Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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O Homem (maçom) de um Livro Só

Ivan A. Pinheiro[1]

Este texto é um alerta para aqueles que, tendo lido um livro já se consideram senhores da matéria. Tendo em vista que os exemplos foram extraídos de textos que versam sobre a Maçonaria, é aos maçons que ele predominantemente se dirige, mas os mesmos exemplos, mutatis mutandis, podem ser utilizados para extensão do raciocínio a outros domínios do conhecimento. Inicialmente eu fiquei em dúvida se deveria me dirigir aos que não leem, mas acabei por escolher os que leram apenas um (vá lá, poucos livros) porque sobre e para os que não leem já há ampla recomendação (dos males e riscos) aos não leitores em geral, o que, por certo, inclui os maçons. Justifico: “Há quem diga que um pouco de conhecimento é mais perigoso do que nenhum, porque quem sabe um pouco não sabe o bastante para saber que só sabe um pouco.”[2] 

 Antecipo e solicito aos leitores deste texto que não se apeguem em demasia à ironia, mas que antes enxerguem uma provocação positiva, um convite, senão pelo prazer do conhecimento ordenado à verdade (ou tão próximo dela quanto se possa chegar), pelas necessidades do cotidiano, inclusive para não passar vexame. Me antecipo, também, à questão que sempre é levantada quando se insiste na necessidade de ler, o que também corresponde a estudar:

7 – “teoria vs prática” – frente à cobrança para maior aprofundamento nos estudos, sempre alguém pede a voz para dizer (menosprezando a iniciativa) que se engana quem pensa que a verdadeira Maçonaria (e aqui também se aplica a falácia do escocês) está nos livros, ao contrário, ela (a Maçonaria) antes se realiza nas atitudes e comportamentos no dia a dia, nas ações em benefício ao próximo, entre outras iniciativas. Ora, trata-se aqui da unidade indissociável (também tão presente em outros aspectos da vida), cuja representação simbólica universal é a moeda, pois esta inexiste sem as duas faces que a caracterizam e identificam enquanto tal. Se a Maçonaria se esgotasse na caritas não seria necessário ser admitido na Ordem para ser maçom (todos conhecem a expressão “maçom sem avental”); e o mesmo raciocínio se aplica aos que consideram que a Maçonaria é tão somente mais uma escola. Daí que, por ser uma escola iniciática cujos membros, considerados irmãos, se dedicam ao aperfeiçoamento dos valores (ética, pessoal) e da moral (relacionamentos, coletivo), a Maçonaria só pode ser concebida, por definição, como um domínio teórico-prático […] (PINHEIRO, 2021, p. 36-7)

 Que a leitura não é hábito regular do maçom é uma realidade já constatada, entre outros, por Ismail (2017), e dada a natureza do fenômeno, nada faz crer que desde então o quadro tenha sofrido alteração significativa; contudo, é matéria que permanentemente demanda estudos para atualização. 

 Uma vez Iniciado, sem dúvida que senão o primeiro[3], um dos primeiros livros a ser lido é o Ritual do Grau, mas se este é condição necessária não é suficiente para o entendimento e o progresso na Ordem.

Assim, o leitor, principalmente se neófito e desavisado, que começar pelas Constituições de Anderson (2012), principalmente se a edição contiver a “História, Deveres, Regulamentos, etc. da Antiquíssima e Mui Venerável Fraternidade” (op. cit., p. 41) certamente ficará entusiasmado ao saber que

Adão, nosso primeiro Antepassado, criado a partir da Imagem de Deus, o grande Arquiteto do Universo, deve ter tido as Ciências Liberais, especialmente a Geometria, escritas em seu Coração […] Não há dúvida de que Adão ensinou a seus Filhos a Geometria e o uso dela, nas diversas Artes e Ofícios […]. (op. cit., p. 52-3)

e desde aí segue-se nominalmente os principais personagens (Seth, Noé, Nimrod, Moisés e outros) da linhagem bíblica, numa clara alusão de que o primeiro maçom foi Adão. Para muitos, principalmente os (maçons e Ritos) alinhados ao vetor judaicocristão, uma notícia digna de orgulho. Mas basta ler, entre outros, Cooper (2009), para formar outra visão completamente diferente da história: 

Em 1723, Anderson lançou, sob a autoridade da Grande Loja da Inglaterra, sua breve e fantástica histórica da Francomaçonaria […] A lista, com o resto da “história” de Anderson, era (e é), de uma perspectiva moderna, obviamente fantasia, e ninguém se esforçou em refutar a alegada posição de St. Clair (ou de qualquer outro) como “Grão-Mestre”. (op. cit., p. 159)

Finalmente, Cooper, ao invés de Adão, identifica W. Schaw (1550-1602) como o Pai da Francomaçonaria, razão pela qual no texto traduzido por J. Filardo[4] ele é denominado de O Inventor da Maçonaria Moderna. Conforme se verifica, são duas versões para a mesma (será?) realidade. Aquele que ler apenas um dos textos, no mínimo ficará com uma interpretação parcial da história, mas acreditará, piamente, que é a história. 

 “Ahiman Rezon”, de L. Dermott[5] (2016) e “Esclarecimentos Sobre Maçonaria”, de W. Preston[6] (2017) são dois textos frequentemente citados como fontes importantes e fidedignas dos acontecimentos maçônicos nos séculos XVIII e XIX, notadamente os eventos que levaram à famosa cisão (sempre destacada na maioria dos textos) entre os Antigos e os Modernos; entretanto, de acordo com Newton[7] (2000, p. 169), sequer cabe referir à “cisão”, pois

Pesquisas mais recentes tornaram claro que o chamado “Grande Cisma”, na Grande Loja mãe, na realidade não foi um cisma, pois as duas facções nunca estiveram unidas. A Grande Loja rival dos “Antigos” foi constituída, quase que totalmente, por Lojas que nunca pertenceram à Grande Loja de 1717 […] Não eram rebeldes da Grande Loja, mas Maçons independentes, a maioria irlandeses, os quais, segundo os usos da época, tinham todo o direito de formar Lojas. Entende-se perfeitamente por que preferiram trabalhar à parte da GLI, quando se considera que esta era formada por aristocratas, enquanto os Irmãos angloirlandeses eram preponderantemente artesãos, pintores, alfaiates, que trabalhavam em Londres.

A propósito, o entendimento de Newton vai ao encontro do que afirma Cooper (op. cit., p. 141): “A Grande Loja dos Antigos era composta quase inteiramente de franco-maçons irlandeses, residentes em Londres, aos quais teria sido negado acesso à Lojas Maçônicas […]”. Mas deixe-se de lado a questão de ter sido ou não um cisma e atente-se para o que outro autor, Gould[8] (1951)[9], diz sobre Preston e Dermott: 

A “Grande Loja da Inglaterra, de acordo com as Instituições Antigas”, foi criada em 1751 […] Um maçom irlandês, Laurence Dermott, que alguns anos antes era membro de uma loja regular inglesa foi eleito Grande Secretário desse corpo, em 1752. Os Cismáticos logo se arrogaram o título de “Antigos Maçons”, atribuindo aos seus rivais (sob a Grande Loja de 1717) a denominação de “Modernos”, e por esses epítetos distintivos, ambas as associações têm sido geralmente descritas. 

Laurence Dermott publicou um “Livro das Constituições” sob o título fantasioso de Ahiman Rezon[10], para uso dos “Antigos” em 1756, dos quais uma segunda edição, contendo um amargo ataque aos “Modernos, foi impressa em 1764. 

No intervalo entre essas duas publicações, William Preston, um escocês, foi iniciado em uma loja Cismática (dos “Antigos”) em Londres, que, no entanto, em 1764, obteve um lugar no rol da Grande Loja mais antiga ou legítima [dos “Modernos”]

A partir dessa data, ele dividiu com Laurence Dermott a distinção de ser (reputado como) o Maçom mais bem informado na época. Ele (Preston), um impressor jornaleiro, que, começando como Antigo, acabou se tornando Moderno […] enquanto o outro (Dermott), um pintor jornaleiro, mudou sua fidelidade em direção precisamente inversa. 

Os ilusórios termos, Modernos e Antigos […] apresentam, em poucas palavras, a distorção da verdade – para não chamar isso por um nome mais áspero – que era característico de seu inventor […] sempre que ele tomava a caneta na mão para explicar que os maçons que atuavam com ele estavam caminhando no único caminho verdadeiro, do qual seus rivais […] haviam, lamentavelmente, se desviado. 

A furiosa invectiva do “pintor jornaleiro” […] é verdade, não aparece, ou, no mínimo, apenas desfigura muito ligeiramente uma passagem ou duas, nas Ilustrações [Esclarecimentos] do “impressor jornaleiro”. Por esta razão, os escritos deste último eram geralmente aceitos por escritores independentes, enquanto os do primeiro tinham pouco ou nenhum peso (exceto entre seus seguidores imediatos), devido à linguagem grosseira e muitas vezes escandalosa em que se expressava. 

Preston, no entanto, era de longe o maior romancista dos dois, ou talvez fosse melhor descrevê-lo como um visionário maçônico que – sem se deixar afetar por qualquer lei de evidência – escreveu uma grande quantidade de lixo entusiasmado […]

De fato, seria bem possível mostrar, a partir de seus próprios escritos, não apenas uma suficiência, mas uma riqueza de provas, que nem Dermott nem Preston conheciam mesmo que superficialmente a história da Maçonaria inglesa entre os anos de 1717 e 1751. A questão, portanto, surge: a partir de quais repositórios se originaram as revelações históricas que se encontram no Ahiman Rezon, de um lado, e nas Ilustrações, do outro defender, respectivamente? […] Londres foi inundada com rituais espúrios prometendo comunicar os Segredos da Maçonaria […] Maçonaria Dissecada […] Outros exemplos podem ser citados da credulidade do mesmo escritor ao confiar nos rituais espúrios da época […] um exame da fonte da qual Preston derivou a fábula, tão industriosamente propagada durante sua vida, e depois copiada e recopiada em todas as histórias da Maçonaria até o presente. 

Nada elogiosas, denunciantes até. Ora, S.M.J., a perspectiva de Gould, independentemente do mérito, abre novas considerações sobre duas consagradas obras sobre a história da Maçonaria, e também sobre esta mesma, só dadas a perceber ao maçom que lê pelo menos mais de um livro dentre os três citados – Preston, Dermott e Gould. E se a essas for acrescida a de Anderson … E não se trata, aqui, de mais ou

menos cultura geral, mas de concepção da própria Maçonaria (e do Homem) com distintas repercussões doutrinárias e ritualísticas

 A propósito, em perspectiva ampliada, os diferentes pontos de vista apresentados, que por vezes beiram ao embate, assim como de sorte boa parte da História da Maçonaria, não podem ser apreciados à margem das questões e dos interesses dinásticos e religiosos (e outros) que historicamente opuseram a Escócia à Inglaterra e ainda hoje são referenciais utilizados conforme a nacionalidade, a afinidade cultural e mesmo a fidelidade à Potência que, em dado momento, conferiu a regularidade à Potência nacional à qual se encontra jurisdicionado o autor.

 Um ponto que merece maior atenção é o destaque conferido a determinados personagens históricos Iniciados que explícita ou implicitamente sugerem o que a Ordem é capaz de promover no homem, efetivamente transformá-lo (quiçá salvá-lo!), bem como pretende associar aos maçons de hoje os atributos positivos do escolhido do momento.

O caso mais notável é o de François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (16941778) e que certamente consta de toda e qualquer lista de maçons ilustres, notáveis, etc.

O leitor de um livro, a exemplo de Patuto (2020, p. 93), lerá que “[…] entre elas As Nove Irmãs onde Voltaire e Benjamin Franklin eram obreiros”, o que certamente o deixará feliz e orgulhoso e não sem alguma ponta de vaidade proclamará que usa um avental semelhante ao de Voltaire, o perspicaz, espirituoso e não menos polêmico do que brilhante pensador Iluminista, baluarte na luta contra a intolerância religiosa e defensor intransigente da liberdade de pensamento e expressão. Não poderia haver melhor exemplo; todavia, Aguiar Filho (2020, p. 229) esclarece que, 

Afinal, o fanatismo e a ignorância não são inimigos que o maçom deve combater incessantemente […]? E isso não passou despercebido pelos maçons franceses, sendo que pouco antes de sua morte [três meses], em 1778, o octogenário Voltaire foi iniciado na Loja Les Neuf Soeurs, pertencente ao Grande Oriente de França, em uma das cerimônias mais concorridas [alguns textos referem a 250 pessoas] que se tem notícia na história da Maçonaria.   

Ou seja, não se pode atribuir à Maçonaria qualquer mérito ou contribuição à trajetória de Voltaire, sua Iniciação foi, antes, um reconhecimento; portanto, devagar com andor, o santo é de barro. 

Mas há também a situação inversa, particularmente no Brasil: a de personagens, alguns notórios políticos com projeção nacional, cuja condição de maçons é convenientemente omitida ou negada na forma da Falácia do Escocês (PINHEIRO, 2020), isto é, são maçons … mas não verdadeiros maçons; ora, ora. Nessa linha, o mesmo se verifica em relação aos Templários – poucos, muito poucos trazem para a Maçonaria a leitura crítica sobre a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, sendo ressaltados apenas os seus feitos positivos (na perspectiva de quem?). Ainda no âmbito do Brasil, é possível que o leitor de um livro, a depender da fonte, venha a afirmar que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, não só foi maçom, como chegou ao Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito (hilário, sem noção!). Mas novas leituras, a exemplo de Ismail (2017), trarão os devidos esclarecimentos que a matéria exige. Cuidado pois, com leituras precipitadas, incompletas ou incorretas.

 Um último exemplo histórico: a Revolução Farroupilha, no RS, 1835-1845, foi encerrada com a Paz do Poncho Verde (município de Dom Pedrito), de um lado, o dos imperiais, negociada pelo maçom Barão (e futuro Duque) de Caxias e, do outro, o dos republicanos, pelo maçom General David Canabarro. Já ouvi em palestra, mas por ora não poderia precisar a fonte, que o fato de a paz ter se dado nos termos em que se deu (sem revanchismos, com anistia e cláusulas draconianas, etc.) deve-se exatamente porque em ambos os lados estavam maçons … os gaúchos são mesmo incorrigíveis, como bem revela o estribilho do Hino Sul Rio-grandense: “[…] Sirvam nossas façanhas De modelo a toda Terra […]”[11], faltou avisar, quase um século após, os Tratadistas de Versalhes. 

(O leitor que não perdeu o fio da meada percebeu que o humor faz parte da estratégia para atingir o objetivo pretendido.)

 Mais recentemente, em memória e honra ao passado da Maçonaria brasileira (que, reitero, não esconde a intenção da associação de imagem), a Declaração da Independência, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República têm tido presença frequente nas redes sociais a partir de Irmãos indignados que exigem uma tomada de posição da Ordem frente a “tudo isto que está aí”. Ora, ora, a qual Maçonaria referem? Sim, pois, por exemplo, se havia maçons defensores da República, havia também os defensores do Império. A propósito, em todas as grandes revoluções (a exemplo da Inglesa – a Gloriosa -; da Independência dos EUA e também na Revolução Francesa) havia maçons posicionados de ambos os lados … nada surpreendente e mais natural se o fenômeno for apreciado em perspectiva ampliada e destituída de romantismo, orgulhos e vaidades. Ademais, alguém realmente crê que as fileiras da Maçonaria brasileira contemporânea já não estão tomadas e divididas entre maçons de todos os espectros ideológicos e políticos? Uma coisa é os maçons (extra-Loja, nas redes sociais, enquanto cidadãos, etc.) se posicionarem politicamente; outra, e bem diferente, é a Maçonaria enquanto instituição; em dúvida, ler, por exemplo, Ismail (2017, 2021), inclusive sobre os desdobramentos do envolvimento político da Ordem no passado não tão distante.  

Certamente todo o maçom já leu que a Maçonaria não tem nada a ver e muito menos se confunde com a religião, e que aquela abriga as espécies deste gênero sem qualquer distinção ou preferência. Que tal, então, ler Ankerberg e Weldon (1995), bem como Callaey e Blanco (2016)? Certamente alguns conceitos serão, senão revistos, melhor adequados.

 Ragon (2006), pela abrangência da sua obra, é referência certa tanto para quem deseja conhecer a evolução e a difusão histórica da Maçonaria no mundo, como, sobretudo, o dinamismo da profusão dos Ritos. Mas veja-se o que diz Rocha (2021) quando refere às considerações de Ragon acerca do Rito Adonhiramita:

Jean Baptiste Marie Ragon de Bettignies (1781-1862) ou simplesmente Ragon, atribuiu a paternidade do Rito Adonhiramita ao Barão de Tschoudy e, sem nenhum fundamento […] induzindo, consequentemente, muitos Maçons (estudiosos e escritores posteriores) ao erro material de apontar o Barão como autor do Rito […] (op. cit., p. 145)

O erro de Ragon é facilmente contraditado (hoje), bastando verificar que a obra de Saint Victor é de 1782 e o Barão desde 1769 era falecido, portanto, não poderia, doze anos depois do falecimento, escrever o que quer que seja (op. cit., p. 145-6)

[…] Ragon, por ignorância ou má fé, escreveu asneira histórica […] (op. cit., p. 151)  

 Penso, S.M.J., que os exemplos acima são suficientes para considerar como atingido o objetivo inicialmente declarado: alertar sobre a impropriedade e os riscos do conhecimento ser pautado apenas sobre um livro.

 Mas Por que os textos divergem? Inúmeros motivos, desde a “ignorância ou má fé”, esta última encobrindo interesses escusos, mas também questões pessoais (vaidades, revanchismos, ganho ou manutenção de status, intento de auferir vantagens, etc.) e técnicas, a exemplo da precipitação por falta de método. Interdisciplinar por natureza, os avanços nos mais variados campos (Sociologia, Direito, História, Ciência Política, etc.) proporcionados por tecnologias emergentes repercutem nos estudos, pesquisas e conhecimento sobre a Ordem. Ademais, há também o amadurecimento dos autores que, por vezes, leva à revisão de conceitos – vide, por exemplo, o reconhecimento seguido do arrependimento de A. Einstein acerca da constante cosmológica (introduzida por ele sem maiores justificativas e) que influenciou o trabalho de vários pesquisadores. Certamente quem há 30 anos estudou medicina, eletrônica ou mesmo pilotagem, para citar apenas algumas profissões, hoje não se sentiria, sem uma ampla e profunda reciclagem, muito à vontade para o exercício profissional; com a Maçonaria ocorre o mesmo, ressalvadas algumas questões, a atualização se faz necessária.

 A leitura de um ou mais textos sobre o mesmo assunto, embora à primeira vista possa corresponder tão somente a um acréscimo aritmético e linear no conhecimento acerca do mesmo, tem, na verdade, efeito muito mais ampliado, pois o processo gerador de conhecimento é exponencial e por isso transformador. Por exemplo: ao se deparar com outra versão da história, a segunda não apenas se soma à primeira, mas suscita olhar a história a partir de outra perspectiva, quiçá rever a própria narrativa. Se para o mesmo procedimento um Rito diz que se procede com a mão direita e o outro com a mão esquerda, não mais o Rito em si, mas o próprio conceito e a finalidade do Rito passam a ser merecedores de estudos aprofundados. 

Concluo com uma citação de Borges (apud Carvalho, 2015, p. 51): “Para compreender um único livro, é preciso ter lido muitos livros” e, finalmente, é lendo que se aprende a escrever.

REFERÊNCIAS CITADAS

AGUIAR FILHO, Wilson. Voltaire: a luta contra a intolerância e o fanatismo. In: PATUTO, Gustavo V. (Coord.). Os Grandes Pensadores da Humanidade e o Rito Moderno. Curitiba: Independently Published, 2020, Tomo I, p. 214-232.

ANKERBERG, John; WELDON, John. Os Fatos sobre a Maçonaria: a maçonaria entra em conflito com a fé cristã? Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia-Noite, 1995.

ANDERSON, James. As Constituições de Anderson – texto original. 1ª Ed. (2001), 7ª Reimp. Curitiba: Juruá, 2012.

CALLAEY, Eduardo R.; BLANCO, Ramón M. Conversaciones en el claustro – sobre el Régimen Escocés Rectificado y la masonería cristiana. Espanha, Astúrias: Editorial Masonica, 2016. 

CARVALHO, Olavo de. Aprendendo a Escrever. In: CARVALHO, Olavo de. A Dialética Simbólica – estudos reunidos. Campinas, SP: Vide Editorial, 2015, p. 51-54.

COOPER, Robert L. D. Revelando o Código da Maçonaria – a verdade sobre a chave de Salomão e a Irmandade. São Paulo: Madras, 2009. 

DERMOTT, Laurence. Ahiman Rezon – a Constituição dos Maçons Antigos. Trad. e Coment. de Kennyo Ismail. Londrina, PR: A Trolha, 2016.

GOULD, Robert F. The Concise History for Freemasonry. London: Gale & Polden Limited, 1951. Original disponível na Cornell University Library.

ISMAIL, Kennyo. História da Maçonaria Brasileira – para adultos. Londrina, PR: A Trolha, 2017.

ISMAIL, Kennyo. História da Maçonaria no Brasil. Apostila. Escola no Esquadro. Curso, 40 horas, modalidade EaD. Brasília, DF: 2017. Disponível em: http://noesquadro.com.br/wpcontent/uploads/2017/12/APOSTILAHIST%C3%93RIADAMA%C3%87ONARIANOBRASILENE.pdf. Acesso em: 22.08.21.

ISMAIL, Kennyo. Maçonaria Brasileira – a história ocultada. Brasília, DF: No Esquadro, 2021.

Vol. I.

NEWTON, Joseph F. Os Maçons Construtores. Londrina, PR: A Trolha, 2000.

PATUTO, Gustavo V. Introdução ao Rito Moderno ou Rito de Fundação da Maçonaria Especulativa. Curitiba: Independently Published, 2020.

PINHEIRO, Ivan A. Dez Discursos: fundamentos para o atraso de uma Loja Maçônica. Revista (digital) Magister Magistrorum, Ed. 1, Ano 1, 2020, p. 34-38.  

PRESTON, William. Esclarecimentos Sobre Maçonaria. Rio de Janeiro: Arcanum, 2017. 

RAGON, J. M. Ortodoxia Maçônica –  a maçonaria oculta e a iniciação hermética. São Paulo: Madras, 2006.

ROCHA, Luiz G. da. Pequena História dos Ritos Maçônicos – praticados no Brasil. Londrina, PR: A Trolha, 2021.


[1]              Mestre Maçom dos Quadros da ARLS Mário Juarez de Oliveira, 4.547, GOB-RS; da LEP Universum 147, GLMERS; da Loja de MESA Victor Meirelles; e, Membro Correspondente da Academia Maçônica de Letras, Ciências, Artes e do Ofício do GOB – BA. Esclareço que não manifesto o ponto de vista das Lojas, Obediências, Potências e Instituições às quais sou filiado, tão somente ora exerço a minha liberdade de pensamento e expressão. E-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br. Porto Alegre-RS, agosto, 2021.

[2]     Disponível em: http://www.letraseletricas.blog.br/lit/2019/07/temeiaquelequeleuumlivroso/. Acesso em: 23.08.21.

[3]              Se de um lado os Rituais podem ser lidos por qualquer um, o que inclui os recém Iniciados, de outro, algumas de suas partes e sobretudo o conjunto da obra são incompreensíveis sem leituras complementares e em alguns casos requer o esclarecimento de terceiros. Nesse âmbito eu sugiro a leitura de “Os Mestres Simbólicos”, que conclui com a afirmação: “Por fim, considerando que entre os motivos que têm levado à evasão na Maçonaria se alinham a falta de compreensão dos objetivos da Ordem, bem como a frustração de expectativas, à primeira vista parece que os Mestres de hoje incorporaram a condição de meros símbolos, daí descompromissados e cada vez mais distantes do significado histórico original, qualquer que seja a fonte pesquisada, reservado aos Mestres.”  

[4] Disponível em: https://bibliot3ca.com/william-schaw-o-inventor-da-maconaria-moderna/. Acesso em: 22.08.21.

[5] 1720-1791

[6] 1742-1818

[7] 1876-1950

[8] 1836-1905

[9] O texto original de Gould encontra-se nas referências bibliográficas listadas ao final. Todavia, a transcrição que se segue foi extraída da tradução de J. Filardo, Vol. III que, em formato pdf, circula nas redes sociais.

[10] Sobre as suas diferentes acepções vide, entre outros: https://www.noesquadro.com.br/termos-e-expressoes/ahiman-rezon/ . Acesso em: 22.08.21.

[11] Disponível em: https://www.letras.mus.br/hinos-de-estados/126618/. Acesso em: 23.08.21.