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Filosofia Iniciática do Grau de Aprendiz Maçom

Publicado em FREEMASON.PT

Por Maxell Egens

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A instrução simbólica

A Palavra Sagrada que é dada ao novo iniciado depois da sua consagração e admissão definitiva na Ordem é, como temos visto, um símbolo de instrução verbal sobre os Princípios da Verdade que cada Aprendiz tem o direito de esperar dos que se encontram mais adiantados que ele na Senda da Iniciação.

Sendo a Maçonaria, na sua verdadeira essência tradicional e universal, uma Escola Iniciática, ou seja, uma Academia destinada à Aprendizagem, ao Exercício e ao Magistério da Verdade e da Virtude, é natural que esta instrução deva ser esperada por parte dos menos adiantados e deva ser dada por aqueles que se encontram a isto capacitados. Esta comunhão espiritual de estudos e aspirações é a razão pela qual existem as Lojas e outros agrupamentos Maçónicos.

A instrução deve ser dada como se faz com a palavra: “ao ouvido”, ou em secreto entendimento e “letra por letra”, isto é, partindo dos primeiros elementos e com a activa cooperação do discípulo, cujo progresso não depende do que recebe, mas do que encontra por si mesmo, pelos seus próprios esforços, pelo uso que faz da primeira instrução recebida com meio e instrumento para descobrir a Verdade.

Este método caracteriza e distingue a instrução iniciática da instrução profana. Enquanto o objectivo desta última é simplesmente o de comunicar determinados conceitos ou conhecimentos, preocupando-se menos com a opinião que o discípulo possa formar sobre os mesmos, que da sua capacidade para repeti-los tal como lhe foram comunicados. Para a instrução iniciática isto representa unicamente o ponto de partida, e o essencial é a opinião que cada um forma dos seus próprios esforços e raciocínio sobre aquilo que recebeu.

A uma primeira e elementar compreensão dos Princípios ou rudimentos da Verdade, que representa a opinião e o resultado do esforço pessoal do instrutor – a primeira letra da palavra da Sabedoria – deve-se seguir um período silencioso de estudo e reflexão individual, no qual o discípulo aprende a pensar por si próprio, avançando pelos seus próprios esforços pelo Caminho que lhe foi indicado. Este estudo e esta reflexão, encontram o seu amadurecimento na descoberta da segunda letra, que é aquela que o discípulo deve dar ao Instrutor, em resposta à primeira, com o objectivo de que possa ser julgado digno e capacitado a receber a terceira, que é de um tipo inteiramente diferente das duas primeiras.

O tríplice sentido

As três letras da Palavra simbolizam efectivamente o tríplice sentido – exotérico, esotérico e transcendente – de toda expressão simbólica ou verbal da Verdade.

O primeiro sentido é aquele que corresponde à apresentação exterior de determinado ensinamento ou Doutrina. Na Maçonaria esta apresentação consiste nos símbolos, cerimónias e alegorias que caracterizam a Ordem. Na religião constitui os dogmas, cerimónias e obrigações exteriores. Na Ciência está representada pela observação analítica que nos familiariza com as propriedades exteriores das coisas. Na Arte, indica aquele conjunto de regras e cânones que formam a veste exterior e a técnica do artista. Esta é a letra que comumente se escreve.

Unicamente por intermédio do esforço pessoal, com o estudo, a reflexão e a aplicação individual, pode-se chegar ao sentido esotérico da Verdade, a Doutrina Interior é o verdadeiro segredo Maçónico, o místico ou o secreto entendimento da Verdade apresentada exteriormente nas alegorias da construção e dos seus instrumentos. Esta segunda letra não pode, portanto, ser escrita e também não o pode a seguinte que somente se recebe pelo facto de possuir a segunda.

Assim como o Maçom deve chegar pelos seus próprios esforços ao conhecimento da Doutrina Iniciática que fará dele um verdadeiro filósofo, o mesmo caminho acha-se aberto no campo da religião para o metafísico que busca o sentido profundo dos dogmas e símbolos religiosos e o valor operativo das suas cerimónias quando for entendido no seu significado espiritual. Assim, igualmente, o sincero e ardente buscador da Verdade não se circunscreverá à observação exterior dos fenómenos e das leis que governam a sua causalidade imediata, senão que esforçar-se-á por reconhecer e encontrar os Princípios que os regem e aos quais obedecem.

O Artista não será digno de tal nome até que a arte daquele que tenha aprendido o domínio puramente técnico ou formal, não seja capaz de expressar a sua própria vida e os seus sentimentos interiores.

Por conseguinte, em qualquer campo da vida temos de progredir constantemente desde um conhecimento inicial do concreto para o reconhecimento do mais profundo que nos inicia subjectivamente na realidade da coisa conhecida. Este passo, simbolizado na Maçonaria pela passagem da primeira à segunda letra da Verdade, ou do primeiro ao segundo grau da iniciação, é uma preparação necessária para chegar à terceira letra ou terceiro sentido da Verdade, que corresponde ao terceiro grau da Iniciação, ao Magistério que dá a capacidade de falar ou realizar o que individualmente tenha sido assimilado.

Os três anos

Os três anos do Aprendiz e os três passos da sua marcha, ainda lembrando as três viagens da iniciação, são evidentemente o símbolo do tríplice período que marcará as etapas do seu estudo e do seu progresso.

Estes três períodos referem-se particularmente às três artes fundamentais (a Gramática, a Lógica e a Retórica) a cujo estudo se deve aplicar, ainda que deva contentar-se com dominar unicamente a primeira, por ser a perfeição da segunda e da terceira, respectivamente, o objecto do domínio dos Companheiros e Mestres.

A primeira entre as sete “artes liberais” – a Gramática – refere-se ao conhecimento das letras (em grego gramática: “sinais, caracteres ou letras”), isto é, ao conhecimento dos Princípios ou elementos simbólicos com os quais é representada a Verdade. Neste estudo é onde principalmente deve ser demonstrada a capacidade do Aprendiz, que ainda não sabe ler nem escrever” a linguagem da Verdade, senão que se exercita tanto num como no outro, soletrando ou estudando uma por uma as letras ou Princípios Elementares nos quais se pode resumir e nos quais pode ser traçada a origem de todas as coisas.

Há também, evidente referência dos três anos do Aprendiz ao conhecimento dos três primeiros “números” ou Princípios Matemáticos do Universo: o número um, ou seja, a Unidade do Todo; o número dois, ou seja, a Dualidade da Manifestação, e o número três, ou seja, o Ternário da Perfeição.

Este conhecimento filosófico dos três números, sobre o qual falaremos logo após, é de verdadeira e fundamental importância, enquanto compendia e sintetiza em si todo o conhecimento relativo ao Mistério Supremo das coisas. Pitágoras o expressou admiravelmente nas palavras: A Unidade é a Lei de Deus (ou seja, do Primeiro Princípio, da Causa Imanente e Pra Antinómica), o número (nascido da multiplicação da Unidade e por meio da Dualidade) é a Lei do Universo, a Evolução (expressão da Lei do Ternário) é a Lei da Natureza.

Ou, segundo as palavras de Ramaseum de Tebas: Tudo está contido e se conserva no Um, tudo se modifica e se transforma por três: a Mónada criou a Díade, a Díade produziu a Tríade, e a Tríade brilha no Universo inteiro.

A unidade do todo

A Primeira Lei ou Princípio, cujo reconhecimento caracteriza e distingue constantemente ao Verdadeiro filósofo iniciado, é a da Unidade do Todo ou, como diziam os antigos: “En to Pan” – “Uno o Todo”. O Todo é Uno na sua Realidade, na sua Essência e Substância íntima e fundamental; tudo vem da Unidade; tudo está contido e sustentado pela Unidade; tudo se conserva, vive, é e existe na Unidade; tudo se dissolve e desaparece na Unidade.

A Unidade está simbolizada naturalmente pelo ponto, origem da linha recta, do círculo e de toda figura geométrica (o ponto superior que reflectindo-se no seu aspecto dual, representado pelos dois pontos inferiores, forma os três pontos (que caracterizam os maçons).

O Ponto, enquanto simboliza a Unidade, é um centro, o Centro do Todo, o Centro Omnipresente, no qual estão contidos, na sua totalidade e unidade, o espaço, o tempo e todas as coisas existentes. Não existe lugar onde não se encontre e que não seja uma manifestação ou aspecto parcial desta Sublime Unidade que constitui a Eternidade e o Reino do Absoluto.

Este Todo, é evidentemente, o ser, isto é, o que é Ego sum qui sum; heis aqui a definição da Realidade que constitui o Grande Todo, a Essência e Substância de todas as coisas, potencialmente contido em todo o “ser” e parcialmente manifestado em toda a existência, e no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.

O conhecimento do Uno (um conhecimento que para ser tal deve superar a ilusão da dualidade, entre “sujeito conhecedor” e “objecto conhecido”, que é a base de todo conhecimento ordinário) é o objecto supremo de toda filosofia e de toda religião: todo conhecimento relativo que se funde neste reconhecimento da Unidade do Primeiro Princípio que tem a sua base na Realidade; toda ciência ou conhecimento que dele se descuidar, não será a verdadeira ciência nem o verdadeiro conhecimento, uma vez que descansa fundamentalmente na ilusão.

Conhecer a Unidade do Todo, é pois, conhecer a Realidade, “o que é” verdadeiramente; e não a reconhecer, ou admitir implicitamente que pode haver dois princípios fundamentais e antinómicos, ou que não há unidade e identidade fundamental entre duas coisas ou objectos em aparência diferentes, significa viver ainda no Reino da Ilusão ou na aparência das coisas e não saber discernir entre o real e o ilusório.

A Luz Maçónica consiste neste discernimento fundamental, que nos faz progredir constantemente em inteligência desde o Ocidente, que é o Reino da Ilusão, da Multiplicidade e da Aparência, em direcção ao Oriente, que é o Reino do Real, da Unidade e do Ser. No Ocidente vemos o Uno manifestado na diversidade de seres e coisas diversas, sem aparentes laços ou relações entre si, enquanto no Oriente reconhecemos a Unidade na multiplicidade (Unidade essencial, substancial e imanente, numa multiplicidade aparente, contingente e transitória) e o laço ou relação interior que unifica a multiplicidade exterior.

Cada ponto do espaço é um centro e um aspecto do Ser, um Centro ou aspecto desta Unidade, da que tende a reproduzir em si mesmo as infinitas potencialidades. Assim pois, no infinitamente pequeno está contido o Mistério do Todo e do Infinito, e em cada aspecto do Ser, existem indistintamente todas as possibilidades do Ser e da Unidade.

A linha recta

A linha recta, produzida pelo movimento do ponto de um a outro extremo (representados pelos dois infinitos), é o emblema da vida individualizada, nascida da Unidade do Ser, assim como de todo movimento ou passo do ponto numa infinita sucessão de pontos, que caracterizam o Espaço, ou a Eternidade na infinita sucessão de momentos que formam o Tempo, tal como vulgarmente o conhecemos.

Assim como na mecânica a linha recta representa uma força, e a direcção em que ela se aplica na Maçonaria representa o progresso rectilíneo, que é a resultante da força individual potencialmente encerrada no ponto ou Centro do nosso ser, aplicada naquela exacta direcção que dá como produto natural a evolução ou “desenvolvimento progressivo e progressista” das potencialidades latentes nas virtudes ou poderes activos.

Este progresso individual, simbolizado pela linha recta, está muito bem representado pelo prumo, que mostra o esforço vertical de cada ser e de toda a Vida no seu conjunto, de baixo para cima, desde a atracção dos instintos e das tendências materiais escravizadoras, à atracção de um Poder, de uma Lei ou Ideal superior, que é a luz do Sol para a vegetação e os seres orgânicos, e a Luz interior da consciência para o homem e os seres conscientes. Este esforço vertical é condição necessária para toda finalidade ou efeito construtivo.

Assim como sem o prumo não seria possível dispor verticalmente as pedras na posição mais adequada à estabilidade e progresso de uma construção, seria também impossível o progresso individual do homem se todos os seus pensamentos, aspirações e acções não se modelassem sobre uma mesma linha recta, no sentido oposto à atracção das tendências interiores, elevando-se gradualmente até a percepção das suas possibilidades superiores.

Finalmente, a linha recta representa uma relação ininterrupta entre os dois infinitos que marcam os seus limites extremos, isto é, entre os dois aspectos antinómicos e complementares da Unidade Mãe, fazendo-nos ver uma vez mais, a unidade fundamental da Dualidade Aparente no mundo manifestado.

A dualidade da manifestação

Ainda que tudo seja essência e realidade, tudo se manifesta e aparece como dois. Unidade e Dualidade, estão assim, intimamente entrelaçadas, indicando a primeira o Reino Absoluto, e a segunda, a sua expressão aparente e relativa, sem que haja nenhuma separação verdadeiramente entre estes dois aspectos diferentes da mesma Realidade.

Assim como a Unidade caracteriza o Ser (no qual não pode existir nenhuma diferença ou antinomia), assim igualmente, a Dualidade expressa a existência nas suas múltiplas formas, entrelaçadas, por assim dizer, nos pares de opostos, que constituem o selo que marca o mundo dos efeitos e a Lei que governa toda a manifestação.

A dualidade começa no próprio domínio da consciência, com a distinção entre “eu” e “aquilo”, entre, o sujeito e o objecto (sujeito conhecedor e objecto conhecido), constituindo assim o fundamento de todo o nosso conhecimento e experiência, tanto interior como exterior. Não deve, pois, surpreender-nos que estando o sentimento de dualidade tão fortemente enraizado na ilusão da nossa personalidade, seja difícil subtrairmo-nos à mesma e chegar assim à perfeita consciência da Unidade transcendente do Todo, na qual a ilusão da dualidade – que forma a base do nosso pensamento ordinário – esteja superada por completo.

Temos dois olhos para ver, aos quais correspondem dois ouvidos e dois diferentes hemisférios cerebrais, como instrumentos orgânicos da nossa inteligência, e duas mãos e dois pés, instrumentos da nossa vontade. Como o nosso pensamento ordinário baseia-se naquilo que vemos e ouvimos, é evidente que a nossa visão exterior das coisas seja invariavelmente “marcada” por esta dualidade, misticamente simbolizada pela Árvore da Ciência, do Bem e do Mal, comendo de cujo fruto se perde momentaneamente a consciência da Unidade, que, entretanto, constitui a nossa Sabedoria instintiva e primordial (anterior à queda do domínio dual da consciência material).

Somente quando aprendemos, por meio do discernimento e da abstracção filosófica, a unificar os dois aspectos da nossa visão exterior por meio do olho simples da nossa consciência interna, chegamos ao conhecimento da Realidade (que é o conhecimento da Unidade), e a ilusão da Dualidade e da Multiplicidade perde inteiramente o poder que exerceu sobre nós.

Então, o “eu” identifica-se com “aquilo”, o sujeito com o objecto, o conhecedor com o conhecido, e rasga-se para sempre o véu atrás do qual Isis (o Mistério Supremo da Natureza) se esconde dos olhares profanos. Mas, enquanto isso, o Véu da Ilusão permanece estendido entre as duas colunas, e a ciência ordinária – a ciência que se baseia na observação e na experiência que provêm da ilusão dos sentidos e é impotente para levantá-lo.

As duas colunas

As duas colunas que se encontram no ocidente e à entrada do Templo da Sabedoria são o símbolo do aspecto dual de toda a nossa experiência no mundo objectivo ou Reino das Sensações.

Representam os dois princípios complementares humanizados nos nossos dois olhos, na dualidade manifestada em quase todos os nossos órgãos, nos dois lados, direito e esquerdo, do nosso organismo, e nos dois sexos que se integram à espécie humana e se reflectem em todos os reinos da vida e da natureza.

Cosmicamente correspondem aos dois Princípios da Actividade e da Inércia, da Energia e da Matéria, da Essência e da Substância, representados pelo enxofre e o Sal na câmara de reflexões e, metafisicamente, pelos dois aspectos masculino e feminino da Divindade, que como Pai e Mãe Celestes, como deuses e deusas, nos seus aspectos particulares, encontram-se praticamente em todas as religiões.

O reconhecimento individual da Divindade, sob o aspecto de Pai ou de Mãe, parece ter sido instintivo onde queira que a religião tenha sido efectivamente vivida. Foi sempre mais fácil estabelecer aquela relação individual com a Divindade, revelada pela primeira pergunta do testamento Maçónico, considerando-a como um Princípio Abstracto, afastado da nossa percepção e experiência directa, que faz exclamar às almas mais simples, como a Madalena: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram”.

O Princípio de Vida, é pois, em nós, nosso Pai e nossa Mãe, e o Pai-Mãe do Universo e de todos os seres. Algumas religiões dão mais importância a um do que a outro destes aspectos, na realidade complementares e inseparáveis da Realidade Única. Não é este o local mais apropriado para se fazer um estudo mais detalhado sobre este interessantíssimo tema, e contentar-nos-emos com transcrever, sobre o valor da preferência de um ou de outro conceito, as palavras de um culto e sábio orientalista contemporâneo: “O Pai e a Mãe não brigam entre si (pela adoração ou reconhecimento interior de um ou do outro), ainda que os seus filhos possam fazê-lo.

Espaço e tempo

No que diz respeito ao domínio do manifestado, o Macrocosmo, as mesmas duas colunas podem considerar-se como símbolos do espaço e do tempo, ou seja, das duas realidades fundamentais nas quais parece ter sido fundamentado e baseado o Universo que conhecemos.

Espaço e Tempo, da mesma que Energia e Matéria, são as realidades finais que a ciência positiva admite como condições indispensáveis de toda existência física, fazendo abstracção das quais nada do que existe e é objectivamente percebido, poderá ser concebido. Ainda que na teoria einsteiniana se unifiquem (fazendo do tempo uma quarta dimensão do espaço) e se trate de pôr em evidência a sua relatividade, seguem constituindo os alicerces inalteráveis, o marco primordial e o pressuposto relativamente invariável do nosso Templo Cósmico.

Como a dualidade não é, em verdade, nada mais do que a soma dos dois aspectos complementares de um Princípio Único, ao qual revelam objectivamente, e do qual expressam respectivamente a Imanência e a Transição, o Espaço é, pois, no fundo, um só aspecto relativo do Ser, que tudo contém e compreende, pelo facto de que tudo é, e o Tempo é outro aspecto desta Suprema Realidade considerada como o dinâmico manancial do Grande Fluxo Cósmico.

Se quisermos considerar o Tempo e o Espaço como um só elemento conservador, por assim dizer, de toda manifestação objectiva, teremos no Tempo-Espaço uma das duas colunas da Dualidade básica do Templo da Natureza, sendo a integral Energia-Matéria a outra coluna ou elemento que constitui a soma de todas as forças ou aparências que agem, se assentam ou se estabelecem dentro do primeiro elemento.

De qualquer forma, considerando o universo e os seus elementos formadores, não nos será possível evitar um conceito fundamentalmente dual desses primeiros elementos. Podemos reduzir o Templo ao Espaço, considerando-o como um aspecto deste, e a Matéria à Energia (ou reciprocamente), mas, se quisermos chegar à unidade, temos de transcendê-los a ambos, e nenhum outro elemento poderá constituir a síntese suprema fora do próprio Ser que tudo é, e constitui a Unidade de Tudo.

Uma vez que o aspecto dual do Universo e do Primeiro Princípio que o origina encontra-se com as duas colunas no Ocidente e à entrada do Místico Templo da verdadeira Ciência, é natural que este aspecto deva ser superado. Realmente, no Oriente, as duas colunas (representadas pelo Sol e a Lua) unificam-se no Delta, do qual falaremos mais adiante, assim como o enxofre e o sal sintetizam-se no mercúrio, que reintegra na consciência do homem a Unidade da Vida, dividida na manifestação.

O ângulo

O ângulo, no qual duas linhas diferentes partem de um único ponto originário, divergindo ao prolongar-se à medida em que se afastam da sua origem, representa outra imagem característica da dualidade, proveniente de uma unidade pré antinómica e imanente, na qual está a sua origem e a sua raiz.

O ponto central no qual se unem e do qual partem as duas linhas divergentes, corresponde ao Oriente, o Mundo da Realidade, no qual tudo permanece no estado da Unidade Indiferenciada e Indivisível. A parte oposta corresponde ao Ocidente, o domínio da realidade sensível, na qual a própria Realidade Transcendente aparece dividida ou separada nos dois princípios simbolizados pelas duas colunas.

Enquanto a manifestação emana constantemente do Oriente ao Ocidente, ou seja, do domínio da Realidade ao da aparência, da Essência à Substância, do Ser à forma e do Espírito à matéria, o conhecimento ou progresso iniciático, representado pela Luz Maçónica, caminha em sentido contrário, do Ocidente ao Oriente, ou seja, desde os extremos do ângulo em direcção à sua origem. (Perceba-se aqui, o estreito parentesco existente entre as palavras oriente e origem, ambas derivadas do verbo latino orior, “surgir, emanar, levantar-se”)

O esquadro e o compasso

O esquadro e o compasso, separados ou unidos na forma conhecida e usada como símbolo Maçónico, formam dois diferentes ângulos, um móvel e com o vértice voltado para cima ou para o Ocidente.

O ângulo recto, formado pelo esquadro, é o emblema da fixidez, estabilidade e aparente inexorabilidade das Leis Físicas que governam o Reino do Ocidente ou da Matéria. Os dois princípios ou lados que concorrem a defini-lo encontram-se sempre à mesma distância angular de 90 graus, que corresponde à quarta parte da circunferência (que, de per si, representa a Unidade dentro do ciclo da continuidade) e ao ângulo do quadrado. O esquadro é, pois, outro símbolo da crucificação da qual deve libertar-se rectificando e dirigindo para o centro todos os seus esforços.

O ângulo recto é também, o símbolo da luta, dos contrastes e das oposições que reinam no mundo sensível, de todas as desarmonias exteriores, que devem ser enfrentadas e resolvidas na Harmonia que provém do reconhecimento da unidade interior. O compasso é o símbolo deste reconhecimento e desta harmonia, que deve unir-se ao esquadro e dominar o mundo objectivo por meio da compreensão de uma Lei e de uma Realidade Superior. Por intermédio do seu ângulo de 60 graus, no qual está ordinariamente disposto (o ângulo do triângulo equilátero), mostra o ternário superior que deve dominar sobre o quaternário inferior, ou seja, o perfeito domínio do Céu sobre a Terra.

O céu e a terra

O céu e a terra, indicados emblematicamente pelo esquadro e o compasso, e entrelaçados da mesma forma um com o outro, por serem aspectos respectivamente superior e inferior de uma mesma coisa, não representam nada mais que o Oriente e o Ocidente, com os quais já nos familiarizamos interpretando o valor esotérico da Cerimónia de Iniciação.

O Céu, ou seja, o Mundo da Realidade Transcendente, apresenta-se à nossa consciência através do uso do compasso ou da faculdade compreensiva e comparativa da mente que conduz ao estudo das analogias, à indução e generalização das ideias, com as quais chega-se progressivamente do relativo ao absoluto.

A Terra, ou seja, o Mundo da Aparência ou Realidade Objectiva, apresenta-se igualmente por meio do esquadro da razão, ou inteligência concreta e racional, que marca os limites fixados pelas suas leis, por meio da lógica e do juízo, com um determinismo do qual aparentemente não podemos escapar.

Entretanto, o Caminho da Liberdade encontra-se aqui mesmo, por meio do uso destas leis no seu aspecto progressista e construtivo conforme as nossas aspirações verticais, indicadas pelo prumo.

Cabe aqui citar outra vez o axioma hermético ao qual fizermos referência quando falamos da “câmara de reflexões”: visita interiora terrae retificando invenies occultum lapidem. Devemos adentrar à realidade do próprio mundo objectivo, e não nos contentarmos com o seu estudo ou exame puramente exterior. Então, rectificando constantemente a nossa visão e os esforços da nossa inteligência (como demonstra a cuidadosa rectidão dos três passos da marcha do Aprendiz) atingiremos o uso do compasso em união com o esquadro, ou seja, o conhecimento da Verdade que nos liberta da ilusão.

As linhas paralelas

Assim como o ponto com o seu movimento directo engendra uma linha recta, assim também os dois pontos, movendo-se numa mesma direcção rectilínea, produzem as duas paralelas, símbolo característico da dualidade, ou seja, dos dois princípios cuja actividade ocorre paralela e complementarmente, à imagem dos pares de rodas que suportam um veículo e dos trilhos sobre os quais se apoiam.

Voltaremos a ver novamente este símbolo das paralelas, e outros aos quais aqui temos feito referência sumária, no grau de Mestre, limitando-nos por ora a dizer mais alguma coisa sobre o que eles podem significar para o Aprendiz.

Duas paralelas são efectivamente os dois Caminhos do Norte e do Sul, que são percorridos nas viagens de ida e volta entre o Ocidente e o Oriente, e correspondem às duas colunas nas quais se assentam respectivamente os Aprendizes e os Companheiros. O quadrilongo que constitui o Templo Maçónico, está compreendido entre estas duas paralelas, delimitadas respectivamente pelos seus extremos oriental e ocidental.

Cada viagem de ida, ou progresso, do Ocidente, ao Oriente, corresponde pois a uma idêntica viagem de volta ou regresso, desde o Oriente ao Ocidente, paralelo este ao primeiro, mas dirigido em sentido inverso.

Os dois caminhos paralelos dos quais acabamos de falar não existem tão só simbolicamente dentro do quadrilongo da Loja, senão que também podem-se observar de muitas maneiras sobre o nosso próprio planeta. Por exemplo, como correntes magnéticas que vão respectivamente do Oriente para o Ocidente e reciprocamente, produzidas pelo movimento da terra dentro do campo magnético determinado pela radiação solar, às quais se devem os desvios da bússola.

Assim agem todas as; forças do Universo, segundo a Lei da Dualidade, paralelamente, mas em sentido inverso uma em relação à outra, prevalecendo por um lado o movimento centrífugo ou de extensão do interior ao exterior, e pelo outro, o movimento centrípeto de construção, do exterior ao interior. Este origina a gravidade, aquele a gravitação, duas formas diferentes da Força ou Princípio de Atracção.

Aquilo que é activo interiormente é passivo exteriormente, e vice-versa. Assim deve-se entender o valor das duas colunas, geralmente confundido e mal interpretado pela falta de compreensão desta Lei de Compensação, em consequência da qual ambos os princípios (activo e passivo) se acham presentes em cada um dos dois aspectos, mas agindo em sentido inverso, um em relação ao outro.

O binário

A actividade em duas correntes ou sentidos inversos dos dois Princípios, comparável ao fluxo e refluxo das marés, origina os pares de opostos que se observam onde quer que seja no mundo fenoménico ou exterior, como ocorre na experiência psicológica ou interior.

Assim, a Luz, emanação activa e positiva, efeito do movimento centrífugo ou expansivo, opõe-se às trevas, que podem considerar-se como falta de luz ou luz negativa, efeito de um movimento centrípeto ou de absorção, do exterior ao interior. A primeira tem, pois, uma correspondência moral com a Sabedoria, o Amor e o Altruísmo, que é o desejo de dar; a segunda relaciona-se com a Ignorância, a Paixão e o Egoísmo, que é o desejo e a vontade de receber.

O mesmo pode ser dito do calor e do frio. O primeiro faz dilatar os corpos e os conduz a superar as suas limitações moleculares, do estado, sólido ao líquido, e deste ao gasoso, e do gasoso ao estado radiante, libertando os átomos progressivamente da sua escravidão dentro das moléculas, assim como da lei da Gravidade. Enquanto o segundo, fazendo voltar ao estado líquido os gases e solidificando os líquidos, sujeita-os sempre mais estreitamente a uma forma definida, limitando as suas possibilidades de movimento.

No campo moral, o calor tem uma evidente analogia com o entusiasmo, ou chama interior que nos inflama para qualquer tentativa que seja expressão do nosso ser e dos nossos íntimos desejos. Por seu lado, o frio está constituído pelas considerações materiais e o poder da ilusão que limitam, paralisam, escravizam e entorpecem os nossos esforços.

O mesmo pode ser dito no plano físico, da electricidade positiva e negativa, das acções e reacções moleculares, das duas propriedades opostas da actividade e da inércia, da afinidade química que age em ambos os sentidos, e dos diferentes tropismos visíveis tanto no mundo orgânico como no inorgânico, e no mundo moral, dos diferentes impulsos que nos animam, dos nossos pensamentos e inclinações positivas e negativas, e que nos fazem, respectivamente, activos e passivos.

O Bem e o Mal, a Beleza e a Feiura, a Vida e a Morte, a Fortuna e a Desgraça, a Verdade e o Erro, o Vício e a Virtude; heis aqui outros tantos pares de opostos que dominam no mundo relativo, sendo relativos do ponto de vista da consciência em que se consideram, existindo cada um deles unicamente em relação ao outro, e dissolvendo-se todos na diáfana perfeição do Absoluto.

Estes pares de opostos estão simbolizados pelos quadrados brancos e negros do pavimento de mosaico que parte das duas colunas. O eterno conflito, que parece constituir a mesma essência da vida, tem sido simbolizado pelas diferentes religiões na luta entre os dois Princípios do Bem e do Mal; o Deus Branco e o Deus Negro, Princípio da Vida e o da Actividade, Brahma o Criador e Shiva o destruidor, Ormuz o Princípio da Luz e Arimán o Princípio das Trevas, Zeus e Cronos ou Júpiter e Saturno, Jehova e Satã, Osíris e Tífon entre os egípcios, Baal e Moloc entre os fenícios.

Deuses brancos e deuses negros, ou anjos e demónios, existem praticamente em todas as religiões, símbolos evidentes do impulso evolutivo e progressista das aspirações superiores do homem e da inércia ou gravidade dos instintos e tendências inferiores. Assim pois, o Armageddon ou batalha celeste entre os espíritos da Luz e os espíritos das trevas, ou seja, entre as Forças Evolutivas e Libertadoras e as Forças Involutivas e Escravizadoras, é uma realidade psicológica universal de todos os tempos.

Mas não é menos certo que as duas forças opostas, os dois princípios que aparecem constantemente travando uma luta encarniçada, são dois diferentes aspectos ou manifestações de uma única e mesma Realidade, cujo reconhecimento faz-nos superar o ponto de vista da luta e do conflito, e situa-nos no ponto central da Harmonia que de tudo faz uma Coisa Única.

Diabolus est inversus Dei: não é uma realidade em si mesma, mas um aspecto ou contraparte negativa da manifestação positiva da única Realidade. O conflito entre o Bem e o Mal e o poder deste sobre nós cessam quando reconhecemos aquilo como sendo a única Realidade e o único Poder, e nisto vemos tão somente uma aparência ilusória desprovida de realidade e poder verdadeiros.

O ternário

Todo par de elementos ou princípios opostos e complementares encontra um terceiro elemento, o intermediário equilibrante ou Princípio de Harmonia, reflexo no mundo do relativo da Unidade Pré antinómica originária.

Assim cessa o conflito dos dois opostos e a dualidade faz-se fecunda e se resolve em impulso evolutivo, construtivo e progressista.

O Pai e a Mãe engendram o Filho, Osíris e Isis engendram a Horus, e o Enxofre e o Sal produzem o Mercúrio; Vishnu, o Conservador, posiciona-se entre Brahma o Criador e Shiva o Destruidor; a Arquitrave levanta-se sobre as duas colunas e origina a Porta; o Homem, ou seja, a Criatura Perfeita, nasce da união do Céu e da Terra, realizando a mística união e a expressão do Superior com o Inferior.

2 + 1 = 3

Todo Ternário resulta de uma Dualidade, à qual se lhe agrega uma nova Unidade de mesmo género, que pode considerar-se como a resultante da união dos elementos constitutivos do Binário ou Dualidade. Assim, por exemplo, toda vez que nos esforçamos em unir os dois lados ou linhas divergentes do ângulo por meio de uma linha horizontal, obtemos como resultado um triângulo, isto é, a primeira e mais simples das figuras geométricas.

No caso das ideias, a Verdade encontra-se uma vez examinada a tese e a antítese, os prós e os contras sobre determinado assunto, que nos conduz à solução do problema que nos ocupa, com a síntese dos argumentos favoráveis e dos contrários.

O esquadro, que é um dos símbolos fundamentais da nossa Instituição, nasce da união da perpendicular com o nível. O mesmo se pode dizer do malhete, que não é outra coisa senão o Tau dos antigos iniciados, e o mesmo igualmente da cruz formada pela união de uma linha vertical com uma horizontal.

Nos três casos, a vertical é o símbolo do Princípio Activo ou masculino, que corresponde ao enxofre dos alquimistas e pode considerar-se como o Pai do Universo; a horizontal representa analogamente o Princípio Passivo ou feminino, o sal dos alquimistas, ou seja, a Mãe do Universo. E a união dos dois, forma um novo elemento ou Princípio que torna fecundas e construtivas as possibilidades dos dois primeiros, realizando a Harmonia e originando o Ritmo e o Movimento.

Isto resulta evidentemente pela suástica, ou cruz em movimento, símbolo muito antigo e universal, que representa a Vida que anima os quatro elementos, nascidos da união dos dois elementos primordiais na cruz.

A vida representada pela suástica é o mesmo mercúrio dos filósofos, ou seja, o Filho do Pai e da Mãe celestiais.

Outros significados do Tau e da Cruz dizem respeito a graus diferentes do de Aprendiz, e deles falaremos oportunamente.

Os três pontos

Os três pontos Maçónicos constituem o mais simples e característico emblema do Ternário. Escolhendo estes símbolo juntamente com o esquadro e o compasso, como insígnia da Ordem, os seus fundadores deram prova de uma perspicácia e sabedoria que aqueles que conhecem, o valor oculto das coisas nunca poderá lhes negar.

Estes três pontos sintetizam admiravelmente o Mistério da Unidade, da Dualidade e da Trindade, ou seja do Mistério da Origem de todas as coisas e de todos os seres.

Encontramos estes três pontos, harmonicamente juntos e diferenciados numa Unidade Oriental e numa Dualidade Ocidental, nas três Luzes do Altar, em volta do Livro da Tradição que através dos séculos é portador da Eterna Verdade, e dos instrumentos que são necessários para compreendê-la e aplicá-la.

O ponto superior representa, como é evidente, a Unidade Fundamental ou Primeiro Princípio Pré antinómico, Originário e Imanente, do qual tudo teve origem. É o Absoluto, o Ain-Soph, cabalístico, que existe “em princípio”, e no qual existem em princípio todas as coisas. Brahma, Vishnu e Shiva o Criador, o Conservador e o Destruidor do Universo; Osíris, Isis e Horus, ou seja o Pai, A Mãe e o Filho, formam Nele uma única pessoa e um só ser, uma única e indivisível Realidade. É SAT “o que é” o fundamental Princípio imanente e transcendente de toda existência, o Fulcro Central Imóvel que é Origem e Princípio da Criação.

Os dois pontos inferiores, são igualmente, uma imagem da Dualidade; os dois Princípios que representam as duas colunas, de cuja união e de cujas múltiplas acções e reacções é produzida a multiplicidade fenoménica do Universo. Cada um deles é um diferente aspecto da Unidade Primordial Originária, que permanece indivisa e indivisível na sua dúplice aparente manifestação: um existe enquanto existe o outro, e os dois resolvem-se no Princípio Fundamental do qual tiveram origem. Efectivamente, se aproximarmos os dois pontos inferiores, com movimento igual, ao ponto superior, aproximam-se também, um do outro, e quando se unem a este, unem-se também mutuamente.

Se traçarmos duas linhas entre o ponto superior e os dois pontos inferiores, obteremos o ângulo que expressa, com os seus dois lados emanados de um único vértice, esta mesma dualidade dos dois Princípios, emanações ou aspectos de um só Princípio Originário.

E se traçarmos outra linha que una os dois pontos inferiores, obteremos o triângulo, cuja base, unindo os dois elementos, representa o terceiro, que reproduz em si, no mundo do relativo um novo aspecto contingente da Unidade Pré antinómica Absoluta.

Assim os três pontos mostram isoladamente os três Princípios que constituem a Unidade Originária e a Dualidade da manifestação. A união dos três Elementos primordiais – o enxofre, o sal e o mercúrio, o Pai, a Mãe e o Filho – que tornam fecunda e construtiva a actividade dos três Princípios.

Enquanto o ponto superior corresponde ao Oriente e ao Mundo Absoluto da Realidade (e, na Loja, ao Delta, emblema da Unidade tri-unitária), os dois pontos inferiores correspondem ao Ocidente, ou seja, ao Mundo Relativo, que é o domínio da aparência, e na Loja às duas colunas emblemáticas da Dualidade:

O progresso Maçónico acha-se também, aqui indicado sinteticamente, com o progresso da inteligência, que se ergue sobre o domínio da mente concreta (Reino da Dualidade e dos pares de opostos), estabelecendo-se no sentimento e na consciência da Unidade fundamental de tudo e da identidade essencial de todos os seres, por meio das faculdades superiores da Inteligência, que se baseiam na Unidade, da mesma maneira que a mente concreta baseia a sua lógica e os seus juízos no sentido da Dualidade.

O triângulo

O triângulo, figura geométrica resultante da união de três pontos por meio de três linhas rectas, e mais particularmente o triângulo equilátero ou regular, cujos três lados e ângulos são iguais, tem sido sempre considerado como um símbolo de Perfeição, Harmonia e Sabedoria, e, portanto, do que é Celestial e Divino.

Um triângulo equilátero é, em essência, o Delta Luminoso que é encontrado no Oriente em todas as lojas Maçónicas. O olho que se acha no seu centro é o símbolo da consciência do ser que é o primeiro e fundamental atributo da Realidade. Nada melhor que este símbolo para expressar a Realidade e a sua manifestação ternária nos três lados que o constituem e nada mais apropriado para se colocar naquele simbólico Oriente, no qual unicamente a Realidade pode ser encontrada.

Do triângulo, que forma o Delta propriamente dito, irradiam nos seus três lados outros tantos grupos de raios que terminam numa coroa de nuvens.

Os raios simbolizam a força expansiva do Ser, que de um ponto central infinitesimal estende e preenche o espaço infinito. As nuvens indicam a força centrípeta, produzida como refluxo natural da primeira como movimento de contracção que engendra a condensação das forças irradiadas.

Do Princípio ou Unidade do Ser (representado pelo Delta) manifesta-se, pois, uma dupla corrente positiva e negativa, formada pelos dois Princípios, cuja actividade está relacionada e regulada pelo ritmo que os une, como intermediário equilibrante.

O teorema de Pitágoras

Outro triângulo que possui uma especial importância no simbolismo Maçónico é o triângulo rectângulo, representado pelo esquadro, instrumentos de medida e rectificação do mundo concreto ou da realidade visível. Enquanto o triângulo equilátero mostra principalmente, o esforço da nossa inteligência para se relacionar com os Princípios e o Mundo das causas, o esquadro indica a inteligência racional que se limita ao estudo dos fenómenos e do Mundo dos Efeitos, representando a norma ou regra que deve guiar-nos para proceder rectamente no estudo e na acção.

A importância do triângulo rectângulo evidencia-se no famoso teorema de Pitágoras, cujo valor não se limita à geometria ordinária, sendo assim encontrado entre os símbolos Maçónicos.

O estudo da trigonometria faz-nos ver a importância excepcional do triângulo em geral, em relação às demais figuras geométricas (todas podem reduzir-se ou decompor-se em triângulos), e a aplicação universal das suas propriedades. O próprio quadrilongo que constitui a Loja resolve-se diagonalmente em dois triângulos rectângulos, e outro triângulo rectângulo deveria resultar na união dos três lugares que correspondem às três luzes na sua justa e exacta posição.

Não deve igualmente ser esquecida a propriedade característica dos triângulos, cujos três ângulos formam sempre dois ângulos rectos, isto é, o ângulo cujos dois lados se expandem em linha recta, sendo assim, aquela figura geométrica a expressão ternária circunstanciada das infinitas possibilidades representadas no infinito.

Tétrada e tetraedro

Quatro triângulos unidos pelos seus três lados, de maneira que cada um deles esteja, por cada um dos seus lados, em união com os três restantes, formam as quatro faces do tetraedro ou pirâmide triangular, o primeiro e fundamental entre os cinco sólidos regulares.

Quatro faces e quatro vértices – respectivamente triangulares e triedros – concorrem a formá-lo e mostram como o ternário se resolve e concretiza, dentro das três dimensões especiais num quaternário, originando aquela Tétrada “Manancial Perene da Natureza”, da qual fala Pitágoras.

No tetraedro, os três princípios ou elementos (Enxofre, Sal e Mercúrio, ou Pai, Mãe e Filho), provenientes da Unidade Primordial (o vértice superior do tetraedro) e representados pelas três faces, unem-se intimamente entre si, formando um ângulo triedro, cuja delimitação no mundo da matéria dos três princípios.

Se nos posicionarmos ao lado deste último triângulo, e buscarmos nele o reflexo do Vértice Originário, a Unidade Mãe, que se encontra do outro lado, obteremos outra vez a imagem do Delta, sendo o ponto reflectido pelo vértice o olho sagrado deste.

E se nos fixarmos nas quatro linhas que unem os quatro vértices no centro da figura, obteremos uma estrela de quatro pontas, uma dirigida para cima, para a origem, e as restantes para baixo, para a Manifestação, outra imagem da relação do Princípio Único Original como ternário que o expressa no mundo sensível.

Trindades e trilogias

O estudo do número três não estaria completo sem um exame das diferentes trindades e trilogias, de ordem filosófica, religiosa e moral, que se lhe relacionam.

Encontramos trindades e trilogias em todas as religiões e em todas as filosofias, em todos os povos: sob diferentes nomes encontra-se uma mesma realidade, um igual reconhecimento diferentemente expressado. A trindade mais simples e fundamental do Pai-Mãe-Filho, encontra-se na religião egípcia com os nomes de Osíris-Isis-Horus, na bramânica como Nara-Nâri-Virâj, ou Shiva-Shakti-Bindu, na Caldaica como Anu-Nuah-Bel e outras trindades equivalentes.

No cristianismo, a Mãe desaparece teoricamente para dar lugar ao Espírito Santo, mas, praticamente se conserva no culto à “Mãe de Deus” (seja qual for a definição teológica particular deste culto), comparável com toda a adoração tributada a Isis no Egipto e à que hoje se tributa à deusa Kali ou Shakti (o aspecto feminino ou poder de Shiva) na Índia.

Filosoficamente, o Enxofre, o Sal, e o Mercúrio, como Princípios constitutivos do Universo ou Forças Criadoras primordiais (análogas ao Pai-Mãe-Filho), encontram uma perfeita correspondência nos três gunas Rajas-Tamas-Sattva, ou seja Actividade-Inércia-Ritmos, correspondente o primeiro à força centrífuga ou Princípio de Expansão, o segundo à força centrípeta ou Princípio de Contracção, e o terceiro à força equilibrante ou Princípio do Ritmo ondulatório.

Brahma, Vishnu e Shiva, da trindade brahmânica, devem entender-se como correspondentes aos três gunas, sendo Vishnu, como conservador, o princípio equilibrante entre os dois opostos; Brahma como Criador, a força expansiva; e Shiva como Destruidor, a força de contracção que retorna a si mesma.

Também na filosofia da Índia, encontramos a definição do Ser Supremo como Sat-Chit-Ananda, que no Ser Absoluto é “satisfação em si mesmo”, converte-se na faculdade humana da Vontade, que impulsiona o desejo em direcção à sua satisfação. Estes três princípios correspondem também, aos três atributos divinos da Omnipresença, Omnisciência e Omnipotência.

Outro género de trindade resulta da polaridade entre o céu e a Terra, ou seja entre o Superior e o Inferior, o Oriente e o Ocidente. Entre eles nasce a consciência individualizada, tipificada pelo Homem, que serve de intermediário entre os dois e mutuamente os relaciona. Origina-se assim a distinção entre os três mundos: o objectivo ou exterior, o subjectivo ou interior, o divino ou transcendente, e as três partes do homem Espírito-Alma-Corpo, sendo este último o ponto de contacto entre o mundo exterior e o interior, e o primeiro entre o mundo manifestado e o transcendente.

No sistema Maçónico a trindade está formada pelos três instrumentos de medida que correspondem às três Luzes: o Prumo ou perpendicular, o Nível ou horizontal e o Esquadro, que como vimos tem um valor análogo ao tau e à cruz. O primeiro é o princípio activo que nos impulsiona a progredir, segundo as nossas aspirações verticais; o segundo é o princípio passivo de resistência e persistência que nos instala equilibradamente nas nossas aspirações e as faz madurar e frutificar; e o terceiro é a norma ou regra que faz as nossas acções coerentes com a Verdade e a Virtude.

Os três pilares simbólicos que sustentam a Loja, representados igualmente pelas três Luzes: Sabedoria, Força e Beleza, constituem outra interessante trilogia. A Sabedoria, que corresponde ao Venerável Mestre, é a faculdade inventiva, ou seja a Inteligência Criadora, que concebe e manifesta interiormente o Plano do Grande Arquitecto; a Força que Corresponde ao 1º Vig. é a faculdade volitiva, que se esforça em realizar o que a primeira concebe; e a beleza, representada pelo 2º Vig., é a faculdade imaginativa, que adorna e aperfeiçoa a obra realizada pelas duas primeiras.

Também correspondem, respectivamente, a Sabedoria à mente super consciente, a Força à mente consciente e a Beleza à mente subconsciente.

Trindades mitológicas

Na mitologia helénica, como na oriental e na egípcia, as trindades possuem também, um papel de primeira importância.

Fundamental entre elas é a trindade cosmogónica, formada por Úrano, símbolo do Ser que se manifesta como espaço, ou seja a “extensão” que torna objectiva a sua Omnipresença; Úrano Engendra a Cronos ou Saturno, que representa o próprio Ser como mudança e movimento, dentro da eternidade, que em nós produz a ideia de tempo ou “sucessão”, na qual todas as coisas são produzidas e desaparecem; Saturno engendra a Júpiter ou Zeus, que representa o Ser como vontade e energia, que parece dominar sobre os princípios que lhe deram produção.

Esta trindade é acompanhada pela outra, a feminina, constituída pelas qualidades destes três aspectos do Ser e da Realidade fundamental: Gea, a capacidade produtiva ou geométrica inerente ao espaço; Rea, o fluxo ou corrente do tempo; e Hera ou Juno, o poder que expressa a vontade criadora.

Outra trindade acha-se formada pelos três aspectos de Júpiter, dois dos quais estão representados pelos seus dois irmãos, que com ele compartilham a soberania universal; Neptuno ou Zeus, marinho que domina sobre as águas; Plutão, o Júpiter subterrâneo que assenta os seus reinos nas profundezas das coisas – os dois companheiros do Senhor do Céu e da Terra -, que estabeleceu o seu império sobre o domínio das forças titânicas.

Paralela a esta segunda trindade masculina é a que formam as suas três qualidades: Juno, a Rainha das profundidades marinhas, onde se encerram as possibilidades latentes da vida, e Prosérpina, a deusa do mundo desconhecido que se encontra nas próprias entranhas do mundo visível.

Também, Hécate, como divindade da Luz que nos vem de longe, da Realidade Transcendente, é tríplice, sendo representada por três deusas: a primeira leva, na sua cabeça, uma meia lua, e uma tocha na mão, o símbolo da luz sensível do mundo físico; a segunda com gorro frígio e frente radiante, símbolo da luz intelectual, leva nas suas mãos o cutelo da análise e da penetração, e a serpente da lógica que se insinua nas relações entre as coisas; e a terceira, cujos atributos são a corda e a chave, é o símbolo da luz transcendente que se descobre com a iniciação, e nos dá a chave do significado profundo ou razão mais verdadeira das coisas, assim como o “laço” que interiormente as une.

Uma trindade feminina, muito conhecida e familiar é a que formam as três Graças, ou seja os três aspectos da mesma Luz que se revela no ser e na vida do homem: Aglaya, a luzente, a luz espiritual que ilumina a inteligência, e nos dá essa felicidade e contentamento profundos, que tem o poder de se irradiar fora de nós como uma bênção, nos nossos pensamentos, palavras e obras. A ela se deve a inspiração de toda obra de arte ou criação intelectual, que tem o poder de elevar o homem a um plano superior.

Eufrosina, o gozo da alma, ou seja, a luz que penetra no nosso coração e produz em nós toda forma de íntimo contentamento e satisfação, a felicidade que reside dentro do nosso ser, independentemente das condições externas.

Tália, a florida, ou seja a felicidade exterior que se manifesta em todas as coisas formosas, e na mesma formosura da vida com os seus bens, prazeres e coisas desejáveis.

Menos conhecida é a trindade da Horas, ou “tempos” que presidem a toda actividade, assim como às divisões do ano e do dia: o começo ou germinação, que preside à Primavera; a continuação ou maturação de todo esforço, que preside ao Verão; o término da obra, na qual se recolhem os seus frutos, que preside o Outono. Também representam a Causa, o Meio e o Efeito, os três períodos iniciáticos de preparação, iluminação e perfeição, as três divisões da vida diária no tempo dedicado ao descanso, ao trabalho e a recreação.

Outras trindades

A Trindade das Horas leva-nos naturalmente à das Parcas ou Moiras, filhas da Noite, ou da contingência material: Clôto, a fiandeira, da qual se origina o fio da existência, representando tudo aquilo que se acha potencialmente na mesma, relacionando-nos com o lugar ou condição “de onde viemos”; Lachesis, por cujas mãos passa toda a trama do fio da vida, presidindo o desenvolvimento actual e causal dos acontecimentos, nos quais deve ser demonstrado “quem somos” e Átropos, em cujas mãos se entrega tudo aquilo que já nos aconteceu e o resultado das nossas acções, como sementes do que nos espera, determinando “onde vamos”. Esta última é a que deve cortar, com as suas fatídicas tesouras, o fio da vida quando tiver chegado a sua maturação e as violações da Lei não permitem a sua ulterior continuação.

As três Fúrias ou Euménides são, pode-se dizer, a antítese das Graças, ou as suas contrapartes negativas: Alecto, a que nunca descansa, produzindo o furor rahásico, a inquietude e a paixão vingativa; Tisífone, o ódio cego ou tamásico, os erros e o remorso da alma que acompanhava o homicida; e Magara, o demónio da inveja sátvica, que ao governar o homem afasta-se constantemente da possessão e gozo dos seus bens.

As três Graças ou Górgonas, Medusa, Steno e Eríagle, são emblemas das forças misteriosas que dormem no nosso ser subconsciente: as nossas próprias tendências negativas, temores e ansiedades e ilusões, as que como Perseu temos de vencer não as escutando nem para elas olhando, cortando-lhes a terrífica cabeça com a espada da Sabedoria, para que do seu sangue surja Pégaso, o génio alado do pensamento intuitivo, que nos conduza às regiões celestiais da pura Verdade.

Passando do domínio da mitologia ao da natureza, encontramos outra trindade nos três reinos, mineral, vegetal e animal, que representam três graus de evolução da forma, da vida e da consciência. Nos minerais, a forma geométrica acompanha-se da vida inorgânica e da consciência obscurecida numa comparativa inconsciência. Nos vegetais, a forma afasta-se dessa rigidez geométrica e faz-se plástica e responsiva, obedecendo à vida orgânica, que manifesta uma consciência ainda rudimentar. Nos animais finalmente, prevalece e surge em posição de domínio, o princípio da consciência, que se expressa como sensação, acção e reacção, e a forma e a vida se adaptam a esta expressão.

Também podemos dizer, em relação às três gunas, ou qualidades universais da matéria, que nos minerais prevalece o princípio da inércia (Tamos ou Sal), que nos animais o princípio oposto da actividade (Rahas ou Enxofre), e nos vegetais o princípio rítmico do equilíbrio (Sattva ou Mercúrio). O primeiro tende à cristalização, o segundo ao movimento, e o terceiro a harmonia.

As três dimensões do espaço e os três aspectos do tempo constituem outros dois ternários por meio dos quais a Omnipresença Eterna do Ser Absoluto se faz manifestar na relatividade do mundo como ritmo evolutivo e perpétuo devir.

A longitude, que é medida por meio da Régua, representa o caminho da vida e o progresso na direcção que escolhemos; a largura, que se relaciona com a anterior por meio do Esquadro, corresponde à amplitude da nossa visão e à extensão dos nossos esforços e actividades; a altura, a qual se alcança por meio do Compasso e do Prumo, determina-se individualmente conforme a profundidade das convicções e conhecimentos, e a elevação dos ideais.

O passado, que corresponde às bases do edifício da existência e às raízes do ser, possui importância para nós uma vez que enfrentamos o problema das origens, constituindo a nossa herança espiritual e material; o presente é aquele que nos relaciona com os nossos deveres e responsabilidades, assim como com a obra ou actividade que constitui a nossa constante oportunidade actual; o futuro, meta dos nossos esforços e aspirações, é aquele que nos relaciona com o nosso Destino, dando-nos o poder de superar a fatalidade (que é a herança do nosso passado), conduzindo-nos a um fim sempre mais elevado que sempre retrocede e se aproxima.

Liberdade – Igualdade – Fraternidade

O conhecido trinómio Maçónico Liberdade – Igualdade – Fraternidade, tem do ponto de vista iniciático um significado bem diferente do que podem ser as suas interpretações político-profanas.

A Liberdade do iniciado não e, pois, precisamente, aquela que podem conceder ou limitar as leis da sociedade, e não deve particularmente confundir-se com a licença de se entregar ao vício e à paixão, que sempre levam a desordem à vida, e nos fazem realmente escravos das nossas debilidades, hábitos e tendências negativas, e sobretudo dos nossos erros.

A Liberdade, no sentido iniciático, é uma aquisição individual, interior, fundamentalmente independente da liberdade externa que pode ser outorgada pelas leis e as circunstâncias da vida. É a liberdade que se adquire buscando a Verdade e é forçando-se do erro e da ilusão, e dominando as tendências viciosas, hábitos negativos e paixões destrutivas.

É a liberdade que encontramos, e que sempre nos é dado conservar quando agimos de acordo com os nossos princípios, ideais e convicções íntimas, buscando o que seja melhor em si e por si, melhor que buscando o nosso guia inspirador nas aparências externas, modificando e regrando segundo estas, a nossa linha de conduta e as nossas acções. É, por outras palavras, o que obtemos por intermédio do uso da Régua e do Prumo, seguindo o caminho directo do Progresso e do dever.

A igualdade iniciática, do mesmo modo baseia-se na consciência da identidade fundamental de todos os seres, de todas as manifestações do Espírito ou Suprema Realidade, por cima e por trás de todas as diferenças exteriores de direcção e grau de desenvolvimento. Esta igualdade, que se realiza por meio do Esquadro e do Nível, é a que nos proporciona uma justa e recta norma de conduta com todos os nossos semelhantes, e nos atribui e nos faz ocupar o lugar que nos pertence no edifício da sociedade, e em qualquer outro edifício particular ao qual tivermos sido chamados a trabalhar.

Interiormente a Igualdade é a capacidade de nos sentirmos iguais em todas as circunstâncias e condições exteriores, e em todo posto ou lugar que possamos temporariamente ocupar: é a igualdade que devemos tratar de cultivar nos nossos sentimentos para com os demais, independentemente das suas palavras e acções para connosco, e com uma igual serenidade nas condições favoráveis como nas adversas, na fortuna e na desgraça, no êxito e no fracasso, na perda e no ganho, ou seja, diante de todos os pares de opostos, os ladrilhos brancos e negros da existência sobre os que igualmente devemos progredir, apoiando os nossos pés.

Quanto à fraternidade, deve considerar-se como a soma e o complemento da liberdade individual e da igualdade espiritual, das que constitui a adaptação prática, sendo como a base do triângulo formado por essas duas linhas divergentes. A Fraternidade é pois, tolerância com relação à liberdade, e compreensão com relação à igualdade, manifestada na desigualdade. E é, ademais, a relação que a Maçonaria estabelece entre os seus membros, como núcleo e exemplo daquilo que deveria existir entre todos os homens.

Praticamente a Fraternidade pode, entretanto, estabelecer os seus laços unicamente entre os que se sentem Irmãos, ou seja, efectivamente filhos de um mesmo Pai, o Princípio Universal da Vida ou Ser Supremo, e de uma mesma Mãe, a Natureza, que a todos igualmente deu origem, nos sustentando e alimentando. Com esse reconhecimento a Fraternidade faz-se efectiva, e segundo se generalize, chegará a espalhar-se sobre toda a terra e todos serão, como deveria e como deve ser, a relação normal entre todos os homens e povos.

Todos os homens podem ser irmãos segundo conhecem e realizam no íntimo dos seus corações a Verdade da Fraternidade; isto é, da sua relação comum com o Princípio da Vida, por um lado, e pelo outro com o meio que os hospeda. Cairão então, as barreiras ilusórias que actualmente dividem os homens, conforme cai a venda que cobre os seus olhos, e a Maçonaria terá espargido efectivamente a sua Luz sobre toda a terra.

As letras do alfabeto

O estudo e o conhecimento dos três primeiros números deve ser integrado e completado pelas cinco primeiras letras, que são as que especialmente se referem ao grau de Aprendiz. Este estudo é aquele relativo à gramática simbólica com a qual deve se familiarizar o adepto do primeiro grau.

Uma vez conhecidas as letras, será possível combiná-las relacioná-las mutuamente, por meio da lógica, e assim ler as palavras que resultem da sua combinação. E com a experiência adquirida no estudo da Lógica, adestrando-se na Retórica, isto é, no uso construtivo do Verbo Criador.

A primeira letra do alfabeto mostra na sua forma greco-latina os dois princípios ou Forças Primordiais que partem do ponto originário e formam o ângulo; a dualidade que expressa a Unidade e produz a manifestação ternária; o triângulo que nasce do ângulo, por intermédio de uma linha horizontal – o terceiro Princípio ou elemento – que une os seus dois lados.

Como primeira letra, assim como pelo simbolismo evidenciado na sua forma, mostra-nos a origem de tudo e a sua progressiva manifestação; a involução ou revelação do Espírito no reino da forma e da matéria.

A forma hebraica desta mesma letra (cujo nome é alef, que significa “boi” e que tem o valor numérico um, apresenta-nos na linha oblíqua central o Primeiro Princípio Unitário do qual se manifestam as duas Forças ou Princípios, respectivamente ascendente e descendente, ou seja, centrífuga e centrípeta, masculina e feminina, representadas pelas duas colunas. É em si mesmo um signo de equilíbrio, enquanto demonstra o domínio dos opostos e a Harmonia produzida pela sua actividade coordenada. No seu conjunto indica a tri-unidade, isto é, a Trindade manifestada pela Unidade.

A letra B é uma clara expressão da dualidade dos dois Princípios que evidenciam a Lei de Polaridade; mostra a relação entre o Superior e o Inferior – o Céu e a Terra, uma dupla relação curvada e bem diferente nos seus dois aspectos no lado direito (que corresponde à involução ou revelação do Espírito na matéria), e direita do outro lado (ao lado ascendente que corresponde à evolução do Espírito expressado na Matéria). O lado direito monstra o domínio do homem, e a dupla linha curva, o da natureza.

Já falamos do significado desta letra, em relação às demais, que formam a Palavra Sagrada.

A forma da letra C é originariamente a de um esquadro, e com tal se apresenta nos alfabetos fenícios, etrusco e grego (onde tem o nome de gamma e o som da letra G). Como tal, o seu significado primitivo é o do instrumento Maçónico da rectidão. Enquanto a sua forma latina, mostra um arco que podemos considerar emblemático da tensão das energias individuais para alcançar um fito ou objecto determinado. Também, representa o ciclo descendente da involução, que deve completar-se com a obra individual de ascensão evolutiva.

No alfabeto hebraico esta letra toma o nome de guimel (camelo) e tem o valor numérico três. Refere-se ao progresso vertical individual do homem de baixo para cima, como o mostra a pequena linha ascendente que forma o pé da figura.

O camelo, conhecido pela sua torpeza como pela sua docilidade e resistência, mostra o corpo do homem, que de obstáculo deve transformar-se em instrumento dócil e resistente para a expressão das possibilidades superiores da vida. Este simbolismo encontra de uma certa maneira uma correspondência na forma egípcia da dita letra, que representa um avental, símbolo da pele ou corpo físico do homem.

A letra D está representada por um triângulo nos alfabetos dos quais derivou a sua forma latina. Este triângulo, é o mesmo delta, e com esse nome é conhecida no alfabeto grego.

Si bem que também a forma difira do mesmo modo que a precedente letra do alfabeto grego), o seu nome no alfabeto hebraico é daleth, significando “porta”, com valor numérico quatro. Mostra efectivamente um dos lados ou colunas que suportam a arquitrave e formam com o mesmo a porta. Representa a introdução parcial ou imperfeita do Aprendiz na Verdade, tendo reconhecido unicamente um dos seus dois lados ou aspectos.

Quanto à forma latina, cujo valor numérico é 500, não nos é difícil ver nela igualmente uma porta com o arco; mas posta horizontalmente.

A letra E necessita, para a sua interpretação, que a confrontemos com a forma fenícia primitiva da qual descende, e que damos juntamente com a greco-latina. Aparenta esta letra a forma de três esquadros que se sucedem numa mesma linha, clara alusão aos três passos da Marcha do Aprendiz. Também indica, na sua forma greco-latina, os três mundos ou planos de existência, através dos quais se manifesta um idêntico Princípio de Vida (a linha vertical).

A letra hebraica he, à qual corresponde o valor numérico cinco – e cujo nome significa “buraco” ou “janela” – mostra o progresso realizado pelas aspirações do Aprendiz em relação à letra precedente, e indica claramente a senda que se abre para reconhecer e manifestar as suas potencialidades latentes.

A lógica e a retórica

O estudo da Gramática conduz naturalmente ao da Lógica, isto é, à compreensão do Verbo ou Logos que constitui a Realidade interior representada por cada símbolo ou letra da Verdade, assim como ao reconhecimento das suas relações.

A lógica é pois, primitivamente, a faculdade de relacionar as letras simples para formar e interpretar palavras ou orações, isto é, conjuntos harmónicos que tem um sentido definido; e este sentido possui o mesmo Verbo ou logos que se encontra no princípio de tudo: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”.

A Gramática, ou seja, o estudo dos símbolos, é pois, uma introdução ao conhecimento ou percepção espiritual da Realidade que é o Verbo. Este conhecimento faz-nos entrever a relação lógica entre todas as coisas, e particularmente entre as causas e princípios invisíveis e os seus efeitos visíveis.

Com a Retórica aprendemos o uso deste conhecimento, levando à expressão, o Verbo ou princípio latente do que desejamos. A eficácia e efectividade desta faculdade depende inteiramente do progresso realizado na precedente: devemos aprender a relacionar-nos intimamente com o Verbo Criador, para poder expressá-lo e depois vê-lo manifestado.

Quando entendemos o significado esotérico destas duas Artes, facilmente compreenderemos por que o aprendiz pode tão somente familiarizar-se com os seus primeiros rudimentos, na medida em que estes o ajudam a melhor dominar a Gramática. Somente ao Companheiro será possível medir com a sua inteligência os significados da Lógica, e só o Mestre poderá avançar com real eficiência no domínio da Retórica.

O Templo

O Templo é o lugar onde se desenvolvem os trabalhos Maçónicos e é reunida a Loja, manifestação do Logos ou Palavra que vive em cada um dos seus membros e encontra no seu conjunto uma expressão harmónica e completa.

É, ao mesmo tempo, um lugar de trabalho e de adoração, uma vez que nunca cessa de se construir enquanto for de real proveito a todos; e como esta construção simbólica necessita ser a expressão do Plano do Grande Arquitecto, no qual a actividade construtiva busca a sua inspiração, este esforço constante em direcção à Verdade e à Virtude é a mais efectiva e verdadeira adoração.

Etimologicamente, a palavra templo relaciona-se com o sânscrito tamas, “escuridão”, de onde vem também o latim tenebrae (por temebrae), “Trevas”. Significa, portanto, lugar escuro, e por conseguinte “oculto”, aludindo ao antigo costume de construir os templos em grutas ou criptas subterrâneas, fora da luz exterior e ao amparo da indiscrição profana.

Isto informa-nos que todos os templos no princípio, foram antes de tudo, lugares de recolhimento e silêncio; e da mesma forma também o são os templos sucessivamente erigidos sob uma forma arquitectónica específica, mas sempre caracterizados interiormente por essa penumbra mais ou menos completa que favorece à concentração do pensamento e à sua elevação para o transcendente, em direcção ao que há de menos conhecido e misterioso.

Também este isolamento do mundo exterior é favorecido por uma atenção mais profunda sobre os ritos e cerimónias que nesses templos – sejam religiosos ou iniciáticos – se tem sempre desenvolvido.

O Templo Maçónico é um quadrilongo estendido do Oriente ao Ocidente, isto é, “em direcção à Luz”. A sua largura é do Norte ao Sul (desde a potencialidade latente à plenitude do manifestado), e a sua altura do Zénite ao Nadir. Isto quer dizer que praticamente não tem limites e compreende todo o Universo, no qual se esparge a actividade do Princípio Construtivo, que sempre actua na direcção da Luz, como pode ser observado em toda a natureza.

Todos os templos antigos, qualquer que fosse o uso ao qual estivessem destinados, apresentavam esta característica comum de orientação, muitas vezes com maravilhosa exactidão. Ainda que a orientação mais frequente seja aquela que exactamente é indicada pela própria palavra (em direcção ao Oriente), alguns templos apresentam a direcção oposta, estando a porta situada do lado do Oriente, para que os primeiros raios do Sol incidam em determinado ponto, que resplandece repentinamente na semi-escuridão do lugar. Em alguns casos, familiares aos arqueólogos, esta orientação na direcção ao Sol é feita por intermédio de um corredor estreito, de forma que os raios luminosos por ele possam passar unicamente em certo dia ou época do ano (geralmente solstício e equinócio). Outros templos estão orientados em direcção a alguma estrela particular de primeira magnitude (como Sirius, Canopus, ou a Estrela Polar, em certos templos egípcios).

Quanto às três dimensões do Templo, podemos considerá-las até certo ponto equivalentes; tanto o Norte e o Zénite, como o Oriente, indicam o Mundo Divino dos Princípios ou domínio do Transcendente; enquanto o Sul, o Nadir e o Ocidente representam, de diferentes modos, o mundo manifestado ou fenoménico.

A diferença baseia-se principalmente em que a direcção do Oriente ao Ocidente se refere à Senda da vida ou Caminho do Progresso; a do Norte ao Sul, à Lei dos ciclos, que nos aproxima alternativamente do domínio das Causas e dos Efeitos; e a vertical, ao Pai e a Mãe, de quem somos igualmente filhos, ou seja, às duas gravitações, celestial e terrena, que respectivamente atraem a nossa natureza espiritual e material.

Também podemos ver nestas três direcções dimensionais uma alusão aos três movimentos da Terra: de rotação (Oriente-Ocidente), de revolução (Norte-Sul) e de precessão (Zénite-Nadir): ou seja, as três dimensões dinâmicas do mundo em que vivemos.

As três luzes

Três grandes colunas sustentam o Templo Maçónico (distintas das duas que se encontram no Ocidente): a Sabedoria, a Força e a Beleza, ou seja a Omnisciência, a Omnipotência e a Omnipresença do G. A., reafirmadas como Princípios de Verdade, de Actividade e de Amor ou Harmonia. Estas três colunas representam ao Venerável Mestre e ao 1°e 2° Vig. que tem assento respectivamente no Oriente, no Ocidente, e no Meio dia, onde são manifestados respectivamente aquelas três qualidades.

O Delta luminoso, com o Olho Divino no centro, brilha no Oriente por cima do assento do Venerável Mestre, símbolo do Primeiro Princípio, que é a Suprema Realidade, nos seus dois lados, ou qualidades primordiais que a definem, expressas em síntese inimitável no trinómio vedântico Sat-Chit-Ananda.

Nos dois lados do Delta, que representa a verdadeira luz (a luz da Realidade transcendente), aparecem o sol e a lua, os dois luminares visíveis, manifestação directa e reflectida dessa luz invisível, que ilumina a nossa terra e que simbolicamente representam a Luz Intelectual e a Material.

O pavimento de mosaico

A três passos da porta, que se encontra no Ocidente, estão situadas as duas colunas, J. e B., emblema dos dois princípios e dos pares de opostos que dominam o mundo visível. A actividade combinada destes dois princípios aparece manifestamente no pavimento de mosaico em ladrilhos brancos e negros, que se estendem desde a base das colunas em direcção ao Oriente, igualmente em forma de quadrilongo, ocupando o centro do Templo.

O pavimento de mosaico é um belo emblema da multiplicidade engendrada pela dualidade, constituída pelos pares de opostos que se encontram constantemente um perto do outro; o dia e a noite, a obscuridade e a luz, o sonho e a vigília, a dor e o prazer, as honras e as calúnias, o êxito e a desilusão, a sorte e o azar etc. Sobre estes opostos, que se encontram em todos os caminhos e em todas as etapas da nossa existência, o iniciado que tenha provado da Taça da Amargura deve marchar com ânimo sereno e igual, sem se deixar exaltar pelas condições favoráveis nem se reprimir pelas aparências desfavoráveis.

Por cima desta visão dualística da vida formada por pares de opostos, levanta-se a ara ou Altar (etimologicamente “altura” ou elevação), símbolo da elevação dos nossos pensamentos, por meio do qual percebemos a realidade transcendente que se esconde sob a aparência contraditória, e atingimos o conhecimento da palavra, ou seja, da Verdade, que é o propósito intimamente benéfico de toda experiência, sempre compreendida como útil ao nosso progresso e benefício mais verdadeiro.

As três luzes que se encontram sobre o altar, formando um triângulo equilátero, representam a necessária relação, que deve existir na nossa inteligência, entre a dualidade ocidental (ou fenoménica) das colunas e a Unidade Oriental da Verdadeira Luz, por meio da qual se realiza o ternário da harmonia e do perfeito equilíbrio, sobre todos os extremos e as tendências dualistas.

Entre estas luzes tem o seu lugar mais conveniente o livro sagrado, símbolo da Verdade que se encerra na tradição, uma vez que saibamos convenientemente interpretá-la por meio das nossas faculdades inteligentes, representadas pelo esquadro e o compasso que são colocados sobre esse livro para que possamos realmente compreendê-lo e medi-lo em toda a sua extensão.

O Céu

O tecto da Loja representa um céu estrelado, imagem do Infinito e da sua manifestação activa nos infinitos pontos ou centros luminosos, que expressam de dentro para fora a Luz Latente do Princípio Supremo.

Este Céu representa o espaço do qual cada ponto é igualmente centro geométrico, origem e fim. A sua cor azul, em contraste com o vermelho do pavimento, é representativa das mais elevadas vibrações, tanto individuais como cósmicas, que estão por cima da manifestação sensível, e a completam e coroam.

Podemos ver nele também, uma imagem da nossa mente, ou mundo causativo interior, que preside às condições da vida, aproveitando-as construtivamente e transmutando-as. As estrelas representam as Ideias Divinas, que manifestam o mundo da Realidade e da Verdade, as ideias salvadoras que revelam o Plano do G. A. e guiam em harmonia com ele, os nossos pensamentos e acções, os ideais que nos inspiram e orientam em todas as etapas da nossa existência.

Sob o tecto, desde a porta ocidental, onde terminam os seus dois extremos, está a mística cadeia de união, entrelaçada em doze nós laterais e descansando sobre os capitéis de doze colunas assim distribuídas: seis no lado Norte e seis no Sul, simbolizando os seis signos ascendentes e os seis signos descendentes do zodíaco.

A cadeia é o laço interior que une todos os maçons por cima das suas diferenças pessoais, fazendo deles uma só Família Universal. Este laço interior deve ser buscado individualmente, esforçando-se cada um em manifestar o mais elevado em pensamentos e ideais (os capiteis em que descansa). É também a corrente da causalidade que se manifesta ininterruptamente no mundo dos efeitos, no qual todo pensamento ou acto é efeito de uma causa antecedente, e causa por sua vez, de um efeito consequente.

Assentos e posições

Em ambos os lados, Norte e Sul, estão os assentos, respectivamente, dos Aprendizes, dos Companheiros e dos Mestres: os primeiros devem sentar-se na região menos iluminada pelo Sol por serem ainda incapazes de suportar a plena luz do Meio-dia, onde os Companheiros e os Mestres, do lado do Ocidente e do Oriente, respectivamente, trabalham proveitosamente, os primeiros ajudando aos últimos.

A parte oriental do Templo encontra-se erguida sobre três degraus, em relação ao piso da Loja, significando com isso que não é possível chegar ao mundo das Causas a não ser, elevando-se por meio da abstracção e da meditação às regiões superiores do pensamento, onde aparecem com clareza os Princípios originários que constituem a Essência Eterna das coisas sensíveis.

Sobre esta elevação tomam assento, respectivamente ao Norte e ao Sul, e à direita e à esquerda do Venerável Mestre, o Secretário e o Orador, e mais abaixo, o Hospitaleiro e o Tesoureiro, o Porta Estandarte e o Mestre de Cerimónias. Estes com os dois Diáconos, os dois Expertos e o Guarda do Templo, constituem os oficiais da Loja, que cooperam com os três Dignatários nas diferentes cerimónias que se desenvolvem para a ordem e harmonia dos trabalhos.

De acordo com a etimologia que temos dado a esta palavra, o templo Maçónico não tem janelas: isto significa que não recebe luz de fora, mas unicamente de dentro. Por esta razão deve ser fechado hermeticamente ao mundo profano e a sua porta está constantemente vigiada pelo Guarda do Templo, armado de espada, símbolo da vigilância que constantemente devemos exercer sobre os nossos pensamentos, palavras e acções, para fazer delas um uso construtivo, e progredir constantemente na senda da Verdade e da Virtude.


In, Egen, Maxell, Os Segredos do Aprendiz Maçom: Segredos Revelados (Maçonaria Revelada Livro 1), Clube de Autores, 2012

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