Por Ivan A. Pinheiro

Este texto, conforme o título antecipa, é o segundo de uma série que pretende compartilhar uma trajetória de estudos e reflexões pessoais focadas no RER; todavia, não me parece adequado apreciar “um texto fora do seu contexto”, bem como as próprias características de um Rito, que ainda pode ser considerado recente no Brasil, ganham maior relevo quando apreciadas em perspectiva mais ampla e eventualmente contrastadas com elementos de outros Ritos. Isso, então, explica a estrutura e o conteúdo deste texto que, por ser reduzido, prescinde da organização em seções. 

 Apesar dos incontáveis trabalhos que afirmam e reafirmam que Maçonaria e a Religião constituem domínios distintos, no universo das Lojas nem tudo se assemelha ao pavimento mosaico, perfeitamente discriminado: “preto no branco/branco no preto”. Essa realidade, somada a outras circunstâncias, traz dificuldades não apenas aos estudos, mas ao diálogo interno e, não menos importante, à percepção dos resultados que eventualmente poderiam ser creditados à Ordem, a exemplo de alguma transformação individual (quiçá uma epifania) ocorrida a contar da Iniciação que, no RER, é denominada Recepção. Refletir sobre essas questões, dos motivos e das dificuldades em estabelecer os limites entre a Maçonaria e a Religião, que no RER adquirem tons mais acentuados, bem como apontar algumas soluções, constituem os propósitos deste texto. Embora seja um dos temas mais sensíveis no seio da Ordem, penso que não cabe fugir ao seu enfrentamento, razão pela qual ele é reiteradas vezes trazido à pauta, e ora como um convite à reflexão, ao contraditório e ao debate que, pelo esclarecimento, eleva e enleva.

 Qualquer um que se proponha a estudar as origens da Maçonaria, a menos que delimite o escopo com pelo menos (mas idealmente mais de) uma especificação, atendo-se, por exemplo, à fase Especulativa, aos aspectos nacionais, às características de determinado Rito, etc., provavelmente se defrontará com inúmeras teorias, senão acerca da história, da doutrina ou algum elemento ritualístico – algumas mais propriamente consideradas meras opiniões, quando não desatinadas (Vidal, 2006). E mesmo o RER, Rito frequentemente destacado como, senão o único, um dos que menos sofreram alterações desde a sua criação, a rigor não foge à regra (Pinheiro, 2022), circunstância que também pode ser atestada pelo cauteloso, porém esclarecedor prefácio ao livro de Souza e De Paulo (2022) chancelado pelo Bem Amado Irmão, Mui Reverendo Cavaleiro Irmão Sérgio Grosso, Sereníssimo GrãoMestre Nacional e Grão Prior do RER no Brasil: “Mesmo as alterações – na verdade bem poucas! – que ocorreram ao longo de mais de dois séculos de vida do Regime, não alteraram de alguma forma o conteúdo fundamental […]” (op. cit., p. 15). Entretanto, em Boyer (2018), notadamente quando descreve a liturgia de Abertura da Loja, podem ser percebidas notáveis diferenças quando contrastadas, por exemplo, com as orientações do GOB – Grande Oriente do Brasil (2018). E se acontecimentos historicamente ainda recentes se apresentam com diferentes narrativas, o quê, então, esperar daqueles ainda mais longínquos (há séculos) no tempo? 

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Rito Escocês Retificado – Cadernos de Estudos: II