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Maçonaria Relevante – Parte IV

Tradução José Antonio de Souza Filardo

Revista Nouvelle Observateur – Agosto 2011

O QUEBRA-CABEÇAS DAS PRIMÁRIAS

A esquerda e os irmãos três pontos

por SYLVAIN COURAGE

Quem saberá ganhar o favor dos maçons? Valls, que foi iniciado no Grande Oriente? Holanda, que tem tudo de “maçom sem avental”? Aubry, que ainda tem esforços a fazer… ou outro?

Prudência! Os maçons do Grande Oriente de França (GODF) estão receosos da primária socialista. Ponto de debate nas lojas, nenhum candidato convidado a falar aos irmãos… E ainda menos intenção de voto. A obediência humanista e republicana, tradicionalmente tendente para a esquerda, espera sua hora. “A esta altura, vamos deixar os socialistas se virarem. Assim que um candidato presidencial for oficialmente escolhido, nós o convidaremos” diz o Grão Mestre Guy Arcizet. Por que tal circunspecção? Ex-médico de Seine-Saint-Denis, homem de esquerda, membro do PS, Arcizet é tão iniciado nos mistérios de Solferino quando nas discussões bizantinas de sua ordem. Somente a primária cai mal. Candidato a um novo mandato no comando da ordem durante o convento que se realizará em Vichy, em setembro, o irmão Arcizet deve se abster de qualquer envolvimento partidário. Seus inimigos vigiam. E as intrigas do Grande Oriente fazem os congressos socialistas passar por reuniões de brinquedo.

“Eu votarei nas primárias se minha agenda o permitir. Mas, eu expliquei aos camaradas de minha seção que eu não poderia me engajar como grão-mestre…” Não é sem dúvida que o partido recua. A partir do mês de outubro, este próximo de Bertrand Delanoë – brevemente iniciado no início de sua carreira política! – se dispõe a acolher de braços abertos o vencedor ou a vencedora. “Aubry como Hollande estão dispostos a vir e participar de uma sessão branca fechada. E nós refletiremos sobre a melhor maneira de dar brilho a este evento.”

Nenhum candidato de esquerda pode ignorar os “irmãos três pontos”. A Maçonaria, mesmo que ela não seja mais o caldeirão da República parlamentar, pertence ao patrimônio. É impossível ignorar um movimento filosófico que influenciou as grandes leis da República – a separação entre Igreja e Estado, bem-estar social, a contracepção e o aborto… Desde que o número de membros continue a crescer. Aproveitando-se da crise na Grande Loja Nacional francesa (GLNF), apolítica, mas considerada de direita, o Grande Oriente acolhe hoje em dia a maioria dos novos iniciados e muitos irmãos em conflito… Ele alega possuir agora 50 mil membros. No curso da primária, tão inédita quanto indecisa, os “filhos de Hiram” constituem, portanto, um valioso reservatório de voz!

“A campanha será breve, as lojas são redes muito úteis para cobrir o terreno”, diz um ex Grão Mestre do GO.

Quem saberá colocar as mãos sobre a rede de apoio fraternal? Entre os seis candidatos à nomeação, dois deles têm o perfil perfeito. Manuel Valls, amigo do ex-grão-mestre Alain Bauer não esconde ter sido iniciado no Grande Oriente. Mesmo que o prefeito de Evry tenha se distanciado das lojas, seu posicionamento à direita do Partido Socialista faz dele um interlocutor dos “republicanos humanistas”… Jean-Michel Baylet, único candidato não pertencente ao PS, nega pertencer à grande fraternidade. Mas, pode-se presidir o Partido Radical de Esquerda, herdeiro da grande tradição “rad-soc franc-mac (radical-socialista franco-maçom)” no Sudoeste, sem conhecer os usos e costumes das lojas?

François Hollande, ele mesmo, tem tudo de “maçom sem avental”. Apesar de ser profano, ele conhece os códigos. Nos últimos anos, ele tem falado com sucesso diante dos maçons da Rue Cadet (GODF). Sua eloquência e seu temperamento rad-soc produzem maravilhas. Os irmãos têm boas lembranças de suas pranchas dedicadas à Europa (2005) e à “renovação na política” (2006). Melhor, o “candidato normal” – a humildade é uma virtude valorizada pelos iniciados que viram a luz! – tem alguns irmãos no seu círculo íntimo. De François Rebsamen, oficialmente em licença da maçonaria desde sua eleição para a prefeitura de Dijon em 2001, a Gérard Collomb, o prefeito de Lyon, passando por Jean Germain, o prefeito de Tours, a rede de “Grãos Mestres Provinciais” parece ganha. Em setembro, François Hollande submeterá sua imagem de candidato da síntese republicana à associação Diálogo e Democracia francesa, um clube de alto nível que reúne maçons de todas as obediências para os jantares da rede “no estilo americano”: em 2007, Nicolas Sarkozy foi honrado pelo convite…

Arnaud Montebourg, também nunca viu a luz. Ele, muitas vezes, entrou em confronto com irmãos envolvidos na política ao vencer o sexto distrito de Chalon-sur-Saone contra Francis Szpiner, um membro da Grande Loja de França (GLDF) em 2002. E isso amparado pela assessoria geral do irmão do Grande Oriente Christophe Sirugue em 2008. Mas, o campeão da renovação da esquerda sabe como mostrar respeito pela tradição: ele muitas vezes falou diante dos irmãos.

Nada a ver com Martine Aubry, que desconfia dos “irmãos”. “Ela não os caça, mas também ela não gosta deles”, resumiu um irmão socialista. Em 2000, as denúncias de corrupção na prefeitura, no Tesouro e até no Judiciário de Lille supostamente orquestrada pelo pitoresco “Roger o banana”, corretor de imóveis e pilar do Grande Oriente, sem dúvida a vacinou. Mesmo que o caso não tenha resultado em nenhuma condenação. A prefeita de Lille, educada na esquerda católica também guarda uma má lembrança de seu discurso de 16 de setembro de 2008 diante de 400 irmãos do Grande Oriente. Uma visita obrigatória de pré-congresso dedicada à questão “Que futuro para a esquerda?”. Mas eis que o grande mestre da época, Pierre Lambicchi, a tinha agulhado sobre a criação de um horário reservado para as mulheres muçulmanas em uma piscina de Lille… Martine Aubry não tinha apreciado. Tornando-se primeiro-secretário, ela se absteve de qualquer reunião de loja. “Temos toda facilidade para encontrar Xavier Bertrand, o secretário-geral da UMP, mas para Martine Aubry, o encontro ainda não aconteceu”, reclamava em 2010 alguém na comitiva do grão mestre Lambicchi.

E se ela ganhar a primária? “Então Martine Aubry virá” jura o grão mestre Guy Arcizet. Em Lille, a presença maçônica é tamanha, que a prefeita, após ter errado por muito tempo, aprendeu a confiar nos irmãos. Mas estes são, sobretudo alguns iniciados de Solferino que se abrem à aproximação com o GO. Nos bastidores, Claude Bartolone, “irmão” experiente e ex-vice de Laurent Fabius se ativa. Exatamente como Jean-Christophe Cambadélis, passou pela loja République aceleradora de carreira na década de 90… Já Martine Aubry venceu uma primeira etapa teórica. Ela que era tão hostil à união dos socialistas e centristas agora defende uma vasta união globalizante, além da esquerda e os ambientalistas, “os humanistas do centro.” Uma perífrase pudica para descrever os maçons que pululam no meio do espectro político.

Seja o que for, de forma alguma Martine Aubry deve repetir o erro cometido por Lionel Jospin em 2002 e por Ségolène Royal em 2007. Em uma atitude determinada, os candidatos socialistas teimosamente se recusavam a se reunir com os irmãos. Apesar do tato e da insistência de François Rebsamen, próximo a Jospin e posteriormente gerente da campanha da Royal… Porque sabemos o que aconteceu: Lionel e Ségolène perderam a porta do Eliseu. Prova, caso fosse necessário, de que você nunca deve desprezar os “filhos da Viúva”. A não ser que seja por superstição.

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