Tradução J.Filardo
Por Adrien Choeur

Simbolismo do solstício de inverno e são joão do inverno: que simbolismo? Qual é o significado do dia mais curto? O que tem a ver com o Natal?
Enquanto São João de Verão celebra João Batista em 24 de junho, um dia próximo do solstício de verão, São João do inverno comemora João Evangelista em 27 de dezembro, quando os dias são os mais curtos.
Para além do seu carácter religioso, estas duas festas guardam uma estreita relação com o simbolismo da luz. Eles mergulham suas raízes nos antigos cultos pagãos dedicados ao Sol e ao fogo.
Então, aqui estamos na presença de duas duplas:
- o solstício de verão e João Batista,
- o solstício de inverno e João Evangelista.
O solstício de inverno deve, no hemisfério norte, ocorrer nos dias 20, 21, 22 ou 23 de dezembro. Geralmente ocorre em 21 ou 22 de dezembro. O Instituto de Mecânica Celestial e Cálculo de Efemérides (IMCCE) fornece a data e hora exatas do solstício de inverno a cada ano.
O solstício de inverno é a noite mais longa do ano e marca o início do período de inverno. Neste dia, o trajeto do sol no céu é o mais curto e o mais baixo acima do horizonte, a posição da Terra em relação ao sol atinge sua inclinação extrema: a desigualdade dia-noite é máxima.
Simbolicamente, o solstício de inverno evoca, portanto, a noite e a trevas. Mas ele carrega dentro de si uma esperança: a do retorno da luz. De fato, o solstício de inverno marca o início do alongamento dos dias: a escuridão se dissipará gradualmente, o sol finalmente triunfará.
Vamos entrar no simbolismo do São João e do solstício de inverno.
Os dois Joãos e os solstícios: que simbolismo?
As duplas solsticiais que apresentamos acima são ao mesmo tempo opostas e complementares. Elas descrevem o ciclo eterno da rotação da Terra em relação ao sol, as estações que se sucedem, as fases da vida, o eterno retorno.
No solstício de verão, as fogueiras de São João (originalmente uma festa pastoril e agrícola) acontecem ao ar livre, no final da tarde: o fogo nocturno prolonga o dia, que foi no entanto o mais longo do ano. Trata-se de repelir essas trevas que inexoravelmente começarão a dominar a luz até o solstício de inverno, momento a partir do qual a luz vencerá pouco a pouco a escuridão.

João Batista, profeta precursor, havia anunciado a vinda daquele que é a Verdadeira Luz, Jesus, sabendo que deveria ceder diante de um maior que ele:
Ele tem que crescer e eu tenho que encolher (João 3, 30).
Assim, o apagamento do Batista só poderia se traduzir pela invasão das trevas (morte) antes do retumbante retorno da Verdadeira Luz. Último profeta do Antigo Testamento, João Batista então fechou a Antiga Lei e anunciou a chegada do Verbo-Luz, cuja palavra os quatro evangelistas iam nos revelar.
Dos quatro livros canônicos que trazem a “boa nova”, os três primeiros (Mateus, Marcos e Lucas) apresentam semelhanças óbvias: são chamados de “sinóticos”. Mas o quarto, atribuído a João Evangelista, traz uma mensagem particular: uma mensagem de luz o que pode nos ajudar a entender o significado mais profundo do dia de São João do inverno.
João Evangelista e o retorno da luz.
João, filho de Zebedeu, é um dos discípulos e apóstolos de Jesus. Segundo a Bíblia, ele é aquele “a quem Jesus amava”.
A ele é atribuído o Evangelho segundo São João: por isso é chamado de “o Evangelista”. Ele também é comparado a João de Patmos, autor do Apocalipse, ainda que este texto pareça ter sido escrito posteriormente.
O Evangelho de João é semelhante a um sermão dado em voz alta (ou “kerygma”). Ele se distingue claramente dos evangelhos sinóticos pela importância particular dada ao conhecimento e à luz, destacando o significado das palavras e da vida de Jesus.
Desde seu prólogo, este evangelho coloca em paralelo Deus, a Palavra (ou logos), vida e a luz:
- No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus.
- Ele estava no princípio em Deus.
- Tudo por ele foi feito, e sem ele nada seria feito do que existe. »
- Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens,
- E a luz brilha nas trevas, e as trevas não a receberam.
Observa-se o alcance universal destes versos.
O significado oculto dos solstícios.
Nos ritos pagãos, a celebração do solstício de inverno (chamado Yule na Europa) consistia em apelar para as forças sagradas e mágicas para passar com sucesso do ano velho para o novo.
Sinónimo de abandono, de morte, o solstício de inverno anuncia, no entanto, um Renascimento: ele é uma porta que se abre para um novo mundo, uma nova vida, uma nova oportunidade.
Por outro lado, o solstício de verão é uma porta que se fecha: a vida está em seu auge, mas seu declínio se anuncia. Talvez seja um sinal de que a luz, embora triunfante no exterior, não está mais dentro.
Os gregos falavam de “porta dos homens” e “porta dos deuses”. Se João Batista pode ser considerado o guardião da porta dos homens, João Evangelista (“aquele que não morre”) é o guardião da porta dos deuses.
Entre os romanos, Janus era o guardião das portas solsticiais. Ele é representado com uma dupla face:
- uma cara de velho voltado para o passado, lembrando João Batista,
- uma cara de jovem voltado para o futuro, que lembra João Evangelista.
Com o advento do cristianismo, Janus simplesmente se tornou João.
No plano metafísico, o solstício de inverno marca a capacidade da Natureza e do Homem de emitir energia regenerativa. Esta regeneração é feita com base nas forças internas, sendo o ambiente externo hostil. Ela simboliza, portanto, a presença e o desenvolvimento de uma luz interior.
E, de fato, a porta dos deuses só pode ser interior, pois toca a consciência. Jesus diz: Eu sou a porta, se alguém entrar por mim será salvo. (João 10, 9)
A dualidade solsticial.
Os dois solstícios oferecem uma representação da dualidade, mas uma dualidade que se expressa na sua dimensão cíclica e dinâmica. Os dois solstícios não são opostos, mas complementares: eles realmente desempenham o mesmo papel e podem ser colocados em correspondência.
- A fase de declínio (entre o solstício de verão e o solstício de inverno) traduz um desaparecimento progressivo da luz externa, sinal de atenuação da matéria e doego. Ela corresponde a um aumento da luz interior, possibilitado pelo trabalho sobre si mesmo e pelo esforço de compreensão. Temos aí uma espécie de aspiração da luz exterior para a interiorizar.
- O solstício de inverno marca o ponto culminante deste trabalho: o corpo é abandonado (é a morte física), o trabalho interno está concluído; o Espírito pode finalmente manifestar-se em toda a sua grandeza.
- A fase de ascensão que se segue (entre o solstício de inverno e o solstício de verão) anuncia uma reintegração do Espírito na matéria: é um retorno ao mundo, uma nova Aliança fundada desta vez na harmonia e no Amor, a lei de Jesus. É o crescimento, o desenvolvimento do novo ser.
- O solstício de verão marca o apogeu deste ser. Ele pode então apenas declinar e morrer, para permitir o futuro nascimento de um ser ainda melhor.
Assim, o ciclo solsticial apresenta uma série de sucessivas purificações, que se inscrevem, como as transmutações alquímicas, em uma lógica de progresso. Cada declínio traz consigo uma nova oportunidade. Cada fase de crescimento anuncia um declínio que se aproxima e, portanto, um futuro renascimento.
Ninguém pode ver o Reino de Deus a menos que nasça de novo. (João 3, 3)
Natal: o retorno da luz.
No século IV, os romanos fixaram a data do nascimento de Jesus em 25 de dezembro, a fim de fazê-la corresponder ao nascimento do Solis Invictus (o sol invicto), ou seja no dia seguinte ao término das Saturnálias (grande festa tradicionalmente realizada de 17 a 23 de dezembro).
Esta data também corresponde ao nascimento da divindade solar Mitra.
O simbolismo é óbvio: Cristo representa o novo sol nascendo sobre o mundo: “o sol da justiça” (Antigo Testamento, Malaquias 4, 2).
Jesus reúne em si as qualidades do Espírito e da matéria, em toda a sua perfeição: simboliza o novo homem.
O São João de Inverno na Maçonaria.
Na Maçonaria, o São João de Inverno é a ocasião para uma refeição de comemoração (“banquete da ordem”), assim como em São João de Verão.
Os dois São Joões são, de facto, os padroeiros das obediências tradicionais, que aliás se reúnem em lojas chamadas “Lojas de São João”.
Observe-se também que nessas lojas, o Volume da Lei Sagrada (neste caso a Bíblia) permanece aberto no prólogo do Evangelho de João, escancarando o simbolismo da luz e da elevação iniciática.
Por fim, perceberemos o paralelo óbvio entre os solstícios e a duração simbólica do trabalho em loja, de meio-dia à meia-noite.
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