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Como os maçons manipulam os candidatos. (Parte 1)

(Matéria de fundo da revista L’Express de 4/01/2012) – Tradução José Antonio de Souza Filardo

Os irmãos conservam tamanho poder que os templos maçônicos – e seu mundo de influências secretas e misteriosas – fazem, de agora em diante, parte do percurso dos pretendentes ao Eliseu. Pesquisas sobre o papel das obediências na corrida entre Hollande, Sarkozy, Le Pen, Bayrou, Mélenchon e Joly.

Para aqueles que se perguntam se os maçons ainda exercem uma forte influência eleitoral na França, Guy Arcizet, o Grão Mestre do Grande Oriente de França (GODF) traz uma reposta muito clara “Os candidatos às eleições presidenciais se precipitam com entusiasmo para tomar a palavras nos templos”. Por que este entusiasmo? Para atingir os mais de 160.000 irmãos e irmãs agrupados nas dezenas de obediências, mas, sobretudo porque cada iniciado constitui um pequeno comando de rede. Certamente, uma prestação conseguida sob a abobada estrelada, um discurso bem recebido no lençol freático maçônico não é suficiente para ganhar a corrida ao Eliseu. Por outro lado, aqueles que desprezam a opinião dos “filhos da Luz” têm todas as chances de partir com uma pesada desvantagem. Lionel Jospin em 2002 e Ségolène Royal em 2007 pagaram um alto preço. As eleições presidenciais de 2010 não serão exceção: os maçons querem desempenhar um papel nelas e os candidatos procuram seduzi-los.

O epicentro das manobras se situa ainda e sempre no GODF, berço de quase trezentos anos de radicalismo e do socialismo, que faz e desfaz os governos desde o início do século XX. A obediência mais política decidiu investir nas eleições presidenciais de 2012, mas ainda do que investiu na de 2007. Não só tomando partido em favor de um dos candidatos, mas os convidando a falar em “sessão branca” sobre os sete valores: democracia, secularismo, solidariedade social, cidadania, meio ambiente, dignidade humana e direitos humanos. “Estamos preocupados com o tecido social da França. Nós o vemos se esgarçar sob as restrições econômicas que maltratam os mais simples, e excluem os marginais”, escreve Guy Arcizet, membro do Partido Socialista, na apresentação das Grandes Mudanças 2012.

Ninguém contesta ao GODF o direito de intervir no debate público de maneira engajada. Por outro lado, sua vontade de exercer uma influência eleitoral produz controvérsia. Cabe a uma obediência maçônica convidar os candidatos às eleições presidenciais? A iniciativa do GODF não tem a unanimidade da maçonaria francesa. “Por tradição, nós nos abstemos de recebê-los”, observa Alain-Noël Dubar, grão mestre da Grande Loja de França, ele mesmo um membro do partido UMP. A questão até mesmo dividiu o GODF. Em agosto do ano passado, juntamente com sete outros conselheiros da ordem minoritários sobre este aspecto, Gerard Contremoulin votou contra o projeto: “Primeiro, não é nosso papel. Segundo, como não podemos receber todos os candidatos, sua escolha equivale a um quebra-cabeça. Não queremos que Marine Le Pen que encarna a extrema direita, e certos irmãos não compreendem que se acolha Jean-Luc Melanchon, representante da extrema esquerda.”.

Quem, portanto, passou pelo grande exame da Rue Cadet? Além do líder da frente de esquerda, François Bayrou e François Hollande já falaram sobre os sete valores. A seguir virão Eva Joly, Hervé Morin e Nicolas Dupont-Aignan.

A afronta aos maçons

A iniciativa do GODF coloca outro problema de fundo. Se François Hollande fez ouvir sua voz em um templo maçônico, Nicolas Sarkozy, ele mesmo, não respondeu ao convite dos irmãos do GODF para vir lhes falar antes de 15 de Fevereiro, data limite fixada pela obediência. Sem dúvida, porque o presidente que o sai, não pretende se declarar candidato antes dessa data. Segundo Alain Bauer, antigo grão-mestre do GODF, que tem a atenção do chefe de estado, este pretenderia revelar-se no mesmo dia em que o fez François Mitterrand em 1988, ou seja, em 22 de Março. O criminologista influente aconselha ao futuro candidato dirigir-se aos irmãos sem, contudo, os incitar a comparecer à sede de sua obediência: “O GODF estaria à altura de lhe garantir que não haveria manifestações hostis?” Evidentemente, não.

Isso quer dizer que Nicolas Sarkozy tem um caminho a percorrer para reconquistar os maçons. No início do quinquênio, ele os decepcionou, algumas vezes visceralmente. O primeiro golpe foi dado em Latrão (cidade do Vaticano) quando o presidente proclama a superioridade do padre sobre o professor institucional. Que afronta para os maçons, tão apegados à escola secular! Nicolas Sarkozy agrava seu caso ao glorificar em Riyad (Arábia Saudita) este “Deus transcendente que está no pensamento e no coração de cada homem”. Para seus amigos das lojas, o presidente cedeu ao lobby católico que o cerca. Os dois discursos recheados de referências maçônicas que Alain Bauer tinha escrito para o candidato de 2007 foram esquecidos muito rapidamente.

François Hollande não deixará de explorar as fraquezas deste adversário. Membro do GODF, François Rebsamen, muito próximo do candidato socialista insiste no descrédito de Sarkozy, que segundo ele não se limita ao tema da secularidade: “A igualdade é um valor republicano forte, e o presidente da República volta as costas à justiça social, clama o presidente do grupo socialista no Senado e prefeito de Dijon. Ainda que se devesse exigir mais daqueles que têm mais e menos daqueles que têm menos, Sarkozy privilegia seu círculo de amigos.” Parafraseando o princípio maçônico “Unindo aqueles que estão separados”, Rebsamen afirma que um presidente “deveria unir mais que separar”. Alusões ao discurso culpabilizante do presidente da república em relação a certas categorias de franceses. Com a finalidade de superar esta desvantagem, Nicolas Sarkozy apelará novamente a Alain Bauer? O criminologista se declara disponível, mesmo que ele tenha consciência da “franca decepção daqueles que o sustentavam com entusiasmo”.

Um apoio a Sarkozy que provoca escândalo

O papel de Claude Guéant, secretário geral do Eliseu (2007-2011), depois Ministro do Interior, não facilita a operação de sedução. A priori, a proximidade de seu colaborador com as redes maçônicas era um trunfo para Sarkozy. Guéant repete em vão: “Eu não sou maçom e nunca fui”, ele privilegiou, em nomeações, irmãos em detrimento de profanos. Entretanto, ele não agradou o conjunto do mundo maçônico, pois ele favoreceu a Grande Loge nationale française (GLNF), uma corrente regularmente suspeita de comportamento mafioso. Ou, como nós estamos em condições de revelar, o filho do ministro do Interior, François Guéant, eleito pelo UMP da região da Bretanha é membro dessa obediência desde dezembro de 2006. A adesão do filho favoreceu os contatos do pai com o grão mestre da GLNF, François Stifani? Em uma entrevista ao L’Express (2010), Claude Guéant reconheceu ter estabelecido boas relações com o alto dignitário. E de afirmar: “Ele, tratando-se de uma situação delicada a ser administrada, trouxe uma contribuição positiva.” Esclarecendo, o maçom fez funcionar sua rede em Guadalupe, com a finalidade de ajudar o governo a estabelecer relações com o LKP de Elie Domota durante o movimento de protesto que paralisou a ilha no início de 2009. E ele fez isso por acaso? É o momento escolhido por François Stifani para garantir, por escrito, ao presidente da república o apoio do conjunto de maçons de sua obediência (L’Express de 1 de Dezembro de 2010). Esta circular provocou escândalo nas lojas, onde uma das regras é a neutralidade política. Ela ampliou a crise desencadeada pelos opositores ao grão mestre, que levou a justiça a colocar a GLNF sob administração judiciária em janeiro de 2011. Coisa nunca vista! É, portanto, pouco provável que os irmãos desta obediência, classificada à direita, façam campanha por Sarkozy.

(continua)

5 comentários em “Como os maçons manipulam os candidatos. (Parte 1)

  1. Acho engraçado como muitos tentam fazer que os ensinamentos Maçons pareçam algo maquiavélico.
    Não me atento diretamente ao texto exposto neste.
    Mas indago se algum dos IIr.’. ou alguém arriscaria me descrever qualquer que seja a forma de organização que necessariamente não protejam-se e ajudem-se mutuamente com uma real intenção?

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  2. Estas colocações na França coloca faisca no meu braseiro. Já considerava-me fora de questionamentos, Maçom x Politica.
    Na passividade da organização, procurava apenas cumprir as exigências mínimas de frequência e taxa mensal..
    Como dizem “Maçonaria é um estado de espírito”

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    1. Brother Freitas,

      Você notou que a imagem que a sociedade tem da maçonaria corresponde à Maçonaria Francesa? E também que a pouca atuação política da maçonaria no Brasil em 1822 e 1889 teve inspiração na Maçonaria Francesa?

      Pois, é. Maçonaria é aquilo lá, e não isso que os ingleses querem nos convencer de que seja.

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  3. Li atento a sua tradução da matéria, e vi que não fazem nenhum comentário, do frances “estuprador” ex Presidente do FMI Dominique Strauss-Kahn, que seria uma liderança nesta disputa prsidencial francesa. Porque da omissão não? Será que foi só a CIA, que orquestrou o engodo? quem mais estaria por traz do golpe? Sei que a orquestração esta um nível acima, mas lá como cá a imprensa é conivente, e o povo que tire as suas proprias conclusões, e a maçonaria de lá tb se omite, ou não?
    Fico feliz de poder participar de sua amizade e ser seu Irmão.
    TFA
    Vanderlei Faria

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    1. Brother Vanderlei,

      O DSK é carta fora do baralho. Ele pode até ter sido vítima de um complô (que estaria mais ligado a questões do FMI do que as eleições francesas), mas aquela cara de criança que foi pega com a mão dentro do jarro de doce, com a boca na botija revelou mais do que devia.

      Mas, certamente, ele teria muitos votos na zona. Ele é muito popular entre as profissionais do sexo onde quer que ele vá.

      TAF
      Filardo

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