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O Tapete do Rito Schröder

Publicado em FREEMASON.PT

Por Guilherme Cândido

Friedrich Ulrich Ludwig Schröder
Friedrich Ulrich Ludwig Schröder

Uma das coisas que mais atrai a atenção pela peculiaridade e autenticidade no Rito Schröder é a utilização de um Tapete nas suas sessões. Na realidade o Tapete é o elemento mais importante para que a ritualística se desenvolva, pois no Rito tudo acontece em relação a ele. Assim, a montagem de uma oficina para a sua prática, bem como a sua decoração e a distribuição dos Irmãos no seu interior, tem relação com o Tapete e não com a sala.

O Tapete remonta à prática dos Maçons Operativos de espalhar as suas ferramentas no local onde se reuniam. Já na Maçonaria Especulativa, riscos traçados com giz ou carvão no chão das tabernas, contendo os Símbolos do Grau em que a Loja iria funcionar, substituíram a prática inicial de espalhar ferramentas, sendo apagados após o encerramento das reuniões e refeitos antes de se iniciar outra reunião. Como evolução, passou-se a utilizar tecidos pintados que eram abertos antes das reuniões e que mais adiante se consagrou com o uso de tapetes. O Rito Schröder conserva este antigo costume, que outros Ritos substituíram pelos Painéis dos Graus.

Tapete rito Schröder
Tapete Rito Schröder

O Tapete estará sempre no centro do Templo, aliás é aquele quem determina onde é o centro deste. Antes da abertura da Loja, o Tapete estará enrolado e por ordem do Venerável, será desenrolado pelos Diáconos e por eles será novamente enrolado quando a Loja for fechada (No princípio da prática do Rito Schröder o tapete já estava estendido quando os Irmãos adentravam ao Templo e era retirado após a saída dos Irmãos). No início dos trabalhos o Tapete deve ser desdobrado (ou desenrolado) na direcção Oriente/Ocidente para que os primeiros raios do nascer do Sol, no Oriente, tragam Luz ao Ocidente. Ao fim dos trabalhos, o Tapete deverá ser dobrado (ou enrolado) na mesma direcção da sua abertura – do Oriente para o Ocidente – para permitir que os últimos raios de Sol, vindos do Oriente, iluminem o Ocidente até o final dos trabalhos.

Sobre o simbolismo do Tapete, é dito ao novo Aprendiz na sua iniciação:

“Aqui meu Irmão, vedes um Tapete estendido e desenhado sobre ele várias figuras. Este Tapete, assim desenhado, encontrareis em outras Lojas. Chamamo-lo a “Planta do Templo de Salomão”. Assim como aquele Templo foi sagrado ao serviço do Deus Uno e Invisível, também o trabalho no Santuário dos Maçons é uma obra alicerçada nesta crença. A forma do Tapete é de um quadrilongo oblongo e, por este motivo, o Templo também é representado nesta forma. Os lados representam os quatro pontos cardeais. Na orla do Tapete vedes três portas, representando os lugares ocupados pelos três principais oficiais da Loja, visto que lhes cabe, em primeiro lugar o zelo na segurança da Obra. Sobre o Tapete, vedes a representação de diversas ferramentas de Pedreiro, utilizadas como símbolos no nosso trabalho espiritual e, nos advertem, a medir, pesar e ordenar meticulosamente todos os nossos actos. Finalmente quero atrair a vossa atenção para o desenho representando uma Pedra Bruta. Esta pedra simboliza o trabalho do Aprendiz. Assim como o pedreiro operativo inicia o seu trabalho desbastando e polindo a pedra bruta para deixá-la apropriada para sua inserção na Obra, também, o Aprendiz Maçon, deverá preparar e desenvolver o seu interior de acordo com o espírito maçónico.”

Como já citado, o Tapete no Rito Schröder é conhecido como “A Planta do Templo de Salomão”, porque no drama ritualístico a ser desenvolvido na liturgia ele representa a “planta de trabalho” da Obra que está sendo construída (Homem/Templo) e deverá permanecer aberta no centro da Oficina, local onde os Maçons se reúnem para estudar a planta e trabalhar as pedras brutas que serão aplicadas na Obra. Por isso os Aprendizes (ao Norte) e Companheiros (ao Sul) sentam-se nos lugares mais próximos ao Tapete, para melhor observarem a Planta. Esta planta associada aos “Catecismos” presentes nos Rituais, serve como fonte de instruções para os Irmãos que praticam o Rito Schröder.

A forma do Tapete é de um rectângulo, e por isso, a Loja é representada por tal figura, cujos lados representam os quatro pontos cardeais, nos recordando da universalidade da Maçonaria. A figura do Tapete também nos recorda a forma da Loja “do Oriente ao Ocidente, do Sul ao Norte, da Terra ao Céu e da superfície ao centro da Terra”. O contorno do Tapete, contendo tijolos marrons claros e escuros, representa um muro locado em torno do local de trabalho, visando proteger os trabalhos das vistas profanas. E sobre ele, que representa o mundo maçónico de trabalho, existem também nove Símbolos e três portas fechadas contornando as suas bordas.

O acesso ao local de trabalho pode ser feito pelas três portas fechadas indicativas dos locais de posicionamento dos três principais dirigentes da obra, representados no tapete pelas Três Jóias Móveis da Loja: no Oriente um Esquadro representando o Venerável Mestre, no Ocidente um Nível representando o 1° Vigilante e no Sul um Prumo representando o 2° Vigilante. Nenhuma porta se abre para o Norte. Estas portas estão fechadas para que nenhum estranho possa enxergar o que está sendo desenvolvido pelo Ritual no interior da Oficina.

Os Maçons Operativos sempre orientaram as suas construções com a entrada para o Ocidente, por este motivo as três portas do tapete seguem a marcha do Sol representada pelo seu campo interno. A porta do Oriente, local do Venerável Mestre, indica a abertura da Loja, momento em que observamos o céu limpo no Oriente, simbolizando onde nasce o sol para iniciar o dia e de onde emana a “Luz da Sabedoria”. Na porta do Sul, ao meio-dia, quando o Sol se encontra na sua plenitude de força e calor, está o Segundo Vigilante, responsável pela condução dos trabalhos da Oficina, e, portanto, sentado de frente para os Obreiros, estes representados pelas Jóias Fixas, posicionadas de modo a demonstrar a “caminhada do Maçon” na sua busca pela luz da sabedoria: a Pedra Bruta (simbolizando o Aprendiz) localiza-se mais próxima do Ocidente (local de menor luminosidade); a Pedra Polida (simbolizando o Companheiro), posiciona-se em frente à porta do Sul, local mais iluminado, quando o Sol encontra-se na sua plenitude de força e calor; e a Representação Gráfica da 47ª Proposição de Euclides (simbolizando o Mestre), fica próxima ao Oriente, local de onde é emanada a luz. Os irmãos entram e se retiram da Oficina pela porta do Ocidente, local onde o Sol se põe ao terminar o dia de trabalho, e onde, simbolicamente, estão os que ainda não alcançaram o conhecimento maçónico pleno. Aí fica o Primeiro Vigilante, responsável pela recepção dos Irmãos, e pelo pagamento e despedida destes do trabalho ao executar o fechamento da Loja quando o céu se apresenta escuro (nublado).

Como todos os Painéis, o tapete não deve ser pisado (a não ser nas ocasiões especiais previstas pelos rituais), e todos os Irmãos o circulam no sentido destrocêntrico. É importante destacar que a maior deferência que um Maçon pode receber no Rito Schröder é passar por sobre o Tapete e por isso tal privilégio é reservado ao Irmão na ocasião da sua iniciação, quando como profano passa por cima do tapete para ser iniciado como Aprendiz-Maçon e depois retorna já como Pedreiro Livre. O 1° Vigilante e o Iniciando também passam para o ensinamento dos passos maçónicos. Também passa por sobre o Tapete o Irmão a ser recepcionado em caso de Filiação à Loja. Tirando tais situações, somente o Grão-Mestre ou o seu Adjunto (em visita oficial substituindo o Grão-Mestre) gozam desta deferência.

Cada símbolo presente no Tapete deve ser estudado e analisado considerando-se a proposta humanista do Ritual Schröder, deles obtendo-se ensinamentos de Ética e Moral a título de instruções e levando-se e consideração o simbolismo maçónico:

  • Alvião: é utilizado pelo aprendiz directamente na Pedra Bruta para desbastar todas as arestas da imperfeição, a fim de que o Esquadro da Verdade possa ser colocado de forma justa e perfeita. O lado mais bruto (malho) representa a vontade activa, e o lado mais delgado (cinzel) corresponde ao discernimento, servindo como um direccionamento racional para a vontade a fim de que esta não se torne obstinação ou teimosia.
  • Régua de 24 polegadas: é utilizada para traçar e marcar a Pedra Bruta para o desbaste e para nos lembrar da necessidade da divisão do tempo com Sabedoria.
  • As Jóias Fixas: simbolizando os Três Graus da Fraternidade
  • Pedra Bruta: símbolo das imperfeições da razão e do coração, imagem da alma sem instrução e em estado natural, representa o Aprendiz, iniciando a sua caminhada, estudando, adquirindo os conhecimentos do seu Grau, interpretando-os filosoficamente e aplicando-os nas suas acções quotidianas para que possa desbastar a Pedra Bruta até que se torne uma Pedra Polida;
  • Pedra Polida: é o símbolo da perfeição da razão e do coração. É a obra-prima que o Aprendiz deve atingir para tornar-se Companheiro.
  • Representação Gráfica da 47ª Proposição de Euclides: conhecida como Teorema de Pitágoras, cuja demonstração é “em um triângulo rectângulo a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa” simboliza o Obreiro que já foi ou possui condições para ser Mestre da Loja. Representa as perfeições das Leis do Grande Arquitecto dos Universos pois, sejam quais forem as dimensões do triângulo, a Verdade que o Teorema traduz é imutável em todos os Universos.
  • As Jóias Móveis: representam os três principais dirigentes da Loja e com elas podemos fazer todos os Sinais da Maçonaria
  • Esquadro: significa a Justiça severa no nosso comportamento e da qual não podemos desviar-nos sem nos tornarmos passíveis de punição. É a ferramenta e a Jóia do Venerável Mestre, que deve ser um modelo inflexível no cumprimento do dever, na correcção moral e na aplicação da justiça;
  • Nível: é o símbolo da Igualdade entre os homens e indica que, na nossa Fraternidade, não podem existir pretensões de superioridade. Lembra ao Maçon que todas as coisas devem ser avaliadas com igual serenidade, imparcialidade e tolerância, que ele deve possuir uma rectidão de julgamento que nenhuma ligação de interesse possa perturbar. É a ferramenta e a Jóia do Primeiro Vigilante;
  • Prumo: indica o sentido recto do nosso julgamento que não deve guiar-se por considerações alheias à Verdade, indica também o equilíbrio que devemos buscar na nossa Obra. É a ferramenta e a Jóia do Segundo Vigilante.
  • Trolha: também conhecida como colher de pedreiro nos ensina a necessidade de proteger a Obra contra influências externas destruidoras e o proteger o coração contra o ímpeto das paixões. Também nos fala sobre a união, pois com ela mistura-se a massa de forma homogénea, ligando com esta massa os Irmãos, que são as Pedras da Obra da Francomaçonaria.

Mas não nos esqueçamos do que o nosso Irmão Schröder nos diz no seu Ritual:

“Todos os Símbolos e todas as formalidades ficarão degradados a mera brincadeira, se deles não brotar a nobreza dos sentimentos e um carácter actuante”.


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