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Por: João Anatalino Rodrigues

Símbolos e Alegorias
A mitologia e a simbologia são o depósito mais antigo da ciência humana. Fábulas e símbolos foram os primeiros veículos encontrados pela mente humana para comunicar factos e descobertas intelectuais. A história religiosa e a filosofia de todos os povos nasceram partir do desenvolvimento desse sistema de linguagem. As descobertas arqueológicas mais recentes estão a mostrar que praticamente toda a teologia nasceu de uma origem comum, fundada em crenças abstractas, desenvolvidas pelos Antigos Mistérios, que de uma forma geral, eram praticados por todos os povos da antiguidade. A própria forma de escrita dos povos antigos não fugiu a esta tradição, pois salvo raríssimas excepções, todas reivindicavam origem sagrada, oriunda dos próprios deuses. É o caso da escrita egípcia, por exemplo, cuja tradição afirmava que tinha sido a eles ensinada pelo Deus Toth, durante o reinado de Osíris.
Também o cuneiforme dos povos mesopotâmicos teria sido trazido à terra pelo Deus Enlil, da mesma forma que o sânscrito seria, segundo os hindus, um sistema de escrita desenvolvido directamente pelos deuses. Nem os hebreus escaparam desta tradição, pois segundo os adeptos da Cabala, o alfabeto hebraico também teria sido gerado no céu, como forma de comunicação entre os anjos.
De acordo com os ensinamentos da Teosofia, o primeiro idioma da espécie humana foi monossilábico, falado pelas primitivas raças que povoaram a terra. Era um sistema aglutinante, polissilábico, que foi primeiro utilizado pelos povos atlantes. Este idioma seria a raiz do sânscrito, o qual, por sua vez, teria sido o pai de todas as línguas modernas.
Os símbolos maçónicos
Assim também são os símbolos naturais e artificiais usados pela Maçonaria para representar as mais diversas ideias. Escreve H. P. Blavatsky que
“Desde tempos imemoriais os mistérios da Natureza foram registrados pelos discípulos dos Homens Celestes, em figuras geométricas e símbolos, cujas chaves passaram através das gerações de homens sábios e dessa forma vieram do Oriente para o Ocidente. O Triângulo, o Quadrado, o Círculo, são descrições mais eloquentes e científicas da evolução espiritual e psíquica do universo do que todos os volumes de Cosmogénese.” [1]
Os Mistérios de Ísis e Osíris, os Mistérios de Mitra, de Brahma, de Indra, de Dionísio, os Mistérios de Elêusis, etc., são exemplos destas tradições praticadas por todos os povos antigos. De uma forma geral, todos esses Mistérios buscavam “religar” o profano ao sagrado, através da imitação do processo que causava a vida e a morte. Diz-se que nas iniciações a esses Mistérios os segredos da origem do universo eram relatados pelos hierofantes numa linguagem cifrada e os iniciados deviam registrá-la através de símbolos ditados pela sua sensibilidade. Assim, o mundo podia ser representado através de um círculo com um ponto no meio, da mesma forma que outros conceitos esotéricos recebiam diferentes conformações geométricas e pictóricas, as quais, se julgadas correctas pelos mestres, eram definitivamente adoptados. Desta forma foram criados os mais diversos símbolos para representar os mais diferentes conhecimentos arcanos.
Destarte, iremos encontrar números e figuras geométricas como expressão de conhecimentos sagrados em todas as escrituras antigas. E iremos perceber que todas as cosmogonias (histórias de criação do mundo), são representadas mais ou menos da mesma forma: por um círculo, um ponto, um quadrado, um triângulo; e praticamente em todas essas demonstrações simbólicas encontraremos o número 7 a simbolizar o tempo da criação universal, ou as sete “rondas” às quais a humanidade terá que passar para cumprir o seu destino escatológico. [2]
Símbolos geométricos
O círculo
Nas antigas tradições o círculo figura representava o universo primordial, o ”ovo cósmico”, configuração inicial do cosmo, onde tudo estava encerrado. Esta manifestação do espírito dos povos antigos mostra que nesses primórdios da vida da humanidade já se intuía a forma esférica dos corpos celestes, dos grãos fundamentais da matéria, os átomos, e do próprio universo, que segundo a moderna astronomia, também apresenta essa forma geométrica. Na Cabala o círculo representa Kether, a coroa, o Princípio, a Inteligência Admirável, Potência Incriada, origem de tudo que existe. É o próprio Grande Arquitecto do Universo, enquanto forma energética, Primeiro Esplendor, O Número Um, indivisível, inacessível à consciência humana. Condensa todas as formas e expressões do universo em potência, assim como o ovo condensa a forma do ser que ele encerra. Por isso a Cabala o chama de Vasto Semblante, ou Semblante Imenso. Na filosofia ele é a mónada de Leibnitz, principio único e fundamental, a partir do qual o universo foi gerado. Na física atómica, esse símbolo é chamado de Singularidade, ou seja, um lugar (partícula ou átomo) onde a densidade da matéria é tão densa que a relatividade geral deixa de existir. A sua manifestação como Existência Positiva é o Big-Bang, momento inicial do universo. [3]
O círculo e o ponto
O círculo com o ponto no centro representa o nascimento do universo, momento em que a luz é tirada das trevas, quando o Grande Arquitecto se manifesta em Luz (potência masculina, positiva, electricidade, yang).
Na tradição cabalística ele é o Ain Soph, a segunda séfira, chamada Chockmah, representada pela sabedoria. Numericamente ele corresponde ao dois, segunda manifestação da Divindade. Segundo a intuição vedanta, é o momento sublime em que Bhraman, a alma do cosmo, se manifesta como existência real. Para a tradição gnóstica, é o momento em que o “ovo cósmico” é fecundado pelo Espírito Divino. Na física é o momento que o Big-Bang ocorre e libera a energia luminosa que dará origem às realidades cósmicas. Corresponde à primeira lei que rege a formação cósmica, ou seja, a lei da relatividade, que permite a expansão do universo a partir do momento inicial da primeira explosão. [4]
O círculo, o ponto e o triângulo
O círculo com o ponto e o triângulo representa o universo em equilíbrio. Na Cabala corresponde às três primeiras manifestações da árvore sefirótica, Kether (a coroa), Chokmah (a sabedoria) e Binah (a compreensão), que se unem para formar tudo que existe no universo. Na doutrina cristã corresponde à chamada Santíssima Trindade. Na tradição vedanta, é Brahma, Vixnu e Shiva, a trindade hindu, e para os antigos egípcios representava a união da sagrada família Osíris, Ísis e Hórus. Para os taoistas, representa os dois princípios, o masculino e o feminino que se unem, dando em consequência o perfeito equilíbrio, representado pelo triângulo. Na moderna física atómica esses símbolos equivalem às três leis básicas de constituição universal: relatividade, gravidade e conservação da energia.
Correspondem também às três forças básicas sobre as quais o universo se apoia: luz, electricidade e magnetismo. Para a Maçonaria, triângulos, pontos e círculos são símbolos extremamente representativos, que tem larga utilização na metalinguagem utilizada para a veiculação dos seus ensinamentos. O mundo maçónico é um mundo geométrico por excelência. O círculo é o mundo no seu início, o ponto é o seu conteúdo potencial, o triângulo é o mundo organizado, a ordem posta no caos inicial. Por isso, toda a comunicação maçónica é posta em forma de pontos dispostos em forma de triângulos, pois essa forma pressupõe que na ideia assim exposta estão presentes os elementos de estabilidade defendidos pela prática maçónica: liberdade, igualdade e fraternidade. [5]
Fonte
- Do livro “Lendas da Arte Real”, no Prelo
Notas
[1] Síntese da Doutrina Secreta, op citado, pg. 125
[2] Os sete dias da criação, citados em Génesis, 2:1,3. Segundo a Doutrina Secreta a humanidade deverá viver sete ciclos ou “rondas”, até completar o seu destino na terra. A nossa era corresponde à quarta “ronda”. Síntese da Doutrina Secreta, op citado, pg. 151
[3] Conceito expresso por Stephen Hawking em O Universo em uma Casca de Nóz – ANX – São Paulo, 2002
[4] Disse Deus: faça-se a luz; e fez-se a luz. E Deus viu que a luz era boa. Génesis 1:3
[5] Segundo a teoria de James Clark Maxuel, as leis da electricidade e do magnetismo, actuando sobre a matéria universal, formam campos energéticos que transmitem acções de um lugar para outro. Esses campos se comportam como “entidades” dinâmicas que podem oscilar e mover-se no espaço. Na Cabala, equivalem aos “anjos” que supervisionam a formação do universo.
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