Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

Indignação!

 

 

M.P.P.L  M.’.M.’.

 

Sou Mestre Maçom há 38 anos, de uma loja do Grande Oriente do Brasil.

Quero trazer a público meus sentimentos em relação aos recentes acontecimentos na cúpula do GOB em Brasília que culminaram com pedidos de desligamento de Oriente estaduais como Pernambuco e agora São Paulo.

Estou decepcionado com os homens que dirigiram o GOB nesses últimos anos, pois esperava deles um comportamento realmente dentro dos princípios que norteiam a Instituição no mundo todo há, pelo menos, 300 anos.  Não são valores modernos, são valores seculares!

Desencanto-me com os dirigentes do GOB, e de outras Obediências Maçônicas, porque o propósito da Maçonaria é ter todos os seus membros convivendo como irmãos, portanto, a casa de um, deveria ser do outro maçom, que não escolheu a Loja ou Obediência maçônica a ser iniciado. Incluo nessas os Supremos Conselhos de diversos ritos, que ao invés de abrigar os sapientes mestres que levam aos demais maçons e, por dever, também para o mundo profano, a palavra de paz e concórdia, como se aprende nas Ordens de Sabedoria e altos graus dos demais ritos. No entanto temos nelas os mais irritantes e ranzinzas velhos que se perdem em caprichos e brigas por um poder que, em verdade não existe, que é abstrato e se torna vazio, caso não seja usado para colocar em prática toda a filosofia que guarda a Maçonaria em suas lendas e símbolos.

Afirmo que me espanto com o baixo nível dos maçons que frequentam Lojas, Capítulos, Grandes Secretarias e outros órgãos administrativos da Maçonaria, e aqui, me refiro ao GOB e seus federados, onde convivo. A Maçonaria não foi criada e desenvolvida para homens brutos, ignorantes, que brigam por cargos, que usam a Vaidade como rótulo na testa, e sim para homens inteligentes, de boa formação cultural, cívica, social, enfim, bem-educados, cultos, tranquilos, humildes, pois esses sim serão exemplos na sociedade. No entanto, nos decepcionamos todos os dias com maçons que conhecemos e que dirigem Lojas e Obediências em particular. Não estou me colocando acima de ninguém, apenas constatando o que vejo.

Estou decepcionado com todos os processos eleitorais que o GOB e mesmo outras Obediências realizam, dos quais sempre há uma dissidência, desde as Lojas simbólicas até o próprio cargo maior de Grão-Mestre. Sempre cartas marcadas, impugnações, conchavos, brigas na justiça comum.

E a eleição do GOB desse ano 2018 para GMG não deixou por menos. A cada nova eleição, um novo risco de dissidências e brigas intermináveis, como se fossemos uma companhia de lutas livres e a cada assembleia, os sócios se desentendessem. Briga na certa. E não deu outra.

Já se veem, desde o início do ano, movimentos separatistas e, cheios de razões, devido às más administrações seguidas, ao costume da manutenção de grupos no poder, coisas da velha república, copiada e nunca abandonada no GOB.

O GOB funciona como uma velha repartição pública dos anos 40 e 50 do século passado.  Até o atendimento ao público – nós os maçons – é ditatorial, autoritário, incompetente, frio, com pouca transparência, sem informações. O maçom do GOB não consegue, nem sequer descobrir onde tem uma Loja em alguma cidade do país, seu endereço, dia de reunião e o contato. Um mistério.

São informações que não precisam ficar expostas ao público, mas obrigatoriamente aos maçons ativos. Quantas Lojas ativas temos no GOB? Por aí já percebemos a qualidade das administrações.

Conseguimos visitar Lojas de outras obediências e não do GOB por falta de informação em seu site.  Só se o GOB estadual fornecer a informação.

Só sabemos de suas viagens, festas, comemorações, títulos, medalhas, mas nenhuma ação social de impacto e, mesmo que tivesse, falta liderança, confiança, apoio a seus dirigentes, que se elegem sempre dentro dos mesmos feudos. Grupos de “políticos” da maçonaria que se formam e se perpetuam com o apoio nada decoroso de um grupo de Deputados e Veneráveis que sempre estão em volta do grupo do “poder”.  Pura vaidade.

São esses homens que levam o GOB a essa situação. Em 1927, em 1973 e a história se repete a cada eleição, em maior ou menor escala.

O GOB tem uma vocação para dissidências, basta estudar sua história desde sua fundação e nem vou relatar aqui, mas foram mais de trinta dissidências, com retornos ou não.

Esses profanos de avental não largam o osso. Preferem acabar com a paz e a integridade da Instituição, mas não deixam a vez para outros, querem ostentar na Maçonaria o fracasso de suas vidas profanas, seja no trabalho, na sociedade, na política. Tudo que não conseguiram fora, querem fazer aqui, serem bajulados, tratados como “Ohhh Grande…”, “Ohhh Poderoso…” “Ohhh qualquer coisa”.

Aliás, uma boa maçonaria não teria esses títulos e tratamentos, basta ser chamado de Mestre, já é um substantivo que carrega adjetivos dos mais ricos: Aquele que sabe e ensina.  No entanto, não basta, querem cada vez mais. Não só no GOB, mas em todas as Obediências.

Mas em se tratando de GOB, além da inércia dos últimos anos, após a cisão de 73 sempre houve um clima de cizânia, ora com os Grandes Orientes que saíram e formaram a COMAB, ora com alguma Grande Loja, ou, internamente. Paz mesmo, nunca houve, só falta de serviço. Isso mesmo. Falta-nos trabalho, social, político não partidário, muita coisa que poderíamos fazer pela sociedade e não fazemos, nos tornando inúteis, sem razão de ser. Trabalhar seria a melhor forma de darmos os exemplos que nos cabem como construtores sociais.  O trabalho é o melhor exemplo e são raros esses bons exemplos.

Toda vez que se fala nisso em Loja ou assembleias, os braços se encurtam, querem distância do trabalho. Querem falar, falar, criticar, mas na hora de fazer a parte que cabe ao construtor social, nada.

Em grande parte, a maior delas, é por falta de líderes. Temos caciques, chefes, Grandes Qualquer Coisa, mas não líderes.

Em que pese todas essas considerações, vejo novamente a nau tomar o rumo errado, me parece. Agora, ou novamente, as dissidências começam a florescer pelo país e justamente na maior das obediências federadas, São Paulo, depois de Pernambuco ter tomado essa decisão também.

Repito, razões até existem. Pessoalmente já pensei em sair do GOB algumas vezes por ver desmandos, cretinices e comportamentos nada dignos de quem veste um avental maçônico. Mas não é o caminho. Se a cada desapontamento com um maçom formos sair da Loja ou Obediência, acaba tudo em poucos dias. A razão e a prudência mandam ter paciência antes de decidir.

Esse não é o caminho das obediências estaduais e Lojas federadas, creio. Há muito mais que nossa insatisfação em jogo, como a nossa própria permanência na Ordem, por exemplo. Um indivíduo que sai, não abala uma Instituição, já uma Loja ou várias sim. E o que está em jogo?

A história do GOB? O respeito que a Instituição GOB merece da comunidade maçônica e profana? A própria história do Brasil, onde o GOB participou?

A nossa própria história feita dentro do GOB? Creio que tudo isso e mais alguns itens que poderia dispor aqui.

Creio que a hora é de ficar e dar a volta por cima, procurarmos sair das cinzas e reverter isso. Mudar o GOB e não mudar dele.

Precisamos tornar o GOB novamente grande, não em número de Lojas, porque já o é, mas em confiança, respeito, sair do conservadorismo estúpido em que nos encontramos, sempre procurando copiar o conservadorismo das Grandes Lojas americanas e rebuscar nossa inspiração latina, de conquistas, de obras, participação política.  A Maçonaria que veio da França fez a história e agora, vamos atrás das Grandes Lojas brasileiras, a quem respeito, mas que, por sua vez, seguem a cartilha americana. Esquecemos até da GLUI e hoje seguimos parâmetros americanos conservadores, tendo o List Of Lodges como referência de regularidade, um absurdo, porque é um guia americano, que não corresponde exatamente aos nossos reconhecimentos.

A deturpação feita no REAA é outra história, um misto de rito York americano com o REAA que só existe aqui. Hoje, poucos sabem ou se preocupam com isso, mas basta sair do Brasil e vai se conhecer o REAA.

Enfim, caminhamos por trilhas sinuosas na Maçonaria brasileira, mas a solução não é acabar com o GOB, é reformá-lo com outras ideias, com outros pensamentos na cabeça de quem se arvora dirigi-lo, não apenas ostentar cargos.

Isso passa por uma nova Constituição, com novos parâmetros, como proibição de reeleição para todos os cargos, executivos, legislativos e do judiciário, com novas atribuições a esses cargos, com poucos paramentos e títulos e mais resultados. Há que se renovar as pessoas. Um mandato de 3 anos é suficiente para a vaidade de todos, em qualquer função.

É preciso determinar eleições com, no mínimo, duas chapas. Jamais chapa única em um universo de 30 ou 40 mil mestres maçons, ou somos todos tão incompetentes? E não tem mais cabimento golpes e artimanhas para se chegar a uma chapa única. Isso sempre ocorre também, como se viu em 1973.

Sem chapas concorrentes não pode haver processo eleitoral, o presidente do Legislativo assume até se conseguir um mínimo de duas chapas.

E o principal, quem exercer um cargo no GOB ou em um GOB federado, nunca mais exercerá nenhum cargo na mesma função naquela Obediência. Ninguém. Tem muita gente competente para fazer isso. Depois volta para a Loja, onde se faz Maçonaria. Compartilhem a vaidade que a coisa vai. Um pouco do melado para cada e ninguém se lambuza.

Tem muita coisa ainda para ser proposta, o que cabe aqui é dizer que não devemos fugir nesse momento. Devemos ficar unidos em torno de um novo projeto de GOB, e urgente. Precisamos salvar a Maçonaria brasileira e seu principal baluarte, o Grande Oriente do Brasil.

Depois, limpar a área dos descontentes e despreparados para participar desse processo que levará alguns anos. Não se trata de execução ou coisa parecida, mas de encostar essa turma nas paredes das Lojas simbólicas e fazê-los trabalhar nelas, cumprirem seu papel de Mestre e voltar a ensinar os aprendizes, se é que sabem algo para tanto.

E que mais jovens participem desse processo de reestruturação do GOB que deve começar hoje, com todos juntos. Cabeças jovens, mais progressistas, mas com olhos no amanhã, no trabalho social e construtivo que é dever do maçom.

Quem não tem tempo para esse trabalho, não tem tempo para ser maçom, deve sair fora. E nós, temos a obrigação de dizer aos profanos interessados quais as obrigações que o esperam, que não é só jantar e pendurar medalhas no peito, obter graus e cargos de ostentação.

Para isso, necessitamos de outro modelo de dirigentes em Lojas, em Grandes Orientes federados, e no GOB, poder central. É preciso pensar nesse ponto.

Mas temos que fazer isso juntos, em um grande esforço concentrado, superando diferenças, nos afastando das briguinhas de cerca de vizinhos, afastando os muitos desses “Grandes Qualquer Coisa” que inventamos. Desconstruir essa ideia de maçonaria que temos hoje aqui no Brasil, religiosa, disputando fiéis com igrejas, com homens que só querem andar em volta da Bíblia e não seguem a filosofia ali contida, confundindo filosofia cristã com rituais esotéricos e religiosos.

Não é essa a vocação maçônica, e sim de participação na sociedade, seja individual ou coletivamente, depois de prontos e aptos ao trabalho, como agiam nossos eternos “heróis” que tanto gostamos de nos vangloriar de terem cingido um avental.  Sejamos coerentes, se os glorificamos, imitemo-los ou os tenhamos como exemplo.

A proposta para hoje e para o futuro é unirmo-nos e não o contrário. E depois fazermos um “levante”, no bom sentido.  Um movimento de rejuvenescimento do GOB em suas administrações, a partir das Lojas e obediências estaduais federadas.  Um novo ciclo com olhar para frente, progressista, derrubando tabus, bandeiras que já foram enterradas pela sociedade e ainda as mantemos desfraldadas.  Ou mudamos a Maçonaria brasileira, ou acabaremos com ela.

Espero que minhas palavras despertem os maçons e os levem a tomar uma decisão e fazer alguma coisa.

Ainda há tempo!