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Lojas de S. João – razões históricas

Publicado em FREEMASON.PT

S. João Evangelista e S. João Baptista

Não cabe neste documento, nem é esse o seu propósito, entrar em detalhes sobre os movimentos complexos que a Terra descreve enquanto gira em torno do Sol de acordo com as leis de Kepler. Tão-somente é de referir que existem dois momentos nesse seu percurso quase eterno, que, pela sua força, pelo seu misticismo, e pelo seu fascínio, têm originado as mais nobres comemorações em numerosos grupos e organizações: são eles o Solstício de Inverno e o Solstício de Verão.

Por herança recebida de grupos, que tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja. Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João Baptista, (24 de junho), e de São João Evangelista, (27 de dezembro), as datas confundem-se entre esses grupos, chegando à actualidade.

Graças a isso muitas corporações acabaram adoptando os dois São João como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, que abrem os seus trabalhos à glória do Grande Arquitecto do Universo (Deus) e em honra a S. João, nosso padroeiro, englobando, aí, os dois santos.

O Baptista

São João Baptista, também dito «o Precursor», era filho de Isabel, prima da Virgem Maria e, por conseguinte, também parente de Jesus Cristo. Ganhou o epíteto de «baptista» porque, no rio Jordão, «baptizava» as pessoas, derramando- lhes água sobre as cabeças, limpando-as assim espiritualmente (baptismo significa banho).

Era também conhecido por viver no deserto, alimentando-se de mel e gafanhotos, vestindo apenas uma pele de carneiro, e andando assim meio nu. Seguramente, pertencia, entre os judeus, ao grupo dos essénios, que vivia em Quram, perto do mar Morto, local onde, em 1947, foram encontrados alguns documentos da época. O dia 24 de Junho foi estipulado pela Igreja Católica como o da sua comemoração.

O Evangelista

O outro São João, o Evangelista, era apóstolo de Jesus. Chamam-no de Evangelista porque, além de pregar os ensinamentos do Mestre, foi o autor do 4o Evangelho, de três epístolas e do famoso Apocalipse, palavra que significa «revelação».

No Apocalipse S. João Evangelista relata as revelações que teria tido sobre o fim dos tempos e dos caminhos para a salvação. Por falar nos fins dos tempos, catástrofes, guerras, pestes, castigos, a palavra «apocalipse» ganhou a conotação de «algo ruim, mau, apavorante, cataclísmico, terrificante». A linguagem é extremamente simbólica e de difícil compreensão. S. João Evangelista é comemorado a 27 de dezembro.

Maçonaria operativa

Na verdade, como vem registado no item XXII, dos Regulamentos Gerais das Constituições de Anderson, de 1723, e com elas publicado, o dia que os maçons operativos do passado escolheram para a reunião anual era 24 de junho o dia de São João Baptista, ou opcionalmente, o dia de São João Evangelista, a 27 de dezembro. Mas com muito mais ênfase em junho.

Será bom notar que a fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, ocorreu precisamente em 24 de junho, e veja-se como se redigiu esse cânone dos Regulamentos Gerais, aprovados, pela segunda vez, no dia de São João, 24 de junho de 1721, por ocasião da eleição do Príncipe João, duque de Montagu, para Grão-Mestre:

«Os Irmãos de todas as Lojas de Londres e Westminster e das imediações reunir-se-ão numa COMUNICAÇÃO ANUAL e Festa, em algum Lugar apropriado, no dia de São João Baptista, ou então no dia de São João Evangelista, como a Grande Loja pensa fixar por um novo Regulamento, pois essa reunião ocorreu nos Anos passados no dia de São João Baptista Provido (…)”

A Loja

Entendo que uma Loja de São João encerra em si os dois aspectos básicos da iniciação, tanto o da Consciência – Água, quanto o do Espírito = Fogo, sendo, portanto, um local de iniciação plena, onde os obreiros constroem o Templo traçado pelo G.A.D.U. («Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da Água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus…» – João 3:5)

O nosso corpo físico é o templo do Espírito, portanto somos responsáveis pela sua conservação, quanto aos aspectos materiais, bem como sua manutenção quanto aos aspectos emocionais. Assim, a operatividade dos obreiros dá-se tanto na aprendizagem das oficinas como, e sobretudo, na realização da prática vivencial na Maçonaria e no mundo profano, destacando-se a disciplina como alicerce de procedimento.

Percebo agora um novo significado para o conhecido refrão: São João, São João, acende a fogueira em meu coração. A chama é símbolo do amor que gera a fraternidade, a chama produz a luz, que é símbolo da verdade através da qual alcançamos a liberdade, a chama e sua luz brilham para todos, gerando a igualdade.

Portanto, deduzo que, uma Loja de São João É JUSTA, simbolizada por BAPTISTA, quando os seus obreiros andam na linha horizontal agindo correctamente, como simboliza o ESQUADRO, induzindo-os à autodisciplina que lhes proporciona a liberdade.

A Loja de São João é PERFEITA, simbolizada por EVANGELISTA, quando seus obreiros se curvam humildemente na verticalidade, como simboliza o COMPASSO, apoiados no seu centro (coração – EU SUPERIOR) buscam a evolução consciente através do amor fraternal (fraternidade).

O Esquadro Justo e o Compasso Perfeito entrelaçados como COMPANHEIROS, são ambos SÃO JOÃO (ões) e o núcleo dessa união é a pedra fundamental do Templo Interior, a igualdade, a ser adquirida pela expansão da consciência em sua plenitude, ou seja, de forma profunda, elevada e ampla, enfim, infinita, é o todo e o tudo, símbolo do G.A.D.U.

N. N.