Tradução J. Filardo
por Philip Crossle
Philip Crossle foi bibliotecário da Grande Loja da Irlanda, é um historiador brilhante que nos ilumina ainda hoje, graças ao seu livro co-escrito com John Herron Lepper: “História da Grande Loja dos Maçons Antigos e Aceitos da Irlanda” 1 publicada em Dublin em 1925 e reeditada em 1987. O artigo de Renaissance Traditionnelle retoma em síntese as suas pesquisas, e desde o início Crossle afirma que a Maçonaria irlandesa não é simplesmente originária da maçonaria inglesa, e que ela foi capaz de se desenvolver em solo irlandês em paralelo com o seu desenvolvimento em outros países e a exemplo do ofício de pedreiro nos tempos medievais, que se desenvolveu um pouco por toda parte. A prática da Maçonaria irlandesa se efetua em harmonia com a Maçonaria Mundial, mas sempre quis ficar mais perto das “Old Charges”, as “Antigas Constituições”. Existe uma noção de que esta Maçonaria irlandesa fora importada por volta de 1725 da Inglaterra. Na verdade, estas são as “Constituições dos Maçons Francos” de 1730 em Dublin que semeiam a dúvida e isso se você acredita na dedicatória do autor John Pennell a Lord St Georges, e que diz: “Estas Constituições, meu senhor, têm origem primariamente na compilação dos antigos arquivos dos Franco-maçons, e elas foram adaptadas para uso das Lojas na Grã-Bretanha, pelo mui sábio James Anderson, M.A.” Claro, estas são as Constituições de Anderson de 1723, de que fala Pennell, mas ele vai se aplicar em modificar e até mesmo melhorá-las, a fim de se ajustar à prática irlandesa, mas também em um esforço para esclarecer a história do ofícios, bem como as obrigações e os regulamentos. Como não se conhecia claramente o número de lojas que tinha a Irlanda em 1725, a partir de 1731 o Grão-Mestre, Lord Kingston pede por meio de correspondência às Lojas, sem dúvida muito numerosas, que reclamem oficialmente suas patentes. Um estudo do Dr. Chetwode Crawley fornece o seguinte inventário:
– Lojas Inglesas dos Modernos e das Ilhas Britânicas: 355
– Lojas fora das ilhas: 196
– Lojas Inglesas dos Antigos: 258
– Lojas Escocesas: 284
– Totalizando 1093 Lojas enquanto Chetwode Crawley contará 815 só na Irlanda!
Entra-se em seguida, neste artigo nas especificidades ao mesmo tempo históricas, geográficas e sociológicas da Maçonaria irlandesa. Assim, ele nos explicou que durante muito tempo os maçons irlandeses de origem celta eram mais numerosos que aqueles de origem inglesa, e essas especificidades afetarão a redação de suas constituições por Pennell. Este é o primeiro título das constituições de Anderson e de Pennell que serão comparados:
- – Anderson de 1723
“1. Sobre Deus e a Religião
Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele compreende corretamente a Arte, nunca será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso. Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer que ela fosse, hoje pensa-se mais acertado somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões particulares para si próprio, isto é, serem homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os possam distinguir. Por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância”.
- Pennell, 1730
“1. Sobre Deus e a Religião
Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e não ser um estúpido ateu nem libertino irreligioso. Isso quer dizer que os maçons devem ser homens de bem e leais ou homens de honra e integridade, quaisquer que sejam as denominações ou confissões que ajudam a distingui-los. Por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância”. O conceito de uma religião única continua presente, e pode-se notar também, brevemente, mas significativamente, que a oração feita na recepção de um novo irmão, que não é encontrada em Anderson é mantida no lado irlandês, evitando deixar a cada um as suas próprias opiniões. Ela apresenta um pedido a Deus, de permitir que o novo Aprendiz possa descobrir “os mistérios da santidade e do cristianismo, em nome e por amor de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador …” E sempre dentro do mesmo espírito, as passagens devidas à Reforma inglesa que induziam à separação em relação ao poder apostólico romano, não aplicável aos irlandeses e não desejada por eles, não aparecem muito bem nestas Constituições. Na verdade, mais uma vez, em 1730, os maçons irlandeses desejam ficar mais perto do espírito das antigas constituições, o que também tende a mostrar, de acordo com o autor, a influência inglesa sobre a maçonaria irlandesa é relativamente pequena, que ela não foi simplesmente importada, e que foi forjada e formatada antes dessa data de 1725. Note-se também que as Lojas irlandesas, não têm título distintivo, mas simplesmente os números de matrícula. Philipp Crossle irá então nos propor o estudo do nascimento do Rito irlandês, através do estudo da Loja No. 163 de Birr.
Primeiro Período
Em 1797 e conforme descrito por Pennell já em 1730, encontra-se, e isso sem dúvida da forma antiga, 3 graus:
1 : Aprendiz ou Irmão (Apprentice or Brother) – 2: Companheiro de Ofício (Fellowcraft) – 3: Parte de Mestre (M.M.)
Nos dois primeiros graus encontra-se a quase totalidade do ensino maçônico, principalmente a lenda hoje tradicional do terceiro grau e quanto ao terceiro grau descrito por Pennell, ele corresponde é um pouco mais aos graus atuais de Mestre Instalado, do Real Arco e Maçom da cruz vermelha.
Segundo Período
Parece que a partir de 1744 em Dublin, de 1750-1760 em outras cidades, e em 1800 em Birr, a hierarquia dos graus era a seguinte:
1 : Aprendiz ou Companheiro de Ofício ou ainda Entered and Crafted (Aceito e considerado homem do ofício) – 2: Master Mason (Mestre Maçom) – 3: Royal Arch (Real Arco)
Assistimos então neste período uma espécie de fusão dos graus de aprendiz e companheiro, o segundo grau e, muito importante, tornando-se conforme vimos o de mestre maçom.
Terceiro Período
Provavelmente, começando por volta de 1790 e em Dublin ocorre uma nova mutação que vai ver o primeiro grau, o de Entered and Crafted que acabamos de ver, mutação que será revelada em 1840, onde os graus passarão a ser distribuídos da seguinte forma:
1o. grupo: Composto pelos Graus 1 e 2 do primeiro e segundo períodos produzingo uma maçonaria azul em 3 graus: 1 : Aprendiz – 2: Companheiro de Ofício – 3: Mestre Maçom.
O grau 3 do primeiro e segundo períodos será usado por si próprio para formar os grupos 2 e 3, e eu os encaminho ao texto de Renaissance tradicional sobre as especificidades da instalação, mas mesmo assim voltaremos em breve.
2o. grupo:
1 : Past-Master (hoje Mestre Instalado) – 2: Excelente Maçom – 3: Mui Excelente Maçom – 4: Maçom do Arco (Arch Mason) – 5: Maçom do Arco Real
3o. grupo:
1 : Maçom da Arca (Ark Mason) – 5: Companheiro de Marca – 3: Mestre da Marca – 4: Maçom do Ataque ou do Combate – 5: Passagem de Babilônia (ou Cruz Vermelha de Daniel) – 6: Passagem do Jordão – 7: Ordem Real (ou azul da Prússia)
4o. grupo: ele é formado devido à introdução da Cavalaria Templária na Maçonaria. Aí se encontram os graus de:
1 : Marca Negra – 2: Templários (quatro graus) – 3: Passagem do Mediterrâneo – 4: Malta – 5: Cruz Vermelha de Constantino – 6: Cavaleiro de Patmos
Finalmente, note-se que um grau que conheceu grande sucesso na Irlanda no final do século XVIII e início do século XIX, o do Real Arco e Cavaleiro Templário (sacerdote do Arco Real e Cavaleiro Templário) deveria ser o último grau à imagem daquele da Rosa Cruz no continente. Também nesta edição 121 de Renaissance Traditionnelle e os números 125 e 126, Philip Crossle desenvolverá o estudo de três períodos e é isso que tentaremos fazer com ele em nosso trabalho futuro.
1- História da Grande Loja de Maçons Livres e Aceitos da Irlanda, Volume 1
Renaissance tradicional no. 121 – janeiro 2000 p 5 – XXXI Volume