Tradução José Filardo
Por Paul Terra
Postado 2013/04/03 às 07:00 | 913 vezes vistos | 1 resposta |

© Tim Douet
Lentamente, o Grande Oriente de França organiza sua transformação. O culto ao segredo não é mais sagrado e esta obediência está envolvida ocasionalmente na vida pública. José Gulino, Grão-Mestre desta Ordem Maçônica, dá à revista Lyon Capitale os principais eixos de reflexão de sua loja: a defesa do secularismo e luta contra a onipotência do setor das finanças.
Lyon Capitale: Vocês se definem como “guardas da República.” Em que consiste sua batalha em 2013?
José Gulino: Devemos estar vigilantes sobre os valores da República. Nós sentimos um aumento de comunalismo em diferentes formas: religiosas, étnicas, regionais. A República deve fornecer níveis sociais e educacionais iguais a todos os cidadãos. E neste sentido, o multicomunitarismo enfraquece o Estado. Em questões sociais como o casamento para todos, a educação, o véu islâmico, assistimos a reações guiadas por culturas locais ou religiões. A França não é monocultural, mas ela não deve ser uma mera adição de províncias ou comunidades. A unidade da República deve ser defendida.
Sobre quais provas concretas vocês se apoiam para denunciar um aumento do comunalismo?
Falamos muito de cerca de dez milhões de euros investidos pelo Qatar nos nossos subúrbios. Estou surpreso ao ver que ninguém fala sobre o gasto de bilhões de euros anualmente pelos conselhos gerais para ajudar esses bairros. Os fluxos financeiros do Estado com destino aos subúrbios foram banalizados. A relação entre a República e os seus bairros deve ser repensada. Por razões econômicas, sacrificamos o meio associativo e, portanto, entregamos os bairros às religiões.
Como vocês explicam que a defesa do secularismo pode tornar-se um argumento para a Frente Nacional? É este o primeiro abandono de outros partidos?
O secularismo foi banalizado. Ele se tornou uma evidência tão óbvia de que nossos representantes eleitos puderam dizer a si mesmos que não havia mais necessidade de defendê-lo. Nicolas Sarkozy, o decorou com um monte de adjetivos que o desafiaram. Marine Le Pen defende o racismo e o antissemitismo. Os valores não são aqueles da República. A FN roubou o secularismo, mas eles defendem apenas um secularismo católico. Suas propostas não se sustentam, a não ser em nível semântico. Marine Le Pen o utiliza como uma arma contra o Islã. O secularismo exige considerar que a religião é um assunto da esfera privada. Ela distorce esta palavra. O culto muçulmano não está organizada para levar a palavra do Islã, que é uma religião de liberdade e tolerância. As relações entre as instâncias muçulmanas e alguns países árabes confundem sua mensagem. O culto muçulmano é demasiado fracionado e eles deixaram espaço para os salafistas e os extremistas. Esquecemo-nos de que 90% dos franceses muçulmanos praticam um islamismo moderado. A Igreja Católica é, no entanto, muito organizada. Sua oposição ao casamento para todos o atesta.
No Grande Oriente, vocês defendem uma nova forma de secularismo, que diz respeito às finanças. O que engloba o seu conceito de secularismo financeiro?
Estou preocupado em ouvir nossos líderes explicar que eles não podem fazer esta ou aquela reforma, porque os mercados se opõem a ela. Nós soubemos fazer a separação entre Igreja e Estado, que muitos qualificavam na época como inviável. Hoje, temos de olhar para a relação entre as finanças e a República. Se a Renault ou a Peugeot perecerem, será um drama social e humano, mas a França não vai pedir falência. Por outro lado, se o BNP ou a Société Générale fechar as portas a França seria arrastada para a queda. Nosso país está ligado demais aos bancos de quem ele não controla o destino. Nós não temos qualquer influência sobre as finanças. Todas as manhãs, os banqueiros se reúnem para definir as taxas de juros que eles aplicarão a indivíduos e Estados. Descobrimos que eles tinham se mancomunado para manipular as taxas e, assim, ganhar dinheiro à custa do país. Este tipo de decisão deve escapar do domínio privado. O sistema é tão complicado que ele escapa do cidadão. A metade dos engenheiros politécnicos integra os bancos para implementar fórmulas matemáticas, quando deveriam construir pontes e estradas. Temos de sair deste sistema e, assim, recuperar um certo grau de liberdade. Nosso objetivo no Grande Oriente é tornar as pessoas livres. É por esta razão que defendemos o secularismo financeiro.
Sobre o casamento para todos, as religiões se fizeram muito bem entender. Eles saem de seu papel?
As religiões têm o direito de não celebrar o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, mas o projeto de lei do Governo está relacionado com o casamento republicano. Não posso aceitar que a França, país de Direitos Humanos, impeça dois homens que se amam de se casar. Isso seria tirar deles um grau de liberdade, para torná-los subumanos. As religiões consideram a homossexualidade uma doença. Esses tabus datam da Idade Média. As pessoas são livres para escolher a sua sexualidade, e sua preferência não deve retirar suas liberdades. Fiquei chocado ao ver que na France2, uma cadeia de televisão financiada por dinheiro público, a Igreja Católica permite-se dizer tudo o que de mal ela acha deste projeto de lei e chamar a se manifestar. A religião é um assunto da esfera privada. A Igreja pode se transformar em um partido político se ela quiser. O clero não está em seu papel quando ele volta o olhar para atos civis. A Igreja procura influenciar o funcionamento do estado francês. Eles misturam voluntariamente as questões de família e casamento homossexual.
O debate em torno do casamento para todos dá origem à divisões de posições entre entre a esquerda e a direita. A linha de fratura passou do modelo econômico para as questões sociais?
Estamos em um momento em que o sistema financeiro, de valores, de educação chega ao seu fim. Precisamos construir um outro modelo que respeite os valores da República. Durante a Revolução, a lista de queixas surgiram. Em nossas lojas, eu coloco no lugar os cadernos de esperança de que darão lugar a uma reflexão com o mundo maçônico sobre o futuro da França, dentro de 20 ou 30 anos. Nós também convidaremos representantes sindicais, líderes empresariais ou mesmo políticos para nos ajudar. Nós preferimos a antecipar, mais que sofrer. A crise cria um espaço propício para o medo. O principal problema hoje é a perda de esperança no futuro. O estado de bem-estar mostra seus limites.
O Grande Oriente é uma obediência catalogada à esquerda. Vocês se sentem mais ouvidos desde a eleição de François Hollande?
Nossas opiniões são, talvez mais ouvidas. No Grande Oriente, temos ministros de todos os quadrantes. Mas não estamos em um papel que nos levasse a dizer-lhes o que devam fazer. Nós apresentamos a eles as nossas reflexões sobre as questões sociais, de cidadania ou da Europa, que eles são livres para aceitar ou rejeitar. Durante a campanha presidencial, convidamos todos os candidatos, exceto Marine Le Pen. Nós levamos uma luta ela constitucionalização da lei de 1905 sobre a separação de igreja e estado. François Hollande nos tinha feito essa promessa, que ele, em seguida, reiterou durante sua reunião em Bourget. Ele tomou as idéias que ele tinha ouvido falar entre nós. Nosso papel será o de lembrá-lo de suas promessas.

© Tim Douet
O segredo da condição de membro da Maçonaria se fissura cada vez mais. O lado misterioso da maçonaria alimenta os fantasmas; não seria a hora de seu movimento exibir-se publicamente?
O mistério nos protege. Durante a Segunda Guerra Mundial, perdemos muitos de nossos irmãos. Divulgar sua condição de membro é uma liberdade individual. Na Tunísia, hoje, ser um maçom é um compromisso difícil. Revelar sua condição de membro é uma escolha pessoal. A Maçonaria é conduzida em nossa sociedade midiática em direção a mais publicidade. O Grande Oriente não abrirá jamais, como fez o Papa, uma conta no Twitter. Mas cada loja é livre para organizar manifestações públicas. No Dia do secularismo, organizamos 200 eventos em toda a França.