Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

Assessor do Cardeal é considerado culpado em caso de abuso

Tradução José Filardo

Por JON HURDLE e ERIK ECKHOLM

Publicado: 22 de junho de 2012 – New York Times

PHILADELPHIA — Mons. William J. Lynn, antigo assessor do Cardeal, foi julgado culpado sexta-feira de pôr em perigo crianças, tornando-se o primeiro oficial sênior da Igreja Católica nos Estados Unidos acusado de encobrir abusos sexuais por sacerdotes sob a sua supervisão.

Matt Rourke/Associated Press
Monsenhor William J. Lynn, entrando no tribunal antes da leitura do veredicto, foi o primeiro alto funcionário da Igreja Católica nos Estados Unidos a ser condenado por encobrir abusos sexuais de menores por padres.

O júri de 12 Membros absolveu Monsenhor Lynn da Arquidiocese da Filadélfia, de conspiração e uma segunda acusação de colocar em perigo após um julgamento que os promotores e os grupos de defesa do direitos das vítimas chamam de ponto crucial nos escândalos de abuso que abalaram a Igreja Católica.

O único veredicto de culpado foi amplamente visto como uma vitória para a promotoria, que vem investigando a Arquidiocese agressivamente desde 2002, e ele foi saudado por defensores de direitos das vítimas que têm argumentado por anos que altos funcionários da igreja devem ser responsabilizados por esconder provas e transferir padres predatórios para paróquias desinformadas.

Monsenhor Lynn, 61 anos, sentou-se impassível enquanto o porta voz do júri anunciava os veredictos, mas parentes atrás dele estavam em lágrimas. A Juíza M. Teresa Sarmina do Tribunal de Justiça Comum revogou sua fiança e o Monsenhor levantou-se, removeu sua jaqueta clerical e foi levado por sub-delegados para uma área de cela de detenção. Sua condenação, no 13º dia de deliberações, poderia resultar em uma pena de prisão de três anos e meio a sete anos; e a leitura da sentença está marcada para 13 de agosto.

O julgamento enviou uma mensagem séria aos oficiais da Igreja e outros supervisores de crianças em todo o país. “Eu acho que bispos e oficiais de Chancelaria entendem que eles não vão obter um passe livre nesses tipos de crimes”, disse Nicholas P. Cafardi, professor de direito na Universidade Duquesne, um especialista em direito canônico e frequente assessor da Igreja. “Sacerdotes que abusam sexualmente de jovens e os oficiais de Chancelaria que permitiram isso podem esperar acusação criminal.”

O julgamento de três meses lançou uma luz dura sobre a liderança da Arquidiocese, especialmente o Cardeal Anthony J. Bevilacqua, a quem Monsenhor Lynn assessorava. Arcebispo de Filadélfia de 1988 a 2003, ele morreu em Janeiro, mas seu nome foi invocado frequentemente durante o depoimento. O próprio advogado do Monsenhor Lynn disse ao júri que “neste julgamento, vocês viram o lado escuro da Igreja.”

As revelações de abuso sexual e aparente indiferença oficial têm atormentado uma arquidiocese que era conhecida por muito tempo por líderes imperiosos e camaradagem insular entre seus sacerdotes. E isso também custou caro: a Arquidiocese financeiramente enferma disse recentemente que honorários advocatícios e inquéritos internos provocados pelos casos de abuso tiveram um custo de $11,60 milhões de dólares desde o início de 2011.

O Cardeal Bevilacqua e seus assessores, o Ministério Público argumentou, procuraram evitar o escândalo e a processos judiciais onerosos a quase qualquer preço, colocando a reputação da Arquidiocese acima da proteção de crianças vulneráveis.

Arquidiocese emitiu uma declaração conciliatória na sexta-feira, dizendo que “as lições do ano passado tornaram nossa igreja um guardião mais vigilante da segurança de nosso povo” e ofereceu “sinceras desculpas a todas as vítimas de abuso clerical.”

Monsenhor Lynn serviu como Secretário de clero para a Arquidiocese de 1,50 milhões de membros de 1992 a 2004, recomendando a designação de sacerdotes e investigando reclamações de abuso. O Ministério Público apresentou uma avalanche de provas de que Monsenhor Lynn não havia atuado fortemente para manter molestadores de crianças suspeitos longe de crianças, e muito menos para delatá-los às autoridades.

Mas a duração das deliberações dos jurados e o veredito misto mostraram a dificuldade de colocar a responsabilidade criminal em uma igreja oficial. Os jurados também lutaram com a definição de conspiração e com a questão da intenção criminosa por parte de Monsenhor Lynn, que se apresentou como um homem afável, que dava o melhor de si. No entanto, o promotor de Philadelphia, R. Seth Williams, disse sexta-feira que o veredicto tinha enviado uma lição à nação. “Este caso monumental mudará a maneira como os negócios são conduzidos em muitas instituições,” ele disse.

Espera-se que os advogados de Monsenhor Lynn apelem da sentença.

Advogados de vítimas disseram que esperavam que a condenação encorajasse os promotores em outros Estados a investigar os altos funcionários da Igreja e previram que isso levaria a mais ações judiciais de vítimas.

“O veredito de culpado envia uma mensagem forte e clara de que a blindagem e a permissão para sacerdotes predadores é um crime hediondo que ameaça as famílias, comunidades e crianças e deve ser punido como tal”, disse Barbara Dorris, da Rede de Sobreviventes daqueles Abusados por Padres.

Mas, tais procedimentos podem muitas vezes ser limitados, dizem especialistas legais, pela prescrição dos crimes.

O Ministério Público neste caso enfrentou isso apenas como um obstáculo. Um segundo sacerdote, o Rev. James J. Brennan, 49, foi julgado com Monsenhor Lynn, acusado de tentativa de estupro e ameaça a um jovem, mas a defesa contestou a credibilidade do acusador.

Para condenar, o júri tinha de achar que o Padre Brennan não só tinha abusado daquele menino mas continuou a colocar crianças em risco nos anos subsequentes de ministério. Os procuradores foram incapazes de encontrar vítimas posteriores. O júri disse foi que houve empate em duas acusações contra o padre Brennan, e a juiza Sarmina declarou a improcedência quanto a essas acusações.

A defesa de Monsenhor Lynn dependia de sua reivindicação de que ele tentou coibir abusos, mas que só o Cardeal tinha autoridade para remover sacerdotes. Uma prova crucial foi uma lista elaborada em 1994 por Monsenhor Lynn de alguns sacerdotes ativos que tinham sido acusados de forma crível de abusos sexuais. Antes do início do julgamento, um advogado da Arquidiocese entregou ao Tribunal uma pasta desgastada, incluindo uma cópia da lista, dizendo que ele tinha sido encontrado em um cofre fechado.

O Ministério Público chamou-a de arma fumegante. Entre aqueles nomeados em 1994 como “culpado de má conduta sexual com menores” estava o antigo Rev. Edward V. Avery, cujo mandato continuado no ministério estava no centro do julgamento de Monsenhor Lynn. O Sr. Avery, agora com 69 anos de idade, passou seis meses em um centro psiquiátrico da Igreja em 1993 após um episódio de abuso, e médicos disseram que ele deveria ser mantido longe de crianças. Mas, Monsenhor Lynn lhe permitiu viver em uma reitoria de paróquia.

Em 1999, o Sr. Avery despiu-se com uma coroinha de 10 anos de idade, disse-lhe que Deus o amava e o obrigou a fazer sexo oral. O Sr. Avery se declarou culpado de assalto, pouco antes de o julgamento ter começado e foi condenado à prisão.

Em 2002, a Conferência Nacional dos Bispos Católicos adotou uma política nacional de “tolerância zero”, comprometendo-se a remover qualquer padre que enfrentasse acusações críveis. Mas lapsos graves ocorreram, inclusive em Filadélfia, onde um júri em 2011 afirmou que 37 padres com acusações no passado permaneciam ativos em paróquias.

No verão passado o Arcebispo Charles J. Chaput, então chefe da Arquidiocese de Denver, assumiu Filadélfia, e em Maio, ele anunciou a remoção de cinco sacerdotes nomeados no relatório do júri. Outros três foram absolvidos e as investigações continuam em outros casos.

O Bispo da diocese em Kansas City, Robert W. Finn, está à espera de julgamento sob a acusação de violar o requisito obrigatório do estado, supostamente por esperar seis meses para informar à polícia que um sacerdote tinha tirado fotografias indecentes de meninas.

Jon Hurdle informando de Filadélfia e Erik Eckholm de Nova York.

Este artigo foi revisto para refletir a seguinte correção:

Correção: 22 de junho de 2012

Uma versão anterior deste artigo incorretamente afirmou que o júri tinha empatado quanto a duas acusações contra Mons. William J. Lynn; o júri absolveu Monsenhor Lynn de conspiração e de uma segunda acusação de periclitação.

Deixe um comentário