Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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O simbolismo do Feixe de Esopo

 

 

Lincoln Gerytch
Sérgio K. Jerez

 

…no Cosmos, como na vida humana, tudo  está

conectado com tudo através de uma teia invisível.

                                                                    Mircea Eliade

Um ensinamento perene

Nosso estudo começa com Esopo, um personagem cuja historiografia está envolvida numa mistura de lenda e mistério. Desde a antiguidade, várias tentativas foram feitas para estabelecer a existência real deste formidável contador de histórias, mas até hoje sua vida suscita dúvidas. Vem de Heródoto, que viveu no século V a.C., a primeira menção a ele, dizendo que Esopo era um escravo que teria nascido na Frígia ou na Lídia cerca de cem anos antes.

Embora muitos autores tenham escrito sobre ele, pela proximidade de ambos – Heródoto e Esopo – no tempo, e por ter sido dado numa época em que os testemunhos orais percorriam séculos a fio sem sofrer qualquer alteração significativa, é razoável aceitar o depoimento de Heródoto e a dar a existência de Esopo como um fato. De todo modo, e como não raro acontece, o personagem aqui tem uma importância menor do que a obra que lhe é atribuída.

O que se destaca em Esopo são suas maravilhosas fábulas, que atravessaram mais de dois mil e quinhentos anos transmitindo sabedoria e ensinamentos morais a dezenas de gerações, de maneira inteligente, divertida e perspicaz. São mais de cem histórias curtas, onde os protagonistas geralmente são animais dotados de muita astúcia, e que no seu desfecho contêm uma frase que sintetiza o preceito que se quer ensinar. São de Esopo, por exemplo, as fábulas A Raposa e as Uvas, A Cigarra e a Formiga e O Rato e o Leão.

Atenta ao caráter da verdade em todas as épocas, a maçonaria foi buscar em Esopo, mais especificamente na fábula d’O Feixe de Varas, um de seus sábios ensinamentos. Diz o fabulista:

Um homem já velho tinha muitos filhos que passavam o tempo a brigar uns com os outros. Tentava ensiná-los a evitar aquelas discussões, mas sem resultado.

 

Um dia chamou-os todos e pediu que lhe trouxessem um feixe de varas. Depois ordenou a cada um dos filhos que tentassem, com toda a sua força, partir o feixe de varas. Todos experimentaram, mas por mais força que fizessem, nenhum conseguiu quebrá-lo. Por fim, o pai desamarrou o feixe e, uma a uma, partiu facilmente as varas. E disse-lhes:

 

— Meus filhos, por aqui podeis ver o poder da unidade. Se vos mantiverdes unidos pela força da amizade, ninguém vos vencerá. Se vos separardes, estareis perdidos.

Moral da história: A união faz a força

Como se vê, de uma maneira simples, e com poucas palavras, Esopo conseguiu transmitir uma ideia que está presente na maioria das religiões e que é muito cara para a humanidade. É também uma das colunas mestras da Ordem: a excelência do amor fraternal. Mas cabe uma pergunta: de onde Esopo teria tirado o material para esta sua fábula e qual o seu significado simbólico, além da potencialização de resultados decorrente da conjugação de esforços?

 

Os feixes no mundo antigo

Desde tempos imemoriais, os cajados, cetros, bastões, varas etc. são símbolos de poder e virilidade, tanto pela sua evidente capacidade de contundência como por sua conotação fálica. Primitivamente armas de defesa e ataque, foram aos poucos, em todas as civilizações, transformando-se em instrumentos associados à autoridade e à liderança. Estão presentes em todas as culturas, desde a suméria e a egípcia, até a etrusca, persa, grega, romana, hindu, maia, asteca etc.

A cultura grega, na qual Esopo viveu, adotava os feixes de varas com um significado místico-religioso (fig. 1) de origem incerta, mas provavelmente associado à deusa Héstia[1]. Em nossa opinião, uma das possibilidades é de que os feixes tenham sido tipos primitivos de tochas ou archotes que, com o tempo, passaram a ter uso cerimonial.

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Fig 1- Alto-relevo grego, representando um ritual – provavelmente em honra a Héstia –  que parece envolver purificação pelo fogo, onde aparecem três feixes. Curiosamente, pode-se notar um triângulo equilátero inscrito na perna do homem com a cabeça encoberta. Note-se, também, que o altar do fogo é triangular.

 

Até recentemente na história da humanidade, para se ter fogo nas casas era preciso mantê-lo constantemente aceso, o que exigia muito trabalho. Caso o fogo se apagasse, uma opção seria tentar produzi-lo através de atrito, faíscas etc. ou então recorrer a alguém das cercanias que cedesse um braseiro ou que permitisse acender algum material próprio para transportar as chamas. No Brasil colonial, muitas vilas ou cidades dispunham para isso da Casa do Fogo[2], cuja função era suprir os habitantes com brasas e material incandescente.

Na Grécia antiga este papel era desempenhado pelos templos de Héstia onde, supomos, o solicitante do fogo se submetia a um ritual de purificação antes de recebê-lo através de feixes de varas. Outro exemplo religioso do uso de feixes com hastes[3], talvez de mesma origem, é o caso dos magos persas, que os portavam como um sinal de busca da luz ou de santidade (fig.2).

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Fig 2 – Detalhe de placa de ouro datada do séc. V a.C. representando um sacerdote persa carregando um feixe

 

Já em Roma, os feixes de varas eram utilizados no culto à deusa Vesta, versão local de Héstia, e como símbolos e instrumentos da manutenção da lei e da ordem. Os estudiosos são unânimes em afirmar que o uso simbólico dos feixes pelos romanos se deve à influência dos etruscos, mas ignora-se seu real significado para estes últimos.

Na tradição romana em particular, os feixes eram constituídos de hastes de olmo ou bétula amarradas por uma tira de couro, frequentemente na cor vermelha. Cada haste representava o poder de uma das tribos formadoras de Roma e, claro, o fato de estar atada às demais expressava a coesão entre elas.  Denominavam o feixe de fascis, uma palavra derivada do grego, onde significava embrulho, fardo, maço. Do latim fascis derivaram para o português a própria palavra feixe, além de faixa, fascínio, fascículo e outras. Fasces, a forma plural da palavra, tem em português o mesmo significado que no latim, ou seja, feixes, embora no nosso caso o termo também seja usado como singular.

 

Com a sofisticação da cultura romana, os fasces (fig. 3) passaram a ser exibidos associados aos políticos que detinham poderes legislativos, denominados genericamente de magistrados[4]. Ao ostentar os fasces, portanto, um magistrado indicava à população que os lares[5], as tribos e as cidades romanas lhe atribuíam seu poder para legislar e executar as leis, além do que transmitia a ideia de que estas leis seriam por ele aplicadas com a pureza, retidão, integridade e decência próprias das sacerdotisas de Vesta, mantenedoras do fogo sagrado que a tudo purificava.

 

Sempre que um magistrado se apresentava em público, era precedido por um cortejo de lictores[6], que é como se denominavam os portadores dos fasces. Quanto mais importante o cargo, de mais fasces lictoriae (em latim) o político dispunha. Este número variava, sendo de vinte e quatro para os ditadores, doze para os imperadores e cônsules e em menor número para outros magistrados. O fato de, em alguns casos, recorrerem ao número doze e seus múltiplos, possivelmente estava associado às doze principais divindades do panteão romano[7], o que enfatizaria a conotação de ‘proteção dos deuses” às decisões do magistrado. As vestais[8], em suas aparições, também eram acompanhadas de um lictor portando o fasces, fazendo alusão ao fogo sagrado de seus templos.

 

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Fig. 3 – Fasces romano

Aqui vale a pena uma breve análise de etimologia latina. A vestal era uma virgem (virgo) que, na cultura romana, incorporava as mesmas virtudes do homem (virago). Vir significa homem. A haste ou vara que compõe os fasces era chamada de virga. Fas é aquilo que é correto e permitido pela lei divina. O falo, que era emblema das vestais, era chamado de fascinus, palavra que também tinha o sentido de encantamento, feitiço e que é derivada de fasces. Dizemos isso para deixar patente que existia, através dos fasces, uma associação clara entre masculinidade e poder, e os rituais associados a eles deixam isso evidente. Os fasces eram transportados eretos, no ombro esquerdo dos lictores. Caso um magistrado encontrasse um magistrado de nível superior, os lictores do primeiro inclinavam seus fasces em sinal de reverência e submissão aos poderes do segundo. Diante de uma vestal, todos inclinavam seus fasces, evidenciando a subordinação do poder mundano aos desígnios divinos.

 

A função dos fasces, como símbolo, era tornar visível a autoridade do magistrado ao qual estavam associados e assegurar a imediata obediência de suas ordens. Com o tempo, as hastes que compunham os fasces foram acrescidas de um cutelo ou machado, às vezes colocado no centro e acima das varas e, depois, à frente delas. Durante o período da República[9] já era usado desta forma, assim como também havia se tornado, além de símbolo, um instrumento de punição. Pelas mãos dos lictores, os infratores da lei eram açoitados publicamente com as hastes, e o cutelo ou machado era usado para infligir a pena capital. Frente a tal demonstração de poder, não é de estranhar que os romanos ficassem paralisados ou, como já vimos, fascinados. Apenas no final da República é que os lictores perderiam a função punitiva.

 

Diante da importância simbólica e da sofisticação ritualística com que os fasces e lictores fizeram parte da cultura da antiga Roma, muito ainda haveria para se falar a seu respeito, já que ficaram em evidência durante séculos e eram adotados em todo o território romano. Sua influência se fez sentir em todo o Ocidente, onde até hoje é reconhecido como um emblema do poder e da autoridade do estado na imposição da lei.

 

Do ponto de vista arquitetônico, acreditamos – embora não tenhamos encontrado referências consistentes sobre isto – que as primeiras colunas gregas estriadas ou fasciculadas tenham tido nos fasces sua inspiração.

 

 

O símbolo do feixe na atualidade

Uma vez que a igreja não lhe atribuiu qualquer valor em sua iconografia, os fasces ficaram praticamente desaparecidos na Idade Média. Seu ressurgimento na cultura ocidental deu-se pelas mãos da Revolução Francesa, que, para salientar as diferenças entre a República e o antigo regime, buscou um novo conjunto de emblemas para substituir os vigentes até então, associados à religião e à monarquia. Para tanto, tomaram vários símbolos emprestados de culturas históricas, dando-lhes, em alguns casos, um sentido renovado, e usando-os para incutir no povo um novo senso de tradição e reverência para com a recém instalada forma de governo.

 

Inicialmente utilizado sem o cutelo a fim de distanciar-se da ideia de um regime de força, aparece durante a revolução encimado por um barrete frígio[10], evidenciando que a liberdade deveria prevalecer sobre o poder do estado. Até hoje, embora já com o cutelo, é um dos emblemas da França (fig. 4).

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Fig. 4 – Emblema em consulado francês

 

Fruto dos ideais iluministas que nortearam a revolução dos franceses, a independência dos Estados Unidos nutriu-se do mesmo simbolismo e passou a adotar os fasces em muitas de suas insígnias e monumentos, algumas vezes com e outras sem o cutelo. Muitos países viriam a incorporar este símbolo desde então.

 

O início do século XX traria, no entanto, uma nova conotação ao simbolismo dos fasces.

 

A Itália havia se unificado poucas décadas antes e as regiões que a formaram careciam de uma identidade comum. Em defesa do estado e em contraposição ao poder então exercido por Inglaterra e França, defendia-se, na política italiana, a criação um sindicalismo nacional sob controle da elite. Isso, somado às ideias do movimento futurista[11] e influenciado por aspectos do integralismo[12] e pela crise econômica europeia que provocou a Primeira Guerra Mundial, acabou por constituir o caldo de cultura que levou à criação do fascismo.

 

A palavra fasci, que em italiano tem o mesmo significado que fasces em português, havia passado, desde o final do século anterior, a ser empregada na Itália, com o sentido de união propugnado pela fábula de Esopo, para designar grupos e facções políticas. E é assim que, em 1915, surge, pela primeira vez, a palavra fascismo e é criado o Partido Fascista. O símbolo dos fasces, que nas palavras do fabulista expressava a força da fraternidade, voltava, como no passado romano, a ser identificado com a política e com o poder do estado, embora sem incorporar o viés legislativo da velha Roma.

 

Os movimentos fascistas tiveram seu auge na década de 1930 e, com o término da Segunda Guerra, entraram em acentuado declínio. Com isso, e por sua associação com os regimes derrotados na guerra, o emblema dos fasces passou a ser visto com reserva – mantida até hoje – especialmente pelos que, alimentados por preconceitos, não conseguem distinguir signo de significado. A tendência, porém, é que com o passar do tempo ele reassuma sua conotação original, seja para representar iluminação, união ou justiça.

 

No Brasil são poucas as referências aos fasces. O termo vara, por exemplo, que é utilizado em nosso país para identificar, dentro da estrutura judiciária, o local de locação de um juiz, está relacionado aos fasces. Na época do Brasil colônia, as Ordenações Filipinas – sistema de leis que vigorou até o advento do Código Civil, em 1919 – determinavam, por influência dos fasces no direito romano, que os juízes ordinários portassem obrigatoriamente, quando em público, uma vara vermelha e, os juízes de fora, uma vara branca. De resto, como a inspiração iluminista foi de certa forma contida pela formação monarquista do Brasil pós-independência, o significado simbólico dos fasces ficou adormecido, e eles não foram utilizados de forma oficial nos emblemas nacionais. Só no centenário da Independência é que alguém decidiu adotá-los nas expressões artísticas em comemoração ao evento. Assim, é possível vê-los no monumento à Independência e nas paredes em torno do Museu do Ipiranga, em São Paulo. Além desses, ainda na capital paulista, adornam o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico[13] (fig. 5).

 

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Fig 5 – Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, às margens da Represa de Guarapiranga, em Interlagos, São Paulo

 

Conclusão

 

É provável que, ao conceber sua fábula, Esopo tivesse em mente, além da força da união, mais significados para o feixe de varas. Elencamos, abaixo, dentre os possíveis, alguns que, de forma geral, se aproximam dos ideais maçônicos:

 

1) A importância da família, implícita nos rituais de devoção à deusa Héstia, padroeira dos lares e, por extensão, protetora, ao lado de Zeus, da unidade familiar;

2) O entusiasmo, vivacidade e energia decorrentes da união que, como as chamas, retira seu poder e seu calor da contribuição de cada uma das partes que a alimentam e permite trazer a luz a todos;

3)  A possibilidade da vida em harmonia fundamentada na virtude, na sinceridade e no altruísmo.

 

Poderíamos, retomando o caminho trilhado pelos romanos, ressaltar a importância do respeito à lei e aos valores sobre os quais está edificada a sociedade. Mas gostaríamos, acima de tudo, de assinalar que, para a humanidade alcançar seus desígnios de grandeza e prosperidade, é preciso que cada um de nós veja no nosso próximo um igual, a fim de que, todos juntos, possamos caminhar para um destino onde a união, a paz, a fraternidade e a sabedoria tornem dispensável a tirania do cutelo.

 

Virtus Unita Fortius Agit[14]

 

 

Referências

_______________________

 

Bizzarri, M., L’Aquila e Il Fascio Littorio, simboli cosmici – Esoterismo e fascismo: storia, interpretazioni, documenti, Gianfranco De Turris (Ed.), Edizioni Mediterranee, Roma, Itália, 2006

 

Vários, Britannica Encyclopedia of World Religions, Encyclopædia Britannica, Inc., Londres, Inglaterra, 2006

 

Encyclopædia Britannica Ultimate Reference Suite,: Encyclopædia Britannica, Chicago, E.U.A., 2011

 

Girard, P. F.,  Manuel des Antiquités Romaines, Ernest Thorin, Paris, 1898

 

Mola, A. A., Il Fascio e la Squadra – Esoterismo e fascismo: storia, interpretazioni, documenti, Gianfranco De Turris (Ed.), Edizioni Mediterranee, Roma, Itália, 2006

 

Vários, Oxford Latin Dictionary, Oxford at Clarendon Press, 1968

 

Reghini, A., revista Docens, n. 10-11, Sindicato Nazionale Fascista Insegnanti, Roma, Itália,1934

 

Shroeder, J. L., The Vestal and the Fasces, University of California Press, Berkeley e Los Angeles, California, E.U.A., 1998

 

Vários, Fábulas – La Fontaine – Antologia, Editora Martin Claret, São Paulo, SP, 2005

 

Dezenas de artigos extraídos da Internet

 

 

 

 

 

Notas

[1]     Héstia personificava o fogo sagrado, em torno do qual cada família ou cada cidade se reunia, zelando, deste modo, pelo bem-estar cotidiano. Havendo rejeitado os pedidos de casamento de Poseidon e Apolo, jurou manter-se eternamente virgem.

Zeus conferiu a ela o dever de alimentar e manter os fogos da lareira do Olimpo com os restos dos animais sacrificados aos deuses.

[2]     Exemplo disso é relatado no jornal Tribuna do Norte, de Pindamonhangaba, em 21 de maio de 1986, sob o título Casa do Fogo: “Era um sobrado que havia na rua Prudente de Morais e foi demolido na década de 1960, com a desapropriação da área para a construção da praça Desembargador Campos Maia (praça do antigo Fórum). Considerado de valor histórico, esse sobrado pertencia à família Leme, descendente dos Lemes pioneiros de Pindamonhangaba. Ficou conhecido como a folclórica ‘Casa do Fogo’ porque em sua parte de baixo havia uma fornalha que era mantida acesa dia e noite. Inicialmente fornecia brasas para os turíbulos (vasos onde se queimam incensos) da igreja matriz. Mas o costume de buscar brasas na Casa do Fogo também se propagou entre o povo. Como naquele tempo ainda não havia a caixa de fósforos, ao amanhecer e ao anoitecer os escravos iam buscar as brasas para acender os fogões e iluminar as casas.”

[3]     No Avesta, coleção de livros sagrados dos zoroastrianos, este feixe é chamado de baresma ou baresman.

[4]     Os principais magistrados romanos eram o ditador, o censor, o cônsul, o pretor, o edil, o questor e o tribuno da plebe.

[5]     Lares (lar, no singular) era também o nome de divindades domésticas inicialmente associadas à memória dos antepassados. Os Lares eram protetores das residências romanas e representados pelo fogo existente nos altares nelas mantidos. Eram provenientes da tradição etrusca, onde a responsabilidade pela manutenção deste fogo era transmitida de pai para filho através das gerações. Nos templos de Vesta, em Roma, a tarefa de manter o fogo era de responsabilidade das vestais (vide 8, abaixo).

[6]     Os lictores aparecem inclusive no livro cristão dos Atos dos Apóstolos 16:35, mas a maioria das versões do Novo Testamento traduzem lictores por quadrilheiros.

[7]     Apolo, Ceres, Diana, Juno, Júpiter, Marte, Mercúrio, Minerva, Netuno, Vênus, Vesta e Vulcano.

[8]     Denominação das seis sacerdotisas do templo da deusa Vesta. Consideradas a expressão da mais sublime pureza, eram iniciadas na infância e seu sacerdócio durava trinta anos. Faziam voto de castidade e tinham a responsabilidade de conservar aceso o fogo purificador do templo, que, no imaginário romano, era responsável pela manutenção da harmonia e segurança dos lares romanos e do Estado. Usavam os fasces sem o cutelo.

Segundo Shroeder (op. cit.), “Durante os seus trinta anos de serviço, as seis Vestais eram obrigadas a manter a mais rigorosa castidade. A impureza era punível com a morte prematura. Mas, ao contrário da santa virgindade das freiras cristãs, a castidade das Vestais não era uma forma de vida mais perfeita e espiritual, nem uma censura às mulheres casadas. Sua virgindade não era exemplar, mas extraordinária – uma forma de pureza ritual. Enfatizava, por contraste, que o matrimônio e a maternidade eram as normas.

As Vestais se dedicavam para que outros pudessem se casar. Elas eram guardiãs da família. Oficiavam ritos de fertilidade. Guardavam um falo ritual que pode ter simbolizado a própria deusa inefável.

O mundo isolado das mulheres das Vestal talvez fosse menos um convento do que um harém sem um sultão visível. O Vestais talvez fossem simbolicamente casadas com o estado. A Vestal não se vestia como uma donzela, mas usava o cocar de uma noiva romana, e o vestido de uma mulher casada. A cerimônia de investidura da Vestal – a captio, ou ‘captura’ – lembrava um casamento romano. O sumo sacerdote do estado, o Pontifex Maximus, tirava grosseiramente a iniciada de seu pai, simulando a lendária violação das mulheres sabinas pelos seguidores de Rômulo. Ele a chamava de Amata, um nome misterioso que implicava que ela era uma mulher casada capturada e uma donzela inquebrantável. Após sua investidura, estas sacerdotisas, que eram paradoxalmente tanto virgens simbolicamente estupradas quanto esposas não-violadas, também eram elevadas ao status legal de homens.

As Vestais eram guardiãs do privado, embora paradoxalmente vivessem uma existência pública. Ao contrário de outros sacerdotes, moravam no templo em que serviam. O templo da deusa Vesta havia sido construído para parecer uma antiga casa romana, mas estava localizado no centro do mercado.

Era direito de todo romano entrar livremente no templo durante o dia, embora os homens fossem terminantemente proibidos de entrar à noite.

As Vestais participavam e abençoavam as mais importantes funções governamentais. Mantinham sob sua tutela os livros sibilinos que continham as profecias sobre o futuro de Roma e que eram consultados periodicamente pelos cônsules e imperadores. Tinham espaços reservados nas arenas e teatros.

As Vestais eram as únicas, dentre todas as mulheres, que eram escoltadas pelos fasces.”

[9]     De 509 a 27 a.C..

[10]   Também conhecido como barrete da liberdade. É uma espécie de gorro ou touca, originariamente utilizado pelos moradores da Frígia, antiga região da Ásia Menor, onde hoje está situada a Turquia. Foi adotado, na cor vermelha, pelos republicanos franceses que lutaram pela tomada da Bastilha em 1789, que culminou com a instalação da primeira república francesa em 1793. Por essa razão, tornou-se um importante símbolo do regime republicano. Fonte: Wikipedia.

[11]   Movimento de cunho artístico iniciado em 1909 por Filippo Marinetti e que se estendeu para a política. Propugnava as guerras como fator de depuração das sociedades, a violência como forma de atuação política e a valorização da virilidade na educação.

[12]   Integralismo ou integral nacionalismo foi um termo cunhado pelo jornalista francês Charles Maurras para designar o movimento nacionalista inspirado em ideologias conservadoras do século XIX.

[13]   Obra do escultor ítalo-brasileiro Ottone Zorlini, inaugurada por iniciativa da Sociedade Dante Alighieri, em 1929. Detalhes podem ser encontrados na página http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/adote_obra/index.php?p=4535 .

[14]    A virtude unida atua com mais força – lema da Universidade do Porto, em Portugal.