Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Maçonaria Relevante – Parte I

Tradução José Antonio de Souza Filardo

Revista Nouvelle Observateur – Agosto 2011

QUANDO OS PARTIDOS SÃO FRACOS, AS REDES RECUPERAM SEU PODER

Eleições Presidenciais

por François Bazin

Os maçons na campanha

Chirac sabia encontrar as palavras de que eles gostam. Mitterrand os riscava, mas não deixava de colocar alguns deles em sua comitiva. Mas, mesmo sabendo que os maçons não garantem uma eleição, é prudente não negligenciar a sua influência…

Em 2007, durante a última eleição presidencial, eles eram encontrados por todos os lados. Por todo lado, no caso, significa que eles estavam em todos os campos, especialmente na comitiva dos dois finalistas. Procure o maçom! Apesar da tradição de segredo cultivada por todas as obediências, isso não é muito complicado. Ségolène Royal tinha os seus, originários dos baronatos vermelhos. Gérard Collomb, o Lyonês, Patrick Mennucci, o Marselhês e François Rebsamen, de Dijon, que não é mais há um bom tempo, mas que se mantive em contato com todos aqueles “irmãos” da política e da alta administração. Nicolas Sarkozy não foi exceção. De Brice Hortefeux a Claude Gueant, passando por Xavier Bertrand, maçons notórios e outros simpatizantes estavam no coração de sua equipe de campanha.

Para guiá-lo no pequeno mundo das obediências, o candidato do UMP recorreu igualmente aos serviços de um ex-grão-mestre do Grande Oriente da França, Alain Bauer. Neste sistema de rede, ele havia até mesmo criado um clube que aparecia como “sarkozista de esquerda” – sob o patrocínio de Brice Hortefeux, ele teve que fazê-lo!

A Diagonal também acumulava benefícios já ela reunia sob um mesmo teto, um pequeno grupo ambicioso e ruidoso onde maçons e gays se davam as mãos.

A partir daí, as questões se encadeiam. Os irmãos farão o presidente? Grande piada! No melhor dos casos, os maçons na França, são pouco mais de 150.000. Para pesar, é preciso mais que isso! Além disso, as lojas não são homogêneas. Os maçons de direita preferem votar na direita. Os maçons de esquerda preferem votar na esquerda. Em qualquer eleição, há, naturalmente, trânsfugas. Mas não é com eles que se pode esperar ganhar o grande prêmio do Eliseu. Permanece, de todo jeito, a questão da influência. Na gestão do Estado, são claras as áreas onde o peso da maçonaria é de tal ordem – polícia, energia, educação, ultramar – tem que é preciso ser diabolicamente forte, ou terrivelmente inocente para ousar se atrever a ignorar os interesses, desejos ou até mesmo, mais simplesmente, seu desejo de reconhecimento.

Em 2007, Royal criou este impasse. Ela foi abatida. Nicolas Sarkozy não o fez. Ele foi eleito.

CQD?

Se voltarmos às eleições anteriores, a situação é a mesma. Em 1995 e também em 2002, Jacques Chirac soube encontrar as palavras que agradavam as lojas. Para contrariar a ofensiva balladuriense, a temática secular e republicana do candidato da “fratura social” teria feito um sucesso nas obediências. Sete anos mais tarde, Lionel Jospin pagou muito caro por ter negligenciado todos os encantos dos maçons em sua atuação em Matignon. Do véu islâmico à Córsega, ele fez tudo da sua própria cabeça. Na hora da votação, os “irmãos” se refugiaram em um chevènementismo de boa qualidade. No segundo turno, seu antilepenismo visceral fez o resto.

Em toda eleição presidencial há um marcador maçom. Este não é o único. E não foi sempre este o caso. Mas, a experiência das últimas eleições demonstra que não se ganha sem ele. Os candidatos presidenciais de todas as origens reconhecem isso facilmente. Já faz muito tempo que um maçom não coloca suas malas no Palácio do Eliseu. O último se chamava Vincent Auriol. Isso foi há mais de 50 anos, em outra República. Hoje, é suficiente uma reputação. Jacques Chirac, este Correziano radical, sempre se gabou de ter sido iniciado como tinha sido, antes dele, seu avô. Nicolas Sarkozy alimentou o rumor, ao adornar, por vezes, a sua assinatura com três pontos. Como François Mitterrand, que zombava muitas vezes dos “irmãos-coceira”, mas nunca deixou de instalar um deles em seu círculo íntimo, o atual presidente aprendeu que não havia necessidade de “receber a luz” para ser considerado um amigo das lojas. Lá estão as lições que ele, então, verificou há muito tempo, em seu próprio campo. Nicolas Sarkozy, neste sentido é também um filho de Charles Pasqua, versão Hauts-de Seine-e versão Beauvau.

O marcador maçom se tornou uma arma a serviço da direita. Seus candidatos o utilizam para confundir a questão ou, o que muitas vezes é a mesma coisa, para ampliar seu espectro ideológico. Eles usam isso como uma patente de republicanismo, como um certificado de antilepenismo diante de uma esquerda que se esqueceu de seus fundamentos ao ponto de fazer da maçonaria o vetor de suas divisões.

Ontem Chevènement, hoje Mélenchon… A guerra das lojas, que entrará na sua fase ativa à medida que nos aproximamos do final de 2012, tornou-se o campo de manobra onde os candidatos experimentam, em pequena escala, os temas de seus afrontamentos futuros. Quem não tem, em sua agenda, uma sessão branca em perspectiva pode ser considerado como um concorrente confiável? Fazia muito tempo que tanto à esquerda quanto à direita não se tinha prestado tanta atenção a este tipo de encontro. A safra maçônica de 2012 se anuncia como uma safra histórica. No PS, François Hollande saiu na frente, com a sua âncora provincial e Senatorial. Jean-Luc Melanchon também joga nas lojas o futuro de seu projeto de construção de outra esquerda digna do nome. O centro no estilo Borloo tem ali suas raízes ideológicas e financeiras. Quanto a Nicolas Sarkozy, que não esqueceu todas as lições de seu sucesso anterior, ele sabe que sem o apoio de uma parte da maçonaria, ele será, na melhor das hipóteses, um simples candidato de direita.

É uma lei da política e, portanto, da eleição presidencial. Quando os partidos são fracos, as redes recuperam seu antigo poder O mais curioso neste caso é que a reformatação como maçom iniciado por candidatos que não o são teve efeitos deletérios no seio das obediências. Um pouco como se as recomposições políticas tivessem servido em um primeiro momento somente para exacerbar suas contradições. No ano passado em Vichy, o Convento do Grande Oriente desembarcou sem cerimônias um grão mestre em fim de mandato, Pierre Lambicchi, cujo erro – não foi o único! – foi ter metido a colher no grande jogo de Sarkozy. Na Grande Loja Nacional Francesa (GLNF), Francois Stifani jogou a toalha na última primavera, depois de ter sido, durante quase quatro anos, o melhor aliado do Eliseu em terras maçônicas. Em uma carta datada de 2009, revelada por “l’Express” e ele tinha garantido ao Chefe de Estado seu “apoio ativo” a alguns de seus ministros (Christian Blanc, Roger Karoutchi, Hubert Falco e Christine Boutin).

Estas demissões precipitadas indicam uma alergia nova em relação a um presidente que, durante o mesmo mandato, conseguiu a proeza de lisonjear os grãos mestres, enquanto pronunciava um discurso em Latrão pouco consistente com os valores seculares da República. Mas, elas são também a expressão de um distúrbio mais geral, que surgiu em março, quando membros proeminentes do Grande Oriente sentiram que sua obediência deixava seu papel na tentativa de trazer, contra a Frente Nacional, “propostas concretas sobre emprego, habitação, salários, acesso a cuidados ou ao poder de compra”. Medo da política num momento em que os políticos estão redescobrindo o charme discreto da maçonaria? São estes os tempos!

Para 2012, as lojas, por não mais saber o que elas realmente pensam, hesitantes entre a tentação da retirada e do prazer fugaz de serem novamente cortejadas. Ontem, eles adoravam fazer campanha. Hoje, eles entram nos planos de campanha. Mais do que uma influência, isso sinaliza ao menos a persistência de uma reputação.

O Caso Marine

Ele suspira. Guy Arcizet não tem mais certeza de nada. “Faz-me dor o coração ver Marine Le Pen cruzar as portas da rue Cadet”. Mas o atual Grão-Mestre do Grande Oriente é obrigado a reconhecer: “Alguns irmãos querem que a gente a convide… “

Em algumas associações fraternais, maçons da GLNF – onde parece, a política é proibida – sugeriram que não se faça sofrer a filha o destino, ontem, reservado ao pai. Há paredes trincadas nas obediências. Sem dúvida, houve no passado, frentistas infiltrados na maçonaria.

No sul da França, por vezes, fechou-se os olhos, explicando que os irmãos perdidos para a Frente Nacional eram de fato ativistas de direita um pouco radicalizados. Ainda assim, as diatribes regulares do fundador da Frente reavivaram velhos preconceitos sem que em Paris seja necessário recordar os princípios republicanos. Desde que Marine Le Pen aprendeu a comer salsicha e beber vinho tinto fazendo-se passar por campeã de um secularismo bem francês, as linhas cresceram. E se a Frente tivesse se tornado respeitável? A nova patroa, de qualquer maneira, conseguiu passar a mensagem. Quando se tem inimigos comuns, por que continuar a guerrear? O problema para ela, é que o tabu continua a dominar nas lojas. E acima de tudo, a tradição maçônica permanece viva em seu partido. Após o massacre da Noruega em julho passado, Marine Le Pen foi forçada a cobrir aquilo que, na FN, explicava-se como fez Bruno Gollnisch, que Anders Breivik Behring era antes de tudo… um maçom. Complicado, depois disso, ir bater à porta da rue Cadet! F. B.

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