Tradução José Filardo
A verdade revelada: o dinheiro é apenas um “papagaio”, e os bancos estão deitando e rolando
A dose de honestidade do Banco da Inglaterra lança as bases teóricas da austeridade pela janela
Na década de 30, Henry Ford teria dito que era uma coisa boa que a maioria dos americanos não soubesse como o sistema bancário realmente funciona, porque se eles o fizessem, “haveria uma revolução antes da manhã de amanhã.”
Na semana passada, algo notável aconteceu. O Banco da Inglaterra soltou os cachorros. Em um artigo chamado ” A Criação de moeda na Economia Moderna “, de coautoria de três economistas da Direção de Análise Monetária do Banco, declarou abertamente que as hipóteses mais comuns de como funcionam os bancos são simplesmente erradas, e que o tipo de posição heterodoxa e populista mais comumente associada a grupos como Occupy Wall Street estão corretas. Ao fazê-lo, eles efetivamente jogaram toda a base teórica da austeridade pela janela.
Para se ter uma noção de quão radical é a nova posição do Banco, considere o ponto de vista convencional, que continua a ser a base de todo o debate respeitável sobre política pública. As pessoas colocam seu dinheiro em bancos. Os bancos emprestam esse dinheiro a juros – os consumidores ou a empresários dispostos a investir em algum empreendimento rentável. É verdade, o sistema de reserva fracionária não permite que os bancos emprestem muito mais do que mantêm em reserva, e é verdade, se a poupança não é suficiente, os bancos privados podem buscar empréstimos junto ao banco central.
O banco central pode imprimir tanto dinheiro quanto desejar. Mas ele também é cuidadoso em não imprimir muito. Na verdade, muitas vezes nos dizem que é por isso que os bancos centrais independentes existem. Se os governos pudessem imprimir dinheiro por si mesmos, eles certamente colocariam muito dele no mercado, e a inflação resultante jogaria a economia no caos. Instituições como o Banco da Inglaterra ou o Federal Reserve dos EUA foram criadas para regular cuidadosamente a oferta de dinheiro, para evitar a inflação. É por isso que eles estão proibidos de financiar diretamente o governo, por exemplo, através da compra de títulos do Tesouro, mas, em vez disso, financiam a atividade econômica privada sobre a qual o governo cobra impostos.
É esse entendimento que nos permite continuar a falar de dinheiro, como um recurso limitado, como bauxita ou petróleo, para dizer “simplesmente, não há dinheiro suficiente” para financiar programas sociais, para falar da imoralidade da dívida pública ou da despesa pública “sobrecarregando” o setor privado. O que o Banco da Inglaterra admitiu esta semana é que nada disso é verdade. Para citar seu próprio resumo inicial: “Ao invés de os bancos receber depósitos quando as famílias economizam e, em seguida, emprestá-los, empréstimos bancários criam depósitos” … “Em tempos normais, o banco central não fixa a quantidade de dinheiro em circulação, nem o dinheiro do central dinheiro é “multiplicado” em mais empréstimos e depósitos.”
Em outras palavras, tudo o que sabemos não é apenas errado – é contraproducente. Quando os bancos fazem empréstimos, eles criam dinheiro. Isso ocorre porque o dinheiro é realmente apenas um “papagaio”. O papel do banco central é presidir uma ordem jurídica que efetivamente conceda aos bancos o direito exclusivo de criar “notas promissórias” de um certo tipo, aquele que o governo reconhecerá como meio de pagamento legal por sua vontade de aceitá-los como pagamento de impostos. Não há realmente nenhum limite de quanto os bancos podem criar, desde que eles possam encontrar alguém disposto a pedir empréstimos. Eles nunca serão pegos de calça curta, pela simples razão de que os mutuários, de modo geral, não pedem dinheiro e o colocam sob seus colchões; em última análise, todo o dinheiro de empréstimos bancários acabará de volta em algum banco. Assim, para o sistema bancário como um todo, cada empréstimo se torna um outro depósito. Além do mais, na medida em que os bancos precisam adquirir fundos do banco central, eles podem pedir emprestado tanto quanto eles quiseram; tudo o que isso realmente faz é definir a taxa de juros, o custo do dinheiro, e não a sua quantidade. Desde o início da recessão, os bancos centrais dos EUA e britânicos reduziram esse custo a quase nada. Na verdade, com a “liberação quantitativa” eles efetivamente bombearam o máximo de dinheiro que puderem nos bancos, sem produzir quaisquer efeitos inflacionários.
O que isso significa é que o limite real da quantidade de dinheiro em circulação não é o quanto o banco central está disposto a emprestar, mas quanto o governo, as empresas e os cidadãos comuns, estão dispostos a pedir emprestado. Os gastos do governo são o principal motor de tudo isto (e o documento não admite, se você o ler com cuidado, que o banco central financia o governo). Então, não se trata de dizer que os gastos públicos “oneram” o investimento privado. É exatamente o oposto.
Por que o Banco da Inglaterra, de repente admite tudo isso? Bem, uma das razões é porque, obviamente, é verdade. O trabalho do Banco é realmente administrar o sistema, e ultimamente, o sistema não tem funcionado particularmente bem. É possível que ele decidiu que a manutenção da versão fantasiosa da economia que tem se mostrado tão conveniente para os ricos é simplesmente um luxo que não podemos mais pagar.
Mas, politicamente, está assumindo um risco enorme. Basta considerar o que poderia acontecer se os detentores de hipotecas perceberam o dinheiro que o banco lhes emprestou não é, realmente, as economias da vida de alguns pensionistas econômicos, mas algo que o banco simplesmente criou por meio de sua posse de uma varinha mágica que nós, o público, lhe entregamos.
Historicamente, o Banco da Inglaterra tendeu a ser um termômetro, assumindo posições aparentemente radicais que, finalmente, se tornaram novas ortodoxias. Se isso é o que está acontecendo aqui, podemos em breve estar em condições de saber se Henry Ford estava certo.
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