A Agonia do Cristianismo. Na Holanda

Paróquias Perecem na Europa

Holandês Ajuda a Liquidar Igrejas Agonizantes

Por Benjamin Dürr

 

Benjamin Dürr / DER SPIEGEL

Marc de Beyer na igreja de St. Michael em De Bilt, onde várias paróquias se agruparam.

Um êxodo drástico da igreja está em curso na Holanda. Com duas igrejas fechadas a cada semana, um homem tornou-se o principal conselheiro do país sobre como reaproveitar os edifícios, que costumavam ser santos. Alguns são demolidos, enquanto outros acham nova vida como mesquitas, lojas e até mesmo centros de recreação.

 

Os bancos da igreja serão vendidos de acordo com o tamanho. Os mais curtos, de 3,6 metros de comprimento podem ser comprados por € 40 (R$ 96), os bancos mais longos, de seis metros, por € 60 (R$ 140). Os fiéis na cidade holandesa de Bilthoven já carregaram 17 bancos para fora de seu santuário.

Os bancos não serão um problema, diz Marc de Beyer. Mas, o órgão e à pia baptismal pesando centenas de quilos na parte de trás da igreja serão mais difíceis.

Marc de Beyer é um historiador de arte em Utrecht, localizada a cerca de meia hora de trem de Amsterdam, mas também se poderia chamá-lo de liquidante. Ele é um homem que fecha igrejas. Quando uma paróquia é dissolvida, quando uma igreja é fechada, de Beyer está lá. E ele tem muito a fazer.

Cerca de 4.400 edifícios de igreja permanecem na  Holanda  . Mas, a cada semana, cerca de dois deles fecham suas portas para sempre. Isto afeta principalmente  os católicos , que serão forçados a descartar metade de suas igrejas nos próximos anos.

“E isso é apenas o começo”, diz de Beyer.

Sua voz ecoa na construção abobadada, onde o sol coado do outono incide lateralmente através das vidraças. De Beyer se coloca atrás de um bloco tão grande quanto um freezer comercial. Até 01 de julho de 2006, isso era o altar na igreja de St. Lawrence em Bilthoven, ao norte de Utrecht. Mas, naquele dia a Igreja se tornou bem imóvel e o altar onde os fiéis tinham sido abençoados, casados e velados tornou-se um pedaço de cimento.

No início, houve uma discussão sobre a conversão da igreja em um centro comunitário. Mas, os católicos queriam vender rapidamente, e uma empresa construtora comprou a propriedade consagrada. No próximo ano, St. Lawrence será demolida, abrindo espaço para um condomínio de 62 apartamentos em seu lugar.

“Arquitetonicamente, a perda pode ser suportável”, diz de Beyer. A igreja foi construída na década de 60, quando as comunidades católicas em Bilthoven e Bilt De cresceram tão rapidamente que os dois distritos precisaram de três igrejas entre si. Ela foi construída de forma rápida e simples.

Bancos vazios

Durante anos, o número de  fiéis  vem diminuindo. A tendência varreu toda a Europa Ocidental, com as igrejas forçadas a fechar na França e também na Bélgica. Mas, na Holanda, o recuo do cristianismo na sociedade tem sido particularmente drástico. A Igreja Protestante, sozinha, perde cerca de 60.000 membros a cada ano. Nesse ritmo, ela deixará de existir por volta de 2050, dizem os chefes da igreja.

A tendência levou às fusões de igrejas de várias comunidades. St. Lawrence em Bilthoven consolidou sua congregação com a de oito outras igrejas. Mas, nenhuma dessas consolidações precisa mais do que uma igreja, um órgão, e um altar de crucifixo. Todos os outros cálices, cruzes e bancos precisam ser descartados. O problema, diz de Beyer, é que itens santos não vendem muito bem. Os edifícios em si, por outro lado, encontram novos inquilinos rapidamente.

Em Helmond, cerca de 80 quilômetros ao sul de Bilthoven, até mesmo um supermercado se mudou para uma igreja extinta em 2001. Uma livraria foi aberta em uma antiga igreja dominicana em Maastricht, enquanto que igrejas em Utrecht e Amesterdam foram transformadas em mesquitas. Dos cerca de 17 milhões de cidadãos dos Países Baixos, cerca de 850 mil praticam o islamismo. Ainda assim, muitas outras igrejas estão simplesmente sendo demolidas.

Durante os últimos três anos, de Beyer vem fechando igrejas. Ele estava lá quando um “plano estratégico” foi desenvolvido para transformá-la o Convento de Santa Catarina em um museu. Juntamente com a fundação para o património de arte religiosa, ele também escreveu um manual com instruções para o fechamento de uma igreja em seis etapas – desde o estoque até o desinvestimento. Ele vem sendo distribuídos por diferentes paróquias desde abril, e em breve será traduzido para o inglês.

“A Melhor Solução”

Recentemente, de Beyer participou de um simpósio na Alemanha, e logo ele falará na Bélgica. Afinal, as igrejas não estão morrendo apenas na Holanda. Quando ele chega a ponto 5.4 em seu manual, intitulado “demolição”, as pessoas são frequentemente obrigadas a recuperar o fôlego, diz ele.

“Mas, quando uma igreja tem pouca finalidade, valor emocional ou significado histórico, esta pode ser a melhor solução”, acrescenta de Beyer.

Ainda assim, de Beyer se considera um salvador de templos. Ele quer preservar o valor deles. Suas instruções são destinadas a ajudar a distinguir entre o valioso e o sem valor. Com frequência, ele se apresenta em igrejas para oferecer orientação e apoio. Bancos e Bíblias são normalmente vendidos aos membros da congregação.

“Altares muitas vezes encontram nova colocação na Europa Oriental”, diz de Beyer. “Há uma grande demanda lá porque novas igrejas estão sempre sendo construídas.”

Algumas semanas atrás, uma paróquia em Arnheim decidiu por uma utilização totalmente nova para a sua igreja, que estava vazio por cerca de cinco anos. Em final de novembro, a igreja de St. Joseph abriu um parque de skate, com rampas e obstáculos na nave, cobrando € 3,50 ( R$ 8,50) para passar um dia patinando entre as figuras de santos. Desde então, a freqüência à igreja tem sido respeitável.

(Tradução José Filardo)

http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,805075,00.html