Publicado em FREEMASON.PT
Por Ivan Pinheiro**
Um exercício aplicado no contexto do Regime (Rito) Escocês Retificado
Introdução
Uma das definições mais usuais para referir à Maçonaria é a de que ela é um sistema de moralidade velado por alegorias e ilustrado por símbolos, encontrada, entre outros, em Ismail (2020) e, também, em REAA (2007). E como à criatividade não se impõe limites, outras definições contam com a adição interminável de adendas, provavelmente porque os autores entendem que assim complementam e refinam a primeira. Ainda que essa atitude eventualmente possa resultar em alguns ganhos pontuais, a definição acima possui não só a elegância da simplicidade, como é de largo conhecimento, sobretudo pela predominância, no Brasil, da prática do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) e, finalmente, ao que ora mais interessa: é uma definição passível de operacionalização, isto é, permite que se passe da teoria à prática, da abstração à concretude. Isto, por si só, deveria motivar os gestores das Lojas – as suas Luzes – a tê-la como bússola orientadora no sentido à organização das agendas, ao estabelecimento de objetivos, à priorização de atividades, enfim, de como proceder a alocação do tempo (sempre escasso): para desvelar as alegorias e decodificar os símbolos com vistas a trazer a lume o sistema de moralidade, ao invés, por exemplo, de repetir à exaustão aspetos históricos hoje facilmente obteníveis em fontes fidedignas com a qualidade nem sempre observada nas manifestações orais e improvisadas em Loja ou mesmo nos grupos das redes sociais.
Embora aparentemente simples, a decomposição dos termos da definição traz à luz não poucas dificuldades, mas nenhuma insuperável desde que existentes a vontade e a orientação seguidas da ação transformadora da potência em ato.
Dito isto, entre os objetivos deste texto se encontram a problematização da definição apresentada acima, seguida da proposta de um Modelo Geral de Análise e Interpretação Simbólica (MGA&IS) e, finalmente, a sua aplicação no contexto do Regime (Rito) Escocês Retificado [1].
1 – Maçonaria – o desdobramento da definição
Parece ser imediato que uma das primeiras necessidades é o entendimento, e tanto quanto possível, o domínio dos “símbolos”. À primeira vista e no curso do quotidiano a expressão não encerra maiores dificuldades; todavia, o debruçar-se sobre o tema e com interesses mais específicos revela que o trato da simbólica se organiza e evolui através de sucessivos graus de complexidade e dificuldades. Em meio a tanto, para não fugir em demasia do escopo deste texto, a abordagem que se segue se atém aos limites minimamente necessários aos objetivos propostos; para o mais amplo e melhor entendimento da matéria, entre outras e em carácter preliminar são sugeridas as leituras de Santos (1959), de Alleau (s.d.) e também de Jung (2008).
Estabelecidas as primeiras balizas, por ora importa registrar que o tema transita pela análise e apreensão do entendimento (mediante analogia, extensão de raciocínio, comparação, contraste, ironia, sátira etc.) escamoteado em meio às mais variadas formas de manifestação: se através da escrita, em geral na forma de metáforas (o que inclui as parábolas, as lendas, os mitos, as fábulas), mas também em textos ficcionais, e na forma de figuras, objetos, números, animais etc. [2] Seja por motivos estéticos, estilísticos, retóricos ou mesmo por cautela, há o intento deliberado de ocultação da mensagem, daí porque o tema sempre esteve presente nas Escolas e Ordens Iniciáticas, onde o conhecimento se adquire por gnose [3] e tem o claro sentido e propósito evolutivo (no limite, o saber transcendente), daí que gradualmente e por etapas que não devem ser antecipadas uma à outra.
Por oportuno, convém lembrar que todo e qualquer idioma é, em si mesmo, um conjunto de signos, símbolos e significados histórica e socialmente construídos, assim como a linguagem matemática atualmente utilizada para representar quase tudo no universo conhecido, e também o desconhecido [4]. E no caso dos idiomas e da matemática, os signos se fazem acompanhar pari passu das regras de sintaxe que não só conferem o sentido como ampliam o significado da mensagem [5]. Dentre as implicações desta afirmação, a mais imediata é a reafirmação de que a análise e a interpretação simbólica não só encerram complexidades e dificuldades, como estas se revelam escalonadas, crescentes – por exemplo, como aprender derivadas e integrais sem, antes, conhecer as operações elementares, bem como a álgebra? E no trato idiomático um dos níveis mais elementares da análise interpretativa corresponde à passagem do significado da expressão literal ao sentido figurado, com ou sem o recurso às chamadas figuras de linguagem, mas também aqui é conditio sine que non um estofo preliminar de “cultural geral”.
Um nível logo acima está a apreensão do significado implícito na representação (simbólica) a partir das imagens de objetos tangíveis (a exemplo da figura de uma escada, de uma espada, de um livro, de uma trolha etc.), as quais, em si mesmas já carregam uma mensagem; por exemplo, ninguém questiona que a imagem de uma escada, de imediato, remete à ideia de subida ou descida e em ritmo gradual. Já de ordem mais complexa é a apreensão dos significados contidos nos símbolos utilizados para a representação dos intangíveis – valores, sentimentos, ideais, atitudes etc.
Assim, e grosso modo, a análise simbólica transita do raciocínio concreto à mais elevada abstração, e por vezes mesmo demanda considerações que beiram à transcendência (a exemplo da gnose mística), ao sobrenatural, como se verifica num dos campos de estudos em crescente expansão no domínio da Maçonaria Especulativa: a Geometria Sagrada (MOREIRA, 2016; ZATÓN, 2017). E sem que se possa estender em demasiado no assunto, dados os limites da racionalidade humana alimentada pelos sentidos, não há exagero em afirmar que, naturalmente, toda a representação do mundo realizada pelo homem é simbólica – porque amparada apenas numa fração da realidade -, como têm afirmado as fronteiras das ciências, notadamente nos domínios da física, das neurociências e da cosmologia. Portanto, como foi dado a perceber, não restam dúvidas acerca da amplitude e complexidade da matéria em lide, o que vai ao encontro do conhecido aforismo maçónico: mesmo os Mestres já experientes são eternos Aprendizes.
Dessarte, resulta que a superação do “problema da análise e interpretação simbólica” requer não só o esforço continuado de exercícios cognitivos, como um lastro crescente de conhecimentos multidisciplinares; no caso da Maçonaria, a História (lato sensu) é disciplina propedêutica, pois é no curso da sua formação que são (foram) convencionadas e consolidadas as semânticas que organizam(ram) as comunicações que estão nas origens das civilizações. Ainda, a literatura, além de ampliar a plataforma de conhecimentos (o estofo de cultura geral) se constitui, em si mesma, como um dos principais exercícios (treinos) cognitivos para a análise simbólica que se requer sistémica; não à toa que se diz que todo “texto se insere num contexto”. Por exemplo, fora do contexto a frase “Que outra coisa poderia querer dizer meu tio com “a aliança que sempre vos acompanha”?” sugere uma simples aliança de compromisso, como a de casamento; mas quando apreciada no devido contexto revela tratar-se do “sinal da circuncisão”, cujo significado, ampliado (simbólico), não pode ser apartado da história e das tradições (ZIMLER, 1997, p. 84).
Feitas estas considerações, entende-se por que a análise simbólica (também) na Maçonaria tem merecido a publicação de inúmeros títulos [6]: Varoli Filho (1970), Guénon (1931; 1962), Sete Mestres Maçons (1995) e, entre tantos outros, também Boucher (2015). Entretanto, é importante não perder de vista que a análise simbólica é antes de tudo e tão somente um instrumento pedagógico, o meio através do qual a Maçonaria transita para trazer à luz o sistema de moralidade oculto nos e por entre os signos e símbolos. Portanto, o próximo passo requer envidar esforços no sentido a trazer à evidência o sistema de moralidade que será utilizado como referência.
Mas antes é preciso estabelecer as bases de uma das mais importantes “ferramentas conceituais” – o significado de “sistema”: por definição é um conjunto de elementos interconectados e destinados a determinada finalidade, onde cada um e todos (os elementos) possuem a sua função precípua, mas esta também é ordenada (e pode-se mesmo pensar em subordinada) à do sistema, de tal modo que qualquer alteração (formal ou funcional) em um dos elementos poderá comprometer a integridade (e, por extensão, a finalidade) do sistema [7]. E é habitual que num sistema coexistam um ou mais subsistemas constituídos por subconjuntos dos elementos integrantes do sistema de referência.
Trazendo ao domínio da Maçonaria e tendo em conta a noção de sistemas e subsistemas: o Templo, a sua decoração (fixa e variável), os utensílios e também as Instruções, cada um em si mesmo é um elemento (signo) dotado de conteúdo simbólico, mas quando reunidos na ritualística ordinária de cada Grau, bem como nas cerimónias Iniciáticas [8], constituem um sistema com uma nova ordem de simbolismo; mas essas (ritualísticas), agora vistas na perspetiva da doutrina do Rito, também se colocam como subsistemas. Analogamente, por exemplo, cada Instrução quando apreciada em si mesma carrega significado próprio – à semelhança de um sistema de informações -, mas quando encadeadas revelam um novo significado que complementa, ressignifica os anteriores, agrega e então eleva o conhecimento a um novo patamar.
Assim, este vasto conjunto de elementos, na aceção mais ampla dá forma à doutrina e define o próprio Rito. Mas também as ritualísticas do I ao III Grau constituem (sub)sistemas que, reunidos, constituem o sub(sistema) da Maçonaria Simbólica (as Lojas Azuis) dos mais diversos Ritos, e estes, por sua vez, reunidos ao sub(sistema) dos Altos Graus (também organizados em Corpos – (sub)sistemas), constituem o sistema de maior nível de agregação: a Maçonaria. E não é de surpreender que dada a diversidade de Ritos, produtos de diferentes contextos (história, circunstâncias, objetivos etc.), que ao mesmo símbolo (elemento) seja atribuído significado distinto conforme o Rito (sistema). Daí porque, ao contrário dos que sustentam que cada um tem (pode ter) o seu próprio entendimento, a interpretação simbólica, embora flexível, não é de todo livre porque presa à lógica interna de um sistema específico e no qual os elementos possuem lugar e função singular. E sobre esta multiplicidade e relatividade de significados para o mesmo símbolo, leia-se, por exemplo, Dinsmore (2023). Por fim, qualquer semelhança com a expressão “todo texto se insere num contexto” não é mero acaso pois, fora do contexto, o símbolo pode ser portador de mensagem diversa da originalmente pretendida. Se no Oriente um ideograma, porque parte de um sistema maior – a linguagem -, traduz uma mensagem específica, no Ocidente, de regra ele não significa mais do que um adorno pessoal ou mesmo um objeto de decoração.
Resta ainda esclarecer, na definição que ora identifica a Maçonaria, a noção de moralidade. E, também, aqui, para não fugir em demasia do foco estabelecido, delimita-se a ideia de moralidade ao conjunto de princípios e valores que orientam os comportamentos admitidos, valorizados e estimulados, bem como o contrário aos seus opostos no grupo de referência, seja uma Loja, um bairro, uma cidade, uma região ou até mesmo um país. É o caso, por exemplo, da referência aos “valores ocidentais” – grosso modo (em razão das idiossincrasias pessoais e culturais locais), habitualmente se toma por base os princípios e os valores do chamado vetor judaico-cristão [9] que, não por acaso [10], são os mesmos consagrados [11] nos textos seminais da Maçonaria Especulativa: as Constituições de Anderson (ANDERSON, 2012) [12]; a Ahiman Rezon (DERMOTT, 2016) [13]; e, os Esclarecimentos Sobre a Maçonaria (PRESTON, 2017). Uma proxy bastante usual e largamente utilizada na Maçonaria é a referência às virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e cardeais [14] (justiça, prudência, fortaleza e temperança), sobretudo as últimas, consideradas esteios da formação educacional ocidental – da Antiguidade ao Medievo -, às quais, a partir da Modernidade e aos poucos, outras se somaram em resposta aos novos tempos e demandas: tolerância, empatia, urbanidade, serenidade, resiliência etc.
Por oportuno, Preston (op. cit.) também referiu que “a Maçonaria é uma ciência […]” (p. 32), tem “A virtude, [como] o grande objetivo em vista, luminosa como o sol meridiano […]” (p. 33), e também que “A Maçonaria Especulativa está interligada à religião, para nos colocar sob as mais fortes obrigações de prestar homenagem racional à Deidade […]” (p. 34). Depreende-se, a partir da primeira citação, dado que Preston [15] viveu já na maturidade da Modernidade, que desde então já se fazia a defesa da necessidade do uso do método (e supõe-se que alude ao científico) no trato das especulações internas à Ordem; a segunda reafirma a vida virtuosa (lato sensu) como o grande desiderato da Maçonaria; finalmente, a terceira deixo claro que não só Maçonaria e Religião não se confundem, ainda que ambas estejam interligadas, como também que os maçons não podem abdicar da racionalidade ainda que no trato com a(s) Deidade(s). É, pois, em linha com essas proposições, que se sugere o MGA&IS já anunciado na Introdução.
2 – Modelo geral para a análise & interpretação simbólica – MGA&IS
Ainda que modo bastante resumido, tendo visto: 1) o significado e a extensão da análise simbólica; 2) as características dos sistemas; 3) alguns elementos constituintes do sistema que é o universo maçónico; 4) assim como a noção da moralidade-referencial, resta agora explorar uma forma de como, a partir dos símbolos organizados (em projetos de arquitetura, em ambientes, em narrativas, em representações e dramatizações, etc.) é possível extrair significados aderentes ao sistema de moralidade no contexto da Maçonaria.
As reflexões preliminares podem ser encontradas em Pinheiro (2017) e Pinheiro, Pellegrini e Varejão (2023), mas o insight definitivo surgiu a partir do Ciclo de Palestras (2022-2023) oferecido pelo Grande Priorado Retificado do Brasil da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS) e apresentado pelo BAI [16] Jean-Louis Duquesnoy. O Quadro 1, a seguir, reúne a síntese das reflexões:
Quadro 1: Níveis de Leitura e Interpretação de Textos & Símbolos
| Níveis de Leitura Adler & Van Doren | Níveis de Interpretação Bension | Sentidos de Interpretação McGrath |
| elementar (parte) | peshat (realidade) | literal (realidade) |
| inspecional (superficial) | remez (entendimento) | alegórico (interpretação) |
| analítica (profunda) | darash (metáfora) | tropológico (moral) |
| sintópica (descoberta) | sod (revelação) | anagógico (elevação) |
Fonte: Pinheiro, Pellegrini e Varejão (2023)
Conforme se verifica: 1) não existe apenas uma única maneira de decodificar os símbolos para deles extrair significados, lições e conhecimentos; 2) todos os autores consultados reconheceram a existência de níveis de leitura (análise e interpretação); e, 3) como é possível estabelecer um paralelismo entre as diferentes abordagens, cabe então, ao interessado, optar pelo que melhor aprouver à situação em apreço. Como é próprio da natureza da matéria ora tela, não são absolutamente claras as fronteiras entre os níveis e domínios de análise e interpretação; portanto, não é de causar surpresa que as considerações transitem e mesmo eventualmente se verifique a superposição entre os níveis.
Por razões que aos poucos ficarão evidentes, por ora se opta pela abordagem de McGrath, e o caso a ser explorado para ilustrar o MGA&IS é o da cerimónia de Receção ao Grau IV do Regime (Rito) Escocês Retificado, cujo Iniciado faz jus à denominação de Mestre Escocês de Santo André, mais conhecido como Grau de MESA, e também como Mestre X.
Finalmente, para maior clareza e facilidade ao leitor, optei por expandir e esclarecer as 4 (quatro) categorias de análise (sentidos literal, alegórico, tropológico e anagógico) logo adiante, por ocasião da discussão dos casos – secção 4 (O MGA&IS no Contexto da Receção ao Grau IV do RER) -, deixando assim, mais próximas, a teoria (o Modelo de Aplicação) e a sua prática (o exercício ilustrativo).
3 – Alguns aspetos do Regime (Rito) Escocês Retificado – RER
Uma das particularidades do RER é a organização do seu simbolismo (também referido como Ordem Externa) estar estruturada em 4 (quatro) Graus: os 3 (três) primeiros (Aprendiz, Companheiro e Mestre) vinculados às Potências e, o último, o de Mestre X, vinculado ao Priorado [17]. Outra característica é que além do simbolismo intrínseco a cada Grau, é clara a existência de uma narrativa que os conecta – do primeiro ao quarto [18] -, assim, enquanto cada Grau complementa os antecedentes, ampliando as dimensões e os significados dos elementos (símbolos) que o constituem, também contribui para o estabelecimento do caminho que traz em si mesmo o objetivo final, a saber, a “reintegração dos seres na sua propriedade, virtude e potência espiritual divina”, título de uma das obras seminais – um midrash – do Regime (PASQUALLY, 2008). É de se notar que se está, então, à frente de um efetivo sistema.
Em razão da sua matriz judaico-cristã [19], como de sorte também outros Ritos, mas sobretudo por textualmente se afirmar como um Rito cristão (BERMANN, 2011), uma das principais fontes de consulta para a análise e interpretação simbólica das ritualísticas no contexto do RER é a Bíblia, o Velho e, também, o Novo Testamento.
Por exemplo, como legado veterotestamentário o RER herda o Mito da Criação, bem como o da Queda, ambos lidos conforme o midrash citado, narrativa que, a meu juízo, corresponde antes a uma homenagem de J. B. Willermoz ao seu tutor (M. de Pasqually) do que a uma efetiva necessidade, mas cuja leitura [20] desde então passou a ser obrigatória porque confere o substrato doutrinário a determinadas ritualísticas (PINHEIRO, 2021a). Sobre o tema há uma vasta literatura, a começar pela própria Bíblia (2006), mas também Pseudo-Dionísio [21] (2015 a,b), Agostinho [22] (2003), D`Ávila [23] (2014), Cruz [24] (2002) e tantos outros que oferecem os elementos básicos constituintes da doutrina que ampara o Regime & Rito.
Como Rito cristão, o RER não poderia deixar de ter como alicerce estruturante o Novo Testamento, em especial a base constituída pelos Evangelhos (de onde extrai a chegada, o Batismo, a vida pública de Jesus, bem como o seu martírio, morte, ressurreição e exaltação) e, entre estes, notadamente o Evangelho de João. E para estabelecer a ponte entre as duas Eras – da qual Sto. André é um símbolo -, também se faz necessário recorrer às profecias anunciadas nos Salmos e nos Livros Sapienciais, textos que não só antecipam a chegada do Messias, como testemunham (vide Novo Testamento – Atos dos Apóstolos, 13), como afirmado por São Paulo, de que Jesus era sim o Filho de Deus que fora anunciado – e as “provas” seriam o seu martírio e a morte não seguida da corrupção do corpo uma vez que ressuscitou e foi elevado aos Céus aonde se encontra à direita do Pai, todos acontecimentos profetizados com larga antecedência no Velho Testamento. Ademais, durante a sua vida pública, Jesus também teria antecipado inúmeros acontecimentos afinal realizados, a exemplo da sua negação por Pedro e da traição de Judas. Estavam, pois, realizadas as profecias do Velho Testamento, daí que a comunidade judaica não precisaria mais ficar à espera do Ungido, o que significa que poderiam, como os pagãos, ser alvos do proselitismo e da conversão. Lastreado nesses argumentos e na flexibilização (pelo Concílio de Jerusalém) de algumas normas [25] que tornavam os judeus reticentes, São Paulo Apóstolo converteu os gentios, os judeus e deixou como legado a expansão e a presença do Cristianismo da Ásia Menor à Europa.
Demonstrados, pois, os nexos do RER com o Novo e também com o Velho Testamento, textos seminais para a análise e a interpretação dos simbolismos impressos no primeiro.
Todavia, resta ainda hoje em aberto a terceira fase da narrativa vetero-neo-testamentária, a que estabelece o horizonte escatológico: o retorno do Filho de Deus – a parusia – não mais com atribuições de Mestre e Salvador, mas na condição de Juiz para decidir sobre quem merece ou não viver a eternidade na Nova Jerusalém. Cabe então, hoje, aos futuros réus, a pergunta: quais as leis e a dosimetria que orientarão os julgamentos? A recomendação é clara: a estrita observância às Leis de Deus, à legislação mosaica (“infraconstitucional”) e uma vida ordenada às virtudes pregadas por Cristo – lastreadas no amor, no perdão, na humildade, na inclusão, na caridade, entre outras. Até que ponto este cânone admite ou não a atualização secular é questão permanentemente em aberto e foco de discussões intermináveis; vide, entre tantos, os questionamentos ao pontificado de Francisco I (2013 – …) e, no âmbito profano, à Grande Loja Unida da Inglaterra por inovar no trato das questões ao abrigo das expressões transgénero e homoafetividade. Aos mais radicais e intransigentes, não custa lembrar que o primeiro Concílio, o de Jerusalém [26], foi convocado em resposta à querela entre as igrejas de Jerusalém (à frente Tiago e Pedro) e a de Antioquia (à frente Barnabé e Paulo); a primeira mais ortodoxa e conservadora, enquanto a segunda mais liberal e revolucionária – a tese vencedora foi a de Paulo, tendo-se assim ampliado, largamente, as portas à conversão dos pagãos e dos seguidores de outras religiões.
A temática da ressurreição trouxe à ordem do dia duas novas questões: a imortalidade da alma e a Doutrina Trinitária; esta reconhece Deus como uno, mas admite a sua manifestação consubstanciada na forma de três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo – raiz das heresias que só vieram a ser pacificadas em 325 por ocasião do Concílio de Nicéia. A crença na imortalidade das almas é o consequente e a exigência lógica para a condição do julgamento no final dos tempos, quando aquelas se reunirão aos corpos então ressuscitados. Embora Orígenes [27] (2012) também tenha se pronunciado sobre a ressurreição e a imortalidade da alma, para o Maçom Retificado não há palavras mais apropriadas do que as de Taciano [28] (1995, p. 79-80):
Gregos, a nossa alma não é imortal por si mesma, mas mortal; ela, porém, é também capaz de não morrer. Com efeito, ela morre e se dissolve com o corpo se não conhece a verdade; ressuscita, porém, novamente com o corpo na consumação do tempo, para receber, como castigo, a morte na imortalidade. Por outro lado, não morre, por mais que se dissolva com o corpo, se adquiriu conhecimento de Deus. Porque, de si, a alma é treva e nada luminoso há nela, e é isso o que sem dúvida significam as palavras “As trevas não apreenderam a luz”. Não é a alma que salva o espírito, mas é salva por ele, e a luz apreendeu as trevas, no sentido que o Verbo é a luz de Deus e a alma ignorante é treva […] Originariamente, o espírito habitava junto com a alma, mas, não querendo segui-lo, o espírito a abandonou e ela, que conservava como que um resplendor de seu poder, mas pela separação já não era capaz de contemplar o perfeito, na sua busca de Deus, representou para si, por extravio, uma multidão de deuses, seguindo aos demónios enganadores. O espírito de Deus, porém, não está em todos os homens, mas somente desce para alguns que vivem justamente […] E aquelas que obedecem à sabedoria, atraem para si mesmas o espírito que lhes é congénito. Todavia, as que não obedecem, mas recusam aquele que é mensageiro do Deus que sofreu, mostram-se almas que fazem guerra a Deus, e não são religiosas.
A citação acima convida a inúmeras reflexões, como por exemplo a questão do livre-arbítrio, tema discutível à luz das Escrituras e que demandaria um texto específico, mas que por ora é possível suscitar que, senão por completo, a salvação, ou o que quer que seja entendido como tal (pois, que não se esqueça, estamos no mundo das representações simbólicas [29]), em grande medida é dependente dos pensamentos, da vontade e das ações (iniciativas) individuais. Como parte desta visão, que não é exclusiva do judaísmo e tampouco do cristianismo, a crença de que o homem é constituído de matéria e espírito, embora alguns autores estabeleçam distinções e ampliem o espectro para 3 (três) ou mesmo 4 (quatro) componentes como refere Pinheiro (2021c, p. 24):
Muita tinta e páginas já foram consumidas em análises críticas sobre o tema, mas quero aqui chamar a atenção para um desdobramento lógico da crença no GADU porque pertinente ao tema ora desenvolvido, uma cosmovisão particular, admitida por muitos, mas não por todos, qual seja: a existência de um plano transcendente à razão objetiva que, em princípio, é (seria) inatingível pelas ferramentas apresentadas. Isto implica na conceção do homem noético, também denominado de noopsónico (PONTES, 2012) que, em síntese, é constituído por matéria (físico), intelecto e espírito [30]. Alguns, a exemplo de Smith (2002), identificam quatro dimensões: corpo, psique, alma e espírito; enquanto Descartes se restringiu à dualidade corpo vs. alma.
Contudo, e em meio a tanto, há ainda outros importantes aspetos que ganham destaque nas Sagradas Escrituras, como é o caso da sua característica sistémica: se de cada livro é possível extrair mensagens e lições morais específicas a partir do episódio de fundo, só quando lido o conjunto (ou até mesmo parte) é possível observar, por exemplo, a emergência de modelos de comportamento. Porque se repetem com regularidade (em vários livros – em circunstâncias, ambientes, com personagens etc., em tudo diferentes), depreende-se que são padrões inerentes à natureza humana, e por isso universais [31], o que autoriza o resgate e a extensão (das lições morais, mas nem todas) do legado do Velho Testamento até então restrito ao povo de Abraão, Isaac e Jacó. Nesta linha, por exemplo, uma das constantes na Bíblia é a dinâmica cíclica catábase vs. anábase (descida-subida; destruição-reconstrução; erro-acerto), ora no plano individual, ora no coletivo (famílias, tribos, reinos, etc.), sempre ditada em razão do afastamento da Lei (lato sensu), o que corresponde ao distanciamento Deus, seja pela via da vida não virtuosa ou mesmo pelo cometimento direto do pecado; todavia, Némesis segue a húbris (o castigo ao pecado). Ademais, só a leitura longitudinal proporciona o senso de dinamismo, das mudanças nos usos e costumes, nos valores etc. ao longo dos tempos e em resposta à sucessão de novos acontecimentos; assim, por exemplo, são notáveis as transformações no senso de justiça, da misericórdia divina (sem paralelo entre o Velho e o Novo Testamento), no papel da mulher na sociedade, das práticas inclusivas, e do próprio significado do “amor” (em variadas aceções), noção tão cara ao cristianismo, entre outras.
Esta digressão sobre alguns aspetos do Velho e também do Novo Testamento destinou-se a chamar a atenção para a sua importância na análise e interpretação do simbolismo inserto no RER sem que seja necessário, obrigatoriamente, a lançar mão aos escritos dos principais mentores do RER, a saber, M. de Pasqually, J. B. Willermoz e L. C. de Saint Martin.
Em que pese os avanços da história da humanidade no sentido à secularização, torna-se desnecessário reproduzir, aqui, a importância e o impacto dessa narrativa que ainda hoje, notadamente no mundo ocidental, baliza os usos e costumes, modela (estimula ou reprime) comportamentos e está impressa nos principais textos normativos, inclusive nacionais. Contudo, antes de passar ao caso prático, dois alertas e esclarecimentos, sobretudo quanto ao uso da Bíblia como fonte de consulta:
- toda síntese corre o risco de excluir elementos que a juízo de outros deveriam ser considerados mais relevantes dos que os decididos pelo proponente; contudo, as sínteses constituem uma importante ferramenta didática;
- como é sabido, a leitura da Bíblia encerra inúmeros e alguns até insuperáveis problemas:
- em primeiro lugar, não pode deixar de ser vista como mais uma narrativa em busca das respostas às questões fundamentais (também referidas como primeiras ou últimas) da humanidade: qual a nossa origem, o nosso destino e razão de existirmos? O empreendimento para chegar às respostas deu origem às inúmeras teocosmogonias, onde em meio à realidade (a exemplo de um cataclismo natural) proliferam os mitos, as lendas e os heróis que em manifestações teofânicas que dão formas à realidade fantástica que, entretanto, ao longo da História disputam espaço, nos corações e mentes, com os avanços da ciência [32];
- não é apenas um livro, mas um conjunto de mais de 60 e, por conseguinte igual ou maior número de autores, pois há sinais de alguns textos foram escritos com a contribuição de várias mãos;
- a maioria dos autores não se conheceram, há textos que sugerem ser autobiográficos, outros testemunhos (parciais) e a maioria escrita a partir de terceiros. E não se pode esquecer que à época poucos sabiam ler e escrever, prevalecia a tradição oral entre pessoas incultas que atribuíam significados diferentes às mesmas expressões;
- há inúmeras Bíblias, nem todas constituídas pelos mesmos livros selecionados a partir de diferentes critérios e intenções;
- há vários textos (ou trechos de determinados textos) reconhecidos como históricos, cujos factos estão documentados ou foram validados por cruzamento, mas outros tantos são claramente fictícios, misturam personagens, dados e factos ocorridos em tempos distintos. Erro do autor? Talvez, mas o mais provável é que tenham sido escritos com motivação específica, com o intuito de transmitir uma mensagem subjacente que, por variadas razões, deveria ficar ocultada; e por fim, mas sem a intenção de ser exaustivo,
- de tradução em tradução (do aramaico e hebraico para o grego, para o latim e outras línguas intermediárias – inglês, francês, alemão – até chegar ao idioma final, no caso o português), muito se perdeu, sofreu censura, assim como houve acréscimos e interpretações motivadas ou por desconhecimento. A estas circunstâncias se somam as características comentadas na nota de rodapé nº 3.
Como subproduto destes senões e diversidades, uma hermenêutica igualmente diversa, rica, por vezes repleta de contrastes e até mesmo contradições que, entretanto, internamente devem guardar coerência com as premissas do sistema de referência. Assim, sujeita a tantas restrições, não seria o caso de se perguntar se o que mais importa não é o processo (o estudo, a reflexão crítica, os debates etc.) ao invés de o resultado (a atribuição simbólica) final? Na mesma linha, há indícios de que a verossimilhança narrativa (=coerência interna do sistema) se sobrepõe à “verdade absoluta”. Sem dúvida que essas são questões complexas e irredutíveis, razões pelas quais não cabe, aqui, análise compreensiva, mas deixo-as à reflexão que, em parte, pode ser vista em Pinheiro (2021c).
4 – O MGA&IS no contexto da receção ao Grau IV do RER
A dramatização do Grau IV, representada em 4 (quatro) Atos, correspondentes aos painéis, se dá no contexto do retorno do povo hebreu depois do cativeiro na Babilónia. O Ritual alude a Nabucodonosor, mas foi o seu filho, Nabucodonosor II [33], quem atacou o Reino de Judá, cercou e saqueou Jerusalém, profanou, sequestrou os bens e destruiu o Templo e, por fim, levou os judeus, na condição de cativos, para a Babilónia, onde permaneceram por cerca de 70 anos até que, autorizados por Ciro, retornaram para reconstruir, a pedido de Ciro, o Templo. O episódio é relatado nos livros 2Reis:25, 2Crônicas:36, Esdras e Neemias.
A título de exercício foram escolhidos 3 (três) eventos: 1) a entrada dos recipiendários, o que oportuniza também tecer considerações sobre o primeiro painel; 2) um objeto que desde o Primeiro Grau se encontra sobre o altar do Venerável (nas Lojas Azuis) e do Deputado-Mestre (nas Lojas de MESA) mas que sobre o qual até então não fora feita nada mais do que uma mera menção nos Graus precedentes; e, 3) uma citação extraída do Ritual do IV Grau. A escolha de cada um desses eventos atendeu aos objetivos específicos que consistem em explorar inclusive as limitações do MGA&IS, por ora o objetivo principal do trabalho, mais do que realizar um exercício propriamente dito sobre o simbolismo. À conclusão, espera-se que o Modelo se constitua em mais um instrumento (simbólico) de trabalho do Maçom.
Quadro 2: Matriz de Eventos da Receção ao Grau IV do RER – Interpretados Segundo Proposta de McGrath
| OS SENTIDOS DE INTERPRETAÇÃO SEGUNDO McGRATH | EVENTOS | ||
| I a entrada dos recipiendários | II A trolha | III o horário de trabalho do MESA | |
| Literal | I.1 | II.1 | III.1 |
| Alegórico | I.2 | II.2 | III.2 |
| Tropológico | I.3 | II.3 | III.3 |
| Anagógico | I.4 | II.4 | III.4 |
Para aqueles que não dispõem do Ritual, os painéis (ligeiramente modificados) também podem ser vistos em Bermann (op. cit., p. 90, 96, 112 e 128). O primeiro painel, em Bermann, apresenta o Templo destruído, as paredes, as colunas e o Mar de Bronze em ruínas. À entrada, espalhadas nos 7 (sete) degraus de acesso, fragmentos de correntes. A mensagem geral (de destruição e correntes rompidas) trazida pela figura do Ritual é semelhante, porém com diferenças notáveis aos olhos interessados nos detalhes que reverberam na leitura simbólica: 1) enquanto que em Bermann as bases das colunas, claramente identificadas como J & B (porque ambas ocas), ainda estão eretas (no que se assemelham à adhuc stat do Primeiro Grau), as do Ritual se encontram completamente tombadas e não é claro se correspondem ou não às de J & B; 2) no primeiro há a sinalização dos quatro pontos cardeais, no segundo, não; e finalmente, 3) no segundo as correntes estão distantes das escadas. Com efeito, em 2Reis:25 se lê: “Queda de Jerusalém […] Fez executar os filhos de Sedecias [o Rei] na sua presença. Cegou Sedecias, pôs-lhe corrente de bronze e o levou para a Babilónia. E em 2Crónicas que “Levou para a Babilónia todos os objetos do templo […] Incendiaram o Templo, derrubaram a muralha de Jerusalém […] Levou desterrados para a Babilónia os sobreviventes […] foram escravos […] até o triunfo do reino persa”. Adiante, no mesmo capítulo, versículo 23:
Ciro [34], rei da Pérsia, decreta: O Senhor, Deus do céu, entregou-me todos os reinos da terra e me encarregou de lhe construir um templo em Jerusalém de Judá. Todos os que são desse povo e vivem entre nós podem voltar. E o Senhor seu Deus esteja com eles.
Assim e em linhas gerais, tem-se esclarecidas tanto a imagem de destruição e a presença das correntes no primeiro painel, como o modo da condução dos recipiendários à Loja: acorrentados. Feitas estas considerações e apreciadas em conjunto, o MGA&IS convida às seguintes reflexões:
- I.1 – a perspetiva literal não admite acréscimos, exceto a constatação de que a diferença de imagens (Bermann vs. Ritual) implica em considerações simbólicas igualmente diferentes. Por exemplo, as bases das colunas ainda em pé sugerem que a destruição não foi completa, talvez algo ainda possa ser (re)aproveitado, o que foi destruído é porque não era tão sólido, mas as bases ensejam confiança na reconstrução. A anotação dos pontos cardeais confere mais universalidade à realidade apresentada, assim como aos seus desdobramentos, situação análoga à disposição das correntes, em um caso sobre as escadarias e no outro à distância;
- I.2 – o olhar alegórico convida à ampliação das reflexões: quais as causas (as objetivas e também as subjetivas) da destruição, qual a sua extensão, é possível reaproveitar os alicerces, a quem atingiu, poucos ou muitos? Em não havendo personagens identificados o recipiendário é um símbolo e no seu entorno o enredo se desenvolve no contexto neo-veterotestamentário que singulariza o Rito e sobretudo o Grau, uma extensão do Mestre em III Grau, estágio a partir do qual a vida espiritual (interior) tem a primazia sobre a material. Portanto, como o corpo vive, o Templo destruído é o interior, o que acontece sempre que os vícios predominam sobre as virtudes e toma-se distância do divino. O Templo destruído não é mais o de Salomão, mas aquele que cada um carrega em si mesmo e se confunde com o próprio ser moral e espiritual. E a destruição também não é datada, deu-se, se dá e poderá se dar a qualquer momento, no ciclo catábase-anábase assemelhado ao eterno retorno de Eliade (s.d.). A solução também está à vista: libertar-se (quebrar as correntes) da escravidão dos vícios, pois só assim poderá ter início a reconstrução desejada, o que então é apresentado na sequência da dramatização e através dos demais painéis. A corrente fragmentada sugere o primeiro êxito, pois as mãos (e o pensamento) agora livres podem dar curso à vontade e à ação, após os desvios, no sentido à retificação. Ademais, ao leitor atento não escapa o facto de que foi Ciro, e não um descendente de Davi, o grande responsável pelo retorno, pela oferta de (mais) uma oportunidade da reconstrução do templo interno tantas vezes destruído ao longo da saga épica. Fica também aqui, implícita a mensagem (tantas vezes presente na Bíblia) consagrada no aforismo já popular: “Deus escreve o certo por linhas tortas”, isto é, concede a chance da reconstrução (individual e coletiva), mas antes, para o despertar da consciência, foram necessárias a derrota, a humilhação, o desterro e, por fim, a intervenção de um “estranho” para que a história retornasse ao seu eixo e a bom termo. A extensão da análise simbólica, com o cuidado de não se afastar do eixo central, é vasta, depende tão somente do engenho, da arte e da habilidade de quem se propõe a realizá-la. Portanto, para concluir esta seção, mas sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, a lembrança de que as considerações sobre a destruição estampada no painel, a partir das colunas podem ser relacionadas, comparadas, sequenciadas etc., com as mensagens subjacentes à ritualística do I Grau;
- I.3 – já as considerações tropológicas remetem à reflexão sobre como as lições apreendidas nas etapas anteriores (I.1 e I.2) podem ser aproveitadas como diretrizes e mesmo aconselhamentos pragmáticos na forma dos valores fundantes das atitudes e comportamentos no curso das relações no quotidiano – nos ambientes familiares, profissionais ou alhures. Se a Maçonaria é ciência, como afirmado por Preston (op. cit.), é então ciência aplicada. E sendo o homem, como disse Aristóteles, um animal político, gregário, e que hoje predominantemente vive em grandes cidades, então as suas relações em meio as hierarquias necessariamente são mediadas por regras, e estas alicerçadas em valores e na cultura (respeitadas as idiossincrasias): heranças geracionais que, porque bem-sucedidas no processo evolutivo (levaram à paz, à prosperidade, à felicidade, etc.) foram transmitidas tanto na forma de lições estruturadas (a partir das famílias, das escolas lato sensu), mas também na forma de histórias, lendas, parábolas, mitos e heróis populares. E neste caso, ao contrário do que sugere a coluna adhuc stat [35], que remete ao trabalho essencialmente individual, o empreendimento ora a ser realizado, há indícios, de que só poderá sê-lo com o envolvimento e o comprometimento de todos, o que então remete ao respeito às regras – é típico, no Velho Testamento, que o erro e a falta de um resultem na punição para todos, o que sinaliza que de algum modo, direita ou indiretamente, todos são responsáveis e, por extensão, se for o caso, culpados. Ademais, é sabido que a força (resistência) de uma corrente é tão grande quanto a do seu elo mais fraco; assim, também por isso, o sucesso do novo (futuro) empreendimento suscita a colaboração, a instrução, a divisão de tarefas, a liderança eficaz, quem sabe a persuasão ou mesmo contenção. Assim, o sucesso de um depende dos demais, e todos dependem de cada um, e vice-versa. Esse entendimento, per se, já sugere algumas e exclui outras atitudes e comportamentos no grupo de referência.
Optei por trazer à parte as reflexões sobre a abordagem anagógica – I.4 – porque, penso e testemunho, que ela não é, tal como as anteriores, extensiva a todos, mas restrita a um conjunto de pessoas, tanto na sociedade quanto entre os Irmãos, inclusive os Retificados. E um dos motivos mais robustos para essa afirmação é a clara identificação da falta de coerência, entre os Iniciados, do que habitualmente se denomina, teoria vs. prática – o sugerido e prescrito nos principais textos e documentos vs. o comportamento no quotidiano, inclusive no seio da própria Ordem.
Entretanto, há motivos anteriores e menos polémicos, como por exemplo, a de que ela (a abordagem anagógica) requer a admissão de algumas premissas, em parte já apresentadas, que necessariamente devem ser tomadas em conjunto como, por exemplo e muito sucintamente: a existência de uma sabedoria universal e transcendental (expressão máxima do bem, do belo, do justo e responsável pela ordem) que dirige a todos e a tudo; a vida, na Terra, é tão somente um estágio, uma primeira etapa de um destino também transcendente – o nível espiritual – que só será atingido no final dos tempos. Mas se esta sabedoria é inalcançável à razão humana devido à Queda, é possível dela se aproximar e mesmo, para alguns, apreendê-la em determinados aspetos, o que desde então passa a ser o sentido da vida (a resposta a uma das questões fundamentais); todavia, dependerá ainda das condutas e, sobretudo, que se goze (seja merecedor) da sua graça, a da sabedoria. A vida, então, deve ser ordenada por essa dupla visão: adventista e escatológica – a revelação (do destino) no final dos tempos que, por sua vez, será ponderada e condicionada aos pensamentos, às atitudes e às ações quotidianas.
Neste contexto, se todos os pensamentos, atitudes e atos devem responder nos termos já estabelecidos às demandas, às necessidades e aos objetivos do quotidiano (no plano material), devem, também, ter os olhos voltados para o porvir – a chegada da parusia – na busca de se aproximar tanto quanto possível da sabedoria universal – a vida na eternidade da Nova Jerusalém -, afinal, disse João 14-2: “Na casa de meu Pai há muitas moradas […]” [36]. A pergunta que então se coloca é: em que medida as leituras anteriores (I.1, I.2 e I.3) fornecem elementos aplicáveis à formulação das diretrizes e práticas no sentido ao desprendimento da matéria e à elevação bem-sucedida?
A resposta parece imediata, pois a menos de uma troca de palavras que em nada compromete a essência do que ora se discute, é de se notar que enquanto as religiões se ocupam da salvação (da alma ou da forma espiritual dos corpos ressuscitados), a Ordem Retificada se propõe à reintegração à unidade original, à célula (mónada, átomo) primordial, quando prevalecia o estado de glória (espiritual, inefável) e anterior à matéria e ao tempo. E qual o caminho apontado e seguido por algumas confissões das primeiras e o sugerido pela última? Não por acaso, para o Maçom Retificado é o que está prescrito em João:14-6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida: ninguém vai ao Pai se não for mim” no livro (da Lei – Bíblia) que durante os trabalhos em Loja (em todos os Graus) é mantido aberto sobre o altar; o caminho consiste em seguir as lições e os exemplos do Mestre. Noutros termos, o conjunto de princípios e valores identificados nos níveis alegórico e tropológico corresponde ao mesmo aplicável ao nível anagógico, sendo ambos produtos da matriz abraâmica, ainda que hoje mescladas, quando não amalgamadas, com elementos seculares.
A conclusão anterior, se de um lado apresenta aspetos positivos, pois o mesmo Caminho [37] leva a dois destinos, a dois propósitos (salvação e reintegração), de outro traz para dentro da Maçonaria em geral, e ao RER em particular, o que não deixa de ser um incómodo, pois as semelhanças são determinantes para que muitos confundam a Maçonaria com a Religião, não apenas o público externo, mas também o interno. O caso RER ainda possui nuances próprias que acentuam essa problemática, pois se requer dos postulantes que se declarem como cristãos, não explicita quais dos elementos do Credo, internamente, são ou não aplicáveis por ocasião dos estudos, da análise crítica e da interpretação simbólica relativas à doutrina, à ritualística e à liturgia. Aos que se aventuram são grandes os riscos de cruzar as fronteiras ténues e difusas. Portanto, s.m.j., é uma questão a ser mais bem esclarecida.
Por oportuno, cabe então esclarecer a expressão utilizada acima: “a menos de uma troca de palavras [salvação – reintegração] que em nada compromete a essência do que ora se discute”. Considere uma expressão muito usual no âmbito do Rito Escocês Antigo e Aceito, a de que a Maçonaria “É uma Instituição que tem por objetivo tornar feliz a Humanidade, pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião” (REAA, 2007, p. 28). Ora, tanto o fim quanto os meios reportados na frase vão ao encontro do que também se espera do Maçom Retificado, mas enquanto alguns destes trilham a senda com vistas ao advento, à revelação e à salvação, outros, mesmo identificados como Retificados têm por expectativa a reintegração que, a rigor, prescinde da crença na transcendência; todavia, ambos compartilham das mesmas estratégias identificadas a partir das abordagens I.2 e I.3 como meios para o atingimento dos seus objetivos ainda que parcialmente distintos. Mas enquanto o que se poderia denominar de “maçom secular” [38] se limita aos desdobramentos da leitura até o nível I.3, o “Maçom genuinamente cristão” crê estar também trilhando a senda do nível I.4. E de facto, como visto, as ferramentas são muito semelhantes, mas o “Maçom genuinamente cristão” necessita do recurso a outras não disponibilizadas pela Ordem – vide, mais uma vez, D´Ávila (2014) -, razão pela qual deve buscá-las, cada qual, nas suas respetivas confissões.
Importante destacar: em que pesem todas e quaisquer diferenças entre as Crenças em geral e o mundo secularizado, é essa larga superposição e intersecções de princípios e valores (comuns aos níveis tropológico e anagógico) orientadores das atitudes e comportamentos no quotidiano (isto é, no mundo secular), que torna possível a Maçonaria ser “[…] o Centro de União e o Meio de conciliação da verdadeira Amizade entre as Pessoas que poderiam de outra forma ter permanecido perpetuamente Afastadas” [39] (ANDERSON, 2012, p. 149).
Feitas essas considerações, fica esclarecido o motivo pela escolha da abordagem de McGrath, como também poderia ter sido a Bension, mas não a de Adler & Van Doren, todos citados por Pinheiro, Pellegrini e Varejão (2023): a característica cristã do RER. Dessarte, ao “Maçom secular”, seja ele praticante do REAA ou do RER, é suficiente a leitura (exercícios cognitivos de análise, interpretação simbólica e desdobramentos pragmáticos) até o nível I.3 de McGrath, mas poderia também se estender ao nível I.4 da perspetiva de Adler & Van Doren. De outro lado, ao “Maçom genuinamente cristão”, o enfoque de Adler & Doren pode não prover os nexos necessários à cosmovisão que circunscreve o mesmo nível, porém em McGrath.
O Quadro 2a, a seguir, introduz a análise, agora mais sucinta, dos demais eventos:
Quadro 2a: Matriz de Eventos da Receção ao Grau IV do RER – Interpretados Segundo Proposta de McGrath
| OS SENTIDOS DE INTERPRETAÇÃO SEGUNDO McGRATH | EVENTOS | ||
| I a entrada dos recipiendários | II A trolha | III o horário de trabalho do MESA | |
| Literal | I.1 | II.1 | III.1 |
| Alegórico | I.2 | II.2 | III.2 |
| Tropológico | I.3 | II.3 | III.3 |
| Anagógico | I.4 | II.4 | III.4 |
A história da reconstrução do Templo, das Muralhas e das Portas de Jerusalém pode ser lida em Esdras e Neemias (Ne), de onde também podem ser extraídos importantes subsídios para o estudo dos demais painéis que instruem a Receção ao IV Grau.
A trolha, também conhecida como “colher de pedreiro”, é um instrumento bastante conhecido na Maçonaria em geral, e no caso do RER, como já lembrado, desde o Primeiro Grau e ao lado de outros objetos, a exemplo da espada, decora o Altar do Venerável Mestre, de quem está alcance imediato da sua mão direita (RITUAL, 2018, p. 40). Além dessa presença física, à trolha, do I ao III Grau não há qualquer menção ao seu papel no drama (das Receções) e nas narrativas ordinárias, exceto por uma breve menção na terceira instrução ao Aprendiz: “Qual é o uso da Trolha? Os Franco-Maçons servem-se dela para elevar templos à virtude” (op. cit., p. 236). Qual significado atribuir à convivência simultânea dessa presença e ausência?
Mas antes de tecer considerações mais específicas acerca da trolha, 3 (três) questões que, no mínimo, podem ser vistas como curiosidades, mas também como tema para futuros estudos. O ponto de partida é o que pode ser lido em Neemias 4 -10:
Contudo, desde aquele dia a metade de meus homens enquanto a outra metade estava armada de lanças, escudos, arcos e couraças […]. Os que construíam a muralha e os carregadores estavam armados; com uma mão trabalhavam e com a outra empunhavam uma arma. Todos os pedreiros levavam a espada cingida na cintura enquanto trabalhavam.
- ora, qualquer texto de história maçónica apresenta a Maçonaria Especulativa como, senão herdeira, sucessora das tradições da Maçonaria Operativa cujo marco temporal é o medievo, ainda que a obra símbolo, Landmark do III Grau, seja a construção do Templo de Salomão, evento ocorrido na Antiguidade. Mas no que tange ao RER, por coerência com a sua singularidade, ainda que codificado na Modernidade, as suas raízes poderiam ser localizadas não na construção, mas na reconstrução do Templo levado a efeito pelos pedreiros judeus retornados do exílio babilónico;
- e qualquer texto de história do RER pontua que a espada é essencialmente um adorno (ainda que eivado de simbologia) que remonta à nobreza, também medieval. Ora, o texto acima, ainda que não negue essa afirmativa, também situa a utilização da espada desde a Antiguidade – durante a reconstrução do Templo, da cidade e das muralhas. Combinada à observação anterior, o binómio trolha-espada no canteiro de obras dos pedreiros judeus da Antiguidade descortina novas possibilidades de análise e interpretação simbólica não só da história como do simbolismo que constituem a Doutrina Retificada. Aqui não será analisado, mas essa abordagem vai claramente ao encontro do segundo ato da dramatização: a dobradura do véu que cobre o segundo painel pois, “[…] com uma mão trabalhavam e com a outra empunhavam uma arma”; finalmente,
- na mesma linha das indagações curiosas, praticamente todos textos da Ordem quando referem ao retorno do exílio e à reconstrução do Templo destacam o papel de Zorobabel. Entretanto, em Esdras 1:7-11, pode ser lido que
Ciro mandou tirar os utensílios do templo que Nabucodonosor tinha levado de Jerusalém para colocá-los no templo do seu deus. Ciro da Pérsia os entregou ao tesoureiro Mitríades, que os contou diante de Sasabassar, príncipe de Judá […] Total de objetos de ouro e prata: cinco mil e quatrocentos. Sasabassar os levou todos consigo quando os desterrados subiram da Babilónia para Jerusalém.
Ou seja, embora a fama e o reconhecimento sejam atribuídos quase que exclusivamente a Zorobabel, quem liderou a primeira onda do retorno e deu início ao empreendimento da reconstrução foi o Príncipe Sasabassar; ademais, aquele contou com a colaboração decisiva de Esdras e Neemias. É provável que o maior destaque conferido à Zorobabel se deva à sua linhagem davídica e à circunstância de ter integrado, com Esdras, o primeiro grupo de repatriados, enquanto Neemias veio somente após e o seu empreendimento está mais relacionado à cidade (muralhas e portas) do que ao Templo.
Ademais, e é importante sublinhar, a reconstrução não se limitou aos aspetos físicos e materiais, foi necessária uma efetiva reengenharia urbana e social (para acolher as caravanas dos que retornavam [40]), o que também exigiu alterações nos códigos, nos usos e costumes e a instituição de um novo marco legal para solucionar os problemas emergentes. Assim, com propriedade, pode ser dito que os pedreiros que retornaram do exílio foram efetivos (re)construtores sociais, muito antes de esta denominação (marca, para se ater ao jargão dos operadores da pedra) ser apropriada pela Moderna Maçonaria Especulativa.
Retome-se, então, à “leitura” da trolha mediada pelo MGA&IS:
- II.1 – a trolha é uma das ferramentas mais simples como também importantes para o pedreiro, simplicidade esta que pode ser apreendida até mesmo pelo objeto que é o seu substituto natural: a colher, utensílio mais diretamente associado à alimentação e, por extensão, à vida. E de pronto é dado a perceber, pelo seu formato e material constituinte (leve, porém resistente) que ela não se presta ao corte bruto, mas antes ao assentamento e à finalização. Assim, trata-se de instrumento que requer o prévio domínio de outras ferramentas a exemplo do malho, do cinzel, do prumo e do esquadro, até obter a pedra na qualidade ideal para o encaixe, o assentamento e o empilhamento indispensáveis à (re)construção. É, portanto, ao lado do compasso, uma ferramenta para uso do Mestre, o que então responde e explica as questões anteriormente deixadas em suspenso (p.17);
- II.2/II.3 – em que pese a sua grande importância, pela sua simplicidade é instrumento acessível a todos, o que significa que ninguém pode alegar a sua falta (de recursos, tempo, etc.) para se escusar de colaborar em qualquer empreendimento destinado à (re)construção – lato sensu – que seja o estender a mão a um necessitado ou simplesmente dar ouvidos. Todavia, ainda que simples, o seu manuseio requer expertise, um longo tempo de preparação que talvez possa ser abreviado pela orientação de um Mestre, o que requer perseverança, humildade e temperança para fazer frente aos erros. Ademais, para ser posta em uso, requer a matéria-prima, senão preparada pelo próprio, por terceiros, trabalhadores mais dedicados; buscar a colaboração (o trabalho em equipe) ao invés da autossuficiência pode se revelar mais eficaz e eficiente. E se em paralelo à reconstrução do Templo (às virtudes) no seu entorno foram erguidas muralhas e instaladas portas (na cidade), no plano simbólico tropológico estas podem ser vistas como barreiras e defesas que devem ser criadas para se manter à distância dos vícios e evitar recaídas, a exemplo da mudança de hábitos: rotinas diárias (e dos seus inumeráveis gatilhos comportamentais [41]), locais visitados, e até companhias. E outra dentre as lições extraídas do ciclo bíblico (catábase-anábase) é a celebração das vitórias, das superações, inclusive com a instituição de festas regulares (vide, entre outros, o Livro de Macabeus), constituindo, assim, marcos para a lembrança permanente – algo muito típico da cultura judaica e que, pela força e efeito, irradiou-se por outras instituições. O estabelecimento de objetivos e metas, e a permanente reflexão e revisão dos procedimentos (lato sensu) também são estratégias que contribuem para a manutenção dos ganhos obtidos. Por fim, como as obras são muitas e variadas nas formas, nas funcionalidades e objetivos, ainda que com grande habilidade no domínio da ferramenta em determinadas circunstâncias, dificilmente alguém será proficiente em todos os usos e aplicações, o que implica que o Mestre sempre poderá, um dia, vir a ser o Aprendiz.
Finalmente, o Quadro 2b introduz algumas considerações acerca do terceiro evento: o horário de trabalho do MESA.
Quadro 2b: Matriz de Eventos da Receção ao Grau IV do RER – Interpretados Segundo Proposta de McGrath
| OS SENTIDOS DE INTERPRETAÇÃO SEGUNDO McGRATH | EVENTOS | ||
| I a entrada dos recipiendários | II A trolha | III o horário de trabalho do MESA | |
| Literal | I.1 | II.1 | III.1 |
| Alegórico | I.2 | II.2 | III.2 |
| Tropológico | I.3 | II.3 | III.3 |
| Anagógico | I.4 | II.4 | III.4 |
A exemplo dos demais Graus, o de MESA também possui o seu horário de trabalho conforme pode ser lido em RER (2014):
V. M. – Irmãos Vigilantes, que horas são?
1º V. – Irmão Segundo Vigilante, que horas são?
2º V. – É o romper do dia, Respeitável Deputado-Mestre.
V. M. – É então o momento de iniciarmos os nossos trabalhos; mas primeiro invoquemos o auxílio do Ser Supremo para que se digne proteger os nossos trabalhos. Descobertos, meus Irmãos. (op. cit., p. 46)
V. M. – Em nome do Grande Arquiteto do Universo, em nome da Ordem, pelo poder que dela recebi, abro esta Loja de Mestres Escoceses de Santo André. (op. cit., p. 47)
[…]
V. M. – Irmãos Vigilantes, que horas são?
1º V. – Irmão Segundo Vigilante, que horas são?
2º V. – É o fim do dia, Respeitável Deputado-Mestre.
V. M. – É, portanto, altura de terminarmos os nossos trabalhos?
1º V. – Irmão Segundo Vigilante, é, portanto, altura de terminarmos os nossos trabalhos?
2º V. – Sim, Irmão Primeiro Vigilante. O Templo está reedificado e os obreiros precisam de repouso.
1º V. – Sim, Respeitável Deputado-Mestre. O Templo está reedificado e os obreiros precisam de repouso. (op. cit., p. 109)
V. M. – Em nome do Grande Arquiteto do Universo, em nome da Ordem, e pelo poder que dela recebi, encerro a Loja dos Mestres Escoceses de Santo André. (op. cit., p. 112)
E o que se encontra em Neemias 7-3? “E eu lhes disse: As portas de Jerusalém não serão abertas antes que o sol comece a esquentar, e deverão ser fechadas e trancadas antes que o sol se ponha”. E ao contrário dos casos antecedentes, desta feita não tecerei comentários organizados a partir do MGA&IS. Primeiro, porque a “questão do horário” é comum a vários Ritos, o que facilita aos praticantes de outros que não o RER, a exercitar o Modelo. Segundo, que os olhos mais atentos já devem ter captado que as citações acima, para além da “questão do horário”, trouxeram elementos cuja análise poderia trazer a público o que deve ser mantido à distância dos olhares profanos – PBEMPB [42].
Por fim, também por este evento sai reforçada a tese de que a Bíblia é, senão o principal texto-fonte, um dos mais relevantes subsídios à análise e à interpretação do simbolismo maçónico no contexto do RER; portanto, a menos dos aspetos históricos, são prescindíveis os originais em francês. Todavia, como visto, os trabalhos podem sobremaneira ser enriquecidos com outras fontes, todas em português, algumas free-download.
Considerações finais
Considerando que a Ordem é antes meio do que fim, as suas atividades (nas Lojas, nos debates e trabalhos apresentados) deveriam, então, estar ordenadas à consecução dos seus objetivos maiores, seja tornar feliz a Humanidade (usual no REAA) ou a reintegração ao estado primordial (a aspiração no RER). Há várias estratégias e formas de agir [43] que ao mesmo tempo que refletem as especificidades de cada Rito se abrem como um leque de possibilidades para que cada um encontre o seu lugar e a sua forma de realização no contexto do universo maçónico.
Apesar, ou mesmo talvez em razão da diversidade com que se apresenta o universo maçónico, a produção intelectual no seu meio é predominantemente voltada aos aspetos históricos da Maçonaria. Assim, o entendimento de que existe uma lacuna a ser preenchida no sentido a instrumentalizar os Iniciados para que da teoria (doutrina e ritualísticas) passem à prática (a ação transformadora), levou o autor a propor o que denomina de Modelo Geral de Análise e Interpretação Simbólica – MGA&IS. Para tal, tendo como ponto de partida uma das mais usuais definições sobre O Que é a Maçonaria, recorreu aos modos de leitura e interpretação sugeridos por McGrath, estrutura que favorece a operacionalização das proposições maçónicas. O MGA&IS facilita que as informações esparsas superem a sua condição de eventos isolados e com valor histórico datado para, em sendo organizadas de modo sistemático, ao tempo em que proporcionam um novo patamar de conhecimento, se constituam em plataformas a partir das quais as reflexões sejam convertidas em ações com impacto prático no quotidiano de cada um e de todos.
Na perceção do autor, como anuncia o próprio nome, o MGA&IS é aplicável aos fundamentos (história, doutrina e ritualística) de todos os Ritos, mas como quase tudo, somente o seu uso regular e sistemático possibilitará identificar não só a necessidade de eventuais ajustes, como também o atingimento da expertise ou mesmo o virtuosismo na interpretação simbólica, a exemplo dos mestres cabalistas. Destarte, em caso de necessidade, a própria revisão bibliográfica que embasa este estudo já antecipou algumas alternativas.
Finalmente, conforme já salientado por Pinheiro (2020b, 2021d), exercitar a análise e a interpretação simbólica possibilita o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de inúmeras habilidades e competências para além das sempre citadas (realização de atividades em equipe, solução de problemas – no caso, verdadeiros enigmas -, tomada de decisões, e outras) e hoje bastante valorizadas no mercado de trabalho, a exemplo do pensamento mágico, da criatividade e da contação de histórias. Além de todos os benefícios e ganhos passíveis de apropriação individual, ao investir neste campo a Ordem não só estaria cumprindo com a sua missão institucional, como colocando em curso uma estratégia para atrair e reter quadros de multiplicadores qualificados. Por fim, se a Maçonaria é meio e ciência prática, resgata-se a questão já levantada: o que mais importa, o processo ou o resultado?
Ivan A. Pinheiro, Mestre Maçom. O autor não expressa o ponto de vista das Lojas, Obediências, Potências e Instituições das quais participa, mas tão somente exerce a sua liberdade de pensamento e expressão. E-mail: mailto:ivan.pinheiro@ufrgs.br. Agradeço a leitura e as contribuições do Irmão Prof. Lucas V. Dutra, Companheiro Maçom do Quadro da ARLS Presidente Roosevelt, 75, GLESP, Or. de São João da Boa Vista, Psicólogo, Doutor em Psicologia, Especializado em Maçonologia (UNINTER), e-mail: mailto:dutralucas@aol.com; mas por certo que os erros e as omissões remanescentes são da responsabilidade exclusiva do autor. Porto Alegre-RS, 16.07.23.
Notas
[1] Regime ou Rito? O tema já foi desenvolvido por Pinheiro (2020a).
[2] Por exemplo, além das célebres parábolas e fábulas, a Bíblia, no seu texto original traz inúmeras mensagens ocultas em meio aos jogos de palavras proporcionados pela sonoridade do idioma e do alfabeto hebraico, razão pela qual os autores recorreram muito às aliterações, as quais, entretanto e infelizmente, na maioria das vezes se perdem quando se opera a tradução para os demais idiomas, circunstância agravada quando a tradução que se tem à mão, ademais, foi mediada por um terceiro idioma.
[3] Muito sucintamente, aquele que emerge por “um estalo de perceção”, o famoso “eureka” que Arquimedes de Siracusa (287 – 212 a.C.) teria pronunciado. Para alguns, a maioria, será necessário o apoio, a orientação; para outros a prática e a experiência mística (por definição, individual) elevam à gnose. De qualquer modo, não é um conhecimento obtenível simplesmente pelos 5 (cinco) sentidos.
[4] Refiro à matéria e à energia escura que, segundo os estudiosos, representam 95% do Universo. Por oportuno, subjacente (portanto, oculta) à esta constatação, uma mensagem bem como uma recomendação: a necessária humildade do homem no seu convívio com a natureza.
[5] Exemplo mais simples não há: conforme o lugar dos parênteses numa expressão matemática, o valor poderá ser alterado; analogamente, insira ou modifique o lugar de uma vírgula e o sentido da oração poderá ser completamente alterado. Entre tantos, vide em: http://www.tirodeletra.com.br/curiosidades/Aimportanciadavirgula.htm. Acesso em: 28.06.23.
[6] Infelizmente, a meu juízo, em quantidade bem menor, por exemplo, dos que se atêm aos aspetos históricos da Maçonaria, uma indústria em expansão, mais recentemente via crowdfunding, o que, por outro lado, reflete o próprio interesse do mercado consumidor.
[7] O leitor mais exigente e que desejar ir mais a fundo verá que esta definição pode ser enriquecida com outros elementos e propriedades como, por exemplo, considerações acerca de se o sistema é aberto ou fechado, relativas ao feedback (se positivo ou negativo); todavia, para os fins ora pretendidos tal rigor torna-se prescindível.
[8] No caso do Regime / Rito Escocês Retificado o mais usual é referir à Receção ao Grau correspondente.
[9] Fosse outra a finalidade, não poderia deixar de considerar as contribuições das culturas grega e romana.
[10] Afinal de contas as principais referências da Maçonaria Especulativa se encontram no eixo Escócia-Inglaterra, o berço da Modernidade.
[11] Por certo que a grande diversidade de Ritos torna fácil apontar exceções, mas estas não comprometem o objetivo geral deste texto.
[12] A Constituição dos Modernos.
[13] A Constituição dos Antigos.
[14] Daí porque também referidas como virtudes morais ou humanas.
[15] 1742 – 1818. Portanto, penso que não cabe aqui a mesma crítica ao excesso de criatividade realizada anteriormente aos demais autores, dirigida sobretudo aos contemporâneos, pois Preston foi um dos fundadores da Maçonaria Moderna.
[16] Bem-Amado Irmão – tratamento habitual entre os Maçons Retificados.
[17] Com atribuições análogas aos Supremos Conselhos dos demais Ritos é o órgão responsável também pelos Graus de Escudeiro Noviço (V) e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (VI) – os Graus da Ordem Interna – que, com os 4 (quatro) primeiros constituem, então, o Regime Escocês Retificado – o sistema na sua maior amplitude.
[18] O autor é Mestre Escocês de Santo André, portanto, a sua compreensão, além de pessoal (conforme esclarecido logo na primeira nota de rodapé) não pode ir além dos ensinamentos até este Grau. Sobre o Primeiro e o Segundo Grau o autor já teceu comentários, respetivamente, em Pinheiro (2021a) e Pinheiro (2021b).
[19] Não apenas porque a Maçonaria é uma construção social ocidental, mas porque entre os seus principais formuladores, M. de Pasqually e J. B. Willermoz, o primeiro era marrano e, o segundo, católico fervoroso. Além disso, entre os demais notáveis founding fathers, vários integravam a nobreza europeia, notadamente a alemã, e eram cristãos protestantes.
[20] Nada fácil, além de incompleto, o que talvez não tivesse maior importância se o próprio autor não tivesse distribuído “ganchos” que adiante (no livro) deveriam ser esclarecidos; por fim, falta refino à escrita do autor.
[21] Restam dúvidas quanto à biografia do autor, mas teria vivido entre os séculos I e VI, uma das possibilidades é de que tenha tido contacto com São Paulo, o Apóstolo.
[22] 354 – 430.
[23] 1515 – 1582.
[24] 1542 – 1591.
[25] A exemplo da exigência de circuncisão e restrição de hábitos alimentares – leis da pureza.
[26] Não confundir com o de Nicéia, que foi o Primeiro Concílio da Igreja; à época do de Jerusalém (séc. I – 48) a Igreja como a conhecemos sequer existia e a cristandade dava os seus primeiros passos na ausência de Cristo.
[27] 185 – 253.
[28] 120 – 172.
[29] “Salvação”, em primeira aceção sugere à alma, mas também pode referir a uma condição (de saúde, familiar, emergencial, contingencial) frente à qual se julgava o destino adverso e inexorável.
[30] Os interessados em aprofundar os estudos sobre essa conceção, também do ponto de vista científico, devem consultar a vasta obra de Victor E. Frankl.
[31] O que ia ao encontro das decisões do Concílio de Jerusalém.
[32] Não é o propósito, aqui, promover o debate sobre este tema, já realizado em vários outros textos
[33] 642 – 562 a.C. Reinado: 605 – 562 a.C.
[34] Ciro II, o Grande: 600/550 – 530 a.C.
[35] Uma coluna que embora quebrada ainda possui a base firme.
[36] O texto admite várias interpretações, entre elas a de que existem vários níveis e estágios de aperfeiçoamento e perfetibilidade, de proximidade com a Luz; à semelhança do que diz D´Ávila (2014).
[37] Expressão também utilizada para designar o Cristianismo.
[38] Infelizmente, a clássica taxonomia binomial (Maçom vs. Profano, Iniciado vs. Não-Iniciado) não comporta a variedade de espécies abrigadas sob o género Maçonaria, o que obriga a criação de novas denominações na expectativa de que melhor traduzam a ideia que se pretende.
[39] Todos os destaques gráficos constam do original citado.
[40] Imagine-se os problemas e gargalos de produção e logística. A crise dos migrantes contemporâneos, mutatis mutandi, é a imagem atualizada dos problemas da época.
[41] O campo das neurociências oferece muitos títulos, mas um de fácil leitura e disponibilidade é o Poder do Hábito, de C. Duhigg (2012).
[42] Para bom entendedor meia palavra basta.
[43] Vide, por exemplo, Pinheiro e Dutra (2023).
[44] Original: Paris, 1976.
[45] Original: 1969, Éditions Gallimard.
[46] Data original da publicação em Paris.
[47] Data original da publicação em Paris.
[48] Há textos que o referem como O Assírio.
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