Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

Maçonaria e Igreja Católica


REID McINVALE
Membro Titular, Loja da Pesquisa do Texas
http://www.io.com/~janebm/churchlaw.html

Tradução J. Filardo  – M .´. I .´.

A Maçonaria é um tema importante de discussão para teólogos e clérigos católicos. A hierarquia católica romana é e têm estado historicamente, muito interessado em Maçonaria. Por mais de 250 anos, o Vaticano vem condenando a Maçonaria e procurando impedir a adesão de católicos às lojas.

Os maçons têm muitas opiniões sobre o atual estado de coisas entre a Igreja Católica Romana e a fraternidade maçônica (ou Maçonaria). Parece haver um crescente pressuposto de que a antipatia entre a Igreja e a Maçonaria é só uma questão de importância histórica, e que as relações são tais que os católicos podem se tornar maçons sem retaliação da igreja. Alguns irmãos e alguns católicos acreditam que, desde o Segundo Concílio Ecumênico, que aconteceu de 1962 a 1965, e é conhecido informalmente como “Vaticano II”, a atitude da igreja tem sido considerar a Maçonaria como uma esfera aceitável para interação fraterna. Este trabalho tem como objetivo apresentar a atual lei da Igreja Católica Romana sobre filiação de católicos romanos e sua participação na Maçonaria, juntamente com o contexto histórico para o desenvolvimento daquela lei da Igreja.

O Direito Canônico da Igreja Católica Romana é definido como “Aquele corpo de direito constituído por legítima autoridade eclesiástica para a boa organização e governo da Igreja como sociedade visível. O termo Canon é usado para designar o corpo de lei que é próprio da Igreja Católica Romana.” 1

O Direito Canônico foi durante séculos uma simples compilação de pronunciamentos do Papa, incluindo as constituições e encíclicas, bem como Escritos Sagrados e outros documentos gerados pela igreja, alguns dos quais bastante contraditórios. A primeira coleção geralmente aceita de Leis da Igreja Católica Romana foi o que hoje é conhecido como o Decretum de Graciano, formalmente conhecido como Concordia Discordant Canonum. Este trabalho de um monge do século XII inclui constituições apostólicas, Cânones dos Conselhos Sagrados e textos patrísticos, todos com comentários. Os comentários de Graciano tentavam reconciliar as autoridades conflitantes e compor um tratamento abrangente do direito canônico.

Em séculos mais tarde, vários concílios da Igreja promulgaram leis, e papas fizeram pronunciamentos, mas faltava uma declaração abrangente, consistente e autoritária da lei da igreja. Por fim, o Codex Iuris Canonici, vulgarmente conhecido como o Código de Direito Canônico foi promulgado pelo Papa Bento XV em 27 de Maio de 1917 na Constituição Providentissim Ecclesia Mater. Ele entrou em vigor em 19 de maio de 1918, e constituiu a primeira codificação do direito canônico. 2

Seja sob a influência de pronunciamentos papais ou sob o Código de Direito Canônico, a atitude da Igreja em relação à Maçonaria tem sido consistente. Após a Maçonaria tornar-se conhecida no mundo em geral no início do século XVIII, a igreja tomou conhecimento dela, e se opôs a ela. Oito papas emitiram pronunciamentos condenando explicitamente os maçons e as atividades e princípios identificados com a Maçonaria. 3 Os pronunciamentos assumiram a forma de constituições, encíclicas, cartas apostólicas e sermões. Constituições são os escritos ou declarações de posição do direito canônico, emitidos antigamente pelos papas. Encíclicas são cartas do Papa aos bispos informando a posição da Igreja sobre determinados assuntos.

Os pronunciamentos papais relativas à Maçonaria são os seguintes:

Clemente XII, In Eminenti, 28 de abril de 1738

Esta constituição foi o primeiro ataque público escrito pelo papado contra a Maçonaria. Em In Eminenti as principais objeções à Maçonaria dadas eram: que ela estava aberta a homens de todas as religiões; que havia juramentos feitos; que os maçons negavam a autoridade clerical; e que os maçons se reuniram em segredo. 4 O Papa Clemente proibiu a adesão à Maçonaria aos católicos e instruiu os “Inquisidores de Depravação Herética” a tomar medidas contra católicos que se tornassem maçons ou ajudassem a Maçonaria de qualquer forma. Ele ordenou a excomunhão como punição para aqueles que desafiavam sua proibição.

Bento XIV, Providas, 18 de maio de 1751

Esta constituição confirmou a In Eminenti e condenou a Maçonaria em razão de seu naturalismo, exigência de juramentos, sigilo, indiferença religiosa, possível ameaça à Igreja e ao Estado. É expressamente proíbe os católicos romanos de buscar a participação em qualquer grupo maçônico. 5

Pio VII, Ecclesiam A Jesu Christo, 13 de setembro de 1821

A Constituição Ecclesiam especifica a excomunhão para Maçons, e dá como razão para a censura o segredo vinculado a juramento da sociedade e suas conspirações contra a Igreja e o Estado. Ela também vincula a Maçonaria à Wociedade dos Carbonários, conhecidos como o “Queimadores de Carvão”, que na época estavam ativos na Itália e eram consideradas um grupo revolucionário. 6

Leão XII, Quo Gravioria Mala, 13 de março de 1825

Esta Constituição reafirmou a oposição da Igreja Católica Romana à Maçonaria como uma sociedade secreta, com sigilo ligado a juramentos, que conspira contra a Igreja e o Estado. 7

Pio VIII, Traditi Humilitati, 24 de maio de 1829

Esta encíclica é considerada por algumas autoridades católicas como uma polêmica antimaçônica. 8 Ele advertia contra uma sociedade secreta cujo “objetivo esperto é… levar os alunos pelo caminho de Baal”. Ela apelava aos católicos que “… erradicassem aquelas sociedades secretas de homens facciosos que, completamente opostos a Deus e aos príncipes, estão inteiramente dedicados a derrubar a Igreja, a destruir os reinos, e à desordem no mundo inteiro.” 9 Ela também faz referência às declarações antimaçônicas de papas anteriores.

Litteris Altero, 25 de março de 1830

Esta carta apostólica reiterou as condenações papais anteriores da Maçonaria. Ele condena especificamente a influência da Maçonaria na educação. 10

Gregório XVI, Mirari Vos, 15 de agosto de 1832

Esta foi uma encíclica sobre o liberalismo e a indiferença religiosa. A indiferença religiosa é definida como “… a fraude dos ímpios que afirmam ser possível obter a salvação eterna da alma pela profissão de qualquer tipo de religião, desde que seja mantida a moralidade.” Esta encíclica não menciona a Maçonaria, mas a indiferença religiosa é uma das acusações feitas frequentement contra a Maçonaria em pronunciamentos papais. 11 Algumas autoridades católicas identificam esse pronunciamento como antimaçônico. 12

Pio IX, Qui Pluribus, 09 de novembro de 1846

Esta encíclica convida para os católicos romanos a lutar contra a heresia. Ela condena aqueles que colocam a razão humana acima da fé e que acreditam no progresso humano. Estranhamente, ela também ataca as “seitas” secretas e sociedades da bíblia “astutas” que “forçam trechos da bíblia a pessoas de todos os tipos, mesmo os ignorantes.” Esta encíclica também chamada de “perversa” a indiferença religiosa. 13 Apesar de não mencionar diretamente a Maçonaria, ele critica aqueles que ela não se identifica com as mesmas falhas que os pronunciamentos papais anteriores imputavam à Maçonaria, e é considerado um pronunciamento antimaçônico por algumas fontes católicas.

Quibus Quantisque Malis, 20 de abril de 1849

Este pronunciamento é chamado por alguns autores de antimaçônico, 14 mas não está disponível em tradução Inglesa.

Quanta Cura, 08 de dezembro de 1864

Esta é uma encíclica condenando “erros atuais”, incluindo o naturalismo. Ele chama a liberdade de consciência e de culto de “liberdade de perdição”. Ele ataca diretamente o comunismo e o socialismo, mas não menciona a Maçonaria. 15 Quanta Cura é referida por alguns autores como uma encíclica que lida com a Maçonaria. 16 Um ataque contra o naturalismo é normalmente entendido como um ataque à Maçonaria.

Multiplices Inter, 25 de setembro de 1865

Este é um pronunciamento feito pelo papa Pio IX condenando a Maçonaria e outras sociedades secretas. Nele, ele acusa as associações maçônicas de conspiração contra a Igreja, Deus e a sociedade civil. Ele ainda atribui as revoluções e levantes a atividades maçônicas, e denuncia juramentos secretos, reuniões clandestinas e sanções maçônicas. 17

Apostolicae Sedis Moderatoni, 12 de Outubro de 1869

Esta é uma Constituição relacionada com o Direito Canônico. Ela esclarece o processo relativo à censura em Direito Canônico, muda alguns Cânones e estabelece uma nova lista de censuras. 18 Algumas autoridades afirmam que documento diz respeito à Maçonaria, 19 mas não está disponível em tradução Inglesa.

Etsi Multa, 21 de novembro de 1873

Na encíclica Etsi Multa, o Papa Pio condenou a Maçonaria, afirmando que os grupos maçons estavam entre as “seitas” das quais “… a sinagoga de Satanás é construída…” 20

Leão XIII, Etsi Nos, 15 de fevereiro de 1882

Esta encíclica papal fala sobre as condições então prevalecentes na Itália, e se refere a uma “seita perniciosa” em guerra com Jesus Cristo, seita essa que ele culpa por conflitos civis na Itália. 21 Algumas autoridades católicas identificam isso como uma referência à Maçonaria. 22

Humanum Genus, 20 de abril de 1884

A encíclica Humanum Genus é considerada como um dos ataques mais cruéis sobre a maçonaria entre todos os pronunciamentos papais. Ela afirma que “Uma árvore boa não pode produzir mau fruto, nem árvore má dar bons frutos… a seita maçônica produz frutos que são perniciosos e do mais amargo sabor.” Ele prossegue dizendo que o objetivo da Maçonaria é a destruição da Igreja Católica Romana, e que a Maçonaria e a Igreja Católica Romana são adversárias. O Papa Leão afirmou ainda que muitos maçons desconhecem os objetivos finais da Maçonaria e não deveriam ser considerados parceiros em atos criminosos perpetrados pela Maçonaria. Ele também condena o naturalismo da Maçonaria, pelo qual se entende a crença de que “a natureza humana e a razão humana devem, em todas as coisas, ser senhora e guia… eles não permitem qualquer dogma de religião ou verdade que não possa ser entendido pela inteligência humana, nem qualquer mestre que deva ser acreditado devido à sua autoridade.” 23 É interessante notar que o Irmão Albert Pike afirmou que esta encíclica era uma “declaração de guerra… e, o sinal para uma cruzada contra os direitos do homem…” 24

Officio Sanctissimo, 22 de dezembro de 1887

Esta é uma carta encíclica sobre a Baviera e inclui um alerta contra a Maçonaria. Ela afirma que a Maçonaria é um “contágio”, e é uma “seita das trevas”. 25

Dall’Alto Dell’Apostolico Seggio, 15 de outubro de 1890

Esta encíclica, também conhecido como Ab Apostolici, tratadas de Maçonaria na Itália. Wla condenava o curso contemporâneo dos assuntos públicos na Itália, como a realização do “programa maçônico”. Este “programa” alegado, dizia-se, envolvia “ódio mortal à Igreja”, a abolição do ensino religioso nas escolas e a absoluta independência da sociedade civil da influência clerical. 26

Inimica Vis, 18 de dezembro de 1892

Esta carta encíclica aos bispos da Itália trata da Maçonaria na Itália. Ela reitera a necessidade urgente de combater of fins da Maçonaria, e suplica aos bispos que trabalhem para converter as vítimas da Maçonaria. Ela reclama que alguns membros do clero católico romano estavam entrando ou colaborando com a Maçonaria. 27

Custodi di Qualla Fede, 18 de dezembro de 1892

Esta é uma carta encíclica ao povo da Itália atacando a Maçonaria. Ela diz como trabalhar contra a Maçonaria de maneiras tais como proteger os lares católicos contra a infiltração, criar escolas católicas e sociedades de ajuda mútua, e instituir uma imprensa católica. Ele contém críticas virulentas à Maçonaria. 28

Praeclara, 20 de junho de 1894

Praeclara é uma carta apostólica aos governantes e nações do mundo em que apela para a união com a Igreja de Roma, e adverte contra a Maçonaria. 29

Annum Ingressi, 18 mar 1902

Annum Ingressi é uma carta apostólica aos bispos do mundo revisando os 25 anos do seu pontificado. Ele também pede resistência à Maçonaria. 30

Como se pode dizer de ataques cada vez mais duros sobre a Maçonaria pelos papas, os diferentes pronunciamentos papais parecem não ter impedido o progresso da Maçonaria. A atitude do Vaticano não tem sido sempre a atitude do clero ou do povo.

É importante notar que, no século 18 a condenção dos papas da época à Maçonaria não foram promulgadas nos Estados Unidos pelo clérigo-chefe da igreja, o bispo John Carroll. O Bispo Carroll escreveu numa carta em 1794, e falou sobre a questão da loja como segue: “Não tenho a pretensão de que esses decretos (contra a Maçonaria) sejam recebidos em geral pela Igreja, ou tenham total autoridade nessas dioceses.” 31 Esta não seria a última vez que os católicos americanos se recusariam a apoiar livremente a posição do Vaticano com relação à Maçonaria.

Os católicos romanos britânicos tinham uma atitude semelhante em relação à autoridade da igreja. Havia Grãos Mestres Católicos romanos na Maçonaria Inglesea durante o século 18, incluindo Thomas, o Duque de Norfolk que foi Grão-Mestre da Primeira Grande Loja da Inglaterra em 1730. Robert Edward, O Nono Lord Petre, que era considerado o chefe da comunidade católica na Inglaterra tornou-se Grão Mestre da Primeira Grande Loja em 1772 e serviu por cinco anos. 32

Com o advento do Código de Direito Canônico de 1917, a Igreja incorporou a atitude de encíclicas papais anteriores em algo semelhante à lei ordinária. No Cânone 2335 do Código de Direito Canônico de 1917, a igreja declarou que “aqueles que se juntam a uma seita maçônica ou outras sociedades do mesmo tipo conspiram contra a Igreja ou contra as autoridades civis legítimas, estão sujeitos à excomunhão”. Esta era a lei da Igreja expressa por décadas a partir de então.

Depois que o Segundo Concílio Ecumênico (Vaticano II), começou um questionamento clerical da condenação da Maçonaria pela Igreja. Em 1968, foi impresso um livro na Espanha chamado La Masoneria Despues del Concilio (A Maçonaria depois do Concílio Vaticano II). 33 O autor era um sacerdote jesuíta, Pe. J.A. Ferrer Benimeli, cuja tese era que a Maçonaria regular não deveria ser condenada. Ele condenava somente a Maçonaria irregular, já que ela era atéia e anti-clerical.

A crescente ambivalência da posição da Igreja sobre a Maçonaria tornou-se oficial em 1974, quando o Cardeal Franjo Seper, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, enviou cartas ao Cardeal John Kroll de Filadélfia e outros sobre a força e o significado do Cânone 2335 do Código de Direito Canônico de 1917. 34 O cardeal, sem dúvida, motivado pelo fervor ecumênico da época afirmou que o Cânone ainda permanecia em vigor, mas que desde que as leis penais estão sujeitas à interpretação estrita, a excomunhão só seria aplicável aos católicos que se juntaram as organizações que conspiram ativamente contra a Igreja Católica Romana. Dado que a Maçonaria não conspira contra a Igreja Católica Romana, a carta foi interpretada por muitos para significar que a declaração do Cardeal assinalava que as antigas restrições contra a filiação de católicos romanos na Maçonaria haviam sido removidas.

Recorde-se que em 1978 o Papa Paulo VI e Papa João Paulo I morreram e o Papa João Paulo II fora eleito. Com ele, os conservadores na Igreja retomaram o poder. Sua influência pode ser sentida pelo recúo e retirada da Congregação para a Doutrina da Fé do ecumenismo. A Congregação para a Doutrina da Fé é uma organização autoritária de alto nível no Vaticano, preocupado com a lei da Igreja e pureza da doutrina. Em 2 de Março de 1981, apenas sete anos após a carta do Cardeal Seper, a Congregação recuou da quase-tolerância da Maçonaria. Ela emitiu a “Declaração sobre a Participação de Católicos em Associações Maçônicas”. 35 Nesta declaração, a carta de 1974 foi acusado de dar “azo a interpretações errôneas e tendenciosas”. Com esta declaração, a Congregação estava na verdade dizendo que as regras antigas relacionadas com a Maçonaria estava de volta em pleno vigor.

A Igreja Católica Romana atualmente opera sob o novo Código de Direito Canônico promulgado em 1983. Este novo Código revisou o Cânone 2335 do Código de 1917, e o incorporou no novo Cânone 1734 com o seguinte teor: “Aquele que se entra para uma associação que conspira contra a Igreja deve ser punido com justa pena; aquele que promove ou dirige tal associação, no entanto, deve ser punido com interdito” 36 Como pode se ver, o Cânone não impões mais a excomunhão aos católicos maçons, nem sequer menciona diretamente os maçons.

Uma característica interessante do Código de 1983 é que parece diferenciar entre a simples adesão a uma loja, para o qual a punição é uma “pena justa”, e a promoção ou ocupação de cargos em tal sociedade, para a qual o castigo é um “interdito”.

Um “interdito” é uma pena de punição ou vingança, através da qual os fiéis católicos, permanecendo em comunhão com a Igreja, têm o acesso proibidos a certos sacramentos e são proibidos de participar em determinados atos sagrados. É uma censura. Aqueles gravados por um interdito pessoal estão proibidos de celebrar ou assistir a ofícios divinos, e lhes é negado o enterro eclesiástico. 37 Parece, portanto, que onde os grupos maçônicos estão determinados a conspirar contra a Igreja, os oficiais católicos de tais lojas estarão sujeitos a uma penalidade mais severra que a dos membros regulares que sejam católicos.

Como conseqüência do novo Código de Direito Canônico e da carta do Cardeal Seper, a Igreja foi confrontada com a necessidade de responder à pergunta “uma vez que o novo Código não prevê uma punição por pertencer a uma organização maçônica, isso significa que a igreja aprova essa adesão quando não ocorrer conspiração contra a Igreja Católica Romana?” Em outras palavras, teria havido uma reaproximação entre a Maçonaria e o Catolicismo Romano? Muitas pessoas, desde a promulgação do novo Código de Direito Canônico em 1983, se propuseram a responder a essa pergunta. Na opinião deste autor, a pergunta foi respondida de maneira conclusiva como negativa.

Em 26 de Novembro de 1983, mesmo ano em que a igreja adotou o Novo Direito Canônico, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um comunicado declarando que “a posição negativa da Igreja sobre as associações maçônicas, portanto, permanece inalterada, uma vez que seus princípios sempre foram considerados incompatíveis com a doutrina da Igreja… os católicos inscritos em associações maçônicas estão envolvidos em pecado grave e não podem se aproximar da Santa Comunhão”. 38

Pode-se ver como esta nova declaração de política conflita com a natureza ecumênica da carta do Cardeal Seper em 1974 e com as mudanças no Direito Canônico. Claramente, houve um movimento retrógrado na atitude da Igreja em relação à Maçonaria. A Congregação evitou anular diretamente sua declaração de 1974, ao fazer uma distinção entre o direito penal e a moralidade. Eles sustentaram que o que se pretendia em sua declaração de 1974 era que os católicos não podiam ser excomungado ou, de outra forma, punidos apenas por serem maçons, na medida em que o grupo maçônico particular a que eles pertenciam não atacasse a igreja. Mas, a Congregação declarou que era imoral pertencer a grupos maçônicos, porque a Maçonaria era, na sua opinião, a antítese aos ensinamentos e à autoridade da igreja. Claramente, o movimento em direção a uma reaproximação entre a Maçonaria e a Igreja tinha sido perdido.

Influenciados pelas declarações da Congregação para a Doutrina da Fé, e a reversão da tendência de curta duração para ecumenismo, em 1985, a Congregação dos Bispos Americanos para Pequisa e Prática Pastoral publicou um relatório intitulado “Maçonaria & Religião Naturalista39. O Relatório da Comissão Pastoral de Pesquisa e Práticas declara que, apesar de não se ser excomungado por ser um maçom, é de toda forma pecado pertencer a organizações maçônicas. O raciocínio é que os princípios da Maçonaria são irreconciliáveis ​​com os da Igreja. O relatório prossegue, citando um estudo de seis anos da Maçonaria realizado pelos bispos da Alemanha e o estudo da Maçonaria norte-americana realizado pelo professor William Whalen. 40 O Relatório do Comitê cita fontes afirmando que os princípios e rituais básicos da Maçonaria encarnam uma religião naturalista, participação ativa na qual é incompatível com a fé e a prática cristãs. Aqueles que conscientemente abraçam esses princípios estão “cometendo pecado grave”.

Como era de se esperar, e em consonância com sua história, a igreja americana em geral é mais tolerante com a Maçonaria. Talvez a atitude dos católicos americanos e da igreja norte-americana foi mais bem expressa em uma carta do Bispo Fiorenza, da diocese de Galveston-Houston, no qual ele dizia:

““… Na visão histórica, a Maçonaria na Europa e na América Latina se opôs à Igreja Católica e tem sido virulenta em sua atitude anticlerical. Em grande medida, no entanto, essa mentalidade não é típica da Maçonaria nos Estados Unidos… Há uma preocupação de que certos grupos da Maçonaria exibam todos os elementos de uma religião, mas proibam a menção a Jesus Cristo dentro da loja. Isto, também, não é exemplificado em grupos maçônicos nos Estados Unidos, mas é encontrado em outras partes do mundo. A maioria dos maçons neste país participa por razões sociais e empresariais.

Em geral, não tem havido qualquer conflito entre a Maçonaria e a Igreja Católica neste país. Ambas organizações têm existido em harmonia nos Estados Unidos…” 41

Embora a aparente tolerância de católicos norte-americanos em relação à Maçonaria seja encorajadora, o Vaticano e a Conferência Episcopal dos EUA baixou regras determinantes pelas quais os católicos americanos em geral devem se pautar. O último prego no caixão de qualquer possível aproximação entre a Igreja Católica e a Maçonaria parece ter sido uma declaração publicada no jornal oficial do Vaticano L’Osservatore Romano pelo Cardeal Joseph Ratzinger, “… Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem receber a sagrada comunhão… Em uma audiência… O Sumo Pontífice João Paulo II aprovou e ordenou a publicação desta declaração…” 42 Assim, o papa atual está registrado como se opondo à adesão maçônica para católicos.

Em edições subsequentes do jornal, a realização de reunião da Congregação para a Doutrina da Fé, aprovada pelo papa, foi atualizada e reiterada. Para aqueles de tendência filosófica, a eção de 11 de março de 1985 do L’Osservatore Romano (Edição em língua Inglesa) contém um artigo que defende que a Maçonaria estabelece uma concepção simbólica relativista de moral inaceitável para o catolicismo. 43

Assim, e apesar do segundo Concílio Ecumênico, o tom hostil dos pronunciamentos da Igreja Católica Romana em relação à Maçonaria permanece inabalado, e as atitudes oficiais da igreja e a lei canônica não são significativamente diferentes daqueles de séculos anteriores. A atmosfera e a tradição estabelecida por Papas e maçons mortos há muito tempo continua a assombrar a Maçonaria norte-americana. Ao negar a comunhão aos católicos romanos que são maçons, a Igreja nega aos católicos romanos obedientes a oportunidade de compartilhar a irmandade da Maçonaria, e os Maçons perdem a oportunidade de compartilhar laços fraternais com muitos católicos romanos.

NOTAS

1 “Canon Law, History of”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

2 Ibid.

3 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

4 Pronunciamentos do Papa, Um Guia, 1740 – 1978, 2 vols, por Carlen Claudia, IHM, (the Pierian Press, 1990).

5 Ibid.

6 Ibid.

7 Ibid.

8 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

9 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

104 Pronunciamentos do Papa, Um Guia, 1740 – 1978, 2 vols, por Carlen Claudia, IHM, (the Pierian Press, 1990).

11 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

12 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

13 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

14 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

15 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

16 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

17 Pronunciamentos do Papa, Um Guia, 1740 – 1978, 2 vols, por Carlen Claudia, IHM, (the Pierian Press, 1990).

18 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

19 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

20 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

21 Ibid.

22 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

23 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

24 “Anti-Maçonaria”, Enciclopédia Maçônica de Coil, por Henry W. Coil, (Macoy Publishing and Supply Company, Inc., 1961)

25 As encíclicas papais, 1740 – 1981, 5 vols, por Carlen Claudia, IHM (McGrath Publishing Co., 1981).

26 Ibid.

27 Ibid.

28 Ibid.

29 Pronunciamentos do Papa, Um Guia, 1740 – 1978, 2 vols, por Carlen Claudia, IHM, (the Pierian Press, 1990).

30 Ibid.

31 “Freemasonry”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

32 Ibid.

33 O maçom no Trabalho, por Harry Carr; (Lewis Masonic, Ian Allen Regalia; Terminal House, Shepperton, Surry Reino Unido), p. 278.

34 Origens, 03 de outubro de 1974, Vol. 4, p. 236, que publicou a carta do Cardeal Franjo Seper, Prefeito da congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano ao Cardeal John Krol de Philadelphia. (Origens é uma revista católica que aborda assuntos da igreja, publicada pela Catholic News Service, 3211 Quarta St. NE, Washington, DC 20017-1100).

35 Origens de 12 de março de 1981, Vol. 10, No. 39, p. 610, também, a mesma ou Declaração semelhante emitida em 17 de fevereiro de 1981, citada como (cf. AAS 73 [1981] pp. 240-241), publicada no L’Osservatore Romano de 9 de março de 1981.

36 O Código de Direito Canônico, texto e comentários, encomendado pela Canon Law Society of America. Editado por James A. Coriden, Thomas J. Green, Donald E. Heintschel (Paulist Press, 997 MacArthur Blvd., Mahwah, NJ 07430, 1985).

37 “Interdict”, New Catholic Encyclopedia, preparado por uma equipe editorial na The Catholic University of America, Washington, D.C., (McGraw-Hill Book Co.).

38 Origens, 15 de dezembro de 1983, Vol 13, p. 450, documento original citado como (cf. AAS LXXVI (1984), 300).

39 Origens de 27 de junho de 1985, Vol. 15, No. 6, em que apareceu o artigo sobre o Relatório da Comissão Pastoral de Pesquisa & Práticas” Maçonaria e Religião Naturalista”, publicado pela Comissão Episcopal dos EUA para a Pesquisa e Práticas Pastorais.

40 “Catolicismo e Maçonaria”, 02 de abril de 1985, relatório não publicado da Comissão Episcopal dos EUA para Pesquisa e Práticas Pastorais, Prof William Whalen, da Universidade Purdue.

41 Bispo Fiorenza a Reid McInvale, 10 de junho de 1991.

42 L’Osservatore Romano (Edição inglesa), 05 de dezembro de 1983, Artigo intitulado “Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre associações maçônicas.”, P. 12.

43 L’Osservatore Romano (Edição em Inglês), 11 de Março de 1985, artigo intitulado “Reflexões um ano após Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé da incompatibilidade entre a fé cristã e a Maçonaria.”, P. 2.

 

 

7 comentários em “Maçonaria e Igreja Católica

  1. Estimados Ir.:

    O século XVIII era conhecido como Iluminismo. Assistiu ao surgimento do mundo moderno tal como o conhecemos. Foi uma época de grande crescimento político e cultural na Europa e, consequentemente, na América. Pensadores progressistas abraçavam o racionalismo, o método científico, a importância do indivíduo e a perfectibilidade da moral da humanidade. E se o Iluminismo era a mensagem, a linguagem universal que a transmitia era a Maçonaria. O idealismo do momento enquadrava-se perfeitamente na filosofia maçônica de tolerância, fraternidade e humanismo, e a organização tornou-se um importante veículo para a disseminação desses valores.
    Embora a fraternidade se mantivesse oficialmente apolítica, seus valores naturalmente conduziam seus membros para as crenças democráticas contra os domínios repressivos em muitos países.

    “A Maçonaria ensina, defende e propaga que a sociedade, e de modo particularíssimo o Estado, não só não deve ter oficialmente nenhuma religião, mas deve excluir e eliminar do ambiente público tudo quanto se relacione diretamente com qualquer religião”.

    Os maçons atraíram homens dedicados e politicamente ativos. Esses homens, a nata da sociedade progressista, filósofos, livres-pensadores, humanistas, aristocratas, intelectuais, governantes, nobres e outras profissões, imaginavam e conquistaram uma nova sociedade baseada na Fraternidade, Igualdade e Liberdade.
    Muitos foram perseguidos e castigados pelos anti-maçônicos, o clero. O que aconteceu também na 2ª Segunda Guerra Mundial, com a perseguição, deportação e morte de muitos maçons realizadas pelos nazistas e fascistas.

    A Maçonaria foi a grande responsável por movimentos históricos e por gritos de liberdade em defesa da dignidade do homem. Foi por Maçons que se deu o grito de Independência do Brasil, da Proclamação da República, da Abolição da Escravatura. Foi por Maçons que se deu o brado da Revolução Farroupilha aqui no Sul.

    Carta de um Maçom a Igreja Católica:
    “Não há nenhum “Jesus, Filho Único de Deus” para ser adorado; e quaisquer pessoas que afirmem o contrário ou estão enganadas ou estão enganando”.
    Leia em:

    Fraternal e Tríplice Abraço, do
    Ir.: Adorm.:,

    Oiced Mocam

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    RELIGIÕES: Tudo o que você precisa saber antes de morrer!

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  2. Na antiguidade, o poder era constituido de um exercito. Obviamente, quanto maior o exercito, mais poderoso se tornaria. Isto é uma sintese.
    Como a maçonaria exige de seus adeptos, a crença em um princípio criador, ai começou a desavença entre a igreja e maçonaria.
    Vejamos porque?
    Quando o iniciado e recepcionado na nossa sublime instituição, fazemos-o conhecer, que doravante o SEU DEUS, será denominado na ordem como GADU. Isto significa dizer, que todos os credos dos iniciados, tem em comum, uma única denominação que é GADU.
    Para a igreja catolica, que sempre dominou com exercito grande e poderoso, viu, nesta linguagem, uma forma de formação de poderoso e enorme exercito.
    Digamos que a temeridade de um poder maior em forma de exercito, se daria com a nossa linguagem, onde o GADU arrigementaria um poderoso exercito, formado por diversas religiões, seria na verdade muito maior que o exercito da igreja, oriundo de uma única crença.
    Jose Gomes

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  3. Mágoa eterna da Igreja com a Maçonaria, pois essa foi um fator determinante para separar o Estado da Igreja. Como consequência, a Igreja perdeu o Poder Político que detinha e acabou abrindo caminho para o crescimento dos protestantes.

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  4. De tudo que tenho lido e pesquisado, não enxergo onde está a infringência da Maçonaria em relação a Igreja Católica ou outras Igrejas. O que percebo é que os adversários da Maçonaria não admitem o livre pensar, querendo dar uma conotação supra religiosa impondo, portanto, uma aversão ao direito de pensar e agir das pessoas que em nada contraria a essência religiosa e, portanto, não contraria os ditames e a pratica sincera da Fé em Deus e sua Obra. A Maçonaria como a Religião voltam-se em direção ao Ser Humano, procurando dar-lhes sentido em suas vidas. Ambas não querem ser o ópio do povo – porque o ópio é droga – mas remédios e terapias do bem estar material e espiritual. Sou católico, estudei em Colégios Salesianos e Marista, fui batizado na Igreja Católica e a ela permaneço fiel. Mas reconheço que se a Igreja Católica estivesse inteiramente certa e não fosse usada como instrumento de poder e dominação, não haveria dissidências nem formação de instituições voltadas a religião mas independentes dela.

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  5. Ir.: Filardo

    Parabenizo-o pelo texto traduzido, e pelo Blog, pelos excelentes textos apresentados.

    Deixo a disposição do irmão o Grupo Delta, para exposiçao, e divulgação deste Blog.

    Sou Batizado na igreja Catolica, iniciado na Maçonaria regular, e espiritualista por convicção

    Constante sucesso

    Gustavo Velasquez Santos

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