Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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A inteligência artificial e a produção intelectual maçônica

Lucas V. Dutra[1]

Ivan A. Pinheiro[2]

         

   A Inteligência Artificial (IA) é a “bola da vez”; não há campo de estudo, ocupação, reunião, ainda que informais, em que ela não esteja sob o foco das atenções, mas por mais que se comente, parece sempre haver algo a ser explorado. Atendo-se às mais recentes, os autores abordaram o tema em 2 (duas) publicações: na coletânea de artigos reunidos em “Sobre as Lojas (maçônicas) de Estudos e Pesquisas” (Pinheiro, 2025), uma publicação sob os auspícios da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras [3]; e, na Série (ainda não conclusa) que tem por título “A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo” (Dutra e Pinheiro; 2025a, b, c, d, e). Em comum a ambas, o tema das “Citações e das Referências Bibliográficas” (C&RB); na primeira, além das menções esparsas, mereceu 3 (três) capítulos exclusivos (op. cit., p. 52-98) e, na segunda, encontra-se diluído nos artigos já publicados. Agora, então combinados, IA e C&RB voltam sob nova abordagem e o objetivo, porque ainda recente e pouco explorado, é colocar a IA em xeque; não, é claro, com o propósito de questioná-la, criticá-la, mas de chamar a atenção: do usuário-pesquisador-produtor de textos, para alguns aparentes gargalos; do leitor, para a cautela frente ao encantamento da nova ferramenta multiuso; e, dos desenvolvedores, para a busca de soluções. Reitera-se: todos os testes, as análises e as considerações dos autores têm sido realizados a partir das versões de IAs públicas e gratuitas, as de menor capacidade e de recursos disponibilizados.

            Habitualmente vistas como questões de somenos importância e, por alguns, antes consideradas como problemas normativos, sobretudo quando revestidas do caráter de compulsoriedade[4], ao contrário, o que ora se defende é que as C&RB possuem valor próprio e têm, em si, a relevância informativa que auxilia, sobremaneira, no contexto, à maior compreensão do texto. E é esse valor que permite considerar as C&RB como um dos marcadores digitais que distinguem a assinatura da autoria: se o texto foi escrito exclusivamente por IA[5]; por humanos (Inteligência Natural – IN) ou por estes (IN) com a assistência daquela (IA). Em tempo: nos termos já apresentados, mesmo a produção 100% lastreada em IA conta com alguma participação da IN – a exemplo da elaboração dos prompts -, mas não se pode ignorar que, no interior da “caixa-preta”, os algoritmos também elaboram, a partir da aprendizagem, prompts intermediários. Nem sempre, pois depende dos objetivos, essa distinção se faz necessária; todavia, em vista do encantamento (ou receio) desmedido (a depender do ponto de vista) constatado em algumas manifestações, este texto adota uma postura cautelosa: não criar, frente às IAs de produção textual, mais expectativas do que o devido, além do que elas podem efetivamente entregar.

            As IAs são, sim, poderosas enquanto ferramentas para buscar informações, identificar padrões, comparar, consolidar, etc., mas, conforme se pretende demonstrar, são desprovidas das condições para trazer à produção textual os complementos informacionais necessários, quando não indispensáveis, à adequada ou à melhor compreensão por parte do leitor, o que só as IN[6], também porque dotadas de Inteligência Emocional (IE), podem fazer. Ademais, e não menos importante, a harmonia do conjunto C&RB à luz dos objetivos da produção intelectual em tela (que contempla a problematização, o método, as condições de pesquisa, etc.) pode ser (mais) um marcador que delimita e revela: produção 100% IA vs produção 100% IN – mas são precisos olhos (preparados) para ver.

            A temática da IE, enquanto parte da IN, merece texto exclusivo, pois a IE é condição essencial para ler e decodificar as subjetividades que ocultam mensagens subliminares e intenções não declaradas nos textos e em meio às sátiras, às ironias, etc., bem como a apreensão dos afetos e sentimentos a exemplo da empatia, das evocações saudosas, da ira, da vingança e outros. À guisa de provocação antecipada, considere alguns clássicos da literatura, como “A Revolução dos Bichos” (Orwell, 2007) e o “Livro das Bestas” (Lúlio, 2006) – na ausência de uma leitura contextualizada e compreensiva, não passam de literatura infantil.

            Dutra e Pinheiro (2025e) salientam que a qualidade da resposta textual das IAs[7] depende, em grande medida, mas não exclusivamente[8], da qualidade do prompt (do comando), o que equivale a dizer da objetividade, da delimitação e da clareza da sua redação, isto é, da demanda submetida à IA. Nesse sentido, afirmam os autores, o prompt também é uma métrica para a avaliação da IN (do usuário), do seu domínio (conhecimento) sobre o campo objeto do trabalho em tela. Nem sempre, é claro, o primeiro comando é resolutivo, o que leva ao seu refinamento, à formulação da sintonia fina aliada à parcimônia: a melhor pergunta (instrução, comando) com o menor número de palavras. Mas tanto o prompt pode ser refinado e qualificado (mediante a troca de palavras, verbos, inversão dos termos, delimitação do objeto frente ao local, ao tempo, etc.), quanto as sucessivas respostas podem originar novos (e sucessivos) prompts derivados que, se não levam ao foco, aproximam as respostas do entorno pretendido. Todavia, se de um lado as IAs permitem refinar a instrução mediante sucessivas tentativas de qualificação (ensaio e erro); do outro, não se pode perder de vista que esse é um recurso bastante limitado: no caso das IAs gratuitas, somente “x tentativas-utilização/mês” são permitidas, e “x” em geral é um número bem pequeno – algo semelhante às plataformas que oferecem a conversão de arquivos, p. ex., de word para PDF[9], compactação ou outros serviços. Há, pois, escolhas a fazer.

            E, salvo melhor juízo, parece claro que, em algum momento, o pesquisador-redator enfrentará outros trade-offs, pois quanto maior a objetividade e a delimitação dos prompts (perguntas, comandos), maior o distanciamento da complexidade natural do fenômeno e, por conseguinte, também a dificuldade para (re)conectar as partes (respostas isoladas) fornecidas pela IA e reconstituir a compreensão em nível abrangente que dá o sentido pretendido ao texto. No exemplo utilizado no estudo dos autores, o refino permite obter uma citação textual normatizada (autor, data, página) e a respectiva referência bibliográfica; bem como, com algum empenho adicional, até mesmo várias citações. Todavia, os testes deixam à evidência[10] que as partes não guardam, como esperado, a estreita conexão de sentido, inexistindo os links – a passagem harmônica de uma à outra e que dão a forma e o sentido ao texto. E quanto maior o número de autores e obras, maior também a dificuldade para a IA (mas igualmente para a IN) conciliar as partes que dão sentido ao todo, isto é, conectar a problematização, a argumentação (a partir das citações), os objetivos, as excepcionalidades, etc.  Além desse caso há outros que delimitam com clareza os alcances e as competências das IAs vis-à-vis as das INs no ambiente de reflexão e produção intelectual original e qualificada, como se espera, por exemplo, das Lojas de Estudos e Pesquisas; a título de exemplo: 1) quando necessária ou conveniente a evolução histórica de um determinado conceito; 2) o estabelecimento de diálogo entre autores divergentes e a subsequente tomada de decisão por um ou outro à luz dos objetivos do texto em elaboração; e 3) a localização espaço-temporal. São questões que, embora andem juntas e dialoguem, quando separadas, conforme a seguir, o foco é mais facilmente direcionado às especificidades que as distinguem.

            Assim, em todas as áreas há conceitos que, por efeito das mudanças sociais (em razão de novas tecnologias, migrações, miscigenações, rupturas políticas, crises em geral, etc.), sofrem alterações de significado; sabê-los e situá-los na cronologia e na geografia em foco, bem como organizá-los para compor a narrativa esclarecedora, persuasiva e atualizada, é essencial. Tome-se, para ilustrar o que se pretende, um conceito muito caro e presente na Maçonaria: o cristianismo.

            Até o século IV havia cristianismos locais (regionais) e autônomos, que ocasionalmente se punham em disputa pela hegemonia; do séc. IV ao VI ganhou forma e consolidou-se a ortodoxia cristã-católica-romana, o que, ato contínuo, devido ao reconhecimento como heresias[11], foi determinante para a perseguição que se seguiu aos demais cristianismos, o que culminou no genocídio dos Cátaros na virada do primeiro milênio. Sobre esses, Miranda (2018, p. 56) esclarece:

O fato de se caracterizarem os cátaros como integrantes de uma comunidade de heréticos a serem exterminados não muda a condição de que também eles [sic] eram cristãos, que simplesmente divergiam em interpretações e posturas adotadas pela Igreja, na leitura que faziam do cristianismo.

A propósito, Jenkins (2013, p. 38) relata que “Já em 550, a cristandade estava tão dividida quanto ficaria durante a grande divisão da Idade Moderna entre católicos, protestantes e ortodoxos”. Com efeito, pois a História já é sabida, o agravamento das divergências que mesclavam elementos (interesses) políticos e teológicos levou, em 1054, à primeira grande ruptura: o Cisma entre as igrejas do Oriente e do Ocidente. Finalmente, para não fugir em demasia do escopo central deste texto, à Reforma luterana do séc. XVI outras tantas sucederam, mesmo menores frente a determinados aspectos (e pontos de vista), foram suficientes para motivar dissidências e movimentos sedicionistas. Resulta que, embora a partir da mesma expressão, cristianismo, cada ramo formou e consolidou entendimentos diferenciados acerca de variados aspectos centrais à fé professada, à liturgia e, por consequência, à práxis cotidiana. Desse modo, se a IA não for devidamente informada (assim como o leitor leigo) acerca de qual cristianismo o interlocutor (IN) tem em mente, é possível que retorne com informações conformes à sua base de dados e não necessariamente às expectativas de quem formula o prompt. É possível que sucessivos prompts resolvam o problema, mas parece ser um caso típico – o da cronologia das mudanças conceituais – em que a IN é mais eficaz, efetiva e eficiente do que a IA na construção da narrativa a partir da conexão das partes. Raciocínio análogo aplica-se à Bíblia: entre as tantas e diferentes em uso, como resultado do processo histórico recém-referido, a qual delas o prompt alude em uma eventual consulta, bem como qual delas a IA tomará por base para responder?

            E a mesma lógica se estende a tantos outros e inúmeros domínios; assim, por exemplo, qualquer estudioso de Gestão e Certificação de Qualidade sabe que o significado da expressão “qualidade” tem sofrido alterações conforme a predominância dos modos e das tecnologias de produção em meio aos mercados de atuação: da produção artesanal à customizada-automatizada, passando pela produção em massa da primeira geração e pelas sucessivas ondas de modernização e automatização. O atributo “qualidade” não está congelado; assim, frente a cada uma das hipóteses aventadas, o entendimento (ao ouvir, ler a expressão) será distinto, em cada qual contando com o maior ou o menor envolvimento dos clientes, dos fornecedores ou dos stakeholders em geral. Portanto, a questão da delimitação e da clareza não pode ser ignorada, senão por outros motivos, porque a padronização é conditio sine qua non para o entendimento dos envolvidos na comunicação, para que a mensagem se transmita sem ruídos e atinja os seus objetivos; ademais, mas não de menor importância, há que se evitar os anacronismos.

            O trade off entre a IA e IN também ocorre quando se faz necessário citar autores que apresentam diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto e, ao final e à luz dos objetivos, escolher qual ou quais dentre as linhas de pensamento será a adotada no trabalho. Diferente não implica erro, a exemplo dos conceitos ou campos de conhecimentos ainda em construção. A própria questão da IA é exemplar: embora, interna corporis, ela já seja antiga (em termos da velocidade das mudanças tecnológicas), para o público em geral o tema é novo; assim, a todo momento desperta experiências, daí a emergência de dúvidas, especulações e poucas afirmações conclusivas. Isso posto, o trabalho em tela adota a linha crítica, a de alerta sobre os riscos e os (novos?) problemas que acompanham as IAs ou, ao contrário, assume uma atitude apologética? Ou pretende apresentar um balanço: de um lado, a crédito, as vantagens, os benefícios, os ganhos, etc. e, do outro, as perdas esperadas? Tudo, é claro, no contexto ora em discussão, isto é, devidamente alicerçado nas C&RB dos principais autores e obras.  E, por certo, o equacionamento não se resolve pela sucessão desordenada de citações; antes, demanda conectar as partes, argumentar, exemplificar quando necessário, enfim, construir as narrativas – a principal e as acessórias – que deem conta dos fins perseguidos.

            Um caso análogo, mas com uma conotação mais grave à luz da veracidade dos fatos e dos acontecimentos, diz respeito às “fontes comprometidas”, parciais. E o exemplo dos cátaros ora também se aplica: a maioria da bibliografia primária existente foi produzida pela ortodoxia católica; logo, como visto, contém vício de origem, pois não possui, a partir dos olhos dos autores, minimamente que seja, a neutralidade analítica-crítica. Afinal, como disse o bispo inglês W. Warburton (apud Jenkins, op. cit., p. 23): “[…] a ortodoxia é minha doxia; a heterodoxia é a doxia de outro homem”. Ocorre que essa bibliografia, durante muitos anos (séculos) foi a base para os estudos subsequentes constituírem a bibliografia secundária. Juntas, hoje, posto que são informações públicas, hoje integram os bancos de dados consultados pelas IAs. Mas, aos poucos, conforme avançam os estudos e as pesquisas, surgem fontes que autorizam a repensar a realidade até então dada como definitiva. Pelo mesmo motivo, desde a descoberta, em 1945, da Biblioteca de Nag Hammadi, muito do que até então era admitido como conhecimento estabelecido acerca dos grupos gnósticos (e diga-se: também pela ortodoxia católica em formação), inclusive com a chancela de “consensual”, hoje está sob escrutínio e revisão. Semelhantes a esses, muitos casos podem ser encontrados em diversos campos de conhecimento. A questão que ora se coloca é: teriam as IAs condições de separar o joio do trigo e alertar o leitor? Por exemplo: a resposta ao prompt está baseada nas informações anteriores ou posteriores às descobertas e aos estudos sobre o inventário de Nag Hammadi? Ou essa é uma tarefa da alçada exclusiva das INs?

            Já se aproximando do final, mas sem a pretensão de exaurir o tema, não raro, para o melhor e até mesmo o adequado entendimento de uma citação, mais importante do que a data da edição da obra consultada é retroagir ao tempo-espaço do autor, bem como informar o leitor. Inclusive, porque, por vezes, já há muito desatualizadas, a riqueza e a genialidade de determinadas contribuições residem justamente no fato de terem sido proferidas “naquela” realidade, à luz daquelas condições de possibilidades – tecnologias e recursos em geral, inclusive o acesso ao conhecimento. Outras tantas vezes o que mais se pretende ressaltar é a ousadia (a coragem) dos autores que contrariaram o pensamento hegemônico (técnico-científico, político, crenças, etc.) da sua época. A visão atomística de Leucipo e Demócrito já há muito foi ultrapassada, assim como a de E. Rutherford, mas isso não apaga o brilho das contribuições, verdadeiros degraus que permitiram que outros subissem mais alto. Há ainda um subconjunto deste amplo espectro que merece a atenção: o dos autores notáveis que, por terem cometido grandes erros, foram levados a rever afirmativas e posicionamentos, como é o caso, para citar talvez o mais conhecido e acima de qualquer suspeita, de A. Einstein. O que ora se pretende é chamar a atenção para um problema que tem origem na datação normativa: a IA, quando devidamente orientada responderá (nas C&RB) com a data da edição consultada (do livro, das publicações em geral contidas na sua base de dados); todavia, para o melhor entendimento do texto, no contexto de origem vis-à-vis a atualidade, conforme posicionamento acima, essa nem sempre é a informação mais relevante – a título de exemplo, tome-se o texto de Lúlio, já citado … ele foi escrito no séc. XIII, e sabê-lo muda tudo, dá novo sentido ao texto; e se a datação vier acompanhada da localização geográfica, o entendimento quanto à relevância do autor-obra ascenderá a outro nível. De outro lado, para superar essas lacunas e dificuldades, ao contrário das IAs, as INs recorrem a artifícios como notas de rodapé acompanhadas de esclarecimentos e informações adicionais, pontuando:

  • o local e a data de nascimento e morte do autor (espaço-tempo);
  • as suas áreas de estudo, pesquisa, atividade profissional, titulação e láureas obtidas, etc. (qualificação, autoridade);
  • o ambiente de convivência e influências (cidades em que viveu, viajou, Universidade, mentores, relacionamentos, grupos de pesquisa, circunstâncias excepcionais, etc.); e,
  • com relação à edição, se é a ampliada, a revista, etc.

Claro que, em última análise, sempre dependerá do leitor saber ler, interpretar, situar na História e então saber distinguir entre: fazer a defesa da Democracia ao abrigo de um Estado Livre, Democrático e de Direito[12] e, em meio a um ambiente autoritário, controlado e sob censura – e mais uma vez, os livros de Orwell e Lúlio, já citados, são bons exemplos. Ainda assim, dada a notória aversão dos maçons[13] à leitura (Pinheiro, 2023), por vezes será insuficiente aludir à Escola de Frankfurt, ao Círculo de Viena ou mesmo ao Foro de São Paulo; será então necessário complementar e discorrer sobre eles, sem o quê o contexto, indispensável ao entendimento do texto, não ficará evidente. Isso, por exemplo, requer o conhecimento do público-alvo. E a pergunta, pela derradeira vez, se repete: quem tem melhores condições de responder às condições e às mudanças gerais do e no ambiente: a IA em resposta ao prompt ou a mente racional ora identificada com a IN provida de IE?  

            Por último, ainda com referência à datação e à publicização dos dados, é importante ter sempre presente que as bases utilizadas pelas IAs são datadas e, ainda que superlativas, limitadas às informações tornadas públicas, muitas, inclusive, obtidas sem autorização das partes; portanto, a qualquer momento sujeitas à exclusão em obediência a eventual determinação judicial. Resulta que: 1) trabalhar com IAs sem o conhecimento da “data de fabricação – última atualização dos dados” equivale à aquisição de um produto cuja data de validade pode estar vencida; bem como 2) a certeza de que nunca se estará trabalhando nem com o que, por analogia se equipara ao estado da arte, e nem com a informação classificada, reservada ou de valor estratégico, seja estatal ou corporativa. De outro lado, as INs, ainda que também não disponham de acesso às informações classificadas, contam não só com outros meios para obtê-las (amizades, meios ilícitos e outros) como também com expertises e heurísticas próprias para projetar cenários e promover inferências acerca da temática de interesse.

            Isso tudo convida a pensar as IAs não como produtos-serviços “de massa” (generalistas) disponíveis nas prateleiras, mas antes como um conceito, uma nova e poderosa forma de organização e gestão do trabalho (inclusive o intelectual) que requer, idealmente e sem prejuízo de outras fontes, uma base de dados própria e atualizada, algoritmos dedicados bem como submetidos ao treinamento para os fins específicos, quiçá exclusivos, a que se destinam. As IAs generalistas, públicas e gratuitas são ferramentas poderosas, mas ainda não desempenham a contento tarefas que permanecem exclusivas das INs – dos pesquisadores de ponta. Já a produção intelectual da geração “Ctrl C – Ctrl V”, que passa ao largo das determinações normativas, que ignora os contextos (cronologia-geografia, passado vs presente, atualizações, questões críticas em debate, etc.) e que ao pressupor o leitor instruído, furta-lhe os esclarecimentos indispensáveis, esta terá a sua linha de produção não só facilitada, mas impulsionada pelas IAs e continuará recebendo aplausos e mais aplausos. As IAs poderão ser alavancas para o desenvolvimento das Lojas Maçônicas de Estudos e Pesquisas ou, tal como a pirita, iludir os ingênuos e os tolos; por fim, é sabido que um instrumento nas mãos erradas, não treinadas ou utilizado maliciosamente, pode ser, antes de tudo, uma arma contra o próprio usuário – o autoengano é o primeiro estágio (Giannetti, 1997).  


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – I. Maçonaria com Excelência. 12 nov. 2025a. Disponível em: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-i. Acesso em: 16.11.2025.

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – II. Bibliot3ca Fernando Pessoa. 15 nov. 2025b. Disponível em: https://bibliot3ca.com/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-ii . Acesso: em 16.11.2025.

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – III. Bibliot3ca Fernando Pessoa. 17 nov. 2025c. Disponível em: https://bibliot3ca.com/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-iii   e também em Maçonaria com Excelência: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-iii. Acesso em: 17.11.2025. 

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – IV. Bibliot3ca Fernando Pessoa. 19 nov. 2025d. Disponível em https://bibliot3ca.com/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-iv/ e também em Maçonaria com Excelência: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-iv. Acesso em: 20.11.25.

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – V. Maçonaria com Excelência. 30 nov. 2025e. Disponível em https://www.maconariacomexcelencia.com/post/post-a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-v. Acesso em: 03.12.25.

GIANNETTI, Eduardo. Auto-Engano[14].  São Paulo: Cia. das Letras, 1997. ISBN 85-7164-725-9.

JENKINS, Philip. Guerras Santas. Rio de Janeiro: LeYa, 2013. ISBN 978-85-8181-424-7.

LÚLIO, Raimundo. Livro das Bestas. São Paulo: Escala, 2006. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 50.

MIRANDA, Hermínio C. Os Cátaros e a Heresia Católica. 3ª Ed. Bragança Paulista – SP: Lachâtte, 2018.

ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. ISBN 978-85-359-0955-5.

PINHEIRO, Ivan A. Sobre as Lojas (Maçônicas) de Estudos e Pesquisas. Brasília – DF: Ed. do Autor, 2025. ISBN 978-65-01-66713-3.

PINHEIRO, Ivan A. O Maçom que lê um só livro… Freemason. 25 abr. 2023. Disponível em https://www.freemason.pt/o-macom-que-le-um-so-livro/ e também em Bibliot3ca Fernando Pessoa: https://bibliot3ca.com/o-homem-macom-de-um-livro-so/. Acesso em: 04.12.2025.


Notas

[1] Mestre Maçom do Quadro da ARLS Presidente Roosevelt, 75, GLESP, Or. de São João da Boa Vista, Psicólogo, Professor Doutor em Psicologia, Especializado em Maçonologia (UNINTER), e-mail: dutralucas@aol.com.

[2] Mestre Maçom, Pesquisador Independente, e-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br.

[3] AMVBL – https://www.amvbl.com/.

[4] Revistas acadêmicas, determinadas publicações maçônicas, editais competitivos-seletivos, etc.

[5] Para maiores informações vide a Série citada, em especial Dutra e Pinheiro (2025e)

[6] Curiosidade: para bem delimitar os espaços de atuação da IA vis-à-vis IN há um blog denominado Inteligência Orgânica.

[7] Toda a Série de textos sobre as IAs tem sido redigida a partir de experimentos (testes) realizados com a utilização das versões públicas (mais simples), gratuitas e não especialistas de IAs.

[8] Também dependentes do volume e da atualidade da base de dados, dos algoritmos, do sistema e do tempo de aprendizagem, etc.

[9] Portable Document Format.

[10] Para não fugir ao escopo e ampliá-lo em demasia, os resultados não foram trazidos a este texto. O teste poderá ser auxiliado pela IA Gemini e, quem o fizer comprovará o que, inclusive, já fora antecipado por Dutra e Pinheiro (2025): as Normas Técnicas adotadas pela IA Gemini não estão atualizadas de acordo com as alterações promovidas em 2023. Reitera-se: há casos em que a atualização da base de dados deve merecer atenção redobrada, a exemplo dos textos destinados à submissão para avaliação, quando, de regra, a não observância das Normas atualizadas é fator a priori eliminatório.

[11] Até mesmo a expressão “heresia”, na sua origem etimológica, grega, sofreu alteração de sentido: de “escolha”, para “escolha equivocada, contrária ao cânone oficial”; assim, se na origem era neutra de valor, hoje carrega juízo de valor pejorativo. A propósito, admitindo-se que J. Cristo tenha sido o fundador do cristianismo, este não teria existido se o fundador não fosse herege.

[12] Leia-se: com direitos e garantias individuais e coletivas – liberdade de expressão, de reunião, de participação e de representação política, etc.

[13] Claro, sempre há exceções e, de regra, quando auscultados, tudo ocorre com “o outro”, “nas outras Lojas”. Todavia, a alusão aqui é à maioria já identificada em vários estudos e pesquisas no âmbito da própria Maçonaria.

[14] Mantida a grafia do texto original.


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