Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Maçonaria, Teosofia e Esperanto

Afinidades espiritualistas em redes intelectuais no Ceará dos anos de 1920[1]

Marcos José Diniz Silva[2]

 

 

O artigo trata da atuação de adeptos da maçonaria, da teosofia e do movimento esperantista, no Ceará nos anos 1920, compondo uma ampla rede de pensamento espiritualista com notável inserção nos meios literários e na imprensa local. Guardam afinidades na defesa da liberdade e igualdades religiosas, previstas no Estado laico e combatidas pelo clero católico, constituindo estratégica rede intelectual para o cultivo de sociabilidades e debates sobre espiritualidade e questões sociais.

Introdução: bases da ação maçônica, teosófica e espiritista

A capital do Ceará, Fortaleza, passou por significativas transformações nas últimas décadas do século XIX, modernizando seus equipamentos urbanos, num “aformoseamento” para sua inserção na badalada onda do progresso, da civilização e da modernidade. No aspecto socioeconômico, Fortaleza já se consolidara como entreposto comercial de base agroexportadora, sustentada no binômio gado/ algodão, monopolizando o setor exportador. Assim, passa a auferir os benefícios do capital, da infraestrutura e da integração econômica e cultural com a Europa. Esses fatores fortalecem a camada burguesa, sobretudo comercial, e a expansão da classe trabalhadora e dos estratos médios, como funcionalismo e profissionais liberais. A euforia comercial se apresentava também em seu aspecto importador, estimulando o consumo dos bens materiais e simbólicos da civilização europeia.

Contando 50 mil habitantes na passagem para o século XX, atingindo 78.536 em 1920 e 126.666 em 1930, Fortaleza se expandia não apenas em seus jardins, praças, comunicação telegráfica, como também nas lides intelectuais, com a proliferação de academias literárias e científicas, lojas maçônicas, clubes de leitura, livrarias e cafés, constituindo espaços de sociabilidade e terreno fértil para a difusão dos ideários da modernidade, do racionalismo e do cientificismo.

O espaço da imprensa constituiu-se locus privilegiado da publicização dos debates, das polêmicas e da construção social e política de opiniões, muitas vezes tendo a temática da religião como elemento central. Excetuando-se as questões político-eleitorais e governamentais, pode-se afirmar que as polêmicas religiosas foram o tema dominante na imprensa cearense das três primeiras décadas do século XX, cumprindo o papel difusor de diversas alternativas espiritualistas.

Entre os periódicos de orientação explicitamente católica merecem destaque, em Fortaleza, O Bandeirante, “Órgão literário, moral e noticioso”, que circulara entre 1910 e 1911; O Cruzeiro do Norte, “hebdomadário católico” (1908-1913); e O Bandeirante (1929-1931), órgão do Centro Jackson de Figueiredo, filiado à União dos Moços Católicos. No entanto, destacou-se o jornal O Nordeste, fundado em 1922, sob orientação do arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes. Esse periódico contava com moderno parque gráfico, coeso corpo redatorial formado de intelectuais leigos e considerável número de anunciantes, fato novo nas lides jornalísticas católicas. O diário desenvolveu campanha sistemática de mobilização católica por alterações na legislação laicizante da República e no combate às demais religiões, movimentos filosófico-religiosos e espiritualistas alternativos.

Já a presença das ideias maçônicas, espíritas e teosóficas na imprensa cearense, disseminava-se mais difusa e assistemática. Essa presença estratégica era favorecida pelo recrutamento maçônico nos extratos médios e superiores da sociedade. Seus adeptos achavam-se entre proprietários de jornais, gerentes, redatores, cronistas, colaboradores e leitores ativos, dando visibilidade e publicidade às suas opiniões, doutrinas, valores, eventos e polêmicas com a religião tradicional e com a sociedade em geral[3]. Destacaram-se, como espaço dessas manifestações, os jornais A República (1910-1911), Jornal do Ceará (1911), A Tribuna (1922-1924), A Unidade (1924), O Ceará (1927-1930), Gazeta de Notícias (1927-1937), A Esquerda (1928), O Povo (1928-1937), A Razão (1929-1931), dentre outros.

Aspecto relevante a considerar é que maçons, espíritas e teosofistas não mantiveram, naquele contexto, uma imprensa periódica duradoura que centralizasse a difusão de suas atividades e produção doutrinária, podendo-se registrar a existência de alguns pequenos e efêmeros jornais, como os maçônicos: O Combate[4], A Liberdade[5], e Democracia; os espíritas: O Lábaro[6], Reencarnação[7]; e o teosófico: A Unidade. Desse modo, restoulhes uma atuação menos sistemática e mais de acordo com as demandas do debate propriamente religioso e das abordagens religiosas das questões sociais através de colunas informativas em diversos jornais da cidade.

Também nos grêmios cívico-literários atuaram esses agentes afinados com uma espiritualidade alternativa, a exemplo da Academia Polimática. Fundada em 12 de novembro de 1922, funcionaria até julho de 1924. Tinha sua sede no prédio da Farmácia Meton, à Rua Barão do Rio Branco, no centro de Fortaleza, onde também funcionava a Loja Teosófica Unidade. Congregava sócios das mais variadas atividades, crenças, tendências políticas e filosóficas, como Moraes Correia, Alba Valdez, Andrade Furtado, Antonio Praxedes Góes, César Magalhães, Demócrito Rocha, Jader de Carvalho, Natanael Cortez e Monsenhor Tabosa. Então, é como um movimento que se deve perceber a atuação da Academia Polimática. De acordo com seu mais dedicado estudioso, a Polimática era:

Uma sociedade, ou melhor, uma universidade popular, democrática, voltada para o aperfeiçoamento da natureza humana através do culto da Família, da Pátria, da Mulher, da Humanidade, do Trabalho. Democrática, porque agasalhava em seu seio, numa promiscuidade consoladora e sadia, a mocidade estudiosa, os renomados intelectuais e os humildes filhos do povo. De caráter educativo, batia-se pela regeneração social e pela fraternidade universal[8].

Em geral a Academia Polimática é vista como mais um movimento literário que agitou efemeramente a capital cearense nos idos de 1920. No entender de Raimundo Girão, tratava-se de “estranho assanhamento literatureiro, numeroso, palavroso, estrondoso, imaginado por Euclides César”[9]. Contudo, o respeitado historiador local concede substancioso parágrafo descritivo:

Ferveu em discursos, moções, protestos, comemorações cívicas toda aquela avalancha de “espirituais confrades” e era este o seu tratamento mútuo, convencidos, super-convencidos da pujança de sua assembleia imensa, de mais de dois mil sócios. A Polimática é um fato – gritavam aos quatro ventos. Amemo-nos e eduquemo-nos uns aos outros – eis o lema que os devia conduzir. […] Confrade ou presidente, que era Euclides César, uma caterva de nomes ilustres: Luís de Moraes Correia, Cursino Belém, Antonio Furtado, Perboyre e Silva, Eduardo Mota, Caio Lemos […]. Nenhum estatuto, nenhuma regra coatora. Qualquer que fosse o tema, seria tema digno de discussão. […] Que se aguardasse o potencial aparteante para falar depois, livre, à sua vez, de interrupções. Original academia essa que, em verdade, como disse Leonardo Mota, assinalou um instante vibrátil na vida fortalezense[10].

Sua postura crítica pode ser de fundo literário, suas expressões meros recursos estilísticos, como podem, também, denotar as discordâncias do autor – contemporâneo daquele movimento – com as ideias de muitos de seus destacados membros; haja vista ter sido a Polimática idealizada por um maçom-espírita e frequentada por diversos adeptos da Maçonaria, do Espiritismo, da Teosofia, do Esperanto e de correntes libertárias, que ocuparam a tribuna com muita frequência para tratar de temas direta ou indiretamente ligados às suas convicções.

Da Maçonaria à Teosofia

Também é necessário o esclarecimento das relações da Maçonaria com a Teosofia. Inicialmente, deve-se diferenciar a tradicional teosofia daquela praticada Sociedade Teosófica, também chamada “moderna Teosofia”, organizada em sociedade com princípios estabelecidos e representantes em todo o mundo. Segundo sua principal fundadora, Helena P. Blavatsky, o teosofismo já era praticado antes da Era Cristã, como “Religião de Sabedoria”, busca da “Essência Suprema”, pelos grandes iniciados, magos, hierofantes, e nas religiões da Antiguidade, por ela denominada de Teosofia arcaica e Teosofia eclética[11]. Essa observação pode ser enriquecida com a constatação de que também a Maçonaria admite a existência de seus princípios filosóficos e tradições já nas sociedades iniciáticas e corporações de trabalhadores desde a Antiguidade (Maçonaria Primitiva) e na Idade Média (Maçonaria Operativa), proclamadas como precursoras diretas da Maçonaria Moderna (ou Especulativa) organizada na Inglaterra, nos princípios do século XVIII.

Observando-se traços biográficos de dois dos mais importantes membros fundadores da Sociedade Teosófica, como Helena Petrovna Blavatsky[12] e Henry Steel Olcott[13], já se nota exemplarmente os vínculos entre essas correntes de pensamento e tradições iniciáticas que se entrelaçavam nas décadas finais do século XIX. Portanto, não se pode considerar temerário afirmar aqui que o mundo maçônico tenha sido o berço onde foram embaladas as primeiras cogitações teosóficas da modernidade e de onde saíram boa parte de seus membros, o que não nos obriga a considerar o movimento da Sociedade Teosófica mundial como uma extensão da Maçonaria. Sua autonomia organizacional e doutrinária foi claramente estabelecida desde a fundação dessa instituição em Nova Iorque, no ano de 1875, por Helena P. Blavatsky, Henry S. Olcott, William Quan Judge, dentre outros. Segundo Blavatsky:

Seu objetivo [da Sociedade Teosófica] declarado foi, no início, a investigação científica dos fenômenos chamados espíritas, depois do que foram expostos seus três principais objetivos: 1º) A Fraternidade humana, sem distinção de raça, cor, religião ou condição social; 2º) O estudo sério das antigas religiões para fins de comparação e de seleção de uma moral universal e 3º) O estudo e desenvolvimento dos poderes divinos latentes no homem. No momento atual [1892], a Sociedade Teosófica tem mais de 250 ramos disseminados em todo o mundo, a maioria dos quais na Índia, onde também se encontra seu Centro principal. Compõe-se de várias secções: a Hindu, a americana, a Australiana e as Secções Europeias[14].

Entretanto, é importante destacar que houve, além dos vínculos estreitos dos fundadores da Sociedade Teosófica com a Maçonaria, pretensões não realizadas de H. S. Olcott, de desenvolver a Sociedade Teosófica como um “corpo maçônico”. Assim, para Carvalho, na história da fundação da Sociedade Teosófica, pouca atenção tem sido dada a diversos outros membros além de Blavatsky e Olcott, que o “background para a fundação da S.T. era marcadamente maçônico e que a mudança [de sua sede] para a Índia abortou esta tendência na Sociedade, cuja guinada praticamente alijou a influência destes outros fundadores no rumo do movimento.”[15] Dentre esses nomes, estão os maçons Charles Sotheran,

bastante sobre assuntos do movimento espiritualista estadunidense. […] Tornou-se maçom em 1861, sendo iniciado na Loja Hugenot nº 448. Aderiu ao Espiritismo e participou de investigações sobre fenômenos envolvendo os irmãos Eddy de Chitenden (Vermont). Nesta ocasião, em 1874, conheceu Helena P. Blavatsky. Em 1875, com H. P. Blavatsky, William Q. Judge e outros, funda a Sociedade Teosófica. Com a morte de Blavatsky, assumiu a direção da instituição, já com sede na Índia, onde construiu escolas budistas em Sri Lanka, engajou-se na divulgação da Teosofia em viagens, escritos, conferências, fundação de lojas teosóficas, até sua morte, quando foi sucedido por Anne Besant. […] Escreveu, dentre outras obras, História Autêntica da Sociedade Teosófica, Catecismo Budista e Raízes do Oculto”. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Op. cit., p. 304-306.

Albert Rawson e o próprio H. S. Olcott. O primeiro deles, inclusive, teria sido o responsável pela diplomação maçônica de H.P. Blavatsky, conferida por John Yarker. Também Annie W. Besant, teósofa e maçom, indicada pela própria Blavatsky como seu “braço direito”, deu continuidade a este “impulso teosófico/maçônico, com o auxílio de destacados teósofos e também maçons, como Francesca Arundale, James Wedgwood e Charles W. Leadbeater, congregados num movimento conhecido como “Ordem Co-Maçônica” ou, mais especificamente, “Ordem Maçônica Mista Internacional – O Direito Humano”[16].

Mas, que é a Maçonaria? Terá ela um caráter religioso? A Maçonaria se define como uma organização de homens livres, pautada no respeito à diversidade de ideias e crenças de seus membros desde que explicitamente declarem sua reverência a um Ser Supremo, um Criador. Dessa exigência, decorre uma questão que a muitos interessa e que já foi motivo de graves conflitos: É a Maçonaria uma religião? A mesma se apresenta como uma “religião sem dogma”, “eminentemente religiosa”, professando uma “religião natural”. Ou seja, há um pressuposto espiritualista oriundo dos “mistérios antigos”, acrescido dos desenvolvimentos modernos do racionalismo e do cientificismo, dos quais deriva uma perspectiva filosófica e moral que se harmoniza com a essência das religiões monoteístas praticadas por seus membros. Essa característica religiosa da instituição maçônica lhe rendeu severa oposição e muitas perseguições da religião católica, especialmente a partir do século XVIII, após a constituição da moderna Maçonaria (Especulativa), iniciando com bula do papa Clemente XII, de 28 de abril de 1738, In eminente[17].

A radicalização racionalista do movimento iluminista do final do século XVIII, configurada nas revoluções burguesas que derrubaram as estruturas do Antigo Regime, legou à Maçonaria a condição de inimigo número um da religião católica, que exacerbou o caráter religioso e político daquela, através da teoria dos complôs, já referidos anteriormente. Fator agravante desse quadro tenso é o desenvolvimento de uma corrente maçônica radicalmente laica e até materialista – provavelmente em resposta às perseguições do catolicismo – que se proclamava sociedade de pensamento com fins exclusivamente culturais e com finalidades explícitas de combater o clericalismo e a influência “obscurantista” da religião na sociedade, obstaculizando o progresso humano. Assim o fez o Grande Oriente de França, em 1877, seguido de outros, como já referido.

No caso brasileiro, apesar da considerável influência cultural francesa no século XIX, não se configurou de modo determinante a característica antirreligiosa das maçonarias francesa e italiana, embora o anticlericalismo tenha feito seus prosélitos com bastante alarde até pelo menos a década de 1920. Aqui, a oposição católica à República, nos primeiros anos, teve como elementos inspiradores o positivismo e a Maçonaria.

Essas considerações apontam para o entendimento das relações entre Maçonaria e religião em seu aspecto externo. Porém, a religiosidade maçônica não se limita à exigência da crença no Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.). Há quem defenda que a Maçonaria é “eminentemente religiosa” ou “sumamente religiosa”, por considerarem-na portadora de uma “religião natural” que possibilita a seus membros, a partir da diversidade religiosa, o desenvolvimento dos ritos em direção à compreensão cada vez mais profunda das leis divinas e da Verdade. Portanto, embora tenha a religião natural ou deísmo surgido na Inglaterra e na França entre o final do século XVII e início do XVIII, fato que poderia ter influenciado na conformação do aspecto religioso da Maçonaria moderna, o sentido que a Maçonaria lhe dá está mais próximo de uma religião como culto interior, reconhecendo as revelações e a relação sobrenatural com a divindade. Ou seja, uma forma de teísmo.

Presença do teosofismo

A presença do teosofismo na América Latina, entre fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, tem sido destacada ultimamente pela percepção das relações entre “redes teosóficas” e pensamento político, como nos trabalhos de Devés Valdés e Ricardo Melgar Bao[18], que afirmam categoricamente:

De fato, entre fins do século XIX e 1930, mas também depois, se desenvolve entre nossos intelectuais (poetas, primeiro, educadores e pensadores depois, políticos inclusive) um movimento espiritualista onde se combinam elementos teosóficos, com hinduísmo, reivindicação do oriental, e, em certos casos, crenças ou práticas espíritas. Esta sensibilidade teosófico oriental impregnou boa parte do fazer intelectual e político. Em particular, a rede intelectual mais importante dos anos 20 – aquela que armou um projeto social (socializante), mestisófilo, indigenista, anti-imperialista – penso pesou e pensou em boa medida com categorias provenientes do teosófico-orientalista. E neste esquema um certo pacifismo, a reivindicação do telúrico, a harmonia das raças e culturas, a busca no indígena de uma sabedoria ancestral, a rebelião contra um positivismo ou um pragmatismo de limitados horizontes, são ideias coerentes com o clima descrito[19].

Nesse sentido, os autores investigam as pertenças teosóficas, maçônicas e espíritas na composição do pensamento e das práticas de influentes pensadores, poetas e revolucionários na América de língua espanhola como José Vasconcelos, Alfredo Palácios, V. R. Victor Haya de La Torre, Gabriela Mistral, Joaquim García Monge, César Augusto Sandino e José C. Mariátegui, que teriam constituído uma rede de pensamento político latino-americano “a partir de uma irmandade teosófica que implica afinidade de ideias e contatos entre correligionários”[20].

Quanto ao teosofismo no Brasil, embora difuso e tendo a maioria de seus adeptos como pertencentes ou simpatizantes de outras correntes de pensamento ou religiões, podem-se registrar algumas manifestações sobre as origens do movimento ocultista e teosófico no Brasil[21]. No Paraná, em 1896, o professor Dario Vellozo funda a revista Cenáculo, fortemente comprometido com a luta anticlerical e para a defesa do livre pensamento. Neste periódico aparece um artigo de sua autoria intitulado “A teosofia e a sociedade teosófica”. Dario Vellozo fundaria, também, em julho 1899, a revista Esfinge, “órgão independente dedicado ao Ocultismo e à Maçonaria”[22], desenvolvendo considerável propaganda teosófica nos anos seguintes. A revista Esfinge, que circulou até dezembro de 1905, procurou situar o lugar do “Ocultismo” naquele contexto:

O Ocultismo está ainda no Brasil em período de incubação. Entretanto alguns espíritos distintos fazem os mais louváveis esforços para propagar suas teorias, esperando chegar à sua realização prática. No Sul, dois centros já têm alguma importância, em São Paulo, outro em Curitiba (Paraná). Nesta última cidade, o sr. Dario Veloso fundou uma revista ocultista, a Esfinge, e tem publicado alguns trabalhos de vulgarização ou estética[23].

A primeira loja teosófica do Brasil surge em Pelotas (RS), em 1902. Em Salvador, BA, em 1905, fundam-se a Loja Teosófica Alcyone.

Em 1909, é criado, em São Paulo, o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, que se somava aos já existentes, desde 1907, editora e livraria O Pensamento e revista do mesmo nome. Em Porto Alegre, em 1910, surge a Sociedade Antroposófica no Brasil[24].

Balhana destaca a atuação do maçom e professor Dario Vellozo que, juntamente com Euzébio Silveira da Motta e um grupo de intelectuais defensores do livre-pensamento, anticlericais e ocultistas de inspiração francesa, fundam em Curitiba o Instituto Neopitagórico (1909) e seu porta-voz, a revista Myrto e Acácia, que “pelo seu próprio título reúne concepções pitagóricas e maçônicas. Myrto era consagrado a Athene, Acácia a Ísis, significando a Arte, a Ciência e o Mistério, a aliança entre o Ocidente e o Oriente”[25]. Vellozo informa que já estudava Teosofia e Ocultismo há tempos, tendo entrado a palmilhar o “sendero do Oculto em 1892, pela destra de Urânia, sob os desvelos de Camilo Flamarion”[26].

Em 1914, o Instituto Neopitagórico transfere-se para o município paranaense de Rio Negro, instalando-se numa localidade por eles denominada Nova Krotona (referência à escola de Krotona, fundada por Pitágoras na Península Itálica), onde fundaram a Escola Brasil Cívico. Ainda segundo Balhana, o Instituto Neopitagórico reforçaria a corrente anticlerical paranaense, composta de livre-pensadores, ateus, maçons, positivistas, espíritas, protestantes, incluindo então os neopitagóricos, cuja igreja teria sede mundial em Curitiba. Esse fato fez que a atuação de Dario Vellozo fosse reconhecida como a mais qualificada nos combates ao clericalismo e ao ultramontanismo, por vários anos. Entre 1921 e 1927, Vellozo fez circular o jornal Luz de Krotona, no momento em que se davam grandes progressos no crescimento burocrático clerical e na catolização da população paranaense, como de resto ocorria em todo o país. Dario Velloso, no periódico Luz de Krotona, de 1925, reafirmava sua orientação teosófica, reclamando lugar no mercado religioso brasileiro:

A grande Blavatsky, por sua poderosa lâmpada e com o seu braço vigoroso, a eleva tão alto que a sua luz se propaga fluida e intensa pelo mundo inteiro. As últimas trevas foram vencidas e a ascensão continua no século XX com os adeptos da Teosofia […]. Glória ao Instituto Neopitagórico, irradiador de tais ideias e tais princípios[27].

No Rio de Janeiro, em 1919, funda-se a Sociedade Teosófica no Brasil, pelo general Raimundo Pinto Seidl, filiada à Sociedade Teosófica Mundial, com sede em Adyar, Madras, Índia. Também no Rio de Janeiro, em 1924, Henrique José de Souza funda a Sociedade Mental Espiritualista que, em 1928, passaria a denominar-se Sociedade Teosófica Brasileira[28]. Magnani[29], por sua vez, afirma que a Sociedade Teosófica Brasileira teria se iniciado no Rio de Janeiro, em 1916.

Segundo informações do teosofista Luiz de Moraes Correia, tratando desse “movimento espiritualista teosófico”, (Cf. Quadro I) em termos mundiais e no Brasil, e tendo por base relatório apresentado ao Congresso Anual da Sociedade Teosófica, em Benares (Índia), de dezembro de 1921: “até aquela data, existiam em atividade 1.349 lojas, constituindo 35 secções nacionais com 40.475 membros”. No Brasil, reproduzindo os informes do Coronel Raimundo Pinto Seidl, Correia informa que além de uma loja em letargia e três centros de estudos, constavam 21 lojas em atividade. Como órgãos de divulgação, destacava os jornais O Teosofista, órgão oficial da Sociedade Teosófica no Brasil (RJ); Ísis, em São Paulo e Fraternidade, no Rio Grande do Sul[30].

LOJAS TEOSÓFICAS NO BRASIL FILIADAS À SOCIEDADE TEOSÓFICA

MUNDIAL (1921-1922)

LOJA CIDADE ESTADO
Jesus de Nazaré Manaus Amazonas
Alcyone Salvador Bahia
Unidade Fortaleza Ceará
H. P. Blavatsky Vitória Espírito Santo
Pax São Luís Maranhão
Esperança Francisco de Salles Minas Gerais
Gautama Lavras Minas Gerais
Annie Beasant Belém Pará
Nova Krotona Curitiba Paraná
Henry Olcott Recife Pernambuco

Continuação do Quadro 1

LOJAS TEOSÓFICAS NO BRASIL FILIADAS À SOCIEDADE TEOSÓFICA

MUNDIAL (1921-1922)

LOJA CIDADE ESTADO
Maytreia Parnaíba Piauí
Lótus Branco Cachoeira Rio Grande do Sul
Jehoshua Porto Alegre Rio Grande do Sul
Damodar Niterói Rio de Janeiro
Perseverança Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Pitágoras Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Orfeu Rio de Janeiro Rio de Janeiro
São Paulo São Paulo São Paulo
Sírius São Paulo São Paulo
Albor Santos São Paulo
Arjuna Santos São Paulo

Quadro 1: Lojas Teosóficas no Brasil filiadas à Sociedade Teosófica Mundial (1921-1922) Fonte: Luís Morais Correia. Teosofia. A Tribuna. Fortaleza-Ce, 15 dez. 1922.

A Teosofia no Ceará

O início da atuação dos estudiosos e adeptos da Teosofia no Ceará não tem data certa até outubro de 1920, quando se dá a fundação da Loja Teosófica Unidade. Mas supõe-se ter sido sua difusão facilitada pela Maçonaria local, tendo em vista suas afinidades filosóficas e iniciáticas desde os primórdios da organização mundial da Sociedade Teosófica (Cf. Quadro II). Esse vínculo fraterno também se dera na implantação e difusão do Espiritismo no Brasil[31].

Já em 1907, a revista Fortaleza – “Revista Literária, Filosófica, Científica e Comercial”, editada pelos estudantes da Faculdade de Direito do Ceará, Joaquim Pimenta, Mario Linhares e outros, trazia um artigo em francês intitulado “L’Occultisme”, assinado por “De Viremont”[32]. Nele, o autor faz apresentação do Espiritismo – tal como o organizou Allan Kardec – e da Teosofia, como novas religiões, originárias da tradição ocultista. O texto, muito didático, caracteriza-as com propriedade e reconhece sua importância no contexto de avanço do materialismo, terminando por admitir, militantemente, a realidade espiritual do ser humano e o prosseguimento da vida além da morte física; entendidas morte e vida como sucessivos estados psíquicos, renovados indefinidamente. Os editores militavam no movimento anticlerical e contavam com o aplauso de intelectuais de renome, como o filósofo-maçom Farias Brito. Quanto ao artigo, parece clara sua intenção de difundir essas novas alternativas religiosas, além de servir como um indício de que havia simpatizantes e praticantes dessa corrente de pensamento em terras cearenses. Outro elemento indiciário a favor do teosofismo no Ceará é o funcionamento de um núcleo da Ordem Internacional da Estrela do Oriente[33], conforme registro fotográfico correspondente a 1915[34].

Em 1920 havia em Fortaleza um centro teosófico em atividade, outro “adormecido” e alguns estudiosos alheios aos dois grupos. Em outubro daquele ano, Giovanni Leoni, palestrante em visita à cidade, resolve unificar os grupos e adeptos fundando a Loja Teosófica Unidade, filiada à secção brasileira da Sociedade Teosófica Mundial. Sua primeira diretoria foi composta por Caio Lustosa de Lemos[35] (presidente); Paulino de Oliveira (secretário) e Maria José de Castro[36] (tesoureira). Em 1º de janeiro de 1924, publicariam o primeiro número do jornal A Unidade, seu órgão informativo, que tinha “Comissão de Redação” formada por Luiz de Moraes Correa, José de Pontes Medeiros[37], Caio Lustosa de Lemos e Heitor Gonçalves de Araújo[38]. Na seção “Expediente”, esclareciam que o porta-voz da Loja Unidade circularia sempre no dia consagrado à festa da Fraternidade Universal, inscrito na Constituição brasileira, conforme lembravam. Ainda no “Expediente”, declaravam: “A Unidade abre livre

curso a todas as ideias verdadeiramente proveitosas ao plano divino da evolução”[39].

LOJAS MAÇÔNICAS NO CEARÁ SOB JURISDIÇÃO DO GRANDE ORIENTE

DO BRASIL ATÉ 1927

LOJA FUNDAÇÃO DESATIVAÇÃO LOCALIZAÇÃO
Fraternidade Cearense 05/10/1859 1916 Fortaleza
Igualdade 27/06/1882 Fortaleza
Caridade III 1882 1896 Fortaleza
Liberdade IV 27/05/1901 Fortaleza
Lealdade II 1901 1910 Maranguape
Amor e Caridade III 1905 1906 Fortaleza
Porangaba 13/02/1905 Fortaleza
Deus e Baturité 1905 1911 Baturité
Deus, Pátria e Liberdade 1905 1910 Senador Pompeu
Liberdade II 1906 Maranguape
Ordem e Justiça 01/021918 1926 Quixadá
Caridade e Justiça* 1916 Quixadá
Deus e Camocim 01/03/1921 Camocim

(*) Há indícios do funcionamento desta Loja até o ano de 1925.

Quadro 2: Lojas Maçônicas No Ceará Sob Jurisdição Do Grande Oriente Do Brasil Até 1927

A justificativa para o nome da sociedade pautava-se em dois aspectos que servem para demonstrar o lugar da Teosofia no contexto religioso cearense, assim como sua originalidade. Inicialmente, José de Pontes Medeiros demonstra que, sob o signo da “Unidade”, a ação se tornava mais profícua pela união de pensamentos, sentimentos e convicções e, assim, “desapareceriam as diferentes unidades isoladas (pessoas), pela sua fusão em um todo (loja) que, à semelhança das unidades de ordem superior, em aritmética, fosse uma, sendo múltipla”. O segundo argumento encerra o valor oculto da “Unidade”:

De significado amplo, impessoal e elevado, a palavra Unidade é fundamentalmente teosófica. Há as mais íntimas relações entre as ideias de Deus, Unidade, Verdade, Amor, Fraternidade. Deus é um e está em todos nós. Somos um em Deus, pois o Universo nada mais é do que Deus manifestado. A Verdade integral é o absoluto. O absoluto é Deus, e Deus é a unidade manifestada na pluralidade. Que é o Amor, senão o sentimento e a manifestação da Unidade? Fraternidade não é a Unidade, mais especialmente considerada entre os seres humanos? A segunda compreende a primeira, ampliando-a: além da Fraternidade de todos os homens, está a Unidade de todos os seres[40].

O periódico Unidade também trazia várias textos enfocando a Ordem da Estrela do Oriente, sua fundação, objetivos, sua representação no Brasil, Ceará e região, além de alentadas reflexões sobre “o instrutor que aproxima”, “Divino Irmão”, “Senhor do Amor”. Seu representante no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba era Caio Lustosa de Lemos.

A Loja Unidade promovia palestras públicas, noticiadas pelos jornais; participava de campanhas de solidariedade, inclusive junto ao operariado; e seus membros escreviam artigos teosóficos em importantes jornais de Fortaleza. Neste caso, a presença de artigos de propaganda dos princípios teosóficos, de atividades da Loja Unidade e de notícias do movimento no Brasil e no exterior foi considerável. Noutros casos, compreendiam séries de artigos, uma delas chegando a treze edições, quase diárias, como ocorreu no jornal A Tribuna, em 1922, e notas e notícias esparsas em 1923 e 1924. Também o jornal O Povo fez-se espaço solidário à difusão do teosofismo, desde seus primeiros números em 1928, com frequência bastante regular em registros até a década de 1940. O jornal A Esquerda, em sua breve existência de janeiro a agosto de 1928, possibilitou a difusão da Teosofia ao longo de três meses, numa série de seis artigos.

Em menor escala encontram-se registros também na conceituada revista Ceará Ilustrado, e nos jornais Gazeta de Notícias e O Povo. No lado oposto, a Teosofia também era alvo jornalístico. Logo nos primeiros meses de existência, O Nordeste, diário católico fundado em 1922, ligado à Arquidiocese de Fortaleza, desfere seus primeiros ataques ao teosofismo, seguindo-se outros em 1923 e 1926. Ao lado da Maçonaria e do Espiritismo, a Teosofia passava a constituir-se o terceiro alvo dos ataques da ortodoxia católica cearense.

Com a chamada “Conferência Espiritualista: ‘Por que maldizem da Teosofia?’”, o jornal Diário do Ceará – órgão governista, que contava com o maçom Antonio Drummond na direção geral de redação – convoca a população a ouvir o “inteligente moço César Magalhães, da redação do ‘Correio do Ceará’ […] no salão da Loja Unidade […] sobre o tema acima aposto, de divulgação espiritualista”. Completando, o redator: “Pelo estudo que tem do assunto, é dado aos apreciadores dessas horas de espírito esperarem agradáveis momentos, ouvindo falar ao estudioso moço”[41]. Dias depois, o periódico voltava ao assunto para congratular o conferencista e fazer eco do evento, com clara intenção solidária e proselitista em torno da crença adventícia:

No pretérito sábado, na Loja Unidade, desta capital, o talentoso jovem César de Magalhães realizou uma interessante conferência sob o título – Por que mal-dizem a Teosofia? O seu apreciado trabalho mereceu os mais calorosos aplausos da seleta assistência, sendo o jovem conferencista, a quem enviamos parabéns pelo seu triunfo, abraçado e felicitado por todos[42].

Atuavam os teosofistas também em outros espaços como a Academia Polimática, associação de caráter cívico, literário e educacional – conhecida como “universidade popular” – idealizada e presidida por Euclides César, da qual também eram sócios Luiz Moraes Correa, Caio Lemos, César Magalhães e a “senhorita” Maria José de Castro. Esta última também fizera parte da diretoria da sociedade esperantista Nova Samideanaro (bibliotecária), em 1921; e escrevera artigos na imprensa libertária de Fortaleza, nesse mesmo ano[43].

No campo dos confrontos religiosos locais, os teosofistas são atacados com muita frequência pelo clero católico, através do citado jornal O Nordeste, inaugurando sua política de perseguições aos demais cultos e crenças, que continuariam nos anos seguintes direcionados ao Espiritismo, à Maçonaria e ao protestantismo[44].

Em matéria com título em destaque, O Nordeste inicia suas considerações sobre a Teosofia, recorrendo a “uma notável conferência” do “Dr. Fernand, de Paris”, na Sociedade Médica S. Lucas. Resumindo as ideias do autor francês, o redator assinala logo de início: “A teosofia repousa sobre uma espécie de revelação imaginária”. E completa, segundo as palavras do “Dr. Fernand”:

No fundo do Tibet, em regiões inacessíveis do Himalaia, há indivíduos misteriosos chamados mahatamas, espécie de super-homens, quase divinos por terem chegado a essa espiritualidade depois de longa série de encarnações nas quais se comportaram de modo a merecerem o Nirvana (que é a felicidade suprema – isto é: o nada, a não existência !). […] Têm eles grande poder sobre a natureza e comunicam-se com os humanos. E fazem-lhes revelações da doutrina teosófica, mas somente aos escolhidos, aos mestres ou aos discípulos. Esses não são misteriosos como os mahatamas, são, porém, muito mais evoluídos do que o vulgo, porque por numerosas encarnações felizes e que mereceram ser os porta-vozes da revelação mahatamica, iniciando-se assim os chefes presentes e futuros da Sociedade Teosófica, encarregados de solver as questões religiosas, científicas e particulares, sob a inspiração dos mahatamas, porque a comunicação direta, visível com estes é muitíssimo rara[45].

À afirmativa de que a Teosofia repousava sobre uma “revelação imaginária”, seguia o tom irônico do redator ao tratar das origens do teosofismo transmitindo a ideia de pseudo-crença, de pretensa espiritualidade. Note-se, também, os grifos sobre os mahatamas, mestres e discípulos. Contudo, volteando o texto entre a voz direta e a ironia, o redator investe sobre as “sacerdotizas”, “mme Blavatsky e mme Annie Besant, ambas de vida imoralíssima”.

Voltariam os católicos ao assunto, n’O Nordeste, mais algumas vezes, nos anos seguintes. Todavia, os teosofistas respondem rápido e com um representate de prestígio e autoridade intelectual. Já no dia seguinte à primeira investida do diário católico, o presidente da Loja Teosófica Unidade solicita os préstimos do jornal A Tribuna: “O ilustre sr. dr. Luiz de Moraes Correa, lente da Faculdade de Direito deste Estado, dirigiunos as seguintes linhas”. Assim justificando-as:

Tendo A TRIBUNA, muito recentemente, transcrito em suas colunas as opiniões colhidas por um jornal francês sobre notáveis fenômenos de metapsíquica, ou antes sobre espiritismo, no louvável propósito de trazer sobre o magno assunto bem informados os seus leitores, [[46]] devo supor que iguais intuitos terá relativamente à doutrina teosófica, muito superficialmente conhecida em nosso meio e, por último, mal interpretada pelas colunas do ‘Nordeste’[47].

E, finalizando: “Acredito, assim, que A TRIBUNA não recusará à Sociedade Teosófica desta capital as suas colunas para nelas ser o público fielmente informado do que na realidade é aquela doutrina e a que se propõe a Sociedade Teosófica[48].

Assim se fez. O jornal autorizou a publicação de treze artigos do solicitante, ao longo daquele mês de dezembro, esclarecendo desde a definição, origens e objetivos da Teosofia; seus principais fundadores e líderes mundiais como Helena Blavatsky, Annie Besant e Charles Leadbeater; finalizando com elementos doutrinários, como os princípios da unidade, causalidade, reencarnação, constituição do homem… Em sua primeira intervenção, o maçom Moraes Correia define a Teosofia e seu lugar na cultura religiosa mundial:

A Teosofia pode ser definida como o conjunto das verdades que formam a base de todas as religiões e que, por isso, a nenhuma destas pertencem exclusivamente. Iluminando e esclarecendo as sagradas escrituras de todas as religiões, revela que todas encerram sobre Deus, o homem e o universo, ensinamentos em substância idênticos, não sendo, por isso, irracional aproximá-los em um único corpo de doutrina. É a este corpo central de doutrina que se dá o nome de Sabedoria Divina ou, sob a forma grega, Teosofia. Sendo, como é, origem e base de todas as religiões, a Teosofia não se opõe a nenhuma delas. Depois de lhes ter, outr’ora, dado nascimento, a Teosofia vem hoje justificá-las e defendê-las [49].

Mantendo o tom elevado, Moraes Correia procura divulgar a “Sabedoria Divina”, tão “mal interpretada pelas colunas do ‘Nordeste’”. Vê-se a ênfase na Teosofia como “origem e base de todas as religiões” e que, tendo dado-lhes origem “vem hoje justificá-las e defendê-las”. Mesmo moralmente atacados em suas convicções, os teosofistas não responderam jamais no mesmo diapasão concorrencial e enraizadamente profano do acirrado mercado dos bens de salvação, como era comum nas disputas religiosas.

A preocupação com o caráter pedagógico das leis divinas para a compreensão e solucionamento da questão das desigualdades entre os homens, mantendo-se a estabilidade e harmonia da “ordem social”, é uma característica marcante dessas novas corrente espiritualistas. Assim, o mesmo Moraes Correia, da Loja Unidade, produz literatura teosófica em que difunde sua concepção doutrinária sobre as problemáticas sociais, com destaque para a ideia de evolução: “A teoria da evolução, a começar de Spencer, se incorporou à ciência e à filosofia do Ocidente. Mas apenas a consideram como o resultado da ação mecânica recíproca das forças naturais”[50]. Há, portanto, “o plano de uma Mente Divina”. E, em citação sem autoria identificada, o autor complementa:

Olhando em torno de nós, verificamos entre os homens e entre outros seres graus diferentes de consciência. Essa diferença de graus de consciência marca a atitude obtida por cada um no caminho evolutivo. Uns mais atrasados se acham; outros, mais adiantados; alguns há, mesmo, que tentam parar no caminho (como crianças vadias em marcha para a escola) e parecem esquecer o objetivo da viagem[51].

No “Plano Divino”, impera a “lei da causalidade” ou de causa e efeito que, como ensina o teosofista Moraes Correia, explica

[…] como o homem é o artífice do seu próprio destino, como ele vive precisamente a vida que para si mesmo preparou e, por isso, não deve acolher com ódio ou blasfêmias o espetáculo, que à sua vista se oferece, da disparidade de fortuna, de inteligência e de qualidades entre os homens[52].

Movimento esperantista em redes espiritualistas

Outra forma de atuação conjunta desses elementos espiritualistas deu-se nas atividades da Academia Polimática, associação cívico-literária aberta à população, fundada em 1922 pelo maçom e espírita Euclides César. Neste caso, não apenas para a difusão de propostas doutrinárias de reforma do homem e da sociedade, mas também de exercício da liberdade religiosa, a exemplo da realização, em seus dois anos de existência, da festa da Fraternidade Universal. A primeira delas, segundo informa Raimundo de Menezes:

Constituiu fato notável a sessão comemorativa da fraternidade universal, levada a efeito em 1º de janeiro de 1923, no ‘Clube dos Diários’, presidida por Justiniano de Serpa, então presidente do Estado. Houve cinco oradores. Um falou sobre a data em face do catolicismo. Outro, diante do espiritismo. O terceiro, à luz do protestantismo. O quarto, da teosofia e o último, da teoria do positivismo […]. O então deputado Raimundo Arrais cogitou redigir um projeto de lei considerando a Polimática de utilidade pública. Mas tal ideia morreu no tinteiro […][53].

A simbiose entre os adeptos dessas correntes de pensamento era tal, com destaque para propaganda teosofista e atividades da Polimática, que, um ano depois, a Loja Teosófica Unidade assumiria a organização daquela solenidade, com ampla divulgação e chamadas no jornal A Tribuna, conforme narra Wilson Boia:

Muito comentada a sessão realizada às catorze horas, no salão nobre do Clube Iracema, promovida pela Loja Teosófica Universal, na terça-feira de 1º de janeiro de 1924, presidida por Cruz Filho e dedicada ao Culto da Humanidade ou da Fraternidade Universal. Ocuparam a tribuna diversos representantes das mais variadas tendências religiosas: Natanael Cortez [presbiteriano], pelo Cristianismo; Francisco Falcão, pela Sociedade Esperanto; Maria José de Castro, pela Academia Polimática; Ten. Cel. Heitor G. de Araújo, pelo Instituto Neo Pitagórico, de Curitiba; César Magalhães, pela Ordem Estrela do Oriente; Giovanni Levi, pela Igreja Católica Liberal; Caio Lemos, pela Sociedade Teosófica [Unidade][54].

A década de 1920 também foi de grande importância para a divulgação do Esperanto no Ceará, com o fundamental envolvimento de espíritas, teosofistas e maçons. A presença da Sociedade Esperanto no evento acima citado, da “Fraternidade Universal”, já indica o lugar cativo do movimento nas redes intelectuais e movimentos espiritualistas.

O Esperanto, língua internacional criada em 1887 pelo polonês Lázaro Luiz Zamenhof, encontrou acolhida em muitos círculos intelectuais, movimentos filosóficos e religiosos. Punham-se em destaque o potencial da nova língua no favorecimento da união e fraternização entre os povos, na difusão do conhecimento e das ideias novas. No Brasil, a Associação Universal de Esperanto recebeu amplo apoio dos espíritas, especialmente através da Federação Espírita Brasileira (FEB), fundada em 1884, que publicava notícias e atividades do movimento esperantista mundial e brasileiro, além de editar livros espíritas brasileiros e as obras de Allan Kardec na língua Esperanto. Em 1904, a Livraria Hachette publica em edição portuguesa a obra Primeiras Lições de Esperanto. A ideia se espalha pelo país fundando-se núcleos e clubes esperantistas. Dois anos depois, decreto ministerial reconhece a língua Esperanto clara para a telegrafia. Em 1907 é fundada a Liga Esperantista Brasileira (passando a denominar-se Liga Brasileira de Esperanto, em 1949), sob a presidência do escritor Everardo Backheuser[55].

A presença organizada do esperantismo no Ceará dá-se com a pioneira associação Esperanto Klubo Cearense, fundada em 8 de outubro de 1916, tendo em sua diretoria: Demócrito Rocha (presidente), Moacir Caminha (vice-presidente) e Eurico Pinto (1º secretário)[56]. Seguem-na a já referida Nova Samideanaro (14/04/1919-1925)[57], a Cariry Esperantista (24/03/1922), a Iguatu Esperantistaro (12/07/1922), além de uma imprensa esperantista. Geraldo Nobre assinala que “Havia grande interesse, nos começos da década, em torno do esperanto”[58], sendo publicados os jornais Brazila-Vivo e Nova Mondo (editado por Eurico Pinto e Demócrito Rocha), respectivamente em 29 de janeiro de 1922 e 30 de julho de 1923.

Também no movimento operário o Esperanto fez frutífera incursão. Dele, dizia o jornal libertário Voz do Gráfico, de 19 de fevereiro de 1921: “O Esperanto é a língua internacional auxiliar inventada pelo genial médico e filósofo polaco [sic] Dr. Zamenhof, com o fim de estabelecer o mútuo entendimento entre todos os povos, facilitando dest’arte a propaganda dos grandes ideais modernos”. O redator conclui convidando a todos para o “curso de Esperanto na Escola Operária Secundária”. Em 1º de maio daquele ano, o Voz do Gráfico divulga “moção de solidariedade” da Federação dos Trabalhadores do Ceará, “à língua internacional Esperanto e ao Sexto Congresso Brasileiro de Esperanto”, realizado no Rio de Janeiro[59].

Considerações finais

Portanto, no movimento esperantista militavam pessoas de diversas orientações filosóficas, religiosas e ideológicas, também fazendo parte dessa ampla rede intelectual setores minoritários do campo religioso local em intenso proselitismo, sob constante e pesado ataque da hierarquia e laicato católicos. Dele fizeram parte, dentre outros, a teosofista Maria José de Castro; os socialistas e maçons Francisco de Assis do Rego Falcão e Eurico Pinto Pereira; o maçom e espírita Euclides César; o socialista-libertário Moacir Caminha e o jornalista maçom Demócrito Rocha.

Embora outros nomes de relevância cultural no Ceará daquele período possam ser citados, trata-se aqui de mencionar as afinidades existentes entre os membros do movimento Esperanto e diversas correntes de pensamento, à medida que este visava o “entendimento” e a união entre os povos, a solidariedade e a fraternidade universais, combinadas com a difusão do conhecimento e dos “ideais modernos”.

Assim, juntamente com os “espirituais confrades” seguidores da Teosofia, da Maçonaria, do Espiritismo e de outros movimentos minoritários, os adeptos da língua internacional Esperanto configuravam significativa rede modernista, espiritualista e internacionalista no sentido de uma intervenção moral-espiritual para a transformação do homem e da sociedade.

 

 

NOTAS

[1] Este artigo tem por base algumas questões desenvolvidas em minha tese: Modernoespiritualismo e espaço público republicano: maçons, espíritas e teosofistas no Ceará. Tese. (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009a. A pesquisa contou com o apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP.

[2] Graduado em História. Doutor em Sociologia. Professor de História da Universidade Estadual do Ceará-UECE e do Mestrado Acadêmico em História-MAHIS-UECE. É autor do livro No compasso do progresso: a maçonaria e os trabalhadores cearenses. Fortaleza: NUDOC/UFC, 2007 (Coleção Mundos do Trabalho). Tem trabalhos publicados sobre o espiritismo, maçonaria e catolicismo no Ceará. Contato: marcos.diniz@uece.br

[3] Esses vínculos podem ser constatados em Júlio de Matos Ibiapina, maçom e proprietário do jornal O Ceará; Euclides César, maçom/espírita redator e cronista de O Ceará; Paes de Castro, maçom e redator do mesmo jornal, tornando-se, depois, diretor do jornal A Rua; Antonio Drumond e Teodoro Cabral, ambos maçons e espíritas, proprietário e redator/ diretor, redator e cronista do jornal Gazeta de Notícias, respectivamente; Demócrito Rocha, maçom e proprietário do jornal O Povo, fundado em 1928; Alfeu Aboim, político maçom e espírita, diretor do jornal A Razão (1929-1931).

[4] Fundado por Vianna de Carvalho, em 12 de dezembro de 1910, tinha por meta defender a Maçonaria e o espiritismo dos ataques da Igreja católica, através do O Cruzeiro do Norte. Teve como redatores, o próprio Vianna de Carvalho, Henrique de Alencastro Autran e Antônio Arruda, redator-chefe do jornal A República, que dera ampla divulgação às atividades de Vianna, em 1910 e 1911. Cf. KLEIN FILHO, Luciano. Vianna de Carvalho, o tribuno de Icó. Niterói, RJ: Publicações Lachâtre, 1999, p. 77.

[5] Lançado em 26 de janeiro de 1934, como “órgão maçônico, noticioso e literário”, “matutino semanal”, sob a direção de A.[Adolfo] L. [Lopes] Aguiar e Silva, segundo o jornal A Rua (Fortaleza-Ce), de 27 jan. 1934.

[6] Fundado por Vianna de Carvalho, em 31 de março de 1911, foi órgão do Centro Espírita Cearense e teve como redator Francisco Prado (1886-1932). KLEIN FILHO, op. cit., p. 66.

[7] O Reencarnação era órgão do Grupo Espírita Vianna de Carvalho, de Fortaleza, lançado em 1926.

[8] BÓIA, Wilson. Associações literárias de Fortaleza (1910-1930). Fortaleza: Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto, 1988, p. 153, grifo nosso.

[9] GIRÃO, Raimundo. Geografia estética de Fortaleza. 2. ed. Fortaleza: BNB, 1979. p. 193.

[10] GIRÃO, op. cit., p. 193-195, grifo do autor.

[11] Cf. BLAVATSKY, Helena Petrovna. O Que é a Teosofia? The Theosophist. n. 1, out. 1879. Disponível em: <www.levir.com.br/artigo1-1.php>. Acesso em: 5 out. 2006.

[12] “BLAVATSKY, Helena Petrovna (1831-91). Teósofa. Nascida em Ekaterinoslav (Rússia), de família nobre, contraiu matrimônio com o general N. V. Blavatsky, de quem se separou logo após. Ávida de conhecimentos desde a infância passou a percorrer o mundo, tendo conseguido penetrar no Tibete, onde permaneceu sete anos, desde 1851. Ali, foi instruída na Sabedoria Antiga pela ‘Grande Fraternidade Branca’, formada de sábios seres chamados ‘Iniciados’, ‘Adeptos’, ‘Mestres’ ou ‘Mahatmas’ (Grandes Almas). Achando-se em Nova Yorque, em investigações psíquicas, ali conheceu o coronel norte-americano Heny Steel Olcott, com quem fundou a Sociedade Teosófica em 17 de novembro de 1875, transferindo-a em 1878 para Adyar-Madras, Índia, onde ainda mantém sua sede mundial. Em 1877 publicou a obra Ísis Sem Véu (4 v.) e em 1888, A Doutrina Secreta (6 v.) […]”. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria (seus mistérios, seus ritos, sua filosofia, sua história). São Paulo: Editora Pensamento, 1998. p. 77.

[13] “Henry Steel Olcott (1832-1907) foi escritor, jornalista, erudito, divulgador do Budismo e cofundador da Sociedade Teosófica Mundial. Nasceu em Orange, Nova Jersey (Estados Unidos), filho de fazendeiros. […] Foi editor do jornal New York Tribune, escrevendo

[14] BLAVATSKY, Helena Petrovna. Glossário Teosófico. 5. ed. Tradução Sílvia Sarzana. Supervisão de tradução Murillo Nunes de Azevedo. São Paulo: Editora Groud, 2004, p. 645, grifo da autora. Originalmente publicado em 1892.

[15] CARVALHO, Osmar de. Teosofia, Maçonaria e Sociedade Teosófica. Loja Teosófica Virtual. 2004. Disponível em: <www.levir.com.br>. Acesso em: 20 jan. 2007.

[16] Cf. VALDÉS DEVÉS, Eduardo; BAO MELGAR, Ricardo. Redes teosóficas y pensadores (políticos) latinoamericanos (1910-1930). Cuadernos Americanos, México, n. 78, p. 137152, 1999.

[17] Cf. LINHARES, Marcelo. História da Maçonaria (Primitiva, Operativa, Especulativa).

Londrina: Editora Maçônica A Trolha, 1997.

[18] VALDÉS DEVÉS, Eduardo; BAO MELGAR, Ricardo. Redes teosóficas y pensadores (políticos) latinoamericanos (1910-1930). Cuadernos Americanos, México, n. 78, p. 137152, 1999.

[19] VALDÉS DEVÉS; BAO MELGAR, op. cit., p. 137-138.

[20] Ibid., p. 138.

[21] Embora se possa afirmar que sociedades iniciáticas tenham existido no Brasil desde o final do século XVIII, como é o caso da Maçonaria, a exemplo do grupo criado em Pernambuco, em 1797, pelo médico e ex-frade Arruda Câmara; bem como outras variedades de ocultismo, este trabalho refere-se especialmente ao movimento teosofista vinculado à Sociedade Teosófica Mundial, fundada por Helena P. Blavatsky e outros. Para uma visão mais abrangente cf. ELIADE, Mircea. Ocultismo, bruxaria e correntes culturais: ensaios em religiões comparadas. Tradução de Noeme da Piedade Lima Kingl. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

[22] BALHANA, Carlos Alberto de Freitas. Ideias em confronto. Curitiba: GRAFIPAR/ Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte do Paraná, 1981, p. 45.

[23] Apud BALHANA, op. cit., p. 45.

[24] Cf. MAGNANI, José Guilherme Cantor. O Brasil da Nova Era. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

[25] BALHANA, op. cit., p. 23.

[26] BALHANA, op. cit., p. 60.

[27] Apud BALHANA, Carlos Alberto de Freitas. op. cit. p.76.

[28] No ano de 1944, a instituição transfere sua sede para São Lourenço (MG). Com o falecimento de seu fundador e líder único, Henrique José de Souza, em 1963, a Sociedade Teosófica Brasileira ficou sob o comando de sua esposa Helena, que posteriormente transferiu o comando para o primogênito do casal, Hélio Jéferson de Sousa. Este, em 1969, muda o nome da instituição para Sociedade Brasileira de Eubiose, “mantendo, porém, seus princípios e objetivos” (www.sbecg.hpg.ig.com.br). Observa-se que essa entidade teosófica trilhou o caminho do messianismo personificado no carisma do fundador. Essa linha de atuação teosófica, portanto, não nos interessa neste trabalho, ficando aqui apenas o registro de sua existência.

[29] MAGNANI, op. cit., p. 17.

[30] Teosofia. A Tribuna. Fortaleza, CE, 15 dez. 1922.

[31] Cf. MACHADO, Ubiratan. Os Intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. Niterói: Publicações Lachâtre, 1997.

[32] L’Occultisme [revista], Fortaleza, CE, ano I, n. 9, 30 jun.1907.

[33] Ordem fundada em 1911 pela Sociedade Teosófica Mundial, em Benares, Índia, sob a orientação de Charles W. Leadbeater e Annie Besant, destinada a congregar adeptos do jovem indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986), considerado o novo “Instrutor do Mundo”. Presidida por Krishnamurti, a Ordem se espalharia pelo mundo levando e preparando a opinião pública para o advento de um novo líder espiritual da humanidade. Em 1929, Krishnamurti renunciaria publicamente às pretensões equivocadas da Ordem de que era o novo mentor da humanidade. Convém distingui-la da organização paramaçônica homônima, fundada em 1850 por Robert Morris, nos Estados Unidos, com o fito de congregar homens e mulheres com parentesco maçônico. Chegou ao Brasil apenas em 1997.

[34] AZEVEDO, Miguel Ângelo de (NIREZ). Fortaleza de ontem e de hoje. Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza-Fundação de Cultura e Turismo de Fortaleza, 1991. p. 103.

[35] Caio Lustosa de Lemos era Tenente-Coronel, professor do Colégio Militar de Fortaleza. Era maçom, ligado à Loja Porangaba n. 2, onde exercera o cargo de Venerável no final da década de 1920. Presidira o Asilo de Mendicidade do Ceará, instituição fundada pela Maçonaria, em 1905.

[36] Maria José de Castro seria, em 1925, presidente da Loja Teosófica Unidade.

[37] José de Pontes Medeiros. Fora membro fundador do Centro Espírita Cearense, era advogado. Exerceu o cargo de Secretário da Fazenda na administração do Presidente do Estado Matos Peixoto.

[38] Heitor Gonçalves de Araújo era Tenente-Coronel e professor do Colégio Militar de Fortaleza.

[39] A Unidade. Fortaleza, CE, 1 jun. 1924. p. 1.

[40] Por que “Unidade” ? Ibid., p. 2.

[41] Conferência Espiritualista. Diário do Ceará. Fortaleza, CE, 26 abr. 1924. Grifo nosso.

[42] Conferência teosófica. Diário do Ceará. Fortaleza, CE, 30 abr. 1924.

[43] Cf. SILVA, Marcos José Diniz. Modernidade e espiritualismo na imprensa operária cearense da Primeira República. Revista História Hoje. São Paulo, v. 5, n. 13, p. 13, 2007. Disponível em: <http://www.anpuh.org/revistahistoria/view?ID_REVISTA_ HISTORIA=13>. Acesso em: 10 fev. 2008.

[44] Cf. SILVA, Marcos José Diniz. Embates religiosos na ‘Terra da Luz’: maçons, espíritas e católicos no Ceará da Primeira República. historia e-historia, São Paulo, 3 fev. 2010. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia. cfm?tb=professores&id=96>. Acesso em: 10 mar. 2008.

[45] A Teosofia. O Nordeste, Fortaleza, CE, 4 dez. 1922. Grifo do autor.

[46] Tratava-se da série de reportagens intituladas “Os mortos vivem?”, editadas ao longo dos meses de outubro e novembro daquele ano, já referida anteriormente.

[47] A Tribuna, Fortaleza, CE, 5 dez. 1922.

[48] A Tribuna, Fortaleza, CE, 5 dez. 1922. Grifo nosso.

[49] A Tribuna, Fortaleza, CE, 5 dez. 1922. Grifo nosso.

[50] CORREIA, Luis Moraes. Uma nova concepção do mundo e do homem. Rio de Janeiro:

Tipografia Industrial, 1927. p. 20.

[51] CORREIA, op. cit., p. 24-25.

[52] CORREIA, op. cit., p. 46-47, grifo nosso.

[53] MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou… (Crônicas históricas da Fortaleza antiga). Fortaleza: Edésio Editor, 1938. p. 105.

[54] BÓIA, op. cit., p. 185, grifo nosso.

[55] SOARES, Afonso. Esperanto entre Espíritos e Espíritas. Reformador. Revista mensal religiosa. Rio de Janeiro, FEB, ano 98, n. 1813, p. 23, abr. 1980.

[56] BÓIA, op. cit., p. 193.

[57] A Brazila Ligo Esperantista, com sede no Rio de Janeiro, congregava em 1924, 11 sociedades esperantistas contando-se entre elas a cearense Nova Samideanaro.

[58] NOBRE, Geraldo da Silva. Introdução à história do jornalismo cearense. Fortaleza: Gráfica Editorial Cearense, 1974. p. 143.

[59] Apud GONÇALVES, Adelaide e SILVA, Jorge E. (Org.) A Imprensa libertária no Ceará (1908-1922). São Paulo: Imaginário, 2000. Grifo nosso.

 

 

 

Publicado em Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 21, n. 1- 2015

 

 

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