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O esquadro e o compasso

Por João Anatalino Rodrigues

esquadro, compasso

O compasso e o esquadro reunidos é a mais conhecida representação da Maçonaria. Representa a divisa maçónica “Justiça e Perfeição” simbolizada em dois instrumentos de trabalho, que une o sagrado e o profano da profissão de construtor. Com o compasso, o Grande Arquitecto do Universo desenha a conformação do universo, que é esférica; com o esquadro Ele traça os seus eixos, que são fundados na bipolaridade das forças que o constroem.

Com efeito, é amplamente aceita, tanto entre os cientistas quanto entre os mestres do conhecimento arcano, a ideia de que universo, o cosmo, o grande edifício universal, que o Supremo Arquitecto do Universo constrói, tem a forma esférica. Ele propaga-se, a partir de um centro único, em todas as direcções, como se fosse uma esfera, uma bola que está sendo preenchida pelo sopro do seu Criador.

Esta é a sua forma geométrica, que só pode ser alcançada com um compasso. Porém, na sua expansão, o universo se espalha ao longo de dois eixos, espaço e tempo, que só podem ser traçados com um esquadro. Por isso, na união dos dois instrumentos de traçado está a simbologia do construtor das realidades universais, que deles precisa para realizar o seu trabalho, da mesma forma que representa a realidade prática do construtor de edifícios, em cuja tradição simbólica a Arte Real se fundamenta.

Na tradição do Taoísmo, esquadro e compasso poderiam ser comparados às energias Yin/Yang, dualidade formada pela dialéctica dos opostos, no sentido de que um (yin) força o mundo a se expandir para fora do seu centro, enquanto o outro (yang) o faz retornar sobre si mesmo. Assim, representam a positividade que faz o universo crescer em massa, na infinitude cósmica e a negatividade, que o leva a se organizar em sistemas, confluindo para a interioridade que também o leva a espiritualizar-se.

Cientificamente, seriam as leis da Relatividade e da Gravidade, cada uma actuando com as suas propriedades, uma permitindo que o Universo se formate no imenso das realidades físicas, a outra concorrendo para que ele se organize no ínfimo de si mesmo, em realidades espirituais.

Na Cabala esquadro e compasso equivalem às duas séfiras fundamentais, eixos principais da trindade primordial, Chokmah e Binah, arquétipos masculino e feminino, respectivamente, que se juntam para formar o filho, que é o universo, representado pela letra G.

Na simbologia maçónica, aplicada à filosofia praticada pelos Irmãos, esta composição entre os dois instrumentos de traçado significa que o Maçom deve procurar ser justo e perfeito nas suas acções e julgamentos. Amplo no seu entendimento, flexível no seu julgamento, recto no seu carácter. De um lado, uma esfera sem medida, pronto para infinitas realizações, de outro linhas rectas em comportamento e virtude, que desses eixos não se afasta nem por força das mais fortes pressões.

Este simbolismo revela ainda a profunda relação entre a Maçonaria e a Arquitectura, já que são instrumentos de trabalho do construtor. Quando apresentados com a letra G dentro do desenho representa o parto do universo, uma vez que a letra G, em Maçonaria, simboliza o próprio universo sendo manifestado em forma de energia luminosa. Por isso é que a forma como são dispostos lembra também a postura macho- fêmea em atitude de cópula. O G no meio das pernas dos dois instrumentos é o mundo que nasce dessa união. Simbolismo revelador [1].

Não é mera coincidência a escolha destes instrumentos de traçado, usados na construção civil, para simbolizar a prática maçónica. Os dois instrumentos juntos têm a forma de uma estrela de cinco pontas, também conhecida como Selo de Salomão. Na maçonaria esta alegoria é apresentada como o mistério fundamental a ser adquirido pelo iniciado Maçom. Com efeito, sendo o conhecimento das propriedades da Estrela o corolário do ensinamento maçónico, o ápice filosófico da Escada de Jacob, espera-se que no momento em que essa intuição é passada ao iniciado, ele o esteja pronto para receber a luz final desse conhecimento, representado pela estrela formada pela união do esquadro e o compasso.

João Anatalino Rodrigues

[1] O G quando apresentado sozinho também representa a estrela flamejante, um dos mistérios mais intrigantes da Maçonaria. Sobre este assunto veja-se o capítulo XXVII da nossa obra Mestres do Universo, publicada pela Biblioteca 24×7.