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Os maçons do Grande Oriente da França dão à luz à maçonaria mista com fórceps

Tradução José Filardo

Por Nicolas Gavrilenko

O último Convento (1) do Grande Oriente da França, realizado em 02 de setembro deu uma estreita maioria aos partidários da igualdade de gênero no seio de sua obediência.

E isso levou 150 anos!

Este debate surrealista envenenava a primeira obediência maçônica francesa há duas décadas (2). Surrealista, porque se os maçons são muitas vezes vistos como a vanguarda da história, é preciso constatar que em relação à questão da mistura de gêneros, eles chegam muito depois da batalha. Surrealista, especialmente, porque o Grande Oriente da França conheceu períodos em que ele era a ponta de lança dos princípios republicanos do Iluminismo, incluindo a luta feminista. Assim, esta obediência conduziu a luta pelo direito à contracepção e ao aborto. Como explicar esse paradoxo? Quando a corrente conservadora, apoiada na tradição, tornou-se majoritária na década de 70 anos, os maçons ligados à maçonaria mista preferiram ir trabalhar nas obediências mistas. Quanto aos outros, eles criariam no seio do GODF o CLIF (Comitê para a Liberdade de Iniciar as Mulheres), continuando assim a luta internamente. Mas os conservadores continuam surdos aos seus argumentos.

A primeira brecha foi aberta há algum tempo atrás, quando foi preciso decidir sobre o caso se tornou um irmão, que se tornou … irmã! O Grande Oriente da França não se atreveu a cancelar sua filiação, esta irmã tornou-se, portanto, a primeira mulher membro pleno daquela obediência (3).

A segunda brecha, que se revelou decisiva foi aberta pelas lojas que tendo iniciado mulheres, argumentaram que nada nos regulamentos gerais da obediência o proibia.  De fato, nada existe escrito que a masculinidade é um pré-requisito para a iniciação. Considerando que o silêncio da lei equivale à permissão, a justiça interna lhes deu razão. O campo conservador tentou em seguida, de toda forma reclamando com base na tradição oral contra as regras escritas na Constituição da obediência. Fetichizar um costume imemorial que não está escrito em qualquer lugar é uma estratégia que ainda é usada pelos retrógrados de toda espécie. Esta fetichização da tradição oral é, aliás, antirrepublicana. Em uma república, de fato, a Constituição prevalece sobre tudo o resto, incluindo o direito consuetudinário. Esta posição não era mais sustentável. Ele voou pelos ares durante o último Convento.

Uma mistura que permanece a critério das lojas

É de se notar que a decisão de iniciar mulheres continuará a critério das lojas que permanecem soberanas. É preciso ser específico: o Grande Oriente da França não votou a favor de lojas mistas, mas em favor do princípio da liberdade das lojas. Assim, aquelas que desejarem podem iniciar mulheres; as outras podem continuar a recusá-las. A este respeito, pode-se lamentar que tenha sido preciso tantos meandros legais para tornar possível a aplicação de um princípio no qual qualquer um favorável à igualdade a possa reconhecer. Não sejamos amargos: é preciso se regozijar que uma página tenha sido virada. Além disso, há todas as razões para pensar que dentro de alguns anos, o equilíbrio de poder tornar-se-á favorável aos partidários das lojas mistas, e mecanicamente, porque muitos irmãos e irmãs trabalhando atualmente nas obediências mistas e que aspiram a uma maçonaria unificada certamente juntar-se-ão ao Grande Oriente de França. Mas, essa luta não será definitivamente ganha a não ser no dia em que nenhuma loja se recusará a iniciar uma pessoa por causa de seu sexo.

(1) Convento: equivalente maçônico a uma assembleia geral.

(2) Este debate dura, na verdade, desde quase um século e meio. A primeira mulher iniciada em uma loja do GODF foi Maria Deraisme … em 1882.

(3) As Mulheres iniciadas em outras Obediências – femininas ou mistas eram até então recebidas por algumas lojas do GODF e aceitas em seus debates, mas não eram membros de pleno direito.

ver também:

Iniciação de Mulheres no GODF – Evolução

Iniciação de Mulheres no GODF – Evolução (Parte 2)

Um novo começo para a primeira organização maçônica na França?

Publicação original
http://www.gaucherepublicaine.org/respublica/les-francs-macons-du-grand-orient-de-franceaccouchent- de-la-mixite-aux-forceps/2164

4 comentários em “Os maçons do Grande Oriente da França dão à luz à maçonaria mista com fórceps

  1. Apoio incondicionalmente a presença das mulheres dentro das lojas maçônicas, trabalhando em comunhão e igualdade, pelo bem estar da Humanidade.

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    1. E o que é legítimo e ilegítimo? O Grande Oriente da França não depende da GLUI desde 1877, assim a verdade da GLUI não é a a verdade do GOdF. A qustão é bem simples.

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