempenharam, sem dúvida, um papel fundamental na Independência e posteriormente no golpe de estado de 1889 que implantaria a República no país.  Esse acontecimento representa o canto do cisne da Maçonaria, pois a consequência do golpe foi a criação de partidos políticos que viriam a substituir as lojas como centros de poder, e a debandada dos políticos maçons que negligenciam as lojas.

Como mostram José Castellani e William Carvalho na Pequena História do GOB, a história do Brasil e a história do GOB se misturam até 1927. O declínio que se iniciaram em 1889 culmina com uma hecatombe que se abate sobre a Maçonaria brasileira na figura de Mário Bhering. Alçado ao Grão Mestrado do GOB por meio de fraude eleitoral, em reação à decisão de São Paulo de resistir à fraude, declara extinto o GOSP e cria a Grande Loja Simbólica de São Paulo.

Inconformado ao ser alijado do poder no GOB, vale-se de tecnicalidades para torpedear a instituição e cindi-la, enfraquecendo-a e anulando-a enquanto força viva da nacionalidade. E a maçonaria brasileira feneceu. Jamais voltaria a ser a mesma.

É claro que outros colaboraram por omissão. Por exemplo, se Otavio Kelly tivesse pago para ver e aceitado o argumento de que o Supremo Conselho do REAA e o GOB eram duas coisas distintas e deixado que os partidários de Bhering se bandeassem todos para as Grandes Lojas, o GOB talvez ficasse menor, mas continuaria a ser um rito secular e uma instituição secular, mais condizentes com a natureza maçônica de seu DNA francês. Penso que naquela hora, o irmão Otavio Kelly temeu por uma debandada grande demais que pudesse inviabilizar o pouco que restava da Maçonaria Brasileira.

Enfim, o mal estava feito. Dividida, começou a recrutar candidatos cada vez mais medíocres, infiltrada por religiosos, já que o rito escocês oferecia uma ponte fácil para que estes trocassem suas superstições por uma atitude supersticiosa dentro do arremedo de instituição maçônica que substitui a aguerrida e politizada Maçonaria.

Pouco a pouco ocorreu a entropia. As lojas passaram a privilegiar o ritual – como ocorre na maçonaria inglesa “regular”, fugindo da briga na arena política, bem ao contrário da maçonaria de espírito francês que existira até o golpe do renegado.

O resultado foi uma instituição paralisada, voltada para o próprio umbigo, onde seus membros somente se preocupam com ritual, leitura de ata e a pizza depois da reunião.

Bem, depois dessa longa introdução, passamos a analisar a questão da perda de interesse no caso dos maçons brasileiros.

O processo de recrutamento adotado pela maçonaria varia dependendo da tradição cultural. Na tradição anglo-saxã, adota-se uma postura em que o interessado em adentrar a instituição a procura, visita lojas em sessões abertas onde tem um contato prévio com a instituição, é esclarecido quanto aos objetivos dela, apresenta sua documentação, passa por um processo de triagem e se aprovado é iniciado, ou aceito em uma loja próxima ao seu domicílio.

Na tradição latina, instituiu-se um processo de “indicação” de candidatos, ou seja, a primeira triagem é feita pelo maçom que vai indicar o candidato e dependerá da capacidade de julgamento dele. Inevitável que interesses pessoais afetarão o julgamento.

Segundamente, o candidato é mantido em total desconhecimento pelo “padrinho” que geralmente interpreta canhestramente os regulamentos maçônicos e dá ao candidato apenas uma visão geral da Ordem, colocando a ênfase nos “feitos” da Maçonaria, enfeitando e distorcendo a realidade, criando no candidato uma expectativa irreal em relação à sua participação e o real poder, interesse e finalidades da Maçonaria.

Algumas lojas deixam-se infectar pela política partidária da comunidade e acabam limitando o ingresso de candidatos de partidos diferentes, ou inchando a loja com membros do partido predominante, em detrimento da qualidade dos candidatos.

Do ponto de vista do candidato, temos a seguinte situação: ele lê sobre a atuação da maçonaria brasileira antes de 1927, geralmente exposta de maneira distorcida e ufanista pelos autores maçônicos (em geral fracos, com raras exceções) e não maçônicos.

Ao conversar com o “padrinho”, este faz mistério e não revela a verdadeira natureza da Maçonaria (não porque esteja proibido pelo “juramento”, mas porque em geral não faz a mínima ideia de qual seja ela). Pelo contrário, ele alimenta a falsa imagem de grandeza, influência, poder, comportamento ético, etc. etc. etc.

Ora, o Código do Consumidor, em seu artigo 37, §1 classifica como publicidade enganosa qualquer modalidade de informação [de caráter publicitário] capaz de induzir em erro [o consumidor] a respeito da natureza, características, qualidade, [quantidade, propriedade, origem, preço,] e quaisquer outros dados [sobre produtos e serviços].

Sendo assim, o candidato compra uma imagem da Maçonaria que não corresponde à realidade e pela própria natureza da Ordem com seu sistema de promoção de graus, a constatação ou a entrega do produto completo só acontece, no mínimo, 18 meses após seu ingresso.

Ao frequentar as sessões, se ele for um bom candidato naturalmente vai se decepcionar ao se deparar com o baixo nível de discussão ou a total ausência de discussão proveitosa em loja; a ausência de projetos de intervenção na sociedade seja do ponto de vista político quanto beneficente; a política interna geralmente mesquinha; os desfiles de vaidades; os pavões engalanados arrotando autoridade e muitas vezes falando bobagens maçônicas risíveis; a imobilidade da instituição diante dos problemas da sociedade; dirigentes que não exibem os mesmos requisitos de “reputação ilibada”, por exemplo, que lhe foram exigidos enquanto candidatos, evidenciando dois pesos e duas medidas. Um produto totalmente diferente daquele que lhe foi vendido.

As consequências são uma alta taxa de desistência, total desinteresse por parte dos novos candidatos que se sentem desmotivados pela pasmaceira com que se defrontam nas lojas, a sensação de ter sido vítima de um esquema para angariar membros e a consequente contribuição financeira.

Por outro lado, os maçons que percebem a verdadeira natureza da atual instituição que substituiu a Maçonaria Brasileira hesitam em convidar novos candidatos e expor aos potenciais candidatos o verdadeiro estado da ordem nos dias atuais e são confrontados com perguntas embaraçosas quanto às razões pelas quais eles ainda continuam na instituição.

Os maçons deslumbrados, ou aqueles que não fazem a menor ideia do que seja maçonaria, por outro lado, não se acanham e continuam a arrebanhar candidatos, vendendo a eles a imagem distorcida da instituição. Como, em geral, são medíocres, eles se relacionam com outros medíocres a quem convidam, medíocres que geralmente aceitam o convite.

Concluindo essa primeira parte, a pergunta que caberia aqui é “A MAÇONARIA QUE COMPRAMOS (a práxis política que levou à independência e à Proclamação da República) E A MAÇONARIA QUE RECEBEMOS (lojas alienadas, inoperantes, afetadas pela política partidária local) É UM CASO DE PROPAGANDA ENGANOSA?”

Bem, atualmente, a instituição que substituiu a Maçonaria no Brasil parece-se muito com as Ordens de Cavalaria existentes nos Estados Unidos e na Inglaterra, adotando os rituais e a estrutura da extinta Maçonaria. Existem duas correntes mais fortes dessa nova instituição posterior a 1927, uma se chama Grande Oriente do Brasil (aproveitou nome, além da estrutura centralizada e federada da Maçonaria) e as Grandes Lojas (uma ordem de cavalaria com características maçônicas) que são descentralizadas. Além delas, que se curvam às imposições dos britânicos, existem outras tão ou mais medíocres que as maiores, frutos de cisões e que são chamadas de “espúrias” pelos membros das duas correntes mais dominantes.

Nos grotões brasileiros, essas instituições maçônicas funcionam relativamente bem, nos moldes da Maçonaria, embora tenham deixado de lado o Rito Tradicional (secular) e adotado ritos de fundo religioso que diminuem enormemente a sua eficiência.

Apesar de geralmente serem afetadas pela política externa às lojas, onde grupos político-partidários assumem o controle da loja e passam a impedir a entrada de adversários políticos, quando conseguem superar essa condição, elas atuam de maneira aceitável. Estando inserida em uma comunidade menor, todos os irmãos são afetados por problemas comuns, o que permite galvanizar esforços e recursos para intervir na solução de problemas da comunidade,

O problema maior reside nos grandes centros, onde as lojas não são formadas por um critério comunitário.

Vejamos abaixo o caso de minha loja em 1989. Era a loja mais importante da sua obediência e contava com 83 membros que se espalhavam (endereço residencial) pela cidade de São Paulo conforme mostra o mapa abaixo.

Para se ter uma ideia, este quadrado do mapa mede 50 km de altura por 50 km de largura.

Como se pode ver, os membros da loja estavam espalhados por todo o tecido urbano, sendo distribuídos profissionalmente como segue:

  
ENGENHEIROS12
REPRESENT. COMERCIAIS9
COMERCIANTES8
ADVOGADOS6
INDUSTRIAIS6
MÉDICOS6
ECONOMISTAS5
CONTADORES3
GERENTES3
DENTISTAS2
PROFESSORES2
ANALIST SIST1
BIÓLOGOS1
COMPRADORES1
DESPACHANTES1
EMPRESÁRIOS1
FOTÓGRAFOS1
FUNCION. PUBLICOS1
GRÁFICOS1
INDUSTRIÁRIOS1
JORNALISTAS1
OPER. TLX1
SUPERV. LOJA1
TEC. ELETRON1
TRADUTORES1
total

83

Como se pode notar, o nível da loja era invejável em termos de educação e poder de fogo. Mas, a pulverização do quadro da loja por toda a cidade levava à paralisia, já que os irmãos eram afetados desigualmente pelos problemas sobre os quais poderiam exercer influência.

Privados de uma motivação pontual, a loja vê-se diante ou de problemas gerais sobre os quais não tem qualquer controle, por exemplo, a violência, o trânsito etc. e o resultado é a inação e a entropia, onde a loja passa a girar em torno da política interna, do ritual, do copo d’água. O candidato entra com altas expectativas de atuação cidadã e política (inspirado nos ideais da extinta Maçonaria Brasileira) e encontra um marasmo total.

A consequência é a perda dos bons elementos, restando em loja apenas aqueles alienados ou, como era o caso de alguns membros dessa loja, a exploração do aspecto de networking que a ordem oferece para cabalar oportunidades de negócio e alavancar suas atividades. O que os franceses chamam de “affairisme”.

Concluindo, para não ficar apenas na análise do fenômeno, sem oferecer alternativas de solução, propomos:

1 – Alteração do método de recrutamento, adotando um modelo mais parecido com o método adotado pela Grande Loja da Escócia, onde os interessados podem solicitar o ingresso, recebem esclarecimentos sobre os princípios gerais da Ordem – o que no Brasil implicaria em orientar sobre todos os tipos de ritos, com suas peculiaridades – e encaminham o candidato à loja mais próxima de seu domicílio. A orientação levaria o candidato a tomar uma decisão mais informada e seu encaminhamento permitiria que ele se relacionasse com outros irmãos afetados pelo mesmo ambiente político e social.

2 – Redistribuir e reorganizar as lojas (o que seria difícil, pois esbarraríamos em lealdades e vínculos solidificados com o passar dos anos) ou introduzir a regra de distância máxima (5 km?) entre os domicílios residenciais de todos os membros da loja, o que implicaria em que eles residissem dentro da mesma comunidade. Novas lojas somente iniciariam candidatos enquadrados na nova regra, a as lojas antigas levariam em consideração um núcleo de irmãos com residência próxima (no caso de 1989, por exemplo, a loja poderia se concentrar na zona norte como base para as novas iniciações).

3 – Incluir no job description dos Delegados do GM funções voltadas para a coleta de informação e coordenação da ação das lojas de sua jurisdição, visando à intervenção na sociedade civil, a condução de projetos conjuntos tanto políticos quanto beneficentes ou sociais.

4 – Por último, o Grão Mestre enviaria sugestões de discussão de problemas atuais da sociedade, seguindo um plano anual, para envolvê-las e as incentivar a participar e influenciar os destinos da sociedade, como ocorria nos tempos em que existia Maçonaria no Brasil.

Referências bibliográficas:

https://bibliot3ca.files.wordpress.com/2011/03/capc3adtulos-da-historia-mac3a7c3b4nica-h-l-haywood.pdf

https://bibliot3ca.wordpress.com/a-maconaria-jacobita/

https://bibliot3ca.wordpress.com/pequena-historia-da-maconaria-no-brasil-william-almeida-de-carvalho/

https://bibliot3ca.wordpress.com/antes-de-1822/

https://bibliot3ca.wordpress.com/por-que-maconaria-e-politica/



7 comentários em “Maçonaria – crise e oportunidades

  1. Fratello Filardo (buona gente!!!)
    Primeiramente você diz, entre outras: “…rituais estranhos como Memphis Misraim, por exemplo, enfim… era o reino do “achismo”.
    Depois, arremata, em reposta ao meu comentário: “Penso que esses irmãos limitados não entendem do que se trata maçonaria.”
    Se o tijolo é marrom ou mais avermelhado, não deixa de ser tijolo, e a parede erguida com eles, pelo “pedreiro”, não vai deixar de ser parede, certo?
    É isso o que quero entender: uns são mais (e melhores) “pedreiros” que o outros?
    Em tempo:
    Triplo abbraccio

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    1. A Maçonaria anterior a 1927, no meu entender, é o modelo de verdadeira maçonaria, independente do rito adotado. Você tinha pedreiros que sabiam construir e que construíam com objetividade o edifício social.

      Toda profissão tem bons ou maus oficiais que podem construir paredes com um propósito definido ou podem sair por ai construindo paredes a esmo finalidade, sem amarração, com má argamassa…

      Com a perda da visão do papel que a Maçonaria deve ter na sociedade, a maioria dos pedreiros se enquadrou nessa categoria da “parede pela parede” construída no meio do nada.

      Em resumo, o tijolo pode não fazer diferença, mas a intenção e a habilidade do oficial pedreiro faz…

      TAF

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  2. Fratello,
    Você, com experiencia e dinheiro, ergue uma empresa, uma loja, por exemplo.
    Coloca um bom gerente que consegue tri ou quadruplicá-la em curto prazo; mas, por algum motivo você, que não era disso,começa a ditar regras estranhas a esse seu braço direito.
    O que faz ele?
    Sai de sua empresa, ou loja, com certa condição financeira favorável, e levanta uma empresa, uma loja por exemplo, onde as regras quem dita é ele…
    É mais ou menos isso?
    Se não for, fique sabendo que gostei da propaganda enganosa!!!
    Em tempo: porque será que todo maçom, ao invés de ser fraterno gosta de ser exclusivista?
    A loja dele é a melhor, a obediência é a mais correta, e o rito é o supra-sumo da quintaessencia… e não tem pra mais ninguém, pois o resto é irreglar, bastardo, filho de viúva solteira e etc e tal!!!
    Abbracci

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    1. Penso que esses irmãos limitados não entendem do que se trata maçonaria. Se realmente entendessem perceberiam que essas diferenças servem apenas para oferecer ajustes a diferentes personalidades, e que no final, a importância reside na vivência da fraternidade, no networking e na ação coordenada dos maçons em prol de suas comunidades. Não se trata de ficar rezando missas maçônicas no escurinho da loja…

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  3. Mano Filardo. Excelente e esclarecedora a abordagem. Se me permite uma sugestão às alternativas de solução, penso que cada Obreiro deveria ser instado a apresentar ao menos um trabalho, mensalmente. Não os trabalhos triviais, sobre símbolos, ritualística e outras inutilidades para além do cérebro de cada um, mas algo como uma correspondência com membros dos poderes legislativo, executivo ou judiciário exigindo ação ou reparação; respostas aos órgãos de mídia, protestando contra ou denunciando artigos tendenciosos ou mentirosos; participação ativa em associações de classe, escolas, grupos de interesse ou partidos políticos… Enfim, exigir que o Obreiro comprove ação!

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    1. Pode ser, mas estou certo de que se as reuniões começassem a se tornar interessantes, seja porque a loja esta com projetos político-comunitários ou simplesmente discutindo assuntos importantes, a participação dos irmãos seria o corolário. É o que eles esperam…

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