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Grau 15 – Cavaleiro do Oriente (REAA)

Publicado em FREEMASON.PT

Por João Anatalino Rodrigues

Avental do Grau 15 – Cavaleiro do Oriente
Avental do Grau 15 – Cavaleiro do Oriente

Embora se trate de um grau de inspiração templária, o Grau 15, chamado Cavaleiro do Oriente, é feito em cima da crónica bíblica que trata da reconstrução do Templo de Jerusalém comandada por Zorobabel, indo até à sua destruição, em a.D. 70.

Historicamente, o personagem chamado Zorobabel foi um rabino, líder dos judeus que voltaram para Jerusalém com a permissão do rei Ciro, da Pérsia, após aquele rei ter derrotado os caldeus e libertado os povos que eles tinham levado cativos para a Babilónia. Diz o cronista Esdras que se tratava de 42.360 pessoas, além dos seus servos e servas, o que pressupõe que os judeus, já nessa época, não viviam mais como cativos no império persa.

Todavia, naquele tempo, como hoje, a Palestina não era habitada somente pelos descendentes de Israel. A volta de um tão vasto contingente de pessoas para aquela terra, sabidamente tão pobre em recursos naturais, trouxe muita preocupação para os povos da região. A começar pelo abastecimento de água-toda a água potável da Palestina vem do Lago Genesaré, o chamado Mar da Galileia-, os parcos recursos naturais da região são disputadíssimos pelos povos de diversas etnias que ali se fixaram. Este é motivo da eterna situação de conflito existente naquele conturbado pedaço de terra chamado Palestina.

Este novo êxodo de judeus para a região logo degenerou em conflito. Esdras fala da feroz oposição dos samaritanos, embora deixe transparecer na sua crónica que essa oposição foi causada pelos próprios judeus, que não permitiram que os seus rebeldes conterrâneos do Norte participassem da reconstrução do Templo. Como eram muitas as incursões dos inimigos de Israel contra o canteiro de obras, Zorobabel criou uma espécie de milícia para protegê-lo. Os pedreiros, ao mesmo tempo em que trabalhavam na construção, a defendiam, “mantendo numa mão a trolha e a argamassa e na outra a espada”.

Esdras descreve assim essa restauração:

“No primeiro ano do rei Ciro, ele ordenou que a Casa de Deus, que há em Jerusalém fosse reedificada no lugar onde que se oferecem sacrifícios, e que se lhe pusessem uns fundamentos que sustentassem a altura de sessenta côvados, três fiadas de pedra por polir e do mesmo modo fileiras de madeira nova; e que a despesa se fizesse da casa do rei. E que restituíssem também os vasos de ouro e prata do Templo de Deus, que Nabucodonosor tirara do Templo de Jerusalém, e levara para a Babilónia, e que se reconduzissem para o Templo e os pusessem no seu lugar”.

Assim, foi graças à disposição do rei persa que Zorobabel voltou para Jerusalém, comandando um exército de construtores para reconstruir o Templo de Salomão. É nesse episódio que se fundamenta a lenda do grau 15.

De notar que Cavaleiros do Oriente eram os cruzados que, Séculos mais tarde, foram para a Terra Santa para lutar contra os muçulmanos que tinham capturado Jerusalém e proibiram os cristãos de visitar os seus lugares santos.

Ao reconquistar a cidade santa, esses cruzados adoptaram diversas tradições dos antigos judeus, inclusive os costumes por eles utilizados, de se comunicarem através de palavras, senhas e sinais, já que eram estranhos numa terra estrangeira e os nativos geralmente lhes eram hostis. A Irmandade sobre a qual se fala no ritual deste grau é a Ordem dos Cavaleiros Templários, que por suposto seria a antecessora da Maçonaria. Mas por questões de desenvolvimento ritual, toda a ambientação e as referências históricas estão vinculadas à reconstrução do Templo de Salomão, promovida por Zorobabel no inicio do século IV a.C. após a conquista persa.

A lenda do Grau 15

A lenda do grau 15 diz que alguns judeus que fugiram para o Egipto por ocasião da invasão dos caldeus tinham voltado para Jerusalém após a conquista persa e constituído um grupo secreto para estudar e promover a reconstrução do Templo de Salomão. Este grupo – uma espécie de Loja Maçónica Operativa – mantinha-se na clandestinidade exactamente para evitar o ataque das populações hostis da região. Os seus integrantes identificavam-se através de palavras de passe e sinais secretos. Eram membros remanescentes daqueles Perfeitos e Sublimes Maçons, conhecedores da Palavra Sagrada, que são referidos no grau 14.

Zorobabel, ao voltar para Jerusalém, fez contacto com eles e se fez reconhecer como um Perfeito e Sublime Maçom, dando-lhes a Palavra Sagrada. Vendo a firme disposição daqueles Irmãos em reconstruir o sagrado edifício, ele empenhou-se junto ao rei Ciro para que ele permitisse e financiasse a reconstrução. O rei persa concordou, mas pressionou o líder judeu para que ele revelasse os segredos do grupo, ao que ele, valentemente resistiu. Comovido com a firme disposição dos judeus e impressionado com a fidelidade de Zorobabel, o rei dispôs-se a ajudá-los, liberando todos os seus compatriotas para trabalhar na obra e fornecendo os recursos financeiros necessários, além de devolver os utensílios que Nabucodonosor, rei dos caldeus, tinha pilhado por ocasião da conquista de Jerusalém cerca de quarenta anos antes. Foi então que Zorobabel voltou à Jerusalém, e junto com outro rabino, de nome Neemias, coordenou a reconstrução do Templo.

Símbolos e ensinamentos do grau

Entre os símbolos utilizados no ritual do grau 15, destacam-se, entre outros motivos, francamente inspirados em tradições cavalheirescas, a fita verde representando ossos, espadas inteiras e quebradas, e membros humanos decepados, desenhados sobre uma ponte onde estão marcadas as iniciais L. P. D. Essas iniciais, bem como esses símbolos evocam as batalhas travadas pelos israelitas para voltar para Jerusalém e defender as obras de reconstrução e As próprias batalhas travadas pelos cruzados para conquistar e manter Jerusalém.

O ensinamento contido na simbologia do grau diz-nos que por mais que o Irmão seja pressionado, seja pelas autoridades, seja pela sua própria condição de vida, ele jamais se deve afastar dos princípios ensinados pela boa Maçonaria. Esses princípios estão calcados principalmente na fidelidade e na disposição de permanecer firme na postura ética e moral que adoptou quando do seu ingresso na Ordem. Assim, ser um Cavaleiro do Oriente, significa seguir o exemplo de Zorobabel, que mesmo pressionado pelo rei persa para revelar os segredos da Irmandade, não entregou os seus Irmãos, não revelou os segredos da Ordem, não compactuou nem se acovardou ante o ataque dos inimigos e prosseguiu, impassível, na resolução que tomou.

Assim deve ser o Maçom. Uma vez tomada a resolução de “reconstruir o templo interno do seu espírito”, essa disposição não deve ser jamais abandonada. Deve empreendê-la com a coragem de um Cavaleiro de Cristo e a fé de um israelita. E sobretudo, crer que a sua fé, o seu zelo, fidelidade e coragem serão, afinal, recompensados.


Do livro “Conhecendo a Arte Real”, Anatalino, João – Ed. Madras, São Paulo, 2007

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