Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

O Maçom no momento político brasileiro

J. Filardo  M.’.I.’.

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A Maçonaria que conhecemos nasceu revolucionária, mas acomodou-se, aburguesou-se, deixou-se vencer pelo conservadorismo, estando sempre a reboque das mudanças sociais da sociedade.

Em 1717, a Grande Loja de Londres foi organizada com a união de quatro lojas operativas existentes em Londres. Por necessidade de Estado, fundou-se uma organização que subverteu completamente a noção de maçonaria então existente.

Senão vejamos. A Inglaterra era protestante desde que Henrique VIII (que acreditava mais no cadafalso que no divórcio) rompeu com o Vaticano e assumiu a direção dos assuntos religiosos do reino, através da Igreja Anglicana. Em 1707 foi criado o Reino Unido, o parlamento votara  e aprovara em 1701 o Decreto de Estabelecimento que determinava a sucessão ao trono do Reino somente a protestantes.

Mas o rei James III tinha direito ao trono, o que lhe foi negado por ser católico. Ele iniciou uma campanha, inclusive militar contra o Reino Unido. Ele tinha o apoio dos católicos e era conhecido como “O Pretendente”.

Em 1666 acontecera o grande incêndio de Londres onde foram destruídas 13.200 casas, 87 igrejas, incluindo a Catedral de São Paulo e 44 prédios públicos.  A reconstrução da cidade levou muito tempo e funcionou como um magneto atraindo as corporações de pedreiros (masons) de todo o Reino Unido, muitos, se não a maioria eram escoceses e irlandeses, ambos reinos muito influenciados pela Igreja católica romana.  E esses católicos apoiavam a pretensão do Rei James ao trono. Neste momento, reinava a filha dele, Anna, que fora criada como protestante e pode assumir o trono.  Mas ela morreu em 1714 e foi sucedida por George I, da casa de Hanover que era protestante.

Havia, assim, uma grande tensão política e de fundo religioso no reino.

(flash back) –

Em 1660 fora fundada em Londres a Royal Society of London for Improving Natural Knowledge.  https://bibliot3ca.com/a-royal-society-antecamara-da-maconaria/

Essa era uma instituição que congregava os maiores cientistas da época, Iluministas em sua maioria. Entre eles estava Robert de Moray, seu primeiro presidente, e tido como o primeiro maçom especulativo na Escócia, onde fora iniciado em 1641 http://freemasonry.bcy.ca/texts/moray_r.html .

O governo inglês recorreu à Royal Society, da qual era membro o Irmão Jean Théophile Desaguliers, assistente de Sir Isaac Newton.

O governo queria neutralizar o apoio dos maçons irlandeses e escoceses, e decidiu criar lojas em que fossem aceitas todas as religiões, o que automaticamente excluía o católicos que não admitiam outro caminho para a salvação que não fosse a sua religião.

Desaguliers convocou o Irmão James Anderson, Pastor da  Igreja Presbiteriana para redigir a Constituição dos Maçons Livres de uma nova organização denominada Grande Loja de Londres, que se baseava na organização das guildas de pedreiros livres existentes no Reino Unido desde o século XVII.

Seguindo a modelagem criada na Royal Society, e aplicando seus conhecimentos, ele escreveu a Constituição com grande influência protestante.

Só que, diferentemente daquelas lojas de pedreiros católicos existentes até então, que seguiam as Antigas Obrigações, ou seja a crença em Deus e na Santa Madre Igreja, a nova instituição adotou a religião natural, ficando o seu artigo primeiro com a seguinte redação:

“Sobre Deus e a Religião

Um maçom é obrigado por seu mandato a obedecer à lei moral e, se compreende bem a arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso. Embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados em cada país a praticar a religião daquele país, qualquer que fosse ela, agora é considerado mais conveniente apenas obrigá-los a seguir a religião com a qual todos os homens concordam, isto é, ser homens bons e verdadeiros, ou homens de honra e probidade, quaisquer que sejam as denominações ou confissões que ajudam a diferenciá-los, de forma que a Maçonaria se torne o centro de união e o meio para estabelecer uma amizade sincera entre homens que de outra forma permaneceriam separados para sempre”.

Comparado ao que se encontra em todas as Constituições Manuscritas dos Maçons operativos:

A Primeira Obrigação é que você será verdadeiro a Deus e a Santa Igreja, e não usará erro ou heresia, você entendendo e por homens sábios ensinado …..”

Como proteção adicional, proibiram a discussão de política e religião em loja, porque esses eram os assuntos candentes do momento e precisavam ser anulados.

A emergência passou, a Grande Loja de Londres começou a vender suas franquias de lojas até que em 1751, um maçom irlandês, pintor de paredes chegando a Londres desejou exercer o seu direito de frequentar lojas maçônicas, dentro do espírito tradicional.

Além de não ser bem recebido (afinal era irlandês e pobre) ele ficou chocado com essa modificação dos antigos usos e costumes, e decidiu fundar a Grande Loja dos Maçons Antigos e Aceitos. Redigiu uma constituição – o Ahiman Rezon – onde restabelecia o Artigo I conforme os usos antigos e passou a fustigar a Grande Loja de Londres, a quem chamada de “Moderninhos” pelas alterações efetuadas.

(Flash Back)

Naquela briga entre James II Stuart, católico e os Ingleses protestantes,  James perdeu a guerra e exilou-se na França onde viveu até sua morte em 1701. Seu filho James, agora James III poderia ter assumido o trono inglês, se se convertesse ao protestantismo, mas ele se recusou, deixando o trono para George I, da casa de Hanover (Alemanha).

Em 1725 a Maçonaria foi introduzida na França por alguns desses imigrantes Jacobitas e expandiu-se rapidamente.  Com o passar do tempo, transformou-se em um balaio de gatos em que qualquer um formava uma loja, alguns por dinheiro, outros por prestígio.

Em 1773 foi fundado o Grande Oriente. As lojas trabalhavam sob o rito inglês.

Em 1813, quando a Grande Loja de Londres, os “Modernos,” fez um acordo com a Grande Loja dos Maçons “Antigos” e Aceitos, em que ela cedeu nos pontos referentes à religião, os franceses decidiram continuar a usar o conceito revolucionário introduzido em 1717 e isso provocou a separação entre a Maçonaria Inglesa conservadora e uma Maçonaria Francesa que seria progressivamente mais liberal e politizada.

Corta para o Brasil em 1801 quando foi fundada a primeira loja brasileira, no Rio de Janeiro, no ano de 1801, com o nome de Reunião, filiada ao Grande Oriente de île de France.

Esse nascimento sob os auspícios da Maçonaria francesa faria uma enorme diferença para os acontecimentos ulteriores. Diferente da Maçonaria Inglesa ligada umbilicalmente à aristocracia, a Maçonaria Francesa pregava uma ideologia libertária que iria mais tarde desembocar na república francesa. Também ao contrario dos ingleses, os maçons franceses se envolviam em política.

Pois bem, essa característica de participação na vida política do país tem o DNA do Grande Oriente de França e foi uma marca registrada da Maçonaria Brasileira pelo menos até 1925, quando da cisão que criou as Grandes Lojas.

No curto intermezzo de 10 anos entre a morte de Getúlio e o golpe de 64, alguns maçons ainda tentaram fazer política, mas a essa altura a Ordem estava desarticulada e infiltrada por agentes getulistas que não eram verdadeiramente maçons e que trouxeram para a Ordem outros medíocres, baixando assim drasticamente o nível tanto de inteligência quanto de participação política.

Com o retorno da democracia, constatou-se que os políticos brasileiros representativos haviam sido neutralizados e que uma geração inteira fora ceifada pelos anos de chumbo da ditadura militar.

Outro aspecto foi que a Maçonaria, uma instituição conservadora por natureza, foi progressivamente se tornando mais conservadora, um aspecto que só agora, no século XXI começa a mudar, graças à chegada das novas gerações que experimentaram a democracia e exigem das lojas uma posição mais participativa na sociedade.

Entre essas participações, inscrevem-se as eleições e é esse momento crucial que, de certa forma, revela o verdadeiro maçom.

Então vejamos o que preconiza a Maçonaria. Tomemos como exemplos o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente da França.

A Constituição do Grande Oriente do Brasil prescreve em seu Artigo 1:

A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, cujos fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Parágrafo único. Além de buscar atingir esses fins, a Maçonaria:

I – proclama a prevalência do espírito sobre a matéria;
II – pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade;
III – proclama que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância constitui o princípio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um;
IV – defende a plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano, observada correlata responsabilidade;
V – reconhece o trabalho como dever social e direito inalienável;
VI – considera Irmãos todos os Maçons, quaisquer que sejam suas raças, nacionalidades, convicções ou crenças;
VII – sustenta que os Maçons têm os seguintes deveres essenciais: amor à família, fidelidade e devotamento à Pátria e obediência à lei;
VIII – determina que os Maçons estendam e liberalizem os laços fraternais que os unem a todos os homens esparsos pela superfície da terra;
IX – recomenda a divulgação de sua doutrina pelo exemplo e pela palavra e combate, terminantemente, o recurso à força e à violência para a consecução de quaisquer objetivos;
X – adota sinais e emblemas de elevada significação simbólica;
XI – defende que nenhum Maçom seja obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
XII – condena a exploração do homem, os privilégios e as regalias, enaltecendo, porém, o mérito da inteligência e da virtude, bem como o valor demonstrado na prestação de serviços à Ordem, à Pátria e à Humanidade;
XIII – afirma que o sectarismo político, religioso e racial são incompatíveis com a universalidade do espírito maçônico;
XIV – combate a ignorância, a superstição e a tirania.

E o Artigo Primeiro da Constituição do Grande Oriente da França diz:

Instituição essencialmente filantrópica e progressista, a Maçonaria tem por objetivo a busca da verdade, o estudo da moral e a pratica da solidariedade. Ela trabalha pelo melhora material e moral, o aperfeiçoamento intelectual e social da humanidade. Ela tem por princípios a tolerância mútua, o respeito pelos outros e por si mesmo, a liberdade absoluta de consciência. Considerando as concepções metafísicas como sendo um domínio exclusivo da apreciação individual de seus membros, ela se recusa toda afirmação dogmática. Ela atribui uma importância fundamental ao Secularismo. A Maçonaria tem por lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Tem-se daqui que qualquer candidato, cuja plataforma se afaste desses princípios consubstanciados nas constituições da Maçonaria é indigno do voto dos maçons.

Cabe a cada membro da Ordem verificar até onde os candidatos seguem princípios consentâneos com aqueles preconizados pela Maçonaria e só então dar-lhes o seu voto.

Só assim estará cumprindo o seu dever enquanto Membro da Ordem Maçônica.

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