Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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O Ateísmo Está Aumentando à Custa do Teísmo?

Tradução José Filardo

De Gregory Paul, um paleontólogo independente e pesquisador que analisa a relação entre religião e sociedade:

http://www.gspaulscienceofreligion.com/

Nos últimos anos, tem havido muita discussão e debate sobre se o ateísmo ou o teísmo está aumentando em todo o mundo.Uma boa parte da resposta encontra-se nos resultados do Programa Internacional de Pesquisa Social (ISSP). Em sua pesquisa Religião II realizada em 1998 e pesquisa Religião III amostrada em 2008 e recentemente lançada (porque o ISSP demora tanto em liberar seus resultados é obscuro), o ISSP fez o mesmo conjunto de perguntas em 28 países, permitindo a avaliação de tendências longitudinais brutas por mais de uma década (porque sua Religião I em 1991 fez perguntas diferentes em muito menos países, ela não é muito longitudinalmente útil).

 

% Não acreditam em Deus

% Teístas em geral

% Não duvida se Deus existe

 

1998           2008

1998          2008

1998           2008

Grã Bretanha

9.6              17.7

46.2           36

22.5            16.8

Áustria

6.8              9.3

51.3           40.8

32.4            20.8

Países Baixos

17.2            19.8

44.2           36.7

26.4            21.1

Austrália

10.2            15.6

52.2           43.5

28.6            25.1

Noruega

11.7            17.7

42.5           37

18.4            15

Irlanda

2.4              4

77.3           67.5

49.8            45.1

Nova Zelândia

7.9              12.5

52.9           46.4

30.9            28.2

Espanha

8.6              9.7

64.7           59.5

45.8            39.2

Itália

4.1              5.3

73.5           69.5

48               42.9

Suécia

16.8            19.5

25.8           24.9

12.3            10.3

França

19.1            21.9

38.8           37.3

20.1            17.5

Dinamarca

14.7            18.4

34              33.4

13.6            13.4

Estados Unidos

3.2              2.8

77.5           78.2

62.8            61.3

Suíça

4.3              8.5

44.5           45.1

28.3            28.8

Alemanha Ocidental

12.1            10.5

41.3           48.1

23.4            27.2

Alemanha Oriental

54               53

15.7           16.5

9.4              8

Japão

10.6            8.7

13.2           16.4

4                 4.4

 

Irlanda do Norte

3.7              6.8

74.4           67.4

50               45.2

Portugal

1.9              4

84.8           72.9

60               54.4

 

República Checa

20.3            37.3

30.4           23.9

17.1            23.9

Hungria

12.8            15.3

51.6           42.4

31.1            23.2

Letônia

9.2              18.3

38.9           36.9

22.9            21.7

Polônia

2.4              3.3

81             76.4

70.5            62.9

Rússia

19.7            6.1

40.2           58.2

23.8            33.9

Eslováquia

11.1            10.4

56.7           59.8

40.8            41.6

Eslovênia

14.2            13.6

39.4           40.7

22.9            24.2

 

Chile

1.5              1.7

91.4           90.5

81.4            82.3

Chipre

1.6              1.9

84.8           70.2

65               59

Filipinas

0.7              0.8

82.3           92.5

79               82.7

((Nota: as linhas em negrito indicam um aumento no ateísmo. Países de primeiro mundo são ordenados começando com a maior diminuição em teístas em geral e progredindo para baixo.)

Uma queixa que eu tenho em relação à nova pesquisa ISSP é que ela falhou em não reperguntar sobre a opinião sobre a Bíblia em um grande número de países, incluindo Estados Unidos (!), deixando-nos incapazes de reafirmar o registro Gallup de um forte declínio de longo prazo do Literalismo bíblico americano. E ela também não repetiu a pergunta sobre o comparecimento regular aos serviços religiosos, outra perda grave de amostragem longitudinal que espero seja corrigida em 2018.

Porque existem apenas duas amostras, em cada extremidade do período de 10 anos, as tendências de um determinado país devem ser tomadas com uma pitada de sal demográfico, especialmente quando a diferença não é estatisticamente significativa. Até mesmo o que parece ser uma grande mudança em uma nação em particular pode ser um acaso estatístico. Se não houvesse qualquer padrão global geral aparente, haveria pouca alteração a ser informada.

Dos 28 países amostrados, em 20 deles o teísmo é registrado como perdendo terreno para o ateísmo, pelo menos até certo ponto, indo de 1998 a 2008. Isto se deve principalmente porque este padrão é observado em 12 das 16 democracias do primeiro mundo.

(Nota: Estes são predominantemente resultados ISSP. Linhas sólidas indicam ateus de absolutos a marginais; espaços vazios à direita são teístas desde marginais até absolutos e o resultados para a Alemanha Ocidental e Oriental estão combinados proporcionalmente às suas populações. Diferenças entre os resultados ISSP de 1998 e 2008 são indicados pelos segmentos tracejados.)

Das 27 nações medidas quanto à crença na vida após a morte, 22 mostraram diminuição, incluindo todos exceto um país de primeiro mundo, com a condição de que a parte oriental da Alemanha não foi avaliada. Em 20 de 28 países, o número daqueles que nunca rezam subiu, incluindo 13 dos 16 países mais prósperos. O ateísmo, pelo menos algum grau, foi maioria em nove países desenvolvidos antes da virada do século; uma década mais tarde, isso era verdade em 12. Em 1998, a descrença na teoimortalidade foi a opinião da maioria em uma nação de primeiro mundo; em 2008, isso ocorreu em cinco. Nunca rezar permanece a prática da maioria em uma.

a preponderância destas tendências, separada e coletivamente, indica que elas são reais — neste caso, a religiosidade está perdendo popularidade em grande medida. No mínimo, a tendência geral é provavelmente ainda mais forte, sobretudo nas democracias desenvolvidas. Em apenas um caso de primeiro mundo, a Alemanha Ocidental, foi registrada uma mudança acentuada na direção de teísmo, e isso poderia ser um erro estatístico — outros relatórios de um aumento de teísmo alemão (Germoteismo) não têm aparecido, e a crença na vida eterna não aumentou. Além disso, um ligeiro movimento para teísmo na Alemanha Oriental pode refletir um afluxo de mais teístas alemães ocidentais para a região. A virada teísta no Japão não é estatisticamente significativa na maioria das consultas e muito possivelmente errante tendo em conta a ausência de relatos de um renascimento religioso. A situação é confusa na Suíça, onde o aumento do teísmo é estatisticamente marginal, enquanto forte ateísmo é registados como em ascensão, à medida que a vida após a morte e a oração caem mais acentuadamente do que parece ser realista. E o Euro-Islã não está favorecendo a maré da secularização. Nos 10 anos entre as pesquisas, a Europa Ocidental viu um ganho de mais de 20 milhões de novos ateus que agora totalizam mais de 200 milhões de uma população geral de quase 400 milhões; portanto, os ateus são a maioria na Europa Ocidental.

O ISSP não encontrou uma mudança nos Estados Unidos — uma anomalia comparada aos resultados emergentes de outras pesquisas (conforme discuto em mais detalhes aqui, que é um suplemento para este artigo). O Gallup descobriu recentemente que a resposta “não” à consulta simples sobre a crença em Deus é atualmente quatro vezes maior do que quando ela foi feita pela última vez na década de 1960. O percentual de respostas “não” a perguntas semelhantes do Gallup sobre a crença em Deus não deixam dúvidas de que (apesar de baixas taxas de reprodução) o ateísmo persistentemente aumentou, tornando não ateus o principal componente da ascensão bem documentada dos não religiosos (ao invés de um aumento em teístas sem igreja). Nenhuma Amerofé (fé americana) está se expandindo em qualquer lugar tão rapidamente. Até mesmo os mórmons (altamente reprodutivos) estão sendo deixados na poeira demográfica.

Parece que Ameroateus expandiram-se em 10 milhões desde a virada do século — representando cerca de 1 milhão por ano e cerca de um terço do crescimento geral da população, até um total de 60 milhões em mais de 300 milhões. O ateísmo tem feito grandes ganhos entre os jovens, enquanto o tamanho de Congregação caiu até um quinto. Mesmo assim, os resultados do ISSP confirmam que os Estados Unidos são ainda a democracia próspera mais teísta — ainda assim não quase tão teístas quanto alguns países de segundo e terceiro mundo.

Um aumento do ateísmo e decadência do teísmo parece estar ocorrendo em nível multinacional, e pode muito bem ser universal em países ocidentais. O aumento do ateísmo ocidental parece estar continuando uma tendência que começou no século XIX, se não antes e acelerou-se desde a Segunda Guerra Mundial, sem sinais de desaceleração, se os resultados do ISSP estão corretos. Perdas em teísmo ocorreram tanto nas nações protestantes quanto católicas, embora as últimas um pouco mais resistentes a perdas. Na maioria das nações ocidentais, a direita religiosa já é fraca, e em poucos onde ela é uma forte minoria, está perdendo terreno. Demograficamente impulsionado por uma crescente perda de piedade entre os jovens, a ascensão do secularismo nas democracias avançadas está de acordo com a hipótese de disfuncionalidade socioeconômica que prevê e observa que a melhoria dos níveis de segurança econômica e financeira em maiorias de classe média maiorias suprime fortemente o interesse em divindades sobrenaturais.

Se os resultados do ISSP estão no alvo, então a Irlanda do Norte viu um declínio notável no teísmo desde o final dos conflitos sectários. O mesmo ocorreu em Portugal, embora a duplicação de descrença na imortalidade sobrenatural não pode ser real. Estas tendências estão, também, em consonância com a tese de que o aumento de segurança é prejudicial à popularidade da religião.

Na maioria dos países do antigo bloco do leste amostrado pelo ISSP, o teísmo está sofrendo, ou na melhor das hipóteses, se segurando. Os declínios religiosos na República Checa e Hungria podem ser exagerados por um grau de aleatoriedade estatística, mas mesmo assim, são notáveis. A derrapagem do catolicismo na Polônia deve ser especialmente irritante para o Vaticano, considerando os esforços que o Papa João Paulo II dedicou ao auxílio à derrota do comunismo ateu através do apoio ao Solidariedade, um projeto que pretendia reviver o cristianismo na Europa. Isto obviamente não deu certo. Não há qualquer significância estatística para as tendências registradas pelo ISSP na Eslováquia e na Eslovénia. A falta de um renascimento religioso em tantos países anteriormente comunistas desmente a crença difundida de que a remoção da doutrinação ateucomunista resultou no renascimento automático da religiosidade.

A Rússia se parece com um antigo país do bloco de Leste que está passando por uma revitalização religiosa. É improvável que a ascensão do teísmo à custa de ateísmo possa ser tão dramática, conforme medido pelo ISSP ao longo de um tempo tão curto, mas a tendência básica não pode ser rejeitada liminarmente. Embora alguma ascensão do teísmo seja plausível, tendo em conta a orientação teísta do atual regime, o resultado é um pouco surpreendente visto que outros relatos têm observado uma retenção de irreligiosidade substancial. Por outro lado, um retorno ao culto de um deus em um país autocrático traumatizado, onde a expectativa de vida está em declínio é compatível com a previsão psicossociológica de que religião é mais capaz de prosperar em sociedades gravemente disfuncionais. O aumento dramático na oração se encaixa nesta teoria. O fato de que o apoio à crença na vida após a morte, que é um marcador da crença séria em uma divindade celestial não aumentou tanto sugere que grande parte do aumento da religiosidade russa em muitos casos é uma tendência nacionalista em apoio à igreja ortodoxa russa apoiada pelo regime que supernaturalismo real. Será interessante ver se a futura pesquisa confirma a tendência.

Não há qualquer tendência observada no Chile Católico, onde o Presidente recente era abertamente ateu. De acordo com o ISSP, Chipre está experimentando considerável secularização, e minhas informações sobre esta ilha são demasiado limitadas para declarar se isto é plausível, ou por que isso pode estar ocorrendo. E também não tenho informação suficiente para comentar sobre o aumento aparente do teísmo nas Filipinas — talvez católico e muito possivelmente envolvendo o fundamentalismo islâmico — exceto para avisar que a pesquisa em países pobres do segundo mundo podem não ser confiável, por razões técnicas.

A tese de que o secularismo popular está morto, ou pelo menos morrendo, é claramente falsa. Nas nações mais avançadas e bem sucedidas, é a religião que está na UTI demográfica. Também inteiramente desacreditada é a premissa de que a religião é universal à condição humana, como a linguagem — embora teístas variam desde constituir quase toda população até menos de um terço, as habilidades verbais são quase inteiramente uniformes. Extrapolações demográficas que sugerem que fundamentalistas com reprodução rápida estão em um curso estatístico de superar a baixa fertilidade dos secularistas estão se provando falhas porque elas não levam em conta a conversão da massa indiferente devido à modernidade.

Faltam às igrejas mecanismos para resistir às forças de secularização da híper modernidade — incluindo as corporações ricas que estão em concorrência com as igrejas pela atenção e o tempo da população (Confira os estacionamentos do Walmart e do Home Depot em uma manhã de domingo, quando apenas um quarto ou menos dos americanos frequentam a Igreja). Enquanto isso, o ateísmo está organicamente expandindo via conversão espontânea com pouco esforço organizado por defensores dedicados. Assim, podemos concluir que o ateísmo não está lutando uma batalha desesperada contra a maré da religião organizada no ocidente, e os teístas devem estar seriamente preocupados com sua situação em muitos países, especialmente as sociedades mais bem sucedidas, visto que a ascensão do ateísmo é predominante entre os jovens ocidentais, e em grande medida o ateísmo casual predomina quando as sociedades democráticas estão em seu maior sucesso.


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