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Apontamentos sobre o Ritual Emulação

Publicado em FREEMASON.PT

Por Álvaro E. R. Falcão de Almeida, M⸫ M⸫

Paramentos Venerável Mestre – Ritual Emulação

Um Pouco de História

No século XVII já existiam Lojas Simbólicas na Inglaterra e, como não havia autoridade para regulamentá-las, estas lojas se autogovernam.

Em Londres, quatro lojas que não tinham nome, e por isto eram identificadas pelos nomes das cervejarias e tabernas que abrigavam as suas reuniões, “The Goose and Gridiron Ale House, “The Crown Ale House”, “The Apple Tree Tavern“ e a “The Rummer and Grapes Tavern” reuniram-se na cervejaria “O Ganso e a Grelha”, em 24 de junho de 1717 e constituíram a primeira Grande Loja. Elegeram, para Grão- Mestre, Sir Anthony Sayer, o Venerável Mestre de Loja mais idoso das quatro lojas.

Aparentemente, não tiveram o objetivo de criar uma entidade com hierarquia para controlar as lojas existentes, mas apenas para organizar o tradicional banquete maçônico anual. Aponta-se, como evidência disto, o fato de não ter havido nenhuma ata de reuniões até 1723, quando foi editado o “Livro das Constituições”, pelo clérigo escocês James Anderson.

Porém, passados seis anos, a Grande Loja assumiu o papel de controladora, tendo já mais de cem Lojas sob sua jurisdição. O seu desenvolvimento foi tanto que passou a se intitular a “Mãe do Mundo”.

Em 1725 foi criada a Grande Loja da Irlanda. e em 1736, foi criada a Grande Loja da Escócia.

Em 1751 surgiu a Grande Loja (York) rival da primeira, fundada principalmente por irlandeses impedidos de se filiar às lojas de Londres.

Curiosamente a nova agremiação se autodenominou “Grande Loja dos Antigos”, por julgar que trabalhava dentro das antigas tradições, ao contrário da primeira Grande Loja denominada por eles de “Modernos”. Durante 63 anos não se reconheceram mutuamente nem reconheciam os maçons à elas filiados.

As ações para reconhecimento mútuo iniciaram-se em 1790.

Em 1809 foram formadas as Comissões negociadoras e em 27 de dezembro de 1813, através do “Act of Union”, constituíram a “United Grand Lodge of England” (UGLE), a “Grande Loja Unida da Inglaterra” (GLUI).

Rito e Ritual

Na Constituição inglesa, não há denominação de Rito na maçonaria simbólica; é denominada simplesmente “CRAFT”. (em português, “Arte “ou “Ofício”) .

O Rito representa as regras e cerimônias de carácter simbólico, representa o sistema da organização maçônica.

O Ritual é o livro, o manual que contém o conjunto de práticas consagradas e padronizadas.

Portanto, o trabalho maçônico é um meio ou forma pela qual os princípios da Ordem são passados, sob a forma de um drama.

Um ritual é, por conseguinte, “o conjunto formalizado dos dramas utilizados para a introdução de novos membros ou progressão dos já iniciados, de forma homogênea”.

Como hoje, havia na Inglaterra, antes de 1813, muitas diferenças no modo de trabalhar.

Foi criada, então, a “Loja de Reconciliação”, para produzir um ritual que reunisse as práticas consagradas, trabalho este realizado entre os anos 1814-­1816.

Esta padronização deu origem ao que chamamos hoje “Ritual Emulação”.

Pela primeira vez, em 23 de outubro de 1823, reuniu-se a “Emulation Lodge of Improvement for Masters Masons” (Loja de Emulação de Aperfeiçoamento de Mestres Maçons), composta por membros das Lojas “Burlington” e “Perseverance”, para dar instruções aos mestres que desejassem se preparar para ocupar cargos em Loja.

O Emulation Working (Trabalho de Emulação) recebeu, pois, o nome da referida Loja que, delegada pela GLUI, cuida, até hoje, da preservação do citado ritual. Note-se que a GLUI, por sua vez não dispõe de nenhum ritual oficial.

Constituição de Anderson – 1723

O Art. 155 da Constituição diz que compete às Lojas a regulamentação dos procedimentos das formas de ritual, mas reserva para si o direito de intervir em qualquer Loja se houver alterações ou discrepâncias na execução do mesmo.

A “Emulation Lodge of Improvement” se reúne às 18h15min das sextas-feiras, de outubro a junho, desde a sua criação, no Freemasons’ Hall, onde está a administração da Grande Loja Unida da Inglaterra.

Além do “Emulation Ritual”, praticam-se outros rituais em Inglaterra, como o Logic, o Bristol, o Taylor’s, o Oxford, o Humber, o Stability e o West End, todos aceites pela GLUI.

O ritual redigido em 1823 teve por base as antigas tradições dos maçons, preservadas até aquele momento, sendo que este texto ainda é vigente, tendo sido modificado, recentemente, apenas no que diz respeito às penalidades citadas no solene juramento.

Em l920, o Irmão Joseph Thomas Wilson Sadler da Loja “Lodge of Unity”, de São Paulo traduziu o ritual inglês, com a aprovação da Grande Loja Unida da Inglaterra, embasado na edição de l9l8 do “The Perfect Cerimonies of Craft Masonry”. Na sua versão, ele grafou corretamente a “Cerimônias Exatas da Arte Maçônica” e não mencionou a expressão “Rito de York”, fiel ao original inglês. Este ritual ainda é empregado no Brasil.

O que se espera de um Irmão iniciado no ritual Emulação, é que ele seja caracterizado por um apego especial ao conhecimento e domínio do ritual, uma vez que este é a essência da própria reunião maçônica. Este ritual tem sido, desde muito tempo, definido como “intimista”, já que é através da prática e estudo do ritual que o iniciado incorpora e reflete sobre os ensinamentos e mensagens contidos nos textos de abertura e fechamento dos trabalhos da Loja, assim como nos textos das cerimônias de Iniciação, Passagem ao Segundo Grau e Elevação ao Grau de Mestre.

Em princípio, o ritual Emulação traça um caminho a ser trilhado, aparentemente sem a ajuda externa dos demais Irmãos membros da Loja.

O ritual tem que ser vivido nas sessões. O trabalho maçônico se apresenta como um teatro, que deixa profundas marcas na mente e no coração do praticante, sendo que, para isto, ele tem que ser e estar receptivo.

Às vezes este caminho pode ser difícil ou desconcertante para aquele que espera receber explicações dos Irmãos mais antigos, por uma natural tendência de considerá-los mais experientes. Algumas vezes pode ser que seja ajudado a identificar e compreender uma parte dos “Landmarks” – os antigos usos, deveres e costumes – que deverá observar e praticar, mas este caminho é pessoal e individual. Isto pode demandar certo esforço introspectivo e autocrítica muito grandes do Maçom que adoptou o ritual Emulação.

O trabalho do Mestre da Loja, e também dos seus Vigilantes, tem uma importância fundamental nas sessões, a de representar e transmitir a essência do ritual e a seu simbolismo aos demais Irmãos. Isto exige o domínio de alguns conhecimentos básicos:

  • Entender a mecânica dos passos e movimentos durante as sessões e orientar os menos experientes;
  • Entender e conhecer suficientemente o significado das diferentes frases, palavras, perguntas e respostas do ritual, para poder pronunciá-las corretamente e no tom adequado. Isto, preferivelmente, de memória, para que possa desenvolver os trabalhos com fluidez natural;
  • Viver e interiorizar as cerimônias.

Desta maneira, os demais Irmãos também se sentirão imersos no ritual e, a cada reunião encontrarão frases e símbolos que os farão refletir, entender e se aprofundar nas suas mensagens. Somente desta maneira poder-se-á progredir na Arte Real através do ritual Emulação, nos seus graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Por outro lado, diferentemente dos outros ritos, o trabalho maçônico não se esgota exclusivamente durante a Loja aberta. O ritual Emulação dá uma excepcional importância à refeição fraternal que se segue às reuniões e que, na verdade não estará concluída até que se celebre o último brinde.

Provavelmente esta prática tem raízes muito antigas, remontando a época em que os maçons ingleses se reuniam em tabernas, instituições estas de grande significado na vida social das comunidades. O jantar é considerado parte da reunião e, como tal, tem as suas peculiaridades, evitando-se assuntos polémicos, que conduzam à desarmonia. Durante o jantar todo membro da Loja deve emitir opiniões e reflexões que possam enriquecer os demais, não havendo indicações ou determinações prévias sobre os temas que, se bem conduzidos, podem resultar em grande ajuda para o fortalecimento do espírito de fraternidade, do espírito de unidade que é, em última análise, o que buscamos.

O ritual “Emulação” não possui:

  1. Palavra Semestral;
  2. Cadeia de União. (não deve ser formada em hipótese alguma);
  3. Sessões Especiais: todas são denominadas Regulares;
  4. Câmara de Reflexões;
  5. Espadas na loja – a única é a usada pelo Guarda Externo;
  6. Bolsa de Propostas e Informações;
  7. Passos para entrada na loja;
  8. Cartão de Presença (quando exigido, o VENERÁVEL MESTRE solicita que o Ir. Sec. envie uma carta diretamente à loja do visitante, informando a visita);
  9. Altar dos Juramentos (não há altares na loja, as mesas do Venerável Mestre, 1º e 2º Vigilantes, são baixas e denominadas Pedestais);
  10. Transmissão da Palavra Sagrada;
  11. Cálice da Amargura, nas iniciações
  12. Consagração pela Espada e Malhete;
  13. Espada Flamejante;
  14. Prova dos Elementos;
  15. Tríplice Abraço;
  16. Os três pontos (nas abreviaturas e nas assinaturas);
  17. Diferença de nível entre o Oriente e Ocidente, o piso é plano
  18. Separação física entre o Oriente e Ocidente balaustrada.
  19. Os cargos Orador, Chanceler, Experto, Porta Estandarte e Porta Espada;
  20. Corda de 81 nós;
  21. Candidatura ao cargo de Mestre da Loja: não há disputa, segue-se uma linha de sucessão;
  22. Não se usam os termos: Balaústre, Prancha ou Peça de Arquitetura. usam-se: os termos Acta, Expediente, Palestra, Conferência;
  23. Não há degraus no interior do templo; o piso é absolutamente plano;
  24. Não há Colunas Zodiacais;
  25. A porta de entrada é situada no canto noroeste da Loja;
  26. Não há Estrela Flamejante; há uma letra “G” pendente no centro da loja;
  27. Há Colunetas nos pedestais do 1° e do 2° Vigilantes que se alternam de pé e deitadas, dependendo se a Loja está em trabalho ou em descanso;

Mais algumas características do ritual “Emulação”

Há somente um livro de atas para todos os graus – todas as atas são escritas, lidas e aprovadas no Primeiro Grau.

O ritual não deve ser lido em Loja. Deve ser todo memorizado.

Somente ao Antigo Venerável mais recente é permitido permanecer com o ritual aberto, pois ele funciona como “ponto” para ajudar um Irmão num lapso ocasional de memória.

Os cargos eletivos são somente três: o Venerável Mestre, o Tesoureiro. e o Guardião. É tradição não haver disputa de cargos, em nenhuma hipótese. A linha de sucessão deve ser respeitada, para que a harmonia e a união entre os irmãos sejam mantidas.

A linha de sucessão é:

  • Guarda Interno;
  • Segundo Diácono;
  • Primeiro Diácono;
  • Segundo Vigilante;
  • Primeiro Vigilante;
  • Mestre da Loja.

Os demais cargos são de livre escolha do Venerável Mestre

Todas as reuniões de Loja Aberta são Regulares, a saber:

  • Iniciação;
  • Passagem;
  • Elevação;
  • Instalação do Mestre da Loja
  • Dedicação do Templo.

Não existem as denominações “sessões magnas”, “econômicas” etc.

Não é permitido o uso do balandrau para os membros da Loja. O terno é preto, gravata e calçados pretos, nas Cerimônias. Nas demais sessões o terno pode ser escuro, com gravata e calçados combinados. Aos visitantes de outros ritos, é permitido o uso do balandrau.

O Venerável Mestre é o único que pode falar sentado na Loja. Os demais falam de pé e à ordem e com o passo.

As baterias são sempre em mesmo número, em todos os Graus; a diferença está no ritmo.

Não há maçonaria Filosófica.

Sempre haverá uma cadeira vaga, à direita do Venerável Mestre, destinada ao Grão-Mestre ou o seu Adjunto.

Se houver uma ode de abertura ou música apropriada, deve ser cantada ou executada antes de se abrir a Loja. E se houver uma ode de encerramento, será executada depois da Loja fechada. (não usar música durante os trabalhos em Loja Aberta).

No primeiro ou no segundo levantamento, se houver alguma mensagem oficial ou Decreto do Grão-Mestre para ser lido, o Diretor de Cerimônias pede aos Irmãos que fiquem de pé e à ordem.

Numa visita o Venerável Mestre deve oferecer o malhete apenas ao Grão-Mestre ou ao seu Adjunto, e a mais nenhuma outra autoridade.

Quando o Venerável Mestre está ausente, deve ser substituído pelo Antigo Venerável mais recente, se presente. Se o Venerável Mestre tiver que se ausentar por tempo maior, deve escolher entre os Antigos Veneráveis quem deve substituí-lo. Isto significa que o Antigo Venerável só substitui o Venerável Mestre em caso de impedimento definitivo e somente nestes casos.

As comissões que constam dos estatutos têm a finalidade de atender aos regulamentos do Grande Oriente do Brasil. Na verdade, o Emulação tem apenas duas comissões – a de Inventário, composta por dois membros escolhidos pelo Venerável Mestre para verificação e controle dos bens da Loja – a de Auditagem, com dois membros, para darem parecer ao Relatório apresentado pelo Tesoureiro, para ser votado no dia da instalação do novo Venerável Mestre.

Não há ordem verbal para levantar-se ou sentar-se, nas reuniões, salvo as excepções que constam do ritual. Toda vez que o Venerável Mestre se levanta ou senta-se, todos o seguem, sem necessidade de ordem.

O único que fala sentado na Loja é o Venerável Mestre – todos falam de pé. Para falar não é necessário pedir ao Venerável Mestre, basta levantar-se e aguardar a ordem para falar.

Não há uma ordem estabelecida para concessão da palavra. Pode falar um Irmão do Oriente depois outro de qualquer lugar da Loja, isto é, não há precedência.

A marcha é sempre iniciada com o pé esquerdo.

Somente nas Cerimônias de Iniciação, Passagem e Elevação é obrigatório o esquadrejamento da Loja.

Fora das Cerimônias não há um sentido obrigatório de caminhar na Loja.

Um Maçom não pode caminhar sozinho na Loja, terá que ser, sempre, conduzido pelo Diretor de Cerimônias nas sessões regulares e pelos Diáconos, nas Cerimônias.

Compilação, tradução, redação e organização dos textos:

Álvaro E. R. Falcão de Almeida, M. M. – A.R.L.S. “Cavaleiros Templários” n° 3997 – GOB-MG

Bibliografia

  • CARR, H., O Ofício do Maçom, São Paulo: Madras, 2007. 423 p.
  • EMULATION LODGE OF IMPROVEMENT. Emulation Ritual, London: Lewis Masonic, 2007, 299 p.
  • EMULATION LODGE OF IMPROVEMENT. The Perfect Ceremonies of Craft Masonry, London: Lewis Masonic, 1955, 320 p.
  • OLIYNIK, K. Emulação (História, Ritualística, Rituais)., Curitiba: Edição do Autor, 2004. 592 p.
  • OLIYNIK, K. Emulação O Rito de York (Emulation Ritual)., Curitiba: Edição do Autor, 1997. 226 p.