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Igreja e Estado: Quando as crenças católicas e as necessidades públicas colidem

Tradução José Filardo 

Der Spiegel –

Por Frank Hornig, Schmid Barbara, Schmid e Fidelius  Peter Wensierski

Fronleichnams-Prozession in K?Ãln

DPA

 Vítimas de estupro  recusadas,   funcionários divorciados  perdendo seus empregos. Hospitais, creches e asilos católicos – que são primariamente financiados por impostos – estão causando problemas para o estado de bem-estar social da Alemanha. Mas alguns políticos estão revidando.

As origens das irmãs Celestinas e seu ministério benéfico data do final do século 13 em Colônia, quando as freiras se dedicavam a “cuidar dos doentes, os fracos e os pobres.”

Sua missão original expandiu-se em uma empresa que abrange 16 lares de idosos e 10 hospitais.  O único problema é que aquele cuidado é exatamente o que tem faltado lá recentemente. Querendo nada ter a ver com uma possível gravides  interrompida antecipadamente, os médicos que trabalham para as Celestinas recusaram uma mulher que estava procurando ajuda pouco antes do Natal, apesar da forte suspeita de que ela havia sido estuprada.

Na semana passada, a ordem pública minimizou o caso quando ele se tornou notícia nacional, chamando-o de “muito lamentável” e “um mal-entendido.”

Recusar vítimas de estupro não pode ser chamado de um mal-entendido. Em 10 de janeiro, Sylvia Klauser, a diretora de ética da ordem, explicou a um médico de emergência os procedimentos de  dos hospitais para lidar com vítimas de estupro. As notas que o médico tomou da conversa revelam um aspecto surpreendente da política da ordem: Enquanto as pacientes que foram estupradas estiverem “respondendo e forem capazes de ser transferidas,” elas devem ser transferidas “para um centro municipal.” O objetivo aparente da política é garantir que as freiras e os médicos não sejam confrontados com um possível aborto.

O caso revela o quanto a Igreja Católica Romana se distanciou da sociedade alemã, sobretudo – mas não só – na área da sexualidade.

Instalações católicas estão cada vez mais se fechando, muitas vezes comportando-se como se fossem parte de um Estado dentro do Estado; um cosmos subjeito às suas próprias regras, que são monitoradas pelo papa e seus bispos, e um mundo em que governos federais, estaduais e locais têm pouco a dizer.

Todos os anos,  dioceses católicas recebem bilhões em fundos de impostos – obrigatórios – pagos por membros da igreja. Mas quando se trata de escândalos, como quando o abuso sexual é sistematicamente encoberto e permanece sem investigação durante anos, os cidadãos têm pouca influência e são deixados para experimentar como a igreja defende energicamente os seus direitos especiais.

O processo de alienação está bem avançado, e seria um erro tratá-lo apenas como um problema para alguns fiéis remanescentes da Alemanha. Na verdade, ele afeta potencialmente milhões de alemães. A igreja está envolvida em muitas áreas da sociedade, incluindo creches, escolas, hospitais e asilos.  Ela é o segundo maior empregador do país, depois do governo. Ela determina o tipo de vida que seus médicos, educadores, professores e mulheres de limpeza estão autorizados a levar. Ela determina como as crianças são educadas. E ela também decide – por sua própria autoridade – como os pacientes devem ser tratados, ou, em alguns casos, recusados.

“Os incidentes escandalosos em Colônia contradizem acentuadamente a missão social cristã”, diz Sylvia Lohrmann, vice-governadora do estado ocidental da Renânia do Norte-Vestfália. A política do Partido Verde é um membro do Comitê Central de Católicos Alemães, um fórum em que ela quer ver o incidente abordado. “Deixar de ajudar uma mulher que foi estuprada é uma violação da decência humana. Ao fazê-lo, a igreja se prejudica mais do que qualquer coisa “, diz Lohrmann, que também é ministra da educação do estado .

Evitar a pílula do dia seguinte

A chamada “pílula do dia seguinte,” um medicamento que pode ser administrado às vítimas de estupro para evitar a gravidez se situa no centro da controvérsia.

Em 15 de dezembro, uma mulher de 25 anos chegou a uma unidade de emergência médica no bairro Nippes de Colônia, alegando que ela havia sido estuprada.  O médico de plantão, Irmgard Maiworm, tratou a vítima. Ela notificou a polícia e prescreveu a pílula do dia seguinte.

Maiworm, em seguida, informou o vizinho Hospital St. Vincent, que é administrado pela ordem Celestina, que ela estava transferindo seu paciente lá para fins de coleta de provas. Mas, seus colegas católicos recusaram-se a ajudar. O Hospital do Espírito Santo, também dirigido por freiras, também rejeitou o pedido de Maiworm. Os médicos dos hospitais dirigidos pela Igreja lhe disseram que suas diretrizes éticas exigia que eles rejeitassem os pacientes. “Eu não podia acreditar”, diz Maiworm.

A relutância dos médicos católicos está em consonância com as políticas de Joachim Meisner, o arcebispo conservador de Colônia. “As vítimas de estupro são transferidas para outras instalações”, disse seu porta-voz, “se a intenção de tomar a “pílula do dia seguinte” for evidente”.

Os Grupos de direitos das vítimas estão protestando. “Recusar-se a administrar a pílula do dia seguinte a mulheres que tenham sido estupradas constitui falta de assistência, que é injustificada, segundo a Bíblia e incompreensível de acordo com os valores cristãos”, diz Annegret Laakmann do grupo nacional Frauenwürde (Dignidade da Mulher). “Com esta posição, a igreja oficial está discriminando mulheres estupradas, mais uma vez.”

Anette Diehl, da Frauennotruf Mainz, linha telefônica de emergência de mulheres, também quer ver uma mudança na política da igreja. “Uma mulher que foi estuprada precisa de assistência integral imediatamente.  Ela não pode simplesmente ser recusada por motivos religiosos no meio do tratamento e da consulta. ”

Organizações católicas administram cerca de 420 hospitais em toda a Alemanha. Em seus contratos de trabalho, seus cerca de 165.000 funcionários geralmente são obrigados a cumprir diretrizes de bispos e chefes de ordens religiosas. De fato, em algumas áreas, a Igreja Católica exerce uma forte influência sobre o estado do bem-estar social. A igreja tem, até mesmo, um monopólio em algumas áreas rurais, onde controla muitas instalações, desde creches a hospitais e lares de idosos.

Isso complica as coisas para os empregados da igreja. Uma vez que médicos, educadores e cuidadores muitas vezes não têm alternativa senão trabalhar para organizações católicas, eles são obrigados a cumprir as suas orientações.

Poder crescente sobre Instituições anteriormente públicas

Paradoxalmente, embora o número de fiéis venha diminuindo ao longo de décadas, a influência dos bispos vem  aumentando. Em 1950, excluindo os ministros e membros de ordens religiosas, tanto as igrejas católicas quanto protestantes na Alemanha tinham 130.000 empregados civis, um número que saltou para mais de um milhão hoje. E mais, a Alemanha vem gradualmente confiando às igrejas uma grande parte de seu sistema de bem-estar social.

Isto resulta de uma filosofia governamental simplificada, que incentiva organizações privadas a adquirir ativos públicos, tais como empresas municipais por parte de investidores internacionais e hospitais e creches por igrejas. O que esta política vem ignorando, no entanto, é que tanto  os gerentes financeiros quanto oficiais da igreja perseguem seus próprios interesses e não os objetivos do setor público.

“Ao transferir suas responsabilidades para a igreja, o governo está aceitando regras especiais, que têm suas limitações neste dia e época”, a autora Eva Müller escreve em seu livro recentemente publicado “Gott hat hohe Nebenkosten” (“Deus Tem Altos Custos Incidentais” ).

As consequências são muitas vezes enormes para os empregaods da igreja. Por exemplo, um empregado que se divorcia pode rapidamente perder o seu emprego. E você não precisa ser gay para ser demitido, às vezes tudo o que precisa é expressar pontos de vista simpáticos em relação à homossexualidade. Casais que tentam inseminação artificial também não têm lugar no mercado de trabalho da igreja.

Tribunais têm reiteradamente confirmado o status especial histórico de ordens religiosas. Mas não há limites para os direitos especiais que a Igreja goza? Segundo a crença católica, o catálogo de vícios inclui não só a fornicação e outras “obras da carne”, mas também a inveja, o ressentimento, embriaguez, gula, e vícios similares. Se fosse para ser coerente, a igreja teria também de punir tais violações.

Entre 90 e 100 por cento do financiamento para a maioria das instalações sociais da Igreja Católica vem do governo.  No entanto, políticos e os cidadãos raramente tentaram exercer sua influência.

Isso mudou em Königswinter, uma cidade perto de Bonn, no oeste da Alemanha, onde a diretora de um jardim de infância católico foi demitida quando seu casamento se desfez. Os pais locais protestaram até a mulher recebeu de volta seu emprego. De fato, a Igreja Católica foi afastada de sua posição como gerente do jardim de infância.

Hospitais em North Rhine-Westphalia, o estado em que se localiza Bonn, poderiam agora estar fazendo ameaças semelhantes. “Se houvesse uma diretiva oficial de não tratar as mulheres que foram estupradas”, diz Barbara Steffens, ministra da saúde do estado, “é uma violação do dever dos hospitais de cuidar delas.” Em um caso extremo, o Partido Verde prevê a eliminação de instalações inteiras do plano de hospitais. E este teria atingido as igrejas onde dói: no bolso.

Traduzido do alemão por Christopher Sultan

2 comentários em “Igreja e Estado: Quando as crenças católicas e as necessidades públicas colidem

  1. sOMENTE ONDE OS GOVERNOS SEGUEM AS IDEOLOGIAS EXTREMISTAS DO PSEUDO SOCIALISMO,(COMUNISMO ESTALINISTA), É QUE A IGREJA CATÓLICA ESTÁ SE INSINUANDO E DOMINANDO, VG, A “SOCIEDADE SÃO CAMILO DENTRO DO SUS BRASILEIRO!

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