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O Irmão Eugenio Gowsza-Tschelakow acaba de lançar através da editora maçónica A Trolha, uma excelente obra em dois volumes, intitulada “Igreja Católica e Maçonaria, a Reconciliação Final”. A obra tem prólogo de Alexandre Saraiva e Kennyo Ismail e está estruturada da seguinte forma:
Volume I – o Código Ratzinger
Parte I – Histórica Missa de Natal para a Família maçónica em 1975 e visita do Arcebispo Primaz do Brasil, Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, à Maçonaria da Bahia em 1976
- Igreja e Maçonaria: enfim reconciliadas.
- Missa de Natal na Catedral de Salvador ano 1975.
- As negociações secretas entre a Igreja e a Maçonaria, Bahia 1975.
- O início do Grande Teste.
- O Grande Teste.
Parte II – Relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria
- As origens da Maçonaria. Teoria do sincretismo operativo-especulativo e a Invenção da Maçonaria.
- Inglaterra, a filha mais amada, foi embora.
- A Maçonaria, filha dileta da Igreja, foi excomungada.
- Primeiro Código de Direito Canónico: Papa Benedito XV– 1917
- A Declaração dos Bispos Alemães de 1980
- Diferentes correntes dentro da Maçonaria
- Maçonaria e Igreja Católica
- Maçons e a Igreja Evangélica
- Maçonaria é Religião: Coincidência do Bispo Católico Dom Boaventura Kloppenburg com Pastores Evangélicos.
- Maçonaria não é Religião. Declaração da UGLI e da Igreja Anglicana. California e Nebraska.
Volume 2 – O Código Canónico
- Os católicos Maçons não estão excomungados pela Igreja Católica, porem o Vaticano os excomunga. O que fazer? …
- Excomunhão de Monsenhor Lefebvre e reversão: um modelo para armar.
- Pecado grave. Breve estudo
- Doutrinas Jurídicas aplicáveis.
- A natureza jurídica da Declaração do Dr. Joseph Ratzinger.
- No Brasil, o Superior Tribunal Federal (STF) declarou que a Maçonaria não é uma religião.
- A legislação estrangeira e a lei brasileira.
- Reforma do Código de Direito Canónico de 8 de Dezembro de 2021.
- O Genocídio Espiritual (e das Almas).
- Ações judiciais contra a Declaração do Dr. Ratzinger.
- Vaticano e Maçonaria Líquidos. Upgrade urgente das duas Instituições.
- Influência da Cultura Popular nos valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade: o Universo Star Trek, Jornada nas Estrelas.
O Irmão Eugenio Gowsza-Tschelakow é Argentino, advogado, formado na Universidade Nacional de Buenos Aires e tem 67 anos. É casado com Kátia Tschelakow e reside há 30 anos no Brasil onde trabalha há 23 anos como Gestor de Contas Regional de uma empresa alemã que fabrica Abrasivos Premium. É membro da Loja Liberdade nº 1 de Salvador, Bahia – GLEB, membro da Loja Belgrano nº 3466 da UGLE, Distrito Sul América e membro Correspondente da Loja de Pesquisa Maçónica Quatuor Coronati São Paulo nº 333 – GLESP. É companheiro do Sagrado Arco Real de Jerusalém Capitulo Amor e Uniao nº 71 – GOB e Grau 20 do REAA.
Recebi hoje os dois volumes, graças ao Irmão Eugenio Gowsza-Tschelakow que teve a amabilidade de mos enviar. As primeiras impressões são de uma obra que vale a pena ler e reflectir sobre ela.
A seguir, transcrevo a respectiva resenha:
Esta obra de Eugenio Gowsza-Tschelakow está fundamentada numa imensa pesquisa histórica sobre as relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Um livro muito bem documentado do ponto de vista jurídico, histórico e teológico – especialmente de Direito Canónico. A proposta deste estudo é bastante complexa e, ao mesmo tempo, denota uma evidente simplicidade, que é a de colocar em prática um princípio elementar dos Direitos do Cidadão no sentido de poder praticar livremente a própria religião.
A Maçonaria, na Idade Média, sempre viveu em harmonia com a Igreja Católica. Além disso, havia até uma subordinação de todas as guildas em relação à Igreja. Os seus estatutos e regulamentos morais sempre foram elaborados sob o controle dos bispos. Quando a Maçonaria se reinventou em 1717 e começou a construir o seu próprio espaço social e político não religioso e não partidário, passou imediatamente a competir com a própria Igreja que, pressentindo o perigo deste novo actor com vocação para uma presença internacional, decidiu lutar contra ela.
Nesta perspectiva política, nasceu a primeira bula papal em 1738, proibindo a Maçonaria de actuar nos seus territórios e excomungando os seus membros. De forma clara e didáctica, o autor faz um percurso por todas as condenações contra a Maçonaria emanadas por diversos pontífices até chegar em 1917 com a promulgação do primeiro Código de Direito Canónico em que os maçons católicos são excomungados pelo cânone 2335. A partir da promulgação deste instrumento legal, que funciona como uma verdadeira constituição da Santa Sé, não houve mais pronunciamentos sobre a Maçonaria por nenhum Papa. Isto é lógico, porque numa representação da Pirâmide de Kelsen, o Código constitui o vértice da regulamentação vaticana e nada nem ninguém pode estar acima da autoridade legal que emana do Código. Como consequência do Concílio Vaticano II, inaugurado em 11 de Outubro de 1962 e, após quatro sessões, concluído em 8 de Dezembro de 1965, decidiu-se modificar o Código de Direito Canónico, tarefa que durou vinte anos, até que em Janeiro Em 1983, o novo Código foi promulgado e a sua vigência plena foi fixada para o dia 27 de Novembro daquele ano.

Na comissão legislativa do Concílio discutiu-se se a Maçonaria deveria continuar excomungada ou não, sendo aprovada a proposta de descriminalização dos maçons católicos por 31 votos contra 13 dos 59 membros presentes. Assim nasceu o novo cânone 1347 que substituiu o antigo 2335 e que não condena mais a Maçonaria que nem sequer é mencionado em todo o seu texto. No entanto, o Dr. Joseph Ratzinger, na qualidade de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, não satisfeito com este novo status quo da Maçonaria, emitiu uma Declaração um dia antes da entrada em vigor do novo Código dizendo que, apesar o facto de a Maçonaria já não estar expressamente mencionada como no Código anterior, tal circunstância deveu-se a um critério de redacção e por isso os fiéis que pertencem a associações maçónicas encontram-se em estado de pecado grave e não se podem aproximar da Sagrada Comunhão. Por outras palavras, na prática, eles estão excomungados. Parafraseando o maior historiador das relações entre a Igreja e a Maçonaria, o Padre SJ Professor José Ferrer Benimeli, esta Declaração faz com que o Código Canónico diga o que o Código não diz. Assim nasceu o “Código Ratzinger”, contrário ao Concílio Vaticano II e ao próprio Código de Direito Canónico vigente.
O mais original da proposta deste livro é que, embora muito se tenha escrito sobre a excomunhão da Maçonaria pela Igreja, esta é a primeira vez que um escritor propõe uma solução prática e concreta para acabar com esta situação. De facto, o Dr. Tschelakow realiza um estudo detalhado sobre a natureza jurídica da Declaração do Dr. Ratzinger, no universo do Direito Canónico e do direito comum, chegando à conclusão de que o referido documento, do ponto de vista jurídico, trata-se de uma regra nula de nulidade absoluta e a sua aplicação deve cessar. A Igreja Católica não excomunga a Maçonaria, mas o Vaticano o faz por causa do Dr. Joseph Ratzinger que redigiu uma Declaração que é contrária ao Código e, sendo uma norma de hierarquia inferior, nunca poderia ter sido criada nem muito menos aplicada.
O estado de pecado grave e a consequente excomunhão não é um facto menor. De acordo com o Código de Direito Canónico e o Catecismo da Igreja Católica, para aqueles que são católicos fiéis e praticam a sua religião de maneira consciente e responsável, ou seja, quase todos os católicos maçons, significa que a excomunhão, se não for curada, leva ao facto de que, após a morte, a alma vai directo para o inferno e, no Juízo Final, o corpo momentaneamente ressuscitado retornará ao submundo e ali permanecerá para sempre, sem possibilidade de reverter aquela terrível condição. Então, ocorre um Genocídio Espiritual, tanto de almas quanto de corpos. Um verdadeiro genocídio de corpo e alma. A única opção que resta ao Maçom Católico para evitar sofrer consequências tão terríveis é abdicar da Maçonaria. Tudo por causa da declaração ilegal do Dr. Ratzinger.
O grande paradoxo desta situação é que, quando estava em vigor o antigo Código de 1917 que condenava a Maçonaria, a Congregação para a Doutrina da Fé tinha elaborado, em 1974, uma brecha legal através da qual os Católicos Maçons que não tramavam ou conspiravam contra a Igreja poderiam receber a comunhão. Agora, apesar do novo Código de 1983 não mais condenar a Maçonaria, a mesma Congregação em 1983 inventou uma Declaração ilegítima que impede os Católicos Maçons de se aproximarem da Sagrada Comunhão. Em suma, antes quando éramos excomungados pelo Código de 1917 tínhamos melhores perspectivas do que agora que já não somos excomungados pelo novo Código de Direito Canónico de 1983/2021
O que fazer? Eugenio Tschelakow propõe quatro possibilidades:
- que o Católico Maçom renegue da Maçonaria,
- que o próprio Vaticano declare nula a Declaração do Dr. Ratzinger,
- que mediante um julgamento perante a Santa Sé se obtenha uma sentença declarando a nulidade da Declaração do Dr. Ratzinger e, finalmente
- que mediante o julgamento perante a Justiça comum de cada país se obtenha uma sentença que declare inaplicável a Declaração do Dr. Ratzinger na jurisdição desse país.
Segundo o entendimento do autor, que explica com total clareza, a única possibilidade viável seria a quarta. Repetimos, antes deste livro, ninguém escreveu que a excomunhão ilegítima pudesse ser atacada judicialmente. Só para lembrar que nenhuma norma estrangeira pode se opor aos direitos fundamentais protegidos pela Constituição de cada país. Muitos juízes podem rejeitar a reivindicação, mas outros certamente decidirão a favor do Maçom Católico ser capaz de comungar em paz. Isto será suficiente para criar um grande debate que certamente terminará com uma revisão do Vaticano sobre a aplicação da Declaração do Dr. Ratzinger. A excomunhão dos maçons católicos está, segundo esta linha de raciocínio, com os dias contados. E o Genocídio Espiritual, também.
Terminada a leitura do livro, o leitor descobre que o autor vai além de propor eliminar a excomunhão: na realidade, tal medida, além de ser justa e perfeita, permitirá que ambas as instituições, Igreja Católica e Maçonaria, finalmente trabalhem juntas, sem receios ou punições injustas, no principal desafio que a Humanidade enfrenta hoje, e que é salvar o planeta do desastre ecológico que nos está a levar à extinção inexorável do Homo Sapiens. A encíclica Laudato Si do Papa Francisco pode ser um ponto de partida, um programa comum neste sentido. A Igreja e a Maçonaria juntas podem prestar um serviço fantástico ao mundo todo, liderando a luta pela preservação do Planeta Terra, a única moradia da Humanidade.
