Tradução S.K.JEREZ
Por Philippe Langlet
Na prática ritual maçônica, embora gostemos de tratar de simbolismo ou esoterismo[1], a essência das artes liberais é uma questão central ainda muito subestimada.
A importância da questão só se revela quando a situamos sob uma perspectiva realmente iniciática, e é isso que se pretende discutir nas linhas seguintes. Nem todos os Ritos enfatizam da mesma maneira a importância dessas augustas artes. O Rito Francês nem faz alusão a elas. No entanto, as primeiras palavras do texto que lhe deu origem[2], La Maçonnerie examinée em detail (1730) são: “As artes[3] liberais são o fundamento da organização original da maçonaria e, mais particularmente, a quinta [arte liberal], a geometria”[4]. Uma recente Enciclopédia da Franco-Maçonaria[5] não contém nenhuma entrada desta natureza. O grande Dictionnaire Universel de la Franc-Maçonnerie, organizado por Daniel Ligou, também não continha…
No que concerne aos graus simbólicos, o Rito Escocês Antigo e Aceito cita, atualmente, as artes liberais no 2o grau. O Rito Escocês Retificado menciona as “sete ciências ou artes liberais”, mas o faz em instrução do grau de mestre, conectando-as ao número de degraus da “escada em caracol” do Templo e com a idade do mestre. A lista fornecida aqui não corresponde em nada às relações usuais: Poesia, Música, Arte do desenho, Aritmética, Geometria, Astronomia e Arquitetura. Assim, pode parecer peculiar, tendo em conta aquela que é proposta pelo Rito Escocês Antigo e Aceito.
R.E.A.A. | R.E.R. |
Gramática | Poesia |
Retórica | Música |
Lógica | Desenho |
Aritmética | Aritmética |
Geometria | Geometria |
Música | Astronomia |
Astronomia |
Arquitetura |
As ciências do trivium parecem ter sido substituídas por ciências “afáveis” que poderiam ter sido escolhidas como ornamentos do espírito; as do quadrivium são quase materialmente idênticas, exceto que a música, tendo sido movida para a segunda posição, fez com que a arquitetura fosse para a sétima posição. Qual a justificativa para essa lista? Poesia e música servem “para louvar ao Senhor, a fim de obter sua ajuda para empregar as outras cinco com dignidade”, o desenho, “para formar ideias justas e verdadeiras do edifício maravilhoso construído pelo Grande Arquiteto do Universo”, as duas seguintes, aritmética e geometria, “para exercitar com precisão todas as outras ciências”, que devemos supor serem a astronomia e a arquitetura, às quais não estão associadas definições. Esse Rito preservou bem essas ciências, mas tratou-as de modo diferente. Percebemos que as três primeiras artes não são apenas ciências ornamentais do espírito, a menos que se considere a palavra espírito[6] em seu sentido de “espiritual”: estando diretamente ligadas à divindade.
Os textos rituais ingleses enfatizam, ao contrário, a partir do 1o grau, que “o estudo daquelas [artes liberais] que são as mais adequadas [a todos] permite avançar todos os dias na compreensão da Maçonaria”[7]. Não poderia ser melhor dito. As artes liberais foram, igualmente, evocadas pelo Guia dos Maçons Escoceses na instrução do primeiro grau, sob o nome de “ciências liberais”[8], com a habitual ênfase na geometria. Vemos assim que as artes liberais fazem parte de quase todos os ritos, embora não tenham sido incluídas no repertório de apenas um grau.
Os textos antigos que a Maçonaria reivindica como seus, como o manuscrito Regius e o manuscrito Cooke[9], gostam de enfatizar sua importância. Independentemente de essa alegação ser correta, o que nos interessa é a presença das sete artes e as explicações que se dá a elas. Este último manuscrito fornece a seguinte lista: gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música, astronomia. A dialética aqui substitui, como costuma acontecer, a retórica, e a geometria é definida, como amiúde ocorre nos textos mais antigos, como a arte que justifica todas as outras. O escritor anônimo do Regius, ao contrário, dá uma lista das artes que está longe de ser canônica, mas as disciplinas estão todas lá. A aritmética e a geometria são colocadas nas últimas posições, enquanto os textos maçônicos insistem normalmente no quinto lugar para a Geometria, seguindo a lista de Marciano Capela. Temos mais frequentemente, para o quadrivium: aritmética, geometria, música, astronomia. O manuscrito Dumfries (aprox. 1710), mais tardio, será um dos únicos “catecismos” antigos a citar as artes liberais[10], mas, novamente, o faz numa ordem diferente, com uma lista renovada. Julguemos: teologia, gramática associada à retórica, filosofia, música, lógica, geometria e astronomia associada à astrologia. Quando você conta, são nove ciências… Para este texto, porém, é com as artes liberais que “tudo começou”!
Será necessário esperar cinquenta anos, com o Três Batidas Distintas (Three Distinct Knocks, 1760), para vê-las reaparecer na íntegra, em um texto ritual:
“Existem sete artes liberais. A primeira é a teologia que ensina as virtudes do raciocínio, a segunda é gramática que, combinada com a retórica, ensina eloquência e a maneira de falar em termos sutis. A terceira é a filosofia, que é o amor à sabedoria, pelo qual reconciliamos os dois termos de uma contradição e aceitamos como justo o que é torto, preto o que é branco, pela regra dos opostos, etc. A quarta é a música que ensina canto, tocar harpa e órgão e todos os tipos de música vocal ou instrumental. Você deve ter em mente que essa arte não tem meio ou fim. A quinta é a lógica que torna possível descobrir a verdade, estabelecendo a diferença com o que é falso, e que serve como guia para o juiz e para o advogado. A sexta é a geometria que ensina medir o céu material e todas as suas dimensões terrestres – e tudo que está contido nelas. A sétima e a última das artes é a astronomia que ensina, juntamente com a astrologia, a conhecer o curso do sol, da lua e das estrelas que, juntos, adornam os céus. As sete artes estão, pelo que podemos concluir[11] baseadas na geometria.
Cabe lembrar que sabemos que este texto é o inspirador direto do Guia dos Maçons Escoceses e, ao mesmo tempo, do ritual escocês antigo e aceito atual, apesar de sua constante evolução. Pelo manuscrito Dumfries (aproximadamente 1710), a geometria foi o fundamento das artes, “Pelo que concluímos, as sete artes que são baseadas na geometria”[12] . A justificativa será então amplamente repetida e La maçonnerie examinée en détail seguirá a mesma inspiração, ou filiação textual, com “As artes[13] liberais e, mais particularmente, a quinta [arte liberal], a geometria[14], são o fundamento da organização original da maçonaria”. Somos constantemente apresentados a uma espécie de laço conceitual que torna uma das ciências o começo e o fim de todo saber. Isso se refere a uma constante do ensino cristão, onde define-se Cristo como o alfa e o ômega.
Também é possível que essa ideia de preeminência da geometria sobre todas as ciências conhecidas ou, dito de outra forma, declaradas como um conjunto global do conhecimento, tenha sido emprestada de Platão. Ele explica, de fato, em Górgias, que “Afirmam os sábios, que o céu e a terra, os deuses e os homens são mantidos em harmonia pela amizade, o decoro, a temperança e a justiça, motivo por que, camarada, o universo é denominado cosmo, ou ordem, não desordem nem intemperança. Quer parecer-me, porém, que não dás importância a esse particular, apesar de toda a tua sabedoria, esquecido de que a igualdade geométrica tem muita força, tanto entre os deuses como entre os homens.”[15]
A geometria constitui, assim, uma maneira de explicar um princípio globalizante, como será a teologia para os clérigos. As artes liberais constituem, portanto, uma referência antiga.
As Constituições de Roberts, editadas um ano antes das de Anderson, mas quase desconhecidas para nossos maçons, indicam “e também declaramos àqueles que são leais que cabe a todo maçom manter uma fé firme e verdadeira[16] (preste muita atenção: ela é digna de ser preservada assim), fé que está contida nas sete artes liberais”[17]. Por que, além disso, seguindo a enumeração das sete artes das quais a gramática é a primeira, o escritor anônimo do Regius enfatizava o papel desta última como “raiz de tudo” (L565), ou seja, como uma verdadeira base de conhecimento? É porque ela é a primeira da lista? Isso não está totalmente errado, mas seria apenas uma justificativa parcial. Difere nisto dos textos propriamente maçônicos, fundamentados – de todo modo, na aparência – em geometria.
Entre nossos maçons atuais, a teoria dominante a respeito das artes liberais é torná-las um lembrete explícito do ofício da construção, sob o pretexto de que Vitrúvio[18] as menciona na abertura de sua obra De Architectura[19]. Essa concepção funciona, além disso, dentro da estrutura da teoria da “transição” à qual muitos ainda estão ligados, mesmo que possamos mostrar seus limites[20]. Vamos examinar o que há de verdade nisso.
COMPARAÇÕES E INCERTEZAS
A doxa maçônica é, portanto, vincular Vitrúvio às artes liberais e, portanto, à Idade Média. Isso constrói a seguinte nebulosa conceitual: “Vitrúvio – artes liberais – Idade Média”, como um objeto do passado, daí não sabermos realmente o que fazer. É verdade que os textos mais antigos reivindicados pela Maçonaria, os Antigos Deveres do ofício, também citam Vitrúvio. A visão das disciplinas mencionadas por este último e também citadas como artes liberais, foi mudada pelos maçons especulativos com toda certeza: estas disciplinas estão relacionadas à maçonaria operativa enquanto artes liberais. Portanto, não seria mais necessário justificar a presença delas em rituais, pois, nessa teoria, a maçonaria operativa, é claro, precedeu a especulativa. Uma transição muito confortável e suave.
Tudo isso é ainda tão questionável, que se impõe a necessidade de estabelecer as semelhanças e de fazer a leitura de todo o texto sem preconceitos. Novos avanços nas pesquisas históricas maçônicas, na Grã-Bretanha ou na França, mas também na pesquisa sobre o conteúdo dos textos, já não necessariamente vinculam esses documentos antigos à nossa Maçonaria praticada “por ritual”. Os Antigos Deveres estão, sem dúvida, ligados a uma construção profissional da qual conhecemos apenas esses textos, regulamentos e nunca os rituais. Parece incontestável. A ideia de sua associação com a Maçonaria é uma “busca por registros” ligada à “transição”[21] e sua cronologia. Havíamos concluído que a arte de construir e a Maçonaria eram aparentadas.
Considere esses dois tipos de práticas como dois níveis ontológicos, o praktikè, material e o teoretikè, espiritual. Não podemos deixar de nos impressionar, neste caso, pelas analogias com A Consolação da Filosofia, de Boécio (século VI): “Líamos[22] lá, bordada sobre a margem inferior, a letra Pi grega e, acima, um Ômega[23] . Entre essas duas letras, vimos algo como uma escada com vários degraus permitindo que a letra inferior subisse até aquela no alto”. Justificar uma “hereditariedade” evocando os construtores franceses[24] da Idade Média[25] não constitui uma prova, mas parece, isso sim, uma legitimação feita sobre analogias imperfeitas[26].
VITRÚVIO E AS ARTES LIBERAIS
Como compreender a frase dos rituais britânicos? Parece subentender uma prática regular (no tempo!), uma experiência contínua, onde as artes liberais formam a base do estudo e da prática. O arquiteto romano cita bem certas disciplinas presentes no ciclo das artes liberais. Isso é o suficiente para dizer que ele se refere mesmo às “artes liberais”? Não acreditamos nisso nem por um momento. Além disso, essa referência romana justifica sua presença no corpus maçônico? Também não acreditamos nisso. Por que razões?
Um primeiro ponto é que as artes liberais constituíram a parte principal do currículo da escola medieval. As escolas monásticas da reforma carolíngia[27] (formando as elites dos reinos da Europa) usavam esse currículo canônico, estabelecido no século V e concluído no século VI, por Cassiodoro[28] (Institutiones diuinarum et humanarum lectionum[29]) e por Boécio[30] (De consolatione philosophica). As Etimologias de Isidoro de Sevilha[31] (cerca de 600) perpetuam seu conteúdo durante a alta Idade Média. A renovação da vida regular no final do século XI e durante o século XII, o desenvolvimento dos capítulos catedrais na França, das comunidades monásticas na Inglaterra[32], novamente enfatizam esses estudos. Os cistercienses, em particular, assumiam uma vocação intelectual ao não ignorar as artes liberais. São Bernardo recomendava, por exemplo, seu estudo aos clérigos[33]. Além disso, as casas canônicas, como a de Saint-Victor, em Paris, eram verdadeiros institutos especializados em artes liberais e teologia.
A obra de Vitrúvio faz parte da literatura técnica, não da especulação intelectual, ainda menos da espiritual, e, em nenhum caso, religiosa. Como a questão poderia ser feita a Vitrúvio, arquiteto e romano? Ele trata da construção[34] mecânica e da arquitetura. Os exegetas de Vitrúvio[35] constataram ainda que ele resume tratados e manuais antigos utilizados por mestres da arquitetura para seu próprio ensino. O autor, compilador mais que inovador[36], produziu, no entanto, “o tratado mais antigo da arquitetura e também o único anterior à nossa era que chegou até nós na íntegra”[37]. Vamos citar uma passagem de seus escritos sobre as disciplinas essenciais[38]:
“Ele [o arquiteto] deve, portanto, saber escrever e desenhar, ser formado em Geometria, e não ser ignorante em Óptica, ter aprendido aritmética e saber muito de História, ter estudado bem a Filosofia, ter conhecimento de Música e alguma tintura de Medicina, de Jurisprudência e de Astrologia[39]”.
Menciona assim uma grande quantidade de saberes, ou melhor, aponta uma tecnicidade em certos campos e uma tintura em outros. Como ele fala da filosofia, por exemplo?
“O estudo da filosofia também serve para aperfeiçoar o arquiteto, que deve ter uma alma grande e ousada, sem arrogância, justa e fiel, e, o que é mais importante, completamente livre de avareza […].”
Trata-se, como vemos, das qualidades morais do arquiteto, preocupação muito “romana”[40]. Vitrúvio não fala da filosofia como “amor à sabedoria” ou cuja tarefa, para resumir Platão no Fédon, seria desatar a alma dos corpos[41]. Além disso, Vitrúvio explica ainda: “esta parte da Filosofia que lida com coisas naturais, e que em Grego é chamada de fisiologia[42], será capaz de resolver muitas perguntas […] “. Estas questões são a topografia, a hidráulica, a aerologia, os princípios das causas naturais e medicina. Mas nada do que a cultura grega entende por filosofia.
Então Vitrúvio evoca a astronomia, sempre chamada de astrologia: “A astrologia também o servirá para a confecção relógios de sol pelo conhecimento que ela lhe dá do leste, oeste, sul e norte, dos equinócios, solstícios e curso dos astros”. Se o arquiteto deve conhecer as Letras, é para “escrever suas memórias com clareza”. Para que servem então todas essas disciplinas? O desenho permite traçar seus planos, a geometria determinar a localização dos prédios, a régua e a linha, os alinhamentos. A óptica ajuda a encontrar os locais certos para as aberturas, a aritmética a totalizar suas despesas, a história faz conhecer a origem das obras, e a medicina, “os climas, que os gregos chamam de κλίματα, a qualidade do ar em localidades saudáveis ou pestilentas, e a propriedade das águas”[43].
O arquiteto romano não está interessado, como podemos ver, nas “artes liberais”, definidas seis séculos mais tarde pelo cartaginês Marciano Capela, depois introduzidas na educação medieval. As disciplinas mencionadas importam apenas para treinar o “bom arquiteto”. Não é o corpus canônico conhecido como trivium e quadrivium. As artes de Vitrúvio são técnicas e têm apenas um objetivo prático porque, até “no que diz respeito à música, [o arquiteto] deve consumir para que conheça a Proporção Canônica e Matemática para fazer adequadamente as máquinas de guerra” ou “para dispor os vasos de latão que colocamos nas salas sob os degraus dos teatros”[44]. Sem pretensão filosófica nem especulativa, nem mesmo de ornamentos do espírito. Conhecimentos práticos. Bruno Belhoste ressalta, com razão: “Como muitas vezes foi observado por comentaristas, as pretensões teóricas da arquitetura vitruviana parecem tão estranhas que a ratiocinatio [a reflexão teórica] vem depois da fabrica [a prática construtiva], da qual é apenas um simples comentário”[45]. Vitrúvio só fala de construções materiais. A especulação filosófica, “vã preocupação”, não é o seu objetivo.
MARCIANO CAPELA E AS ARTES LIBERAIS
Vamos considerar a questão sob outro ângulo. Essas artes encontram sua origem no mundo antigo. Nós subscrevemos sem restrição essa afirmação, mas é necessário ponderá-la, colocando as artes liberais na moldura que convém a elas, mais do que onde desejamos situá-las, na maçonaria. Um ponto para ser enfatizado é que o ciclo[46] de Marciano Capela seleciona apenas sete ciências entre todas as conhecidas então. Isso deve prender nossa atenção. É uma escolha. Qualquer seleção exclui, assim, mecanicamente, o que não se quer reter, e o autor descarta explicitamente a medicina, a arquitetura e as ciências divinatórias, justificando a escolha no início de seu Livro IX:
“O Deliano[47] [Apolo] então sugeriu [a Júpiter] que Medicina e Arquitetura se encontram entre as que estavam prontas para serem ouvidas. “Mas uma vez que essas jovens se ocupam das coisas mortais e que seu talento se relaciona com as realidades terrenas, e que elas não tenham nada em comum com o éter e os deuses superiores, não será incabível que nós as descartemos. Elas permanecerão em silêncio diante da assembleia celeste e serão examinadas em detalhe mais tarde pela própria noiva [Filologia]” [891].
O motivo da exclusão não é, portanto, o grau de importância das ciências. As excluídas são mencionadas e representadas alegoricamente por mulheres jovens, da mesma maneira que as ciências retidas. Além disso, a arquitetura foi plenamente respeitada em Roma, o que ele não podia ignorar, pois a ela “o próprio Vitrúvio subordinou todas as demais ciências”[48]. O que é as torna excluídas ou retidas é o próprio objeto dessas ciências: “coisas mortais” e “realidades terrenas” nos ensina o texto. Será fácil afirmar que a geometria cuida das realidades terrenas, mas não é seu único objeto, ao contrário das outras duas. A geometria permite – também – elevar-se para as realidades celestes. Quanto à adivinhação, ela só se preocupa com coisas humanas …
Jean-Yves Guillaumin comenta, em sua introdução a A Consolação da Filosofia, que um dos temas d’As Núpcias de Filologia e Mercúrio é “a jornada celestial, uma vez que a Filologia vai para o céu para lá encontrar Mercúrio, ao qual ela foi prometida”[49]. Isso é interessante. Assim, fornece um indício para as razões da escolha, como é o caso do vínculo entre as ciências selecionadas: todas têm aplicações que permitem alcançar os domínios divinos. Elas não são ciências “materiais”.
Em sua avaliação sobre L’encyclopédisme de Martianus Capella, Jean-Baptiste Guillaumin[50] [51] resume as obras extremamente preciosas e esclarecedoras de Ilsetraut Hadot[52]:
“Para I. Hadot, é inútil procurar nos textos do período helenístico, depois nos autores latinos clássicos (em particular em Cícero), o traço de um ciclo de “sete artes liberais” tão preciso e determinado quanto será o ciclo Medieval, formado
É a Marciano Capela (século V), escritor latino da África, que devemos a fixação das artes liberais em número de sete.
Ele escreveu As Núpcias de Filologia e Mercúrio em Cartago, em uma composição de nove livros.
Os dois primeiros descrevem o noivado e o casamento dos dois cônjuges.
Mercúrio dá sete servas à Filologia como presente de casamento que não são senão as sete artes liberais, cada uma das quais é descrita em um dos outros sete livros do trabalho.
Constitui um manual básico das escolas carolíngias que é constantemente comentado.
De nuptiis Mercuri e Philologia com comentário de Rémi d’Auxerre, pergaminho, Itália, século X (B.N.F.).
Na gravura cima, Isidoro de Sevilha oferece o manuscrito de sua obra à sua irmã mais velha, Florentine.
Isidoro de Sevilha (c. 560-636), arcebispo de Sevilha e conselheiro dos reis visigodos, deixou principalmente uma obra de compilação, através dos vinte livros das Etimologias que coletam o conhecimento da Antiguidade classificado por assunto.
Os três primeiros livros são dedicados às sete artes liberais.
Sua obra foi rapidamente distribuída, primeiro na Espanha, depois por todo o Ocidente, onde foi considerada, durante toda a Idade Média e até o Renascimento, o livro do saber.
pelo trivium (as três artes “literárias”) e o quadrivium (as quatro disciplinas “científicas”). Quando Cícero fala de artes liberais, não é absolutamente para ele uma lista de ciências com número determinado: em princípio, essas artes ‘liberais’ incluem todas as ciências dignas de um homem livre[53]. De fato, Cícero faz uma certa escolha entre essas ciências. Mas essa escolha não coincide com as sete artes liberais que nos são conhecidas através da Idade Média […] para Cícero, o que conta é o estudo da literatura grega e latina, da história, da filosofia (incluindo dialética), da retórica e do direito romano.
Vemos que os maçons não são os únicos a se preocupar com as artes liberais. Vitrúvio fará pouca alusão a certas artes do trivium (capítulo I, livro I), ao rogar “César, e todos aqueles que vão ler meu livro, desculpem os erros contra as regras da gramática lá encontrados e considerem que não é nem um grande filósofo, nem um retórico eloquente, nem um gramático completo, mas que é um arquiteto que o escreveu”[54]. Assim, ele destaca que é um arquiteto falando apenas sobre arquitetura. A divisão entre o saber e o “saber dizer” adotada por Marciano Capela, ainda não existia para ele. Jean-Baptiste Guillaumin acrescenta:
“De fato, I. Hadot situa o surgimento desse ciclo fechado de sete ciências no contexto filosófico muito preciso do neoplatonismo – sendo a primeira ocorrência atestada deste ciclo constituída pela lista fornecida por Agostinho, no livro II de De Ordine, obra fortemente imbuída de concepções neoplatônicas. Os trabalhos de I. Hadot, portanto, permitem desafiar a ideia de um ciclo bem estruturado das sete artes liberais que teriam marcado a educação em Roma e no Império Romano, e convida para não procurar no εγκυκλιο παιδεια [encuclio paideai] reivindicado por um certo número de autores latinos, uma correspondência com disciplinas lecionadas nas escolas: se é possível que a expressão εγκυκλιο παιδεια designasse originalmente “Educação habitual, cotidiana” – significado obviamente muito frequente em textos gregos – por outro lado, textos latinos que assumem essa noção parecem privilegiar a ideia (etimológica) de um parentesco entre as ciências, formando assim, de alguma forma, os “membros” de um conjunto orgânico que se expressa perfeitamente pela imagem do círculo, adotado por Quintiliano precisamente para traduzir em latim o conceito grego de εγκυκλιο παιδεια[55].”
A constituição do ciclo das ciências liberais será fundamentada sobre seu objetivo final, permitir que a alma se liberte do corpo, concepção neoplatônica das relações alma/corpo e do propósito da vida. A filosofia é então considerada a arte que engloba todas as outras ou, segundo Marciano Capela, como ponto culminante delas[56].
Encontramos a mesma noção que a contida no manuscrito Dumfries e outros textos, colocando uma das ciências como a primeira em importância e ao mesmo tempo
Septem artes liberales de Herrad von Landsberg em Hortus deliciarum (Jardim das delícias), 1180
No centro desta ilustração, na parte superior do círculo, a filosofia está no trono, usando uma coroa adornada com três rostos humanos representando passado, presente e futuro.
Na parte inferior do círculo, Sócrates e Platão.
Em torno da filosofia, as sete artes liberais.
“englobando” todas as outras. Este englobamento será ilustrado no século XII por Herrade de Landsberg[57], em seu Hortus Deliciarum[58]. A filosofia está representada, em um magnífico diagrama mnemônico[59], no centro de sete artes onde ela representa a fonte como resultado. Essa preeminência tem sua origem na Grécia. Ao dar uma nova dimensão ao trabalho, tornando-o participação da obra divina, a cristandade[60] não diminuiu as tarefas da mente. A Igreja desenvolveu a ideia de que as artes liberais eram os diferentes estágios de uma hierarquia do saber e a teologia tomou o lugar da filosofia antiga.[61]
O trivium, ciência da palavra, agora é usado para entender as escrituras ou, melhor, como preparação para este estudo, e o quadrivium, ciência dos números (e não, como se frequentemente se afirma, das disciplinas científicas ou matemáticas), tornam-se os meios de entrever como Deus organizou o mundo (de acordo com “medida, número e peso”[62]). O saber dos filósofos e dos autores antigos[63] é admitido e recebe novo status, apagando a desconfiança com relação ao conhecimento pagão[64]: torna-se a intuição pré-cristã das verdades da Providência e pode depois ser legalmente usado na sociedade cristã. Os livros do judaísmo são igualmente integrados na medida em que vêm da “anunciação”: é o Antigo Testamento. É então correto afirmar que “Fiéis às ideias expressas por Santo Agostinho na De Doctrina christiana e na De Ordine, a educação medieval coloca a fé no centro de todo conhecimento e as artes liberais em propedêutica[65] para o estudo da teologia”[66]. Talvez os maçons ainda sejam os únicos a ver ali uma lembrança do ofício de pedreiro.
Todas essas disciplinas têm apenas um objetivo: ajudar a compreender Deus que fala na “Bíblia”. O período carolíngio, e depois o medieval, adaptaram Boécio ao cristianismo. As sete disciplinas preparam para as Escrituras, o conhecimento da língua e seus mecanismos constituem o alicerce do edifício, a chave de todo conhecimento positivo, como lembraram os mestres da Escola de Chartres, Guillaume de Conches[67] e Bernard[68], ou os de Saint-Victor, Hugues, Richard e André.
Então, não temos um confronto entre as “belas artes e as artes práticas” ou “artes liberais contra artes mecânicas”[69]. Trata-se, para a Maçonaria, da construção de um espaço conceitual, e não da concepção de um “espaço arquitetônico”[70]. Os rituais que mencionam as artes liberais lembram mais um saber baseado na manipulação de conceitos, em particular por uma prática da palavra, cujo objetivo final é o conhecimento das realidades espirituais, ao invés de conhecimento técnico, mesmo “simbolizado”, que não teria mais lugar.
Este aspecto espiritual das artes liberais é enfatizado por Dante, de cujo Banquete citaremos uma passagem: “Aos sete primeiros céus correspondem as sete ciências do trivium e do quadrivium, ou seja, gramática, dialética, retórica, aritmética, música, geometria e astrologia. À oitava esfera, que é a das estrelas fixas, corresponde à ciência da natureza, chamada física e a ciência chamada metafísica; a nona esfera corresponde à moral, e ao céu tranquilo corresponde a ciência de Deus, chamada teologia”[71]. Ele também divide o conhecimento global em várias partes, cada uma delas sendo uma etapa de um método dividido em dez. Integra as ciências liberais em uma continuidade de saberes que devem ser vivenciados para que seja possível prosseguir até as mais altas esferas. O texto d’A Consolação da Filosofia, como vimos, evoca o conhecimento usando a imagem de uma escada. Voltemos por um momento a esta representação: “Na margem inferior, a letra grega Π e acima um Θ[72]. Entre essas duas letras, vimos como uma escada com uma espécie de degraus, permitindo que a letra inferior alcance a de cima”. Então a escada vai do “prático” material – a “base” – ao “teórico” espiritual – no “alto”. Temos assim a representação simbólica uma jornada metódica em direção ao infinito, às realidades celestiais, a partir das condições comuns da humanidade.
Esta imagem prevalece na Idade Média para todos os autores cristãos que a tomam emprestado de Boécio e que veem, na escada, um número por vezes indefinido de etapas ou degraus. A filosofia foi representada, assim, como uma personagem feminina segurando um livro aberto, diante do qual é colocada uma escada (cf. N.-D. de Paris). Essa escada, pelo enquadramento de seus montantes, fornece a imagem de um espaço contínuo dentro do qual as coisas se desenrolam. Françoise Barbe-Gall destaca, a este propósito, que “a relação entre o momento vertical da escada e a sucessão de seus degraus horizontais pode finalmente traduzir a tensão entre a aspiração mística e o duro trabalho do conhecimento”[73].
O conjunto de etapas ou degraus intensifica o aspecto de método, porque todas as etapas devem ser ultrapassadas, uma a uma, para se chegar ao topo da escada, até as barras finais. Num contexto cultural cristão, a escada é facilmente associada à escada de Jacob, cujo papel é destacado a partir do primeiro grau do Rito de Emulação[74]. Esta, segundo o Rito, permite ao maçom, como a escada d’A Consolação da Filosofia, acessar o Céu: ele o fará então “com a ajuda de uma escada, chamada nas escrituras de Escada de Jacó”. Esse Rito indica que “a escada de Jacó repousa em uma loja maçônica, sobre o volume da Lei Sagrada” e, também, que é composta “de muitas etapas ou degraus, que representam numerosas virtudes das quais as três principais são Fé, Esperança e Caridade”. Além disso, um dos aspectos essenciais da escada de Jacó, para ilustrar o método de ascensão às realidades espirituais derradeiras, é tomado, por este ritual, diretamente da Bíblia: “Lá, em uma visão, ele [Jacó] viu uma escada cujo topo alcançava os céus e pela qual subiam e desciam os Anjos do Senhor”. Há aqui um movimento duplo vinculado à escada: uma subida e uma descida. Os exemplos dados por Dante parecem nos indicar que as artes liberais, que ele nunca menciona, são, além disso, etapas que dão acesso ao “céu tranquilo” da ciência de Deus, a teologia. Estas são as ciências espirituais – e não materiais – no sentido que nós damos a esse conceito. Da mesma forma, a oitava esfera é o da “ciência da natureza, chamada física” e da “ciência chamada metafísica”, que os rituais ingleses mencionam, ao que parece, se referindo aos “mistérios ocultos da natureza e da ciência”. Todo o conjunto conduz, assim, a uma “marcha espiritual metódica”, em direção às verdades divinas, chamadas aqui de teológicas, mas este termo deve ser entendido como relativo à “ciência divina” ou ciência das realidades divinas, não como o conhecimento de uma instituição religiosa em particular.
Desenho em caneta colorida, Biblioteca da Universidade de Estrasburgo, m. III, 36.
As artes liberais se relacionam com a questão intelectual e visam ao conhecimento da Verdade e, portanto, do intangível.
Portanto, elas são distintas, por um lado, das artes servis que visam o Bem pela transformação da matéria tangível e, por outro lado, das artes plásticas que aspiram à contemplação do Bem.
Elas são divididas em trivium e quadrivium.
As artes do trivium (gramática, dialética, retórica) dizem respeito ao poder da fala.
São consideradas necessárias para dominar as artes do quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia) que se relacionam com o poder dos números.
Nesta ilustração de um manuscrito, as sete artes liberais, representadas por mulheres, se dividem em um grupo de três que puxam um carrinho e quatro que o empurram.
No carrinho está a “Santa Teologia” segurando a cabeça de Cristo, enquanto um homem, o “Magister Sentenciarum Petrus Lombardus” as estimula agitando um chicote.
Os nomes das artes liberais estão aqui representados às vezes de forma fantasiosa e até mesmo errados, como prova a rasura em “geometria”.
BIBLIOGRAFIA
BARBE-GALL (Françoise), Comprendre les symboles en peinture. Paris, Le Chêne, 2007.
BELHOSTE (Bruno), La figure de l’architecte-ingénieur antique, 2007.
URL : http://www.inrp.fr/she/fichiers_rtf_pdf/belhoste_ figure_architecte_ingenieur_ antique.pdf
BOILEAU (Pierre), Le livre des métiers (fac simile). Paris, Bibliothèque des arts, des sciences et des techniques, 2005.
BOUDON (Philippe), Sur l’espace architectural. Marseille, Éditions Parenthèses, collection eupalinos, 2003.
CRÉPIN (André), « Manuscrit Cooke ». Paris, G.L.N.F., Les cahiers de la Loge de recherches Villard de Honnecourt, 2e série, n° 6, 1983.
DACHEZ (Roger), « Les origines de la maçonnerie spéculative : état des théories actuelles ». Paris, Renaissance traditionnelle, n° 118-119, 1999.
DANTE, Le Banquet, page 92, traduction de Bernard de Watteville, accessible sur gallica.bn.fr
Encyclopédie de la Franc-Maçonnerie. Paris, Librairie générale française, La Pochothèque (EFM, 2000).
ÉTIENNE (Bruno), Une voie pour l’Occident. La Franc-Maçonnerie à venir. Paris, Dervy, 2000.
EVERS (Bernt), « Préface ». Théorie de l’architecture. De la Renaissance à nos jours, 117 traités présentés dans 89 études, Köln, Taschen, 2003,.
FRIEDMAN (John B.), « Les images mnémoniques dans les manuscrits de l’époque gothique ». Montréal-Paris, Jeux de mémoire. Aspects de la mnémonique médiévale, Les Presses de l’Université de Montréal-Vrin, 1985.
GUILLAUMIN (Jean-Yves), « Introduction, traduction et notes ». Paris, La consolation de Philosophie, Les Belles Lettres, La roue à livres, 2002.
GUILLAUMIN (Jean-Baptiste), L’encyclopédisme de Martianus Capella : héritage d’une forme traditionnelle ou nouveauté radicale ? Journée d’étude « Héritages et traditions encyclopédiques dans l’Antiquité tardive », 2 Février 2007, Université de Caen Basse- Normandie, Maison de la Recherche en Sciences Humaines. Caen, CERLAM, Université de Caen Basse-Normandie (preprint), 2007
HADOT (Ilsetraut), Arts libéraux et philosophie dans la pensée antique : Contribution à l’histoire de l’éducation et de la culture dans l’Antiquité. Paris, Vrin, Textes et traditions, 2006.
JACKSON, (A.C.F.), English Masonic Exposures – 1760-1769, Lewis Masonic, 1986.
LANGLET (Philippe), Les textes fondamentaux de la franc-maçonnerie. Paris, Dervy, 2006.
– Les deux colonnes de la Franc- Maçonnerie. La pierre et le sable. Thèse de doctorat ès Lettres « Sciences du langage », sous la direction de J. Fontanille et d’Isabelle Klock- Fontanille. Limoges, Faculté des lettres et sciences humaines, Département des Sciences du langage, Centre de Recherches Sémiotiques (Ce- ReS), 2008.
– Le Ms Regius. Bonneuil-en-Valois, Éditions de La Hutte. coll. « Franc- Maçonnerie », 2009.
PLATON, Protagoras, Euthydème, Gorgias, Ménexène, Méon, Cratyle. Paris, Garnier-Flammarion, 1967.
The Emulation Lodge Of Improvement, Emulation First Degree Ritual. Addlestone, Surrey, Lewis Masonic, 1994.
Le régulateur du maçon – 1785/1801 [Mollier, p. éd.], Paris, À l’Orient, 2004.
SACHOT (Maurice), Quand le christianisme a changé le monde : Tome 1, La subversion chrétienne du monde antique. Paris, O. Jacob, 2007.
VERGER (Jacques), La renaissance du XIIe siècle. Paris, Cerf, Initiations au Moyen Âge, 1996.
VITRUVE [Marcus Vitruvii Pollionis], Les dix livres d’architecture. Paris, Les Libraires associés, 1965.
– Les dix livres d’architecture de Vitruve. Paris, Bibliothèque de l’image [Fac-sim. de l’éd. de Paris : J.-B. Coignard, 1684], 1995.
– http://remacle.org/bloodwolf/erudits/ Vitruve/livre1.htm, 2008.
NOTAS
[1] Este texto é uma nova versão de um extrato de Langlet, 2008.
[2] Mollier, 2004: 27.
[3] Doublet: “artes e ciências”.
[4] Langlet, 2006: 505.
[5] EFM, 2000.
[6] No idioma francês a palavra “espírito” também tem o sentido de pensamento, inteligência. (N.T.)
[7] Ritual de emulação, por exemplo, mas outros também.
[8] Guia …, p. 32-33.
[9] Crépin, 1983: 92-121.
[10] Langlet, 2006: doc. E.
[11] Jackson, 1976 (tradução do autor).
[12] Langlet, 2006: doc. E.
[13] Doublet: “artes e ciências”.
[14] Langlet, 2006: doc. Q.
[15] Platão, 1967: 261.
[16] Traduzido como “boa fé firme”. “Boa fé” é fé verdadeira, isto é, fé cristã. Firmeza é uma qualidade fundamental (Filipenses 1:27).
[17] Grifo nosso.
[18] Engenheiro romano e arquiteto do século I a.C. (reinado de Augusto).
[19] De architectura libri decem.
[20] Dachez , 1999.
[21] Ibid.
[22] Sobre a roupa de filosofia que aparece ao autor.
[23] A nota do tradutor (Guillaumin, 2002: 149) é a seguinte: “A letra Π é a inicial de “filosofia prática” de πρακτική (φιλοσοφία), a letra Θ de θεωρητική, “filosofia teórica”, em latim speculatiua, “especulativo”, contemplativo “. 23
[24] “descobrindo” uma estrutura em três graus…, mas que não é maçônica.
[25] Boileau, 2005.
[26] Trechos da enciclopédia de d’Alembert sobre negócios indicam apenas um coisa: existem dois tipos de estados, um expressando uma certa inferioridade social, o aprendiz depois companheiro, competente mas empregado; o outro referente ao líder e a superioridade social, o mestre, patrão empreendedor.
[27] Sobre o ímpeto de Alcuin de York (730-804), que “inventou” a escola de Carlos Magno.
[28] Nascido por volta de 485 e falecido por volta de 580, fundou o mosteiro de Vivarium.
[29] Cassiodore, 1969 (introdução às Escrituras e às artes liberais).
[30] Boécio: 470-525
[31] Isidoro de Sevilha: c. 565-636.
[32] Mas também no País de Gales, Escócia e Irlanda.
[33] Verger, 1996: 68.
[34] Máquinas de guerra e outras máquinas. Livro X.
[35] Ou seja, aqueles que, através de pesquisas com pacientes, reconstruíram as etapas desenvolvimento de textos a partir de textos contemporâneos comparáveis.
[36] O primeiro humanista a lidar com a arquitetura é Alberti (De re aedificatoria), 1452, amplamente lido por estudiosos, mas pouco por arquitetos, impresso em 1486 e traduzido para o italiano em 1550. Alberti criou muito mais um “Vitrúvio moderno”, destinado a humanistas e não a pedreiros (por profissão), do que buscou Vitrúvio para restaurar a Antiguidade. Serlio, mais teórico e utópico do que prático, conseguiu mais sucesso. Ele inspirará o livro de arquitetura de Jacques Androuet Du Cerceau e, depois, de Palladio, na segunda metade do século XVI.
[37] Evers, 2003: 6.
[38] Tradução de Claude Perrault (irmão de Charles) com uma ortografia modernizada. Existem várias edições dos dez livros de arquitetura, mas algumas estão longe de oferecer uma tradução fiel. Não há como nossa edição fac-símile não ser fiel.
[39] Vitruve, 1995: 3.
[40] Quintiliano ou Cícero farão as mesmas observações sobre a retórica.
[41] Platão, 1991: 250. A tradução de Victor Cousin é precedida por: “A função da filosofia é procurar secar, tanto quanto possível, essa fonte fatal, elevar gradualmente a criatura humana à verdade, virtude, paz, unidade, liberdade, ensinando-a a libertar-se das necessidades do corpo. Agora, essa emancipação levada a um certo grau é a morte, sendo a morte apenas a separação do corpo e da alma. O filósofo opera em si a morte fazendo a liberdade triunfar sobre os sentidos, e é exatamente quando morre que ele está mais em posse da vida; e o fenômeno da morte sensível, longe de ser um obstáculo, é um passo em direção à independência e imortalidade da alma “.
[42] Grifo nosso.
[43] Vitrúvio, 2008.
[44] Vitruvius, 1995: 6.. .
[45] Belhoste, 2007
[46] Hadot, 2006.
[47] Natural da ilha de Delos. (N.T.)
[48] Guillaumin, 2007: 54. A abordagem não é a mesma. Este é sem dúvida também o que faz com que muitos maçons considerem a arquitetura material como a ancestral de seu ritual Guillaumin, 2002: 11.
[49] Guillaumin, 2002: 11.
[50] Guillaumin, 2007: 49.Não confundir com Jean-Ives, citado acima. (N.T.)
[51] Não confundir com o Jean-Ives, de mesmo sobrenome, citado acima. (N.T.)
[52] Hadot, 2006.
[53] Isso destaca a diferença entre o otium e o neg-otium, lazer e assuntos públicos, por um lado, e o trabalho, isto é, um ofício manual relevante dos produtores/artesãos, por outro lado.
[54] Vitruve, 1995: 8.
[55] Guillaumin, 2007: 49
[56] Parece que Boécio foi o primeiro a usar o termo quadrivium. O importante papel dos monges irlandeses (também chamados de Scots, “escoceses”) na Germania, levou a dar às artes liberais o nome de Methodus Hybernica, o “método Hibernia”. O número exato de sete fez lembrar outros setenários: os sacramentos, as virtudes, os pilares da sabedoria e aplicados por sua vez a outros elementos as artes mecânicas, os talentos exigidos dos candidatos à cavalaria, as ciências superiores do direito civil, do direito canônico e dos cinco ramos da teologia.
[57] Abadessa do convento de Hohenbourg (Mont Sainte-Odile), na Alsácia.
[58] Bibliothèque alsatique du Crédit mutuel : http://bacm.creditmutuel.fr/HORTUS_PLANCHE_8.html
[59] Friedman, 1985.
[60] Tomamos emprestado esta expressão de Sachot, 2007
[61] A teologia tomou o lugar da filosofia, como a única filosofia admissível, uma vez que se baseava em revelações únicas, uma noção que um grego não aceitaria.
[62] Sg 11, 20: “você resolveu tudo com medida, número e peso”.
[63] Ainda lemos Virgílio!
[64] O termo remete a uma reconfiguração de valores que rejeita os clássicos no mundo “pré-cristão”.
[65] Grifo nosso.
[66] http://classes.bnf.fr/dossitsm/occichre.htm.
[67] Guillaume de Conches: c. 1080-C. 1150.
[68] Bernard de Chartres: c. 1130-1160.
[69] Etienne, 2000: 118-9.
[70] Boudon, 2003: 5-32.
[71] Dante: 92.
[72] Vemos novamente na nota 22.
[73] Barbe-Gall, 2007: 208.
[74] Quarta parte da Instrução deste Grau