Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Galeria: Henri Caillavet, um grande maçom da República Francesa

Tradução José Filardo

cavaillet

No mesmo dia em que morreu Stéphane Hessel, extinguiu-se um homem que seria muito errado esquecer e cujo legado não pode ser ignorado pela sociedade francesa. Este homem é Henri Caillavet.

Se fosse indigno comparar os méritos de figuras eminentes tais como Stéphane Hessel, Henri Caillavet  ou Françoise Seligmann – todos os três desaparecidos no mesmo dia – seria igualmente subestimar ou ignorar o que uma homem como Henri Caillavet trouxe para nossa República, ao nosso país e a seu povo.

Um peregrino da razão

Henri Caillavet, primeiro, era uma presença.  O olhar brilhante de inteligência, o humor afiado, Henri Caillavet foi por mais de 95 anos, capaz de improvisar um discurso visionário, fino e politicamente construído. Aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo nos últimos anos lembrar-se-ão disso e lembrar-se-ão para sempre.

Sua participação na Maçonaria, aquela de Garibaldi ou de Allende, torna bem insignificantes as manchetes  escandalosas e as matérias sensacionalistas de alguns semanários mal inspirados. Sem dúvida, ele mergulhou neste compromisso por décadas, com autonomia em relação ao tempo  político e uma capacidade de se emancipar do quotidiano e da atualidade. Essa experiência lhe pertence, mas, sem dúvida, ela desempenhou um papel decisivo no espírito político de Henri Caillavet.

Secular, porque ele acreditava firmemente que o secularismo garante a liberdade de consciência, ele era um peregrino da razão, muitas vezes distante do “razoável” que o anexamos tão facilmente à sua família política, aquela do radicalismo francês. Ele foi, assim, Presidente de Honra da Comissão do Secularismo da República…

A libertação do  homem como horizonte

Nascido em 1914, Henri Caillavet viu então tudo do século XX  . Desde a guerra de 1914-1918 à disseminação da Internet, sua existência é extraordinário no sentido de que ele trouxe uma ação e uma reflexão concomitantes ao século das grandes revoluções tecnológicas, tendo como horizonte a libertação do homem, sua emancipação e sua autonomia.

Ao longo das décadas, Henri Caillavet se apropriou de muitas questões “sociais” importantes, tais como:

  • o direitos das mulheres;
  • a descriminalização da homossexualidade;
  • o direito à contracepção;
  • o divórcio por mútuo consentimento;
  • e, é claro, a lei sobre transplantes de órgãos;
  • Pode-se também adicionar a questão dos transexuais;
  • e a da internação psiquiátrica…

Jogando com virtuosismo do “projeto de lei”, ele continua sendo um dos mais produtivos e mais eficazes parlamentares do parlamento francês na segunda metade do século XX  . Henri Caillavet era a política no sentido mais nobre  do termo, aquele que dá vontade de discutir, ouvir, se pronunciar. Longe do burburinho político, sua ação casava uma reflexão intelectual muito solida  com uma tática midiática muito hábil.

Suspeita de espírito libertário

Henri Caillavet sabia provocar intelectualmente sem que jamais esta arte da provocação útil pudesse ser considerada como outra coisa que não fosse uma vontade inquebrantável de promover os princípios republicanos. Henri Caillavet não concebia a República sob um ângulo fixo.

Muito longe dos modismos “Nacional Republicanos” (muitas vezes bastante reacionários) de uma corrente que está perdida, ele entreviu o potencial de libertação e emancipação e eternamente revolucionário da ideia republicana. Esta suspeita de espírito libertário só deu mais força à sua paixão republicana … e dá algumas indicações sobre o caminho àqueles que desejariam redescobrir o sentido original desta grande e bela ideia.

Quem se envolveu primeiro na organização da  passagem de armas à República espanhola, juntando-se assim a homens como Pierre Cot ou – já – Jean Moulin no início de uma guerra global a ser travada contra os fascismos, e em seguida ingressou em Combate e participou ativamente da resistência. Ele não deixou, depois, de continuar a ser o Resistente que tinha sido. Sem dúvida esta foi a origem de sua eterna juventude. Por décadas, ele irrigou a vida pública com sua inteligência e seu espírito visionário.

Henri Caillavet devia ser, para a esquerda francesa, para os parlamentares e sua juventude, um exemplo a conhecer e meditar.

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