Tradução José Filardo
A questão central no que depois significou a ruptura entre a Maçonaria regular e a liberal, é dos mais desconhecidos, e por isso, para conhecer um pouco mais como se construíram os Rituais no GODF, e pela mão de Daniel Ligou, entramos no desenvolvimento de como o positivismo entrou nos rituais do GOdF entre os anos 1877-1887.
No seio de uma famosa sessão do Convento do GODF de 13 de setembro de 1877, o pastor Frédéric Desmons, que era membro da Loja Saint Geniès de Maloirès e por sua vez membro do Conselho da Ordem propôs votar, e conseguiu uma ampla maioria que o princípio do “agnosticismo” da Obediência fosse toda uma premissa que suprimiria do artigo 1 º da Constituição da GOdF a declaração, descrita mais tarde como dogmática, de que a Maçonaria tinha “por base da existência de Deus e a imortalidade da alma”. A pedido do Grão Mestre Antoine de Saint Jean, o Convento acrescentou que a instituição “não exclui ninguém por suas crenças”, reservas que não deviam, segundo ele impedir que as obediências Anglo saxãs rompessem com o GODF.
Esta decisão de consequências seculares e que foi a expressão da grande maioria dos irmãos, especialmente da ala mais ativa, não é duvidosa, em nossa opinião. Os dignitários se depararam com uma onda de fundo à qual não puderam resistir, apesar de suas boas intenções e suas hábeis manobras contemporizadoras- o que se explica tanto pelas circunstâncias políticas e a evolução intelectual das classes sociais em que os irmãos eram recrutados. Talvez tenham pensado que uma deliberação conventual como aquela não podia ser uma coisa definitiva, e que chegariam, apesar do voto, e porque tinham em mãos os mecanismos da Obediência, a ideia de poder “neutralizar” o movimento, e em todo caso, evitar promovê-lo até suas consequências extremas, “interpretando” a decisão tomada em um sentido tradicional.
O problema do ritual
O problema do ritual era, deste ponto de vista, uma questão de importância crucial.
Não importava se os dignitários da Ordem conseguissem ou não manter o ritual na sua totalidade depois da decisão de 1877, já que, por mais de um século, a Maçonaria francesa tinha vivido sem “definição”.
Dessa forma dotavam-se os dignitários com argumentos suficientes para defender o Grande Oriente da França contra as maçonarias anglo-saxãs que, afinal, não tinham rompido suas relações com a Argentina, Hungria e Bélgica, quando as potências maçônicas desses países haviam afirmado um “agnosticismo” constitucional, não mencionando a existência do Grande Arquiteto em suas constituições. Mas, se os rituais se transformaram em um sentido “positivista”, suprimindo, em particular, a invocação ou a menção do Grande Arquiteto, a acusação de faltar às Constituições de Anderson assumia um caráter muito mais sério.
Os partidários da emenda constitucional tinha entendido a importância do problema, já que a comissão da qual Desmons era o relator havia proposto “colocar os rituais em harmonia com as alterações que haviam sido feitas na Constituição.”.
O Presidente do Convento respondeu que a questão parecia resolvida do ponto de vista legal, mas que veria no dia seguinte na ordem do dia, como ele desejava. Tratava-se, de fato, de um texto da loja “L’Avenir” do Oriente de Paris pedindo a supressão das “provas físicas”, desejo e moção apresentada nos Conventos anteriores, sendo sempre rejeitada devido à má vontade do Conselho da Ordem.
Depois de um debate confuso, o Convento decidiu mudar os rituais e devolver a aplicação desta decisão ao Conselho da Ordem, o que se ajustava aos estatutos da associação – e, na sessão de 27 de outubro de 1877, o referido Conselho, a pedido de Heredia (o irmão do poeta), encarregou Jean-Marie Caubet, um “gambetista” e Eugène Vienot, um protestante de Rouen de assumir o assunto. Ambos eram moderadas e também maçons especializados, que, sob o Segundo Império, tinham sido firmes opositores ao Príncipe Murat, mas que tinham mantido boas relações com seus sucessores. O primeiro era positivista, amigo de Massol, Bancel e Littré; o segundo um espiritualista no estilo de Desmons, que, como ele tinha aceitado a reforma de 1877 para evitar que os irmãos não crentes cometessem uma hipócrita ao se iniciar.
Em uma comunicação ao colóquio de Bruxelas (1977), tentamos determinar “ideologicamente” as diretrizes da evolução do ritual do GODF durante o século XIX. Ele simplesmente evoluíra a partir do “Regulador” de 1801, e dos rituais elaborados pelo Príncipe Murat e sua equipe em 1858, definindo tanto um quanto o outro, uma maçonaria bastante tradicional, inspirada por sua vez na herança do Iluminismo e por um espiritualismo bastante insípido, mas que devido esta insipidez própria, somente servia para obstruir as consciências. O fato de que a emenda através da qual Duez “define a Maçonaria como o reconhecimento da existência de Deus e da imortalidade da alma” tenha sido votada por unanimidade em 1849 atesta que o ateísmo doutrinal não tinha lugar então entre as colunas maçônicas de meados do século.
Mas uma coisa é o ritual “oficial” e outra é sua aplicação. Agora, no Grande Oriente da França, ainda hoje, as lojas têm nesta área, a prática de fazer um pouco o que elas querem. Acontecia o mesmo no século XIX, e o ritual maçônico conheceu diferentes evoluções também bastante contraditórias.
Se o ocultismo havia feito tanta devastação no Século das Luzes, e eles pareciam ter desaparecido, entretanto encontramos “diferentes desvios”. A mais conhecida, mas provavelmente menos importante numericamente é a transformação da loja em um clube político e sua evolução em direção ao “Carbonarismo” que, em nível puramente maçônico, logra uma alteração, ou geralmente um desaparecimento do ritual considerado uma “forma caduca”.
J. Baylot tentou elaborar uma lista que atingiu cerca de trinta oficinas, algumas dos quais desempenharam um papel inegável na oposição liberal sob os regimes autoritários, embora sua duração tenha sido, em geral, curta. Mais importante e certamente mais espetacular é a expansão em algumas lojas, do ritual que se torna, por sua vez, complicado, demorado e, muitas vezes formado por elementos heterogêneos, às vezes emprestado de pseudoiniciações antigas e dando um lugar muito importante às “provas físicas”, de uma maneira às vezes absurda.
Tem-se zombado, não sem razão, sobre o famoso “irmão cirurgião” que sobreviveria até Murat, ou sobre tal iniciação em que “a prova do ar” distribuía seus documentos a bordo de um balão. Tudo isso, obviamente, carecia um pouco de seriedade. E eram os belos dias da “prancha de pregos” e da báscula (uma tábua sobre um rolo) que ainda hoje são utilizados por algumas lojas.
Na verdade, a partir de 1850, tinha-se desistido geralmente dessas operações espetaculares e a maioria das oficinas adotava um ritual “eclético”, que limitava o impacto do psicodrama na iniciação ou a ascensão ao terceiro grau, mantendo os elementos essenciais, sem “dizer”, mas fazendo vivenciar.
De toda forma, apenas ser entendia o sentido, e o aspecto “trote” tendia a triunfar, o que implicava em que alguns irmãos solicitaram a abolição completa dessas provas. O resultado é que o ritual tradicional era atacado de um lado pelos racionalistas positivistas que queriam retirar todo o caráter iniciático em nome da luz e do inteligível, e por outros irmãos – ou às vezes os mesmos – que achavam que as provas físicas não estavam de acordo com o século, e retiravam da Maçonaria a sua seriedade, com o resultado de descartar alguns notáveis do mundo intelectual que se negavam a praticar tais infantilidades.
Vê-se, pois, que a situação dos dignitários responsáveis pela reforma dos rituais não era fácil, pois deviam de um lado levar em conta as tradições maçônicas que nenhum deles se decidia a abandonar completamente, e por outro lado, seu desejo de não romper com a Maçonaria universal criando algo diferente demais do que era praticado além das fronteiras. Estes argumentos serão usados muitas vezes pelos “conservadores” – depois de deixar sua parte às tendências positivistas se tornaram majoritárias dentro do “povo maçônico”.
Essas exigências contraditórias explicam as hesitações dos dignitários, inclusive quando os “positivistas” radicais, depois de 1885, finalmente tinham triunfado à frente da Ordem, com a manutenção de uma boa dose de elementos tradicionais nos rituais de 1887.
Os dois comissários, Vienot e Caubet se fizeram de mortos durante o final de 1877 e durante todo o ano de 1878, apesar da agitação existente nas lojas. Em novembro de 1877, a Loja de Nancy, Saint Jean de Jerusalém, sendo muito tradicionalista e através da voz autorizada do seu Venerável, Irmão Marchal, que havia se levantado contra a exclusão do artigo I, anunciou a renúncia de seu Venerável e reclamava a anulação da modificação que seria introduzida no ritual: “A loja permanecerá na Obediência, mas com a condição de que os rituais atuais não sejam alterados, sob o pretexto de colocá-los em conformidade com o voto da Assembleia, que nos parece uma consequência absolutamente necessária, considerando-se que os rituais não pertencem especialmente a uma Obediência, mas à Maçonaria universal”.
Reclamação à qual o Conselho da Ordem respondeu de forma positiva.
De fato, as autoridades maçônicas continuavam imperturbáveis, trocando correspondência em papel encimado pelo título “à glória do Grande Arquiteto do Universo.” E em 24 de abril de 1878, um desejo da Loja “L’Avenir” que reclamava novamente a supressão das provas físicas era saudado no Conselho por uma inclusão de tal demanda na ordem do dia, questão muito significativa.
No Convento de 1878, foram apresentadas três demandas exigindo a abolição destas provas (L’Avenir, La Liberté de Conscience, e o irmão Décembre-Allonier), enquanto o mesmo irmão reclamava que, para a revisão, o Conselho recorresse à colaboração “de um comité consultivo composto por estudiosos maçons, que conhecessem bem a história e as tradições de nossa instituição.”.
Todos esses textos foram devolvidos ao Conselho e Comissão de Estudos do Ritual, que finalmente era de uso comum. Mas, em 10 de setembro ocorreu um incidente grave durante a sessão. O irmão Rousselle “desafiou o Conselho da Ordem sobre a questão da reforma dos rituais votada pelo Convento de 1877”, e afirmou que os dignitários tinham assumido compromissos contrários à decisão do Convento.
O Grão-Mestre Saint-Jean, respondeu afirmando que tinha nomeado uma comissão, mas que diante da atitude das potências maçônicas estrangeiras, “havia interesse da Maçonaria francesa em dispensar o trabalho reclamado” que era uma “questão grave e de longa duração”.
Então, depois de ter mencionado a opinião do irmão Findel e de Bauhutte, e elogiar o conhecimento dos maçons franceses por Hubert e a Cadeia de União, simplesmente concluiu a ordem do dia.
O debate ressurge devido às intervenções dos irmãos Bussière, Maynard e Corbières que se apresentaram na ordem do dia, reclamando que a mudança fosse feita antes do Convento de 1879, o que Saint-Jean rejeitou, mas o Conselho não acompanhou, diante do que o Grão-Mestre apresentou sua renúncia, que viria a retirar posteriormente.
No dia seguinte, 11, foi a vez de Caubet sofrer o fogo dos deputados. Ele foi desafiado para saber se, na redação dos novos rituais, se propunha conservar a fórmula “À glória do GADU”. Caubet respondeu de má-fé “que todos os que o conheciam sabiam que ele defendeu durante toda sua vida, o princípio adotado pela última Assembleia, e que, nesta redação, se inspiraria nos sentimentos que sempre o haviam animado”.
Quanto aos detalhes que indicam com antecedência o que será essa revisão, penso que é impossível especificá-los antes de concluir um estudo completo” ao que respondeu o irmão Danet muito sensatamente que “se a reforma do ritual exige mais um ano, não é necessário um ano para remover a fórmula “À glória do GADU” nas pranchas oficiais provenientes do GODF”.
O futuro chefe de polícia responde “que a Administração do GODF não se preocupou até agora com esta fórmula, a atitude de algumas potências estrangeiras maçônicas tinha algumas reservas sobre este ponto, que se limitava a tratar das grandes questões levantadas pela reforma do ano passado, mas que esperava se pudessem omitir dados desta natureza, assim como realizar as consequências da votação da última Assembleia.” O retorno triunfal de Saint-Jean paralisou o debate.
Este foi retomado devido a um incidente. Um irmão que pede “se, de agora em diante, as lojas estão autorizadas a suprimir as provas físicas”, o Presidente respondeu com firmeza que “os rituais atuais deve ser respeitado até que sejam alterados, porque eles são a norma e a lei. Algumas lojas parecem negligenciar as fórmulas simbólicas. É um fato lamentável a que não pode faltar o sinal de alerta do Conselho da Ordem.”.
Apesar dessas ameaças, os tradicionalistas tinham decidido recuar. A maioria do Conselho havia se recusado a seguir Saint-Jean, e em um teste de força e voluntariamente aceitou a proposta de Bussière de elaborar um ritual revisado antes do Convento de 1879. Por isso, a partir de 15 de dezembro, no Conselho o irmão Massé reclamou que a Comissão se preocupara “com a tarefa que lhe incumbe” de acelerar o seu trabalho, e colocar o seu texto à disposição para que possam estudá-lo em tempo hábil.
Caubet respondeu dizendo, como tinha feito no Convento, que “a Comissão não perdera de vista as promessas feitas… Recolhem nesse momento os rituais das diferentes potências maçônicas para compará-los e neles se inspirar se necessário, e saberá colocar-se para trabalhar no devido tempo.” Em 8 de fevereiro de 1879, é o mesmo Vienot quem insistiu “para que a Comissão ativasse seu trabalho, e fizesse o quanto antes o depósito do texto”. Era necessário concluir e era mais difícil, pois a Comissão se encontrava reduzida à sua expressão mais simples, uma vez que Caubet, que se tornara chefe da polícia municipal de Paris tinha outras preocupações em mente. Em 22 de Março, a pedido do próprio Vienot e dos irmãos Cammas e Dalsace, o Conselho decidiu desincumbir-se deste trabalho e devolvê-lo ao Grão Órgão colegiado dos Ritos.
O Grão Colégio presidido por Saint-Jean desde 1874, começou rapidamente a trabalhar, e no início de junho, apresentou seu trabalho ao Conselho na sua sessão de 6 de junho. O Conselho começou por estudar as exigências relativas à supressão das provas e as descartou formalmente: “O Conselho, sem adotar o parecer da Comissão de revisão dos rituais, ou o parecer do Grande Colégio de Ritos, ao se referir às suas decisões anteriores sobre o assunto, decide a priori pela manutenção das provas simbólicas, cujos signatários, através das demandas acima pedem a supressão, e passa à ordem do dia.”.
Depois de ter estudado as propostas do Grande Colégio de Ritos, artigo por artigo, as aprovou antes de decidir se seriam apresentadas para impressão antes do Convento. Na sessão de 11 de agosto, as cópias estavam prontas para ser apresentadas aos deputados, e no Convento, o presidente pode dizer que “novos rituais estão a partir deste dia à disposição das Lojas”.
Fazer desaparecer dos rituais, em cada grau simbólico, as diferentes fórmulas temendo que tivessem um caráter acentuado dogmático ou exclusivamente religioso. ”
Há poucas coisas a dizer sobre estes rituais de 1879. “O Grande Colégio dos Ritos cumpriu essa missão nas suas reuniões de 3 e 4 de Maio. Seu trabalho principal consistiu em fazer desaparecer dos rituais, em cada grau simbólico, as fórmulas que tinham um caráter acentuado dogmático ou exclusivamente religioso.” Com efeito, estes textos reproduzem, em parte, os de Murat.
Digamos que se limitou simplesmente excluir as expressões “Deus” ou “GADU”, onde apareciam, muitas vezes em uma pura função de busca e substituição, nada mais.
Desaparece do ritual do primeiro grau, a pergunta sobre o “os deveres para com Deus”, ou a colocação de joelhos no momento da consagração do Venerável, que se torna uma fórmula mais prosaica, e o mesmo acontece com a questão do “Triângulo do VM e dos dois vigilantes”; ou a definição do três (3), onde todo o sentido era trinitário; São João desaparece, mas se mantém o sentido bíblico das “três batidas” dadas à porta do Templo.
Menos importantes são as mudanças introduzidas nos outros dois graus simbólicos restantes. A explicação da letra G, no grau de Companheiro torna-se mais secular, assim como desaparece a invocação de Deus ao sinal de honra do grau de Mestre.
Não se questiona, portanto os Dignitários, tanto do Conselho da Ordem quando do Grande Colégio, que foram essencialmente conservadores, caso contrário às decisões do convento de 1877 os teriam levado seguramente às masmorras. Foi necessária uma forte pressão das lojas, especialmente daquelas muito sensíveis no Convento de 1878, do qual o Grão Mestre perde a direção das Obediências depois de “se submeter” às decisões deste, para que tudo fosse bem-sucedido. Mas, ainda assim a medida é considerada insuficiente, já que os novos rituais mantiveram a parte fundamental das tradições maçônicas e, especialmente, foram mantidas as provas, já que por outro lado não aparecia em qualquer lugar nos novos textos o espírito positivista que muitos irmãos queriam que aparecesse claramente nos rituais. Por isso se compreende a decepção da “ala progressista” do Grande Oriente da França, diante de tais situações.
De toda forma, seu trabalho como oposição se cristalizou no próprio decurso do Convento de 1879, com o tema das “provas”. A partir de 08 de setembro, enquanto o Grão-Mestre Saint Jean, tinha acabado de apresentar os novos textos, a discussão sobre eles começou. Houve, portanto um compromisso, sem conclusão clara, entre o irmão Jouaust (de Rennes), que afirmava que as provas não pertenciam à Maçonaria primitiva, e que muitas vezes lhes parecia ridículo, e o irmão Rousselle que insistia na necessidade do ensino simbólico que elas continham.
No dia 12, o mesmo Jouaust e Pernelle pediram sua revogação, o segundo chegou inclusive a reclamar que se suprimisse o artigo II da Constituição (para evitar o iniciações-relâmpago, como no caso do marechal Magnan que recebeu os 33 graus em um dia) e que realmente tem um efeito “nulo porque ele não pode se isentar das provas de graduação definidas pelo ritual maçônico”.
O debate foi vivo e bem marcado por intervenções em favor da tradição expostas pelos irmãos Costero, Rousselle, Ménard e Monnereau, enquanto Décembre-Allonier reclamava “liberdade” para cada loja, e Diderot pedia a devolução da questão para estudo nas lojas.
A questão se animou quando Jouaust afirmou que as provas “eram eliminadas em Paris por um acordo entre os Veneráveis, e por aprovação tácita do Conselho da Ordem”, uma afirmação que foi imediatamente desmentida.
Finalmente, é preciso dizer que os conservadores triunfaram e o Convento votou um texto de Bordier que St. Jean tinha aprovado: O Convento considerava uma parte da supressão das provas e das viagens simbólicas que afetava o próprio caráter da Maçonaria. Mas, sobre a mesa do Conselho estava o pedido da Loja “União e Perseverança”, do Oriente de Paris, pedindo que “as três viagens simbólicas da iniciação maçônica fossem suprimidas e substituídas por uma instrução histórica feita pelo Venerável ou pelo Orador, que recorda a ideia de que pode inspirar seus autores e razão para sua supressão.”.
Entre1850 e 1885, a questão das “provas” volta a ser presença constante na ordem do dia dos Conventos e em deliberações do Conselho, mas a maioria continua a ser fiel á à posição de 1879. O ritual continuará a ser conforme a tradição, mas com as menções deístas excluídas deles. Mas, nessa data, o Grande Oriente da França sofreu uma mudança política: o Presidente do Conselho da Ordem, Charles Cousin, que tinha sucedido St. Jean morto em 1882, “um Ferrysta convencido” renuncia ao primeiro-malhete sob a pressão dos radicais que se tornaram naquela época maioria no seio do Conselho. Colfavru, primeiro e em seguida Desmons o substituíram sucessivamente.
Os eventos que se seguem, estão na lógica da eliminação de Cousin. O Convento de 1885 aboliu das Constituição a fórmula que Saint Jean tinha conseguido manter em 1877: “A Maçonaria não exclui ninguém por suas crenças. Na elevada esfera onde se coloca, respeita a fé religiosa e as opiniões políticas de cada um dos seus membros”. Mas, paradoxalmente, mantinha o comentário do artigo I, que “autorizava todas as práticas de culto”, cujo texto desapareceria em 1904, na sequência de uma intervenção de Lafferre, para ser substituído pela formulação atual, recordando assim os princípios de 1877.
A ideologia lógica do Grande Oriente da França tinha querido deixar morrer o Grande Colégio de Ritos, em sua bela morte,
Renunciando à Presidência, Cousin também renuncia às suas funções como Grande Comendador do Grande Colégio de Ritos, e, sem renunciar expressamente, a maioria dos dignitários o seguiu em sua demissão, nesse mesmo Convento, não havia mais que três membros em atividade efetiva. Além disso, muitos Capítulos e Conselhos não eram de forma alguma favoráveis à evolução que testemunhavam, e o irmão Hubert, diretor da influente revista Cadeia de União, era seu intérprete, o que fazia de bom grado.
A ideologia lógica do Grande Oriente da França tinha querido deixar morrer o Colégio de Ritos, em sua bela morte, mas uma série de irmãos, incluindo Louis Poulle, magistrado em Amiens, que já havia presidido o Grande Colégio em 1883-84 e Charles Fontainas, advogado de Paris, que devia presidi-lo em 1899-1901, acreditavam na utilidade de um “Senado” e não queriam o monopólio dos altos graus para o Supremo Conselho do Rito Escocês. Por isso, a partir de 13 de abril de 1885, Poulle, Grande Comendador Adjunto, informou ao Conselho sobre a situação, mas, depois de ter ouvido Caubet e Fontainas, o Conselho “se suspende para decidir” se esperava pelo Convento.
O Convento se dedicou essencialmente à reforma do Regulamento Geral e dos artigos 222-247 relativos às oficinas de Altos Graus, os quais se apresentavam como estreitamente ligados ao Conselho da Ordem, e de fato retiravam todo o poder do Grande Colégio, retirando-lhe o título de “Supremo Conselho” e deixando-lhe apenas um papel consultivo.
Após a votação desses artigos e com base neles, o Conselho solicitou ao Convento a autorização para dissolver o Grande Colégio e que uma delegação limitada no tempo a seis meses permitiria reconstitui-lo (23 de outubro). O decreto de 31 colocava, assim, fim aos poderes do antigo Conselho e nomeava para formar a nova estrutura, oito irmãos com o Grau 33, em exercício, e admitia para cargo honorário a Blanche, Cousin e Cammas, assim como dois outros maçons de Edimburgo, que permaneciam fiéis ao princípio de relações com o G.O. apesar do exclusivismo anglo saxão.
O decreto foi votado, apesar das reservas dos irmãos Sergent e Francolin. Em 6 de janeiro de 1886 foi instalado o novo órgão. Poulle voltava a ser Grande Comendador, Masse e Fontainas foram nomeados Adjuntos e Amiable Grande Orador. “Os três membros honorários rejeitaram suas nomeações e Hubert, passou a fazer parte do Grande Colégio, embora tivesse desde 1883 comunicado por carta de 22 de dezembro, a sua “desaprovação” e seu desejo de se retirar”.
Francolin e Hubert alegavam que o Convento e o Conselho tinham exorbitado em seus poderes e que correspondia ao sentimento das assembleias de “Mestres”, de dissolver uma oficina superior ao seu grau, e muito menos recrutar Irmãos do grau 33. Para ele, o Conselho, na sua longa “circular no. 1” de 1886, relativa às alterações do Regulamento, tentava justificar sua atitude como resultado de uma situação que não tinha desejado: o número de membros ativos (isto é, de acordo com o novo artigo 229, que tinham o grau 33, e vivendo em França continental e com uma atividade real em uma oficina) havia se convertido em menos de 9 (novo artigo 222), e, portanto, foi necessário reconstituir o “pessoal” do Grande Colégio, coisa que a Assembleia Geral tinha o direito de fazer. Por outro lado, eles próprios excluíram, “os que não reconheciam essa autoridade.”.
Poder-se-ia debater eternamente sobre a validade deste “golpe de estado maçônico”, mas assim foram os fatos…
Em todo caso, o terreno estava livre para uma reforma ritual completa que era reivindicada por um grande número de lojas. No Convento de 1885, aumentaram ainda mais os pedidos para realizar esta reforma. A loja “Republique Democratique”, no Oriente de Paris, reclamava que fosse juntada às “questões de ordem: o tema O que é um cidadão dentro da República”, “Los Démophiles”, no Oriente de Tours, afirmavam que “o progresso em todas as coisas se acentuava cada vez mais, e que a Maçonaria tinha permanecido em um longo atraso em termos de aperfeiçoamentos e melhorias realizadas há vários anos, e que isso tinha prejudicado a sua prosperidade, e que ela não se destacava aos olhos dos maçons sérios” e propunham uma “ajuda” a fim de se modificar rituais e catecismos, dotado de um preço.
Por outro lado, citava a Circular n º 1 e declarava que o Grande Colégio, “será… muito útil auxiliar para o Conselho da Ordem na elaboração de novos rituais e Cadernos de instrução”.
Louis Amiable
A nova maioria tinha, portanto, todos os poderes. Não se pode acusa-los de não ter feito as coisas com muita seriedade, e de fazer todo o possível para fazer esses novos rituais fossem a exata expressão da ideologia dominante entre o povo maçônico, e é precisamente Louis Amiable, quem foi a chave mestra de todos esta empresa.
Louis Amiable é hoje um dos grandes esquecidos, e em nossa percepção e ideia acreditamos que ele não merece isso. Acima de tudo recaiu sobre ele todo o estudo sobre a Loja parisiense Nove Irmãs (Neuf Soeurs), bem documentada – uma vez que teve em suas mãos os documentos originais da loja, há muito desaparecidos e que reapareceram de tempos em tempos nos sebos de livros, mas toda a documentação muito focada em uma justificação mítica de uma “Maçonaria das Luzes”, como laboratório das ideias revolucionárias.
É também (Amiable), o autor de um bom estudo sobre a magistratura e a Maçonaria sob o Antigo Regime, que destacava “a importância do pessoal parlamentar nas Lojas do século XIII, mas sem chegar às conclusões que se impunham sobre as concepções políticas dos “robins”, ou burgueses circulando ao redor da realeza da época.”.
Em todo caso, tratava-se de um irmão erudito, humanista e bom jurista – que terminaria sua carreira como conselheiro do Tribunal de Aix-en-Provence. Sua vida é um romance um tanto aventureiro. Republicano sob o Império, foi exilado e se refugiou em Constantinopla, onde conheceu a Maçonaria. Ele fez sua fortuna no momento em que entrou no direito e no comércio, antes de voltar a entrar na França em 1871, como militar e se situou na ala esquerda do Partido Radical e na Maçonaria se situava na tendência “positivista”. Sua nomeação como membro do Grande Colégio de Ritos, e sua eleição como Grande Orador iriam lhe dar os meios para realizar a sua “grande obra”.
De fato, após a “reforma” do Grande Colégio, e tudo se desenrolou muito rapidamente.
A partir da sessão de instalação, em 06 de janeiro de 1886, o Grande Colégio solicitou que o Conselho da Ordem enviasse uma circular sobre as questões das reforma do ritual. As respostas das lojas foram transmitidas nas referidas respostas ao Grande Colégio que informaria e prepararia uma nova redação. Seria da mesma forma para os rituais de graus 18 a 30, mas não era preciso apresentar tais textos ao Convento de GODF. No dia 11, o Conselho da Ordem deu a sua aprovação a este procedimento: “O Grande Colégio pede ao Conselho da Ordem que envie às Lojas da Federação uma circular para convidá-las a formular por escrito suas observações escritas e suas propostas para revisão de seus rituais”. Em 13 de fevereiro, foi enviada uma circular neste sentido às lojas.
O texto da circular assinada por Colfavru “o Presidente do Conselho da Ordem” e Poulle e Amiable como Secretários (não mencionavam suas funções no Grande Colégio) é preciso, e dá evidência muito clara da orientação que os novos dignitários pretendiam dar ao ritual.
Trabalho de revisão não foi completo, e havia uma corrente de opinião no sentido de uma nova revisão. Havia lojas que se manifestaram no Congresso Regional do Oeste e no Convento. O Grande Colégio pronunciou-se no mesmo sentido.
As oficinas deveriam primeiro decidir se queriam ou não modificar o Catecismos dos graus simbólicos, tendo em conta as emendas constitucionais e regulamentares votadas nas Assembleias Gerais dos Maçons de 1884 e 1885, que mostram várias modificações dos rituais. Se a revisão decide que haja revisão, as lojas deverão apresentar suas propostas.
A circular enfatiza o problema das “provas” e convida as lojas a demonstrar “um espírito progressista e zelo excepcional”, preservando ao mesmo tempo a instituição em seu “caráter ao mesmo tempo tradicional e universal.” O texto enfatiza o fato de que em nenhum lugar, um maçom ou qualquer loja deve ser ignorada e que as respostas devem chegar ao GODF antes de 1 de Junho.
Pelo menos uma centena de lojas responderam, algumas das quais estavam “adormecidas”. A julgar por informes subsequentes, seis delas foram contra qualquer revisão, e cinco a favor de uma revisão detalhada, o resto era a favor de uma modificação mais ou menos ampla.
Três oficinas, “Le Progres”, “L’Etoile Polaire” no Oriente de Paris, “La Bienfaisance Chalennaisee”, no Oriente Chalons-sur-Marne imprimiram seus relatórios. As duas primeiras terminaram com uma revisão relativamente moderada enfatizando, sobretudo, o necessário desaparecimento das provas físicas nos graus “simbólicos”, a terceira era mais importante porque era a primeira obra de um dos pensadores mais conhecidos da Maçonaria Contemporânea: Oswald Wirth.
Por Daniel Ligou
A Crença no Ser Supremo Infinito não significa Religião porém Fé!
Jesus de Nazaré foi assassinado pela Religião pois explicava um Deus Imanente (o contrário que as religiões ensinam). Se A Natureza é Suprema por que Ela não é assexuada??? Se não existe O Poder Superior que criou A Natureza por que A Natureza não é O PODER ABSOLUTO sem mencionar quaisquer deuses ou deusas, porquanto de alguma forma se estudamos os deuses para aprendermos as crenças e vivenciarmos as nossas próprias evoluções deveríamos (se não formos hipócritas) excluir não apenas O FUNDADOR DO UNIVERSO mas todos os espíritos, seres elementais, formas astrais e
viver apenas como um autômato de carne e osso sem nenhum sentimento, seja positivo ou negativo. A Negação no Ser Infinito e Criador é tão somente motivado pela náusea horrenda causada pelas Religiões. O Deus de Todos os deuses não é religioso, e além disso não necessita de pessoas que creiam Nele! Ele é Auto-Existente! Aliás ser ateu é sempre atual, moderno e aristocrático!
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Seria a prática perfeita para toda a Maçonaria, a posição do GODF e os princípios laicos da Maçonaria Francesa será a luz do amanhã para a união de todos os maçons e transformar a maçonaria de fato em uma Instituição Universal sem distinção de fronteiras.
Como pode exigir a crença na alma penada?? Eu não tenho opinião formada nem mesmo na alma, quanto mais na sua sobrevivência.
Quão bom e quão suave é que os Irmãos adotassem os princípios do Rito Francês!!! Seria o sonho de milhões de IIr.’. oprimidos na face da terra…
Da maneira que está, é religião e religiosa sim!! Até rezar Salve Rainha, Ave Maria, Pai Nosso… Paro aquí porque não posso prosseguir…
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