Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Maçonaria, precursora do Facebook?

José Filardo, M.´. I.´.

A História não dá saltos.  Ocasionalmente, uma catástrofe pode provocar mudanças, como, por exemplo a Nova Idade do Gelo que permitiu ao Homo Sapiens cruzar caminhando o espaço que separa a Sibéria do Alaska. (Ia mencionar o nome do Estreito, mas recuso-me a escrever o nome do renegado que destruiu a Maçonaria Brasileira…).

Mas, na evolução das instituições humanas, o que temos é uma grande influência da tecnologia, da economia e da política (que no frigir dos ovos se reduz ao exercício do poder econômico) na determinação de mudanças significativas na História. No alvorecer da história, os indo europeus inventaram a roda e o carro leve de guerra e invadiram a Europa, alterando o regime matriarcal para patriarcal; em 1415, os grandes arcos dos soldados ingleses transformaram para sempre a técnica de guerra em Azincourt; na segunda grande guerra, a blitzkrieg dos alemães com seus panzer transformou completamente a guerra e, finalmente, em nossos dias, os drones americanos estão mudando o cenário dos campos de batalha.

Entre os maçons, contudo, acredita-se que a Grande Loja de Londres surgiu simplesmente, fruto da vontade de alguém, sem razão aparente. Concepção imaculada.  A historiografia oficial, é vero, reza que foi a continuação das guildas de pedreiros que foi consolidada em uma grande loja que reunia três outras lojas já existentes. Mas, isso não explica a razão pela qual isso ocorreu naquele momento.

Naturalmente, os criadores da novel instituição se preocuparam com o estabelecimento de um pedigree, a começar pelo fantasioso preâmbulo à Constituição de Anderson  que só rivaliza com o Livro de Mórmon, coincidentemente criado por um maçom. E o Pastor Anderson demonstrou sua genialidade na pesquisa e redação da Constituição.

Mas, vamos colocar um pouco de contexto na história.

O fim do século XVII e início do século XVIII foi uma época conturbada da Inglaterra.  Desde 1534, quando Henrique VIII declarou-se chefe supremo da igreja da Inglaterra, desafiando o Papa de plantão, os reis e rainhas ingleses passaram a ser protestantes, culminando em 1701 com o Act of Settlement que determinava a obrigatoriedade da profissão de fé protestante a todos os monarcas ingleses.

Mas, os escoceses e irlandeses eram tradicionalmente católicos e a partir de Henrique VIII passou a existir uma tensão que se acirrava no momento das sucessões.

Em 1685, subiu ao trono James II, o último monarca católico a reinar na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Os membros da elite política e religiosa da Inglaterra se opunham e ele por ser pró-França e pró-Catolicismo e por sua determinação em ser um monarca absoluto. Quando nasceu um filho e herdeiro, a tensão explodiu levando os nobres a convocar William III de Orange para invadir o país a partir da Holanda, o que este fez. O Rei James fugiu da Inglaterra (sendo considerado que tivesse, com isso, abdicado) durante a Revolução Gloriosa de 1688. Ele foi substituído por William de Orange que passou a governar com sua esposa Mary II (filha de James, mas protestante). Assim, William e Mary, ambos Protestantes, tornaram-se os governantes conjuntos em 1689. James ainda fez uma tentativa séria de recuperar a coroa quando desembarcou na Irlanda em 1689, as depois que suas forças foram derrotadas pelas tropas de William na Batalha de Boyne no verão de 1690, James voltou à França, onde tinha se refugiado.

Em 1701 foi publicado o Act of Settlement que previa que se a linha de sucessão estabelecida na Bill of Rights se extinguisse, a coroa iria para uma prima alemã, Sophia, de Hanover e seus herdeiros protestantes.

Em 1702 morre William III e é sucedido pela filha mais nova de James II, educada como protestante, que reinou até 1714 quando se abre novamente a sucessão. Como a princesa Sophia, a quem caberia a coroa havia morrido dois meses antes de Anne, a coroa foi herdade por George I, filho de Sophia.

E na Maçonaria, o que se passava?

Desde o século XVII os maçons escoceses já vinham aceitando autoridades e patrocinadores como membros de suas lojas.

A maçonaria jacobita apoiava o pleito dos herdeiros de James II ao trono da Inglaterra e no início do século XVIII a questão religiosa e política fundiram-se, devido ao Act of Settlement de 1701.

Em 1666, ocorrera o Grande Incêndio de Londres, que exigiu a reconstrução da cidade, entregue em primeiro plano à Companhia dos Maçons (que nega ter qualquer coisa a ver com a Maçonaria, a não ser o modelo de estrutura que seguia os costumes dos maçons antigos) detentora do monopólio de construções. Mas, a Companhia dos Maçons não deu conta do recado e a reconstrução exigiu a vinda de muitos pedreiros do interior, da Escócia, da Irlanda que constituíram lojas independentes em Londres. E sendo católicos, tendiam a apoiar a pretensão dos Stuart em relação ao trono, juntamente com as lojas militares escocesas.

Assim, com a morte da Rainha Anne e a abertura da sucessão, o trono foi ocupado por George I,  mas a situação político-institucional era muito complicada.

A Grande Loja dos chamados Modernos alega que ela também foi formada após a rebelião escocesa de 1715. Sua fundação é obra de algumas lojas hostis aos Stuarts, pois as Constituições de Anderson começam com estas palavras reveladoras: “Após a rebelião.” Sabemos que ela não virá a reunir mais que quatro lojas, as outras lojas preferindo permanecer temporariamente independentes ou permanecer fieis aos “Antigos”.

Após chegada ao poder do Rei George, em 1714 algumas lojas sentiram que precisavam afastar delas a suspeita de serem Jacobitas. Assim é que em 1723 quatro lojas se tornaram 52.

Ora, o segredo era uma das características das lojas, o que fazia delas o instrumento ideal para a sedição e a conspiração, e as autoridades da coroa perceberam que precisariam neutralizar essa capacidade, impedindo o apoio às pretensões dos Stuart, ao mesmo tempo em que disciplinavam as lideranças da sociedade inglesa, informadas pelos novos valores do Iluminismo, dentre os quais o mais importante era a Igualdade.

Assim, para se contrapor às lojas jacobitas (católicas, partidárias dos Stuart) foi criada uma nova força, pensada e formatada por protestantes, com base na tradição dos maçons operativos e que preconizava a ausência de discussão política ou religiosa, os temas mais candentes da época.

Aproveitando o desejo das lojas independentes de maçons operativos de se unirem (talvez para fazer frente à Companhia dos Maçons que detinha o monopólio na área) convocaram os pastores Desagulliers e Anderson para sistematizar e compilar o conhecimento oral dos maçons, e o Duque de Wharton para formatar o “club” que seguiria as regras escritas pelos pastores protestantes. Wharton era um garotão de vinte e poucos anos, que detinha o know-how; acabara de fundar um “Club” a que chamara Fogo do Inferno e que tinha péssima reputação. Seu dirigente supremo ostentava o título de “Satã” e se dizia que promoviam bacanais. O próprio Wharton tinha uma péssima reputação como estroina e baderneiro.

Mas, a nova instituição era irresistível ao gosto dos ingleses contemporâneos, principalmente os iluministas, visto que oferecia liberdade religiosa  e – o pulo do gato –  igualdade em loja. E a coroa conseguia, assim, disciplinar a opinião e o comportamento público.

Inteligentemente, Anderson e Desagulliers introduziram a proibição de discussão política e religiosa, e definiram rigorosamente as obrigações que os candidatos deveriam aceitar enquanto “irmãos”.

Interessante notar que os Regulamentos Gerais dos Maçons, que compõem a segunda parte da Constituição são em número de 39, “coincidentemente” o mesmo número de Artigos da Religião estabelecidos em 1563 para definir a doutrina anglicana da qual Anderson era pastor.

Os nobres e os gentis-homens acorreram rapidamente à nova instituição que oferecia a possibilidade de convivência independente de classe, acesso a pessoas bem colocadas na sociedade e a consequente possibilidade de fazer negócios vantajosos. A aceitação de pessoas de diferentes religiões fez a ponte entre os nobres e, por exemplo, os judeus que dominavam as finanças, enfim, criou-se uma rede social que mutatis mutandis se parece com as redes sociais atuais.

Posteriormente,  durante a expansão do Império Britânico, as lojas maçônicas tinham dupla função: ofereciam um oásis inglês com jeito de “club” aos aventureiros ingleses que perambulavam pelo Império e os mantinham na linha, obrigados pelas rigorosas regras da maçonaria, e ao mesmo tempo permitiam cooptar as elites locais e facilitar o contato dos agentes comerciais ingleses com as classes dominantes das colônias em bases sólidas de confiança fundada o vínculo de fraternidade maçônica.

Dessa forma, criou-se uma rede social que nada fica a dever às redes sociais facilitadas pela Internet, das quais a maior é o Facebook.

2 comentários em “Maçonaria, precursora do Facebook?

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