Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Por uma ação mais efetiva da Ordem (1987)

José Filardo M⸫M⸫

Lealdade e Trabalho n° 157 – GLESP – São Paulo

1717, Londres. Uma grande cidade pelos padrões de sua época. Naquele momento, contudo, se alguém afirmasse que as cidades pudessem atingir o tamanho e a população das metrópoles contemporâneas, seria, sem sombra de dúvida, tomado por um demente e visionário. Nossos Irmãos, que, naquele ano, estabeleceram as bases da atual Maçonaria, não eram nem uma coisa nem outra e sim homens de bom senso e preconizaram que os Irmãos devessem residir dentro de um raio limitado da loja.

Parece-nos que tinha em mente a formação de Lojas compostas por membros da mesma comunidade e que estas servissem, além de sua vocação esotérica, como fóruns livres para a discussão e solução de problemas da comunidade,

1986, São Paulo. Uma grande cidade pelos padrões de sua época. Uma metrópole ou, ainda, uma megalópole a engolir a comunidade, dissolvendo os laços familiares e de vizinhança? Não cremos. O que vemos é um grande Pavimento de Mosaico, onde diferentes comunidades convivem lado a lado, com maior ou menor coesão.

Ao mesmo tempo, existem, no Interior do Estado, centenas de comunidades que se parecem, em muitos aspectos, com aquela Londres de nossos predecessores.

O que dificulta a maior atuação de Lojas?

É flagrante e perceptível a diferença entre a ação das Lojas Maçônicas do Interior do Estado e aquelas localizadas na Capital.

No interior encontram-se mais Lojas empenhadas na realização dos objetivos da Ordem, seja pela união entre os membros na vida profana ou nas Lojas, nas ações de benemerência, na filantropia e nas múltiplas atividades em que se congregam Irmãos, Cunhadas e Sobrinhos. Nas comunidades menores, a Ordem ocupa seu espaço, integra-se à comunidade, representa uma força viva dentro da sociedade e permite, desta forma, que os Irmãos possam cumprir, em toda sua plenitude, o seu papel de construtores sociais. Nos grandes centros, por outro lado, o panorama delineia-se de forma bem diferente.

Os veneráveis queixam-se do baixo índice de comparecimento dos Irmãos às sessões, de desinteresse dos Irmãos pelos assuntos da Ordem, da realidade de ações beneméritas, da precariedade da Ação Social Gonçalves Ledo e do Lar da Criança Feliz. Enfim, pinta-se um quadro pouco condizente com a grandeza da Instituição Maçônica. Quais seriam as causas de uma situação tão preocupante?

  • Dissensões políticas no interior das Lojas?
  • Má gestão dos Veneráveis e Vigilantes? Complexidade da vida atual, distância, trânsito ruim?
  • Sessões desinteressantes, onde se limitam na Loja à leitura do ritual, de forma mecânica?
  • Falta de Assuntos?

Talvez estejamos, com estas questões, arranhando a superfície do problema, pois esta falta de motivação pode estar ligada, de alguma forma, a todas estas causas, em particular à ausência de um núcleo comum de interesse ou de interesses comuns a serem discutidos em Loja, problemas práticos que possam ali ser resolvidos. Propomo-nos a abordar este estado de coisas e apresentar nossa opinião.

Nos contatos com outros Veneráveis notamos que a maioria das Lojas é composta com base em contatos profissionais dos Obreiros, ou seja, o recrutamento é baseado no conhecimento profissional, mais que no contato pessoal, chegando a haver casos em que o padrinho não frequenta a casa do candidato. É compreensível que assim seja, pois passamos a maior parte de nosso tempo em nossos locais de trabalho, pouco tempo restando para aqueles contatos com a vizinhança e a comunidade. É uma das distorções desta megalópole em que vivemos, onde mal conhecemos o vizinho ao lado.

O resultado disto é a presença, na Loja, de Irmãos residentes nos quatro cantos da cidade, sem que haja um núcleo comum de interesse comunitário. Não há, portanto, possibilidade de se galvanizar o interesse da Loja em torno de um problema localizado ou de um assunto comum a todos os Irmãos, a não ser os grandes problemas gerais da sociedade para os quais a contribuição da Loja é menos eficiente, quando não é nula, face a sua magnitude e complexidade.

Outro aspecto da Metrópole é o de que se pode passar a vida inteira sem se saber da existência de um Irmão, residente a duas quadras de nossa casa, salvo se, por acaso, o encontramos em uma Loja. Também os canais de comunicação entre a Grande Loja e os Irmãos deixam a desejar pela falta de agilidade, dependente que é do trabalho mais ou menos eficiente dos Secretários das Lojas, e do comparecimento dos Irmãos às Lojas, fato que já abordamos acima. Impõe-se, portanto, uma ação efetiva e rápida no sentido de se alterar esse estado de coisas, que tende a se agravar com o passar do tempo. Nosso trabalho não tem a pretensão de resolver o problema, mas de oferecer sugestões para o encaminhamento dele, dentro das limitações de nosso tempo e conhecimento.

Temos soluções, mas precisamos mais.

Temos notícias alvissareiras, de que a informatização do cadastro de Irmãos já se encontra bastante adiantada e que haverá a possibilidade de serem produzidos listagens com os mais diversos critérios– listagens classificatórias de Lojas ou de Irmãos segundo os mais diferentes critérios; enfim, todas as possibilidades que um sistema informatizado pode proporcionar. Estão assim criadas as condições para:

  1. Criar um canal direto de comunicação entre a Grande Loja e os Irmãos através de mala direta, para o encaminhamento de propostas, ideias, convocações etc.
  2. Desenvolver um departamento educacional, nos moldes da Ordem Rosacruz, voltado para a melhoria do nível cultural e de informação dos Obreiros da Jurisdição.

Neste ponto gostaríamos, finalmente, de introduzir nossa proposta.

  1. Numa primeira fase, a Grande Loja classificaria os Obreiros segundo o CEP de sua residência, agrupando-os geograficamente nas menores unidades possíveis. Por exemplo por bairro.
  2. Seriam impressas tantas listagens quantos fossem os Obreiros agrupados naquele CEP, e estas listagens seriam enviadas a cada um dos Irmãos dela constantes, acompanhadas de um convite do Sereníssimo Grão-Mestre para que aqueles Irmãos entrassem em contato entre si, visitando-se, telefonando, enfim promovendo o conhecimento mútuo da família maçônica.

Esse reforço, em verdadeira cadeia de União, no seu sentido mais puro e Maçónico, ensejaria maior contato entre os Irmãos e a formação de uma comunidade Maçônica, unida pelos interesses comuns da Ordem, com os naturais benefícios não só para a Maçonaria como para a comum que pertence= os Irmãos.

Concomitantemente, a Grande Loja faria um levantamento, utilizando dados do cadastro, das comunidades ou bairros onde haja Irmãos, mas que estejam espalhados por diferentes lojas.

Detectadas as lacunas. a Grande Loja dividiria a cidade em “Comunidades-Maçã. nicas” que, respeitando naturalmente as fronteiras entre bairros e, mais importante, respeitando a livre determinação dos Irmãos em filiar-se à Loja que melhor lhes convier, permitiriam a cobertura geográfica completa da cidade.

Mais comunicação, mais informações

Finalmente, através de todos os meios possíveis, por mensagens, pela A Verdade, pelo boletim Informativo, por mala direta etc., a Grande Loja instaria os Irmãos a se congregarem em Lojas de suas comunidades, facilitando a formação de novas Lojas quando for detectado um vazio nesta malha.

Também com base nos dados do computador, poderia a Grande Loja levantar a ocupação dos Templos existentes, direcionando as novas Lojas para esses Templos, de modo a otimizar sua utilização a bem da Ordem.

Os resultados mais imediatos que entendemos possíveis em consequência:

  1. Uma ordem Maçônica atuante, através de Lojas efetivamente envolvidas com sua comunidade, onde problemas seriam discutidos, onde a força de nossa Instituição seria canalizada para a solução daqueles problemas e que poderiam exercer as pressões ou reunir os recursos necessários.
  2. Os Irmãos estariam mais unidos pela facilidade de contato e de reunião.
  3. O recrutamento, naturalmente dentro dessa comunidade, teria condições de ser mais bem efetuado pela facilidade de conhecimento.
  4. A GLE SP teria, a exemplo de outros países, condições de editar o anuário de todos os Irmãos da Jurisdição, atualizado e prático, dada a grande agilidade emprestada pela informática.
  5. O Guia Fraternal tornar-se-ia um instrumento efetivo de prestígio entre os Irmãos do Quadro, que seriam ali classificados por atividade.

Enfim, poderíamos enumerar mais uma centena de vantagens que esta ação poderia trazer a Maçonaria Paulista.

A Ordem reúne condições materiais, conta com técnicos capacitados em suas fileiras, e o trabalho não exige um investimento muito grande.

O elemento mais importante, contudo, em tal empresa, reside no interior das pessoas, em uma verdadeira convicção da importância de uma reforma urgente da Instituição, para que não percamos o nosso grande potencial de reforma na sociedade, e de influência nos destinos desta Nação.

É necessário que sejam convocados para este trabalho todos os Irmãos que possam dar sua contribuição, no plano material e intelectual, assim como na divulgação de tal plano.

Desde já o autor destas linhas coloca-se a disposição desse Grão-Mestrado para emprestar sua contribuição nos limites de sua capacidade.


Publicado em “A Verdade”, órgão da GLESP – Janeiro/Fevereiro 1987

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Um comentário em “Por uma ação mais efetiva da Ordem (1987)

  1. Caro e nobre Irmão, tentei fazer algo semelhante aqui na loja, mas só ficou no papel, pois a maioria do “irmãos” não se interessam, alguns irmãos falam até que a atual maçonaria não é mais especulativa e sim recreativa.

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