Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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 Amiable e Wirth diante da reforma dos rituais do GOdF

Tradução José Filardo

 

O trabalho de Amiable e oposição de Wirth diante da tendência dominante.

Oswald Wirth é um dos opositores claros à tendência dominante do Grande Oriente de França. Ele aborda a preparação de um relatório que foi levado ao GODF, no qual propõe um retorno ao termo e ao conceito do Grande Arquiteto do Universo (GADU) que para ele é a parte central de todo o edifício maçônico, sendo o pilar que sustenta, inclusive dentro da renovação do simbolismo tradicional que se propunha.

Nessa época, Wirth começa a se interessar pelo ocultismo; ainda não é o ocultista em que se transformará depois de 1890. Em todo caso, seu relatório, finalmente bastante moderado, foi aprovado por sua loja, embora isso não pareça preocupar muito o Grande Oriente, já que ele deve passar por outros filtros.

Em 1887, Wirth novamente aborda a questão de simbolismo em uma palestra feita na loja parisiense “Les Amis Triomphants” sob o título “Estudos sobre o simbolismo” que o irmão Hubert publicou na Revista A Cadeia de União. Um pouco mais tarde ocorreria o rompimento entre os dois estudiosos maçons.

Hubert, que em 1877 não tinha desaprovado o desaparecimento do Grande Arquiteto da terminologia maçônica, agora havia se tornado hostil, pelo menos diante dos inovadores (que o haviam eliminado do Grande Colégio) e escreveu: “Acreditamos que é preferível melhorar, e não sob pretexto de melhorá-lo, destrui-lo completamente. Para aqueles que sabem incluir os símbolos maçônicos e explica-los criteriosamente, têm eles uma fonte de ensinamentos e evolução útil e interessante”.

Em todo caso, quando em 10 de agosto, Colfavru, em nome de seus colegas, redigiu a “Ata do Conselho da Ordem”, a situação era a seguinte: 84 respostas haviam sido recebidas até 1 de agosto, ou seja, um quarto das lojas da Federação havia respondido. O Grande Colégio, em junho, tinha modificado os rituais dos Altos Graus – parece que nesse momento desaparece “por omissão” o velho “rito francês” das sete ordens, que tinha deixado de ser praticado em meados do século – mas cujos “Cadernos” ainda existiam.

Louis Amiable redigiu um ritual de instalação de Lojas (que faltava), e sua iniciativa foi aprovada em 8 de julho pelo Grande Colégio, sujeito à decisão final do Conselho de 12 de julho, que entregou a uma comissão de três membros que finalmente o aprovou em 2 de agosto.

Os resultados da pesquisa deviam ser resumidos e apresentados à Comissão Conventual. A revisão dos rituais, – descrevia o relatório – parecia corresponder a uma necessidade e ao desejo da generalidade dos membros da Federação.

Os rituais simbólicos tinham sido revisados há seis anos apenas, mas o trabalho naquela época foi apenas parcial. Neste momento, era mais intenso pois não se recorreu às oficinas para obter um parecer, não havia corrente de opinião pública suscetíveis de consagrar antecipadamente as inovações admitidas confirmando ao mesmo tempo os usos mantidos. Só se fez uma mudança notável em relação aos rituais anteriores, o das fórmulas, referindo-se à profissão de uma determinada crença; tudo isso em conformidade com a alteração introduzida no artigo 1 da Constituição pelo voto da Assembleia Geral de 1877.

Na realidade, tratou-se de uma revisão geral, que se refere não tanto ao fundo quanto à forma. “Era importante que tal revisão não fosse a obra exclusiva de um reduzido número de irmãos, especialmente qualificados pela sua posição hierárquica, mas pelo trabalho comum dos Irmãos do GOdF “.

O Conselho queria, pois, que o trabalho desenvolvido fosse coletivo e assim se fez. Não há porque se surpreender ao constatar que somente um pouco mais de um quarto das oficinas tivesse respondido à pesquisa. Não se traga de menosprezar a hostilidade ao projeto – pois em grande medida foram lojas hostis ao projeto as que se expressaram nos relatórios. Por isso, a loja San Giéniès de Malgoirès (Gard) presidida por Desmons, e vários irmãos se dividiram sobre as questões que lhes diziam respeito, um terço dos irmãos era hostil a qualquer mudança, em particular, a supressão das provas.

Mas a maioria das oficinas tinha tomado a prática de adaptar os rituais que lhes eram enviadas pelo GODF à sua conveniência, para excluir ou omitir o que parecia contrário às ideias da maioria dos membros da oficina; transformar fórmulas (a loja Alsace-Lorraine ) substituiu a aclamação tradicional por “France-Alsace-Lorraine“, o que apenas provava as boas intenções patrióticas dos Irmãos, e menos no sentido simbólico, ou até mesmo pensavam adicionar, e não sem razão, para poder continuar dada a situação…

O Conselho de 2 de agosto organizou, pois, a exploração do material recolhido, do qual, em seguida, L. Amiable se encarregaria de fazer uma síntese que seria enviada a cada delegado do Convento. A “Terceira Comissão” do referido Convento informaria sobre o referido estudo e se pronunciaria sobre ele.

Efetivamente, quando o Convento se abriu em 13 de setembro, sob a presidência de Desmons, o trabalho estava pronto e foi distribuído sob a fórmula de um “folheto azul” entre os delegados. As opiniões das lojas que tinham se manifestado de forma muito clara, e as opiniões diferentes foram agora analisados com grande objetividade. Plano e conteúdo deviam ser retomados no relatório da Comissão representada por Dequaire, incorporando a filosofia que prevalecia e que soube conseguir plasmar as ideias gerais daquela pesquisa.

O relator coloca em relevo em seu relatório a filosofia dúplice que ocorria na síntese: as lojas reclamam “vigorosamente a manutenção do simbolismo que dá à Maçonaria Universal a sua fisionomia original” mas quer que este simbolismo seja “sóbrio, claro e absolutamente neutro “.

O Irmão Dequaire distingue que o “simbolismo, que é uma das formas de expressão do pensamento” do ” deísmo que é uma crença”.

Quer-se manter um simbolismo “neutro” entre “as diferentes crenças” assim como “diante das negações”. Deve “inspirar-se nesta filosofia positivista que não se eleva acima das coisas humanas e que só considera acima do homem a humanidade imperecível.” Dequaire, então, afirma que esta visão da Maçonaria não é uma inovação, mas a defesa “das mais puras tradições da antiga Maçonaria.” Ele afirma que “o francês Desaguiers” (sic), quando organizou a Maçonaria inglesa, queria “fazer de nossos templos o asilo do que hoje chamaríamos de livre pensamento”, que “não concebia que a Maçonaria pudesse ser uma associação dogmática que impusesse um mínimo de crença metafísica entre os seus membros”.

É por meio de Ramsay “agente da política jacobita”, que voltou para a Inglaterra um Credo “que a instituição primitiva não conhecia”. E a partir daí passa-se a afirmar que as Grandes Lojas além do Canal da Mancha “falsearam um pouco a instituição”. Afirmações no mínimo discutíveis, mas que, doravante, dentro do GODF serão recebidas normalmente, serão condenadas como um anacronismo perpétua, agravando com isso a situação!

Os Cadernos de Graus, dar prova deste espírito de “tolerância e neutralidade”. A reforma anterior tinha sido insuficiente e era necessário que o simbolismo não separasse ainda mais o GODF da outra Maçonaria, pretendendo-se “que não seja o de uma classe de religião natural, mas a expressão sensível de nossas tendências, admiravelmente resumidas na fórmula tríplice “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Dequaire constata que muitos irmãos estavam interessados principalmente nas “provas”, mas “é necessário retomar a questão acima”. Existem, em nosso ritual “coisas caducas” que só mantemos por respeito à tradição e universalismo Maçônicos. Por isso será fácil “reconciliar as exigências da razão moderna com a tradição internacional”, apresentando “sob a forma de uma simples descrição o que, em nosso simbolismo, já não têm mais que um valor histórico”, como “de diminuir à sua expressão mais simples” o que eles têm somente como outro papel o reconhecimento inter-obediential.

Por outro lado, “não é um problema grave, uma vez que muitos colocam ênfase sobre uma medida razoável, qual seja a revisão das provas físicas.” A parte fundamental é “um exame filosófico de todas as fórmulas em nossos Cadernos, uma reorganização de tudo o que não está claro, tudo o que não é neutro”, a reserva dos “direitos históricos e internacionais do simbolismo”. Até seria desejável que fossem mais completos e que o conhecimento dos graus fosse mais amplo.

A quem convém confiar o cuidado desta revisão?

Não poderia se ocupar desse papel a Assembleia Geral, mas sim o Grande Colégio. Este, pela voz dos irmãos Amiable e Viguier, já tinha dado o seu aval à nova formação que propusera a Comissão, que propunha que se agregassem os irmãos competentes, para se colocar de acordo com o Conselho “para tudo o que na redação dos rituais, pudesse afetar as relações maçônicas internacionais. ”

Em duas ocasiões, Dequaire, afirma que não “se imporá” o emprego destes rituais senão que “será recomendado”, e que cada oficina manteria sua liberdade “no contexto geral das cerimônias maçônicas, de manter as suas práticas e cerimônias particulares”.

Indica, por outro lado, que a Comissão rejeitou um desejo do irmão Francolin, que reivindicava uma liberdade absoluta de ritual, e conclui afirmando que seu relatório previa que os “rituais regidos no espírito aberto não estavam em sua linha e que se retirava da consulta” já que ele tinha tentado ser o intérprete dos “sentimentos sabiamente progressistas que animavam a Franco-Maçonaria, a qual coloca antes da Maçonaria Universal “. O relatório foi aceito por unanimidade.

Amiable rapidamente começou a trabalhar. A partir de 25 de outubro, o Conselho anunciou que a Comissão fora constituída, composta por 6 membros do Grande Colégio e outros 6 “Irmãos escolhidos fora da tal instituição. Entre os convidados foram chamados aqueles que tinham atraído a atenção do Grande Colégio por seus trabalhos preparatórios”. Amiable garantiu a Presidência, Thulie, Conselheiro da Ordem, a vice-presidência, os irmãos Mauger, Mui Sábio Capítulo “les Amis Bienfaisants ” e Melinette, Venerável da Loja “Theleme”, a Secretaria.

Os membros eram Fontainas, Viguier, Chastanet, chefe da Secretaria; Décembre-Alonier pelo Grande Colégio; Bompart Orador de “L’ Etoile Polaire”; Bordier Venerável de Honra da Loja “les Amis de la Patrie“; Boucheron, Membro da “Theleme” e Parmentier Venerável da ” Amis des Peuples et les Bienfaiteurs Reunis” representavam “a base”. Esta Comissão havia começado seus trabalhos e deviam apresentá-los ao Grande Colégio e ao Conselho.

As coisas se desenrolaram muito rapidamente, uma vez que a partir de 10 de janeiro de 1887, Amiable apresentou os textos ao Conselho. O Grande Colégio os aprovou em 18 de fevereiro, e o “pequeno Convento”, em sessão plenária de primavera do Conselho os estuda e, por sua vez, depois de um debate que se desenvolveu entre os dias 15 e 16 de abril, os aprovou isso sim “depois de várias modificações”. Amiable mandou imediatamente imprimir os rituais em 13 de junho, e, com isso o trabalho praticamente concluído, o Conselho decidiu que o envio dos rituais fosse acompanhado de um relatório de Amiable, e uma circular do Conselho da qual deveria se ocupar Viguier. No dia 27, tudo estava pronto e o Conselho deu acordo definitivo.

A circular de Viguier, assinada por Colfavru e os secretários não têm grande interesse, mas o “relatório sobre os novos rituais para as lojas” de Amiable é, pelo contrário, um documento importante.

O autor especifica as circunstâncias nas quais teve que apresentar este trabalho e os diferentes episódios de sua preparação. Ela enfatiza a vontade das lojas de alterar o ritual; a grande maioria das moções referiam-se à iniciação, um número significativo delas aos graus de Companheiro e Mestre. A Comissão “dos Doze” trabalhou seriamente, realizando catorze sessões em dois meses e meio. Amiable distingue então, que nesse ritual indica o que é “obrigatório” e o que é “opcional”. No que diz respeito à iniciação, não se podem suprimir nem as provas do ritual, nem os passos do ritual que é a “aplicação prática das diferentes disposições da lei maçônica”, nem o simbolismo. Mas “sob estas reservas” pode-se permitir que seja adicionado algum detalhe, mas é necessário preservar a “regularidade e dignidade.”

O novo ritual se inspirou nos rituais do Supremo Conselho e a Grande Loja Simbólica Escocesa em sua apresentação tipográfica, com o que se deve dizer que melhorou muito. Foram pedidos emprestados também vários detalhes dos rituais de “potências maçônicas que tinham sua sede fora da França”. É uma pena que Amiable não nos dê mais detalhes, mas pode-se imaginar que se esteja a falar sobre o Grande Oriente da Bélgica.

O novo ritual renunciou ao “estilo nobre” até então em uso e simplificou as fórmulas e evitou repetições.

Neles, o papel do Segundo Vigilante é aumentado, com o objetivo de racionalidade – e também é incluído nele a cerimônia de instalação do Venerável, e não como era o uso, o papel do Primeiro Vigilante.

Houve também uma racionalização, na leitura da correspondência, na eleição dos oficiais, em suas instalações e na comunicação das palavras semestrais que se assentavam dessa forma sobre o ritual, onde não apareciam até então. Duas outras inovações: em cada um dos Cadernos dos três graus, figura no cabeçalho um “Memorando” apresentando um breve quadro do “que é necessário conhecer por cada Irmão”, e “se separa daquele da instrução” do ritual.

Cerimônias que já existiam, mas cujo ritual não tinham caráter oficial aparecem no novo texto: ao lado do tradicional ritual de banquete, encontramos pela primeira vez, um ritual de instalação de oficina que tinha sido preparado antes mesmo do Convento de 1886, bem como a cerimônia de “inauguração” de um novo Templo “que tinha sido um pouco negligenciada até agora”, as pompas fúnebres, cujos rituais “devido à iniciativa privada eram redigidos na opinião exclusiva de uma crença e havia tempo discordávamos entre nós com o espírito de tais cerimônias”.

Os Rituais levam em conta, finalmente, apesar da demanda de algumas oficinas já que não figuravam nos rituais “a adoção maçônica” e “a cerimônia de reconhecimento conjugal” deixadas à iniciativa privada, norma que continua em vigor no GODF – ao contrário da obediência mista “Direito Humano”.

Amiable insiste na continuação das mudanças sofridas pelos rituais nos três graus simbólicos. Ele enfatiza a “iniciação”. Foram suprimidas “as duas ideias de intimidação e purificação, a primeira parecia fazer da Maçonaria uma sociedade secreta, e a segunda parecia dar-lhe um caráter religioso”

Estritamente praticadas até agora, rejeitavam-se “as provas dolorosas, rejeitando aquelas que poderiam ser perigosas”. Embora certa aproximação do texto desse a impressão de que “lhes faltava seriedade e, por vezes, gravidade”.

Correspondemos à “simplicidade” dos tempos antigos … Mas mantivemos as três viagens que fazem parte da tradição maçônica universal, mas “tirando-lhes todos os acessórios” … representam os estágios da vida humana e um apelo à solidariedade. Cada viagem era precedida por um interrogatório, o ritual indica alguns temas ou questões “relacionadas com os problemas da filosofia, moral ou sociologia” que desenvolvidos, também podem fornecer tópicos da conferência em loja. As provas não são mais físicas, uma vez que apenas permanecem a venda, e a obrigação de dar três voltas na loja nas viagens.

O autor se estende mais detidamente sobre os outros graus. Leva em conta apenas que a instrução que acompanha as cinco viagens foi cuidadosamente desenvolvida para o acesso ao 3o. grau; a lenda de Hiram se manteve “como vinda de uma tradição muito antiga, pois seu simbolismo serve como de vínculo com a Maçonaria universal”, mas o relato foi “retocado”.

As instruções para os três graus foram desenvolvidas em grande parte inspiradas por trabalhos anteriores, e Amiable menciona os nomes em que se inspirou: Chemin-Dupontès, Ragon, Cauchois, François Favre e Caubet.

Publicado originalmente por: Victor Guerra – http://www.ritofrances.net/