Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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As três batidas distintas(a tradição entre Modernos e Antigos)

Tradução J. Filardo

Por Roger Dachez

As Três Batidas Distintas[1]. Esta é uma das grandes divulgações da tradição maçônica inglesa. E, portanto, antes de começar, será necessário afirmar que uma divulgação é um texto destinado ao público em geral. Isso deve ser entendido, e mais em contraste com outros documentos maçônicos ou referentes à Maçonaria, que são documentos privados ou privados. Por outro lado, o estudo das divulgações e o trabalho comparativo é recente.

Os primeiros pesquisadores que se interessaram, há mais de meio século, consideraram-nos, em primeiro lugar, com fontes desacreditadas e pouco confiáveis quanto à verdade de seu conteúdo. Não foram esses textos publicados com a intenção de prejudicar e menosprezar a Maçonaria?

O autor da divulgação mais famosa foi Samuel Prichard, e nos escreve o seguinte: “De todos os abusos que apareceram entre os homens, nenhum é tão ridículo quanto o mistério da Maçonaria (…). Espero que [essa divulgação] dê plena satisfação e tenha o efeito pretendido, impedindo que tantas pessoas crédulas sejam atraídas também para uma sociedade perniciosa”. [2]

Há que se reconhecer que certas divulgações tinham essa missão descrita por Prichard, e que de fato seu propósito mais deliberado era, então, semear a dúvida no espírito do público leitor. Este é o caso de duas revelações francesas de 1744: Le Parfait Maçon e La Franche-Maçonne [3].

Com o avanço da pesquisa e investigação, e comparando as divulgações aos textos inéditos, os estudiosos estabeleceram a coerência da maioria dessas publicações e desde então as consideram fontes bastante seguras. Harry Carr, um dos maiores pesquisadores maçônicos ingleses, produziu um notável trabalho publicando, primeiro e em inglês, as divulgações maçônicas francesas.

Hoje, levando em conta toda essa experiência, é possível fazer uma segunda leitura de todos esses textos, e ser capaz de resolver alguns dos problemas fundamentais que a história maçônica apresenta no século XVIII. De fato, a pesquisa maçônica, como qualquer pesquisa, consiste em reformular regularmente as mesmas questões e tentar com isso encontrar novas respostas.

A principal divulgação maçônica é como já foi dito e escrito, Masonry Dissected (Maçonaria dissecada) por Samuel Prichard, datado de 1730. É a principal divulgação de um sistema de 3 graus. Este texto conheceu tal sucesso ao longo do século XVIII, e dele podemos dizer que muitas dezenas de edições foram publicadas, e, portanto, a questão entre os pesquisadores era saber se revelava a verdade ou não.

Pela amplitude de sua difusão, podemos afirmar que essa divulgação se tornou de fato, numa fonte rica para compreender os rituais maçónicos, porque, por um lado, é muito difícil compará-la aos textos contemporâneos e, por outro lado, os textos imediatamente posteriores a copiam!

As lojas usavam o texto de Prichard como um mnemônico, o que significa que a maçonaria londrina da década de 1730 correspondia a essa revelação. Isso deu muito a pensar se a mesma coisa acontece com a maçonaria parisiense que vinha da Inglaterra naqueles mesmos anos.

A primeira divulgação importante em inglês foi La Maçonnerie Disséquée, que é a última, na Inglaterra, por muito tempo. Na França, a situação foi muito diferente. Desde o final da década de 1730, inúmeras divulgações surgiram. Umas se inscrevem no âmbito das de Samuel Prichard, La recepción mystérieuse, 1738 e Le Sceau rompu, 1745, todos eles testemunhando as mesmas preocupações, os mesmos interesses, as mesmas necessidades e, indubitavelmente, propondo também a mesma prática maçônica que os irmãos do outro lado do Canal[4].

As outras divulgações, Le secret des francs-maçons, Le catechisme des francs-maçons, L’ordre des francs-maçons trahi, dos anos 1744-1745, referem-se a uma Maçonaria que acontece na Inglaterra.

Em 1751, entretanto, Le Maçon Démasqué se apresenta como uma tradução francesa de um ritual usado por uma loja de Londres [possivelmente dos Modernos]. Assim, vemos que nos anos de 1730 a 1750, os usos maçônicos dos irmãos ingleses e franceses para os graus azuis eram aparente e substancialmente idênticos.

Entre os anos de 1751 a 1753, ocorre um evento que modificará consideravelmente tudo o que está relacionado a esse assunto, pelo menos tanto no ritual quanto na concepção da Maçonaria, com a aparição, na Inglaterra, da segunda Grande Loja, diferenciada da Grande Loja de Londres[5].

Suas origens são obscuras, mas se sabe há muito tempo que a teoria apresentada por Thory, segundo a qual a Maçonaria dos “Antigos” vinha de uma divisão da Grande Loja de Londres, não estava bem fundamentada, ou melhor dizendo, era falsa.

De fato, era a aposta original dos irmãos vindos da Irlanda que trouxeram com eles sua tradição e usos maçônicos, muito diferentes dos usos maçônicos que eram usados no orbe londrino. Aparece em 1751, uma maçonaria que não tomará o título distintivo de Grande Loja até que em 1753, um irmão de nascimento nobre, a exemplo e semelhança do que aconteceu na Grande Loja de Londres, aceita exercer o cargo de Grão-Mestre[6].

A Grande Loja dos Maçons segundo as antigas instituições, será mais tarde chamada Grande Loja dos “Antigos”, e começam as primeiras agitações de oposição à Grande Loja de Londres ou à Primeira Grande Loja; Laurence Dermott, seu principal animador, conseguirá elevá-la ao nível de seu oponente, chegando, inclusive, a se colocar à frente dela no final do século XVIII.

É nesse contexto que, em 1760, após trinta anos de silêncio documental, surgem as novas divulgações.

É quando aparece A Master Key to Freemasonry, tradução bastante próxima a L’ordre des maçons trahi. Esta divulgação atesta em seu conteúdo a forte identidade que havia nas maçonarias francesa e inglesa, em relação à tradição dos “Modernos”. Alguns meses depois, é publicado Three distinct Knocks.

Este texto se apresenta como um ritual que permitiria ao leitor passar-se por maçom e penetrar em todas as lojas que quisesse. Em 1762, publica-se Jachin e Boaz, divulgação muito próxima da anterior.

No entanto, esta última se declarava uma divulgação dos “Antigos”, enquanto Jachin and Boaz é reivindicada pelos “Modernos”. Esperando a demonstração do contrário, pode-se pensar que esta última reivindicação era falsa e provavelmente fora feita para confundir as pistas porque, sem isso, não se explicaria as brigas que ocorriam entre “Modernos” e “Antigos” até a união de 1813.

Em 1764, é publicada a obra Hiram, divulgação muito parcial que se refere a Three Distinct Knocks e que faz referência ao Arco Real, (grau muito importante para os “Antigos”). Em 1765, Mistery of Freemasonry Explained (versão curta de Jachin and Boaz) e Schibboleth aparecem em meio a essa balbúrdia de divulgações.

Mas de toda essa série de publicações, a mais importante é incontestavelmente Três Batidas Distintas, primeira divulgação conhecida que pretendia revelar os usos da Grande Loja dos “Antigos”.

Antes de começar a leitura crítica do texto, precisamos deixar de lado os problemas que acumulamos na hora de reexaminar todo este estudo.

  1. Quais são as diferenças exatas entre os rituais dos “Modernos” e os “Antigos”?

Em Ahiman Rezon, o livro das Constituições dos “Antigos”, Laurence Dermott havia estabelecido nele uma lista do que esses últimos criticavam nos “Modernos”.

Esse catálogo reunia os elementos mais ou menos justificados que se reprovava e, portanto, fica mais ou menos estabelecido que os “Modernos” não consideravam o grau do Arco Real, embora o tenham praticado separadamente. Este grau foi trazido pelos irmãos irlandeses (os “Antigos”) e, embora as fontes não sejam conhecidas, eles o defendiam como um grau 4 autônomo.

Da mesma forma, a reprovação de ter deixado cair em desuso a instalação esotérica ou secreta do Venerável Mestre que é, sem dúvida, uma verdadeira cerimônia. E embora essa cerimônia não seja descrita no texto de Samuel Prichard, ela aparece em Três Batidas Distintas. Deve-se notar que entre essas duas divulgações já haviam transcorrido cerca de 30 anos e um certo número de eventos havia ocorrido na França, talvez relacionados a essa instalação, de modo que não se pode ser tão afirmativo quanto L. Dermott, sobre esta pergunta.

Por outro lado, a censura de ter abandonado as orações no ritual talvez não seja pertinente. Com efeito, não há oração em Samuel Prichard, mas isso significa que os “Modernos” as teriam abandonado? Talvez seja necessário inverter as bolas; e se eles nunca as tivessem praticado?

E acima de tudo há um imenso problema e é a ordem das Palavras[7].

É verdade que os “Modernos” haviam praticado em primeiro lugar a ordem B e J, praticado pelos “Antigos”, e depois vir a alterar a ordem de trabalho com J. e B.?

Essa pergunta que ainda hoje nos parece bizantina, de fato, desencadeou uma das mais retumbantes disputas. Hoje ainda existem obediências e ritos maçônicos que divergem sobre a ordem dessas duas palavras, cada um pensando que pratica a ordem correta.

  • Que tipo de relação teriam podido se estabelecer entre a França e a Inglaterra exatamente até os anos 1760?

Se se segue a segunda edição das Constituições do Craft, tem-se a impressão de que em 1738 a maçonaria francesa, que acabara de escolher um Grão-Mestre francês, se separa[8], da maçonaria inglesa e a partir desse momento a incompreensão se instalou entre elas.

Agora, em vista de todas as nossas investigações, parece que esta visão é inexata e que a separação real já vinha de várias décadas atrás. É claro que o estudo dos Altos Graus nos permite esclarecer essa questão, mas a segunda leitura das divulgações nos fará considerar, do ponto de vista dos graus simbólicos, que a prática estava indubitavelmente mais próxima do que se acreditava até os anos de 1760 na Inglaterra e na França. Há que se dizer que a separação entre as tradições maçônicas inglesas e francesas seria relativamente tardia.

  • Quais eram as relações reais entre os irmãos das duas Grandes Lojas?

Oficialmente, e em um plano lógico obediencial, não havia relacionamento, então quando um irmão mudava de obediência, ele era praticamente iniciado de novo. Essas trocas foram frequentes, como nos mostra muito bem o ilustre William Preston. Mas, na prática maçônica do século XVIII[9] já havia reuniões. Por outro lado, essas trocas eram frutíferas, já que, desde a década de 1760, e sob a influência dos “Antigos”, os “Modernos” criaram um Capítulo do Arco Real independente de sua Grande Loja.

Este deveria ser o debate: Quais foram as influências entre as divulgações inglesas e francesas?

Vimos que o sistema maçônico exposto nesta divulgação é o dos “Antigos”. Mais tarde, a dos “Modernos” é o segundo sistema simbólico que aparece na Inglaterra.

Esses sistemas apresentam muitas diferenças, tanto em termos de estatuto quanto por seu conteúdo. Uma primeira distinção reside no fato de que a tradição dos “Modernos” foi implantada na França e se estendeu por todo o continente, enquanto o sistema dos “Antigos” permaneceu, desenvolvendo-se em sua lógica e seu funcionamento, em um sistema profundamente inglês ou anglo-saxão e, portanto, ficou restrito ao território inglês[10].

Uma segunda distinção que pode ser feita é relativa ao problema das fontes dessas duas tradições. Enquanto a tradição dos “Modernos” pode ser identificada, o mesmo não se pode dizer das fontes dos “Antigos”.

Comparando a divulgação de Prichard (1730) aos mais antigos documentos escoceses conhecidos do grupo Haughfoot, tais como o Manuscrito dos Arquivos de Edimburgo, ou o Manuscrito Chetwode Crawley e o Manuscrito Kevan, 1696-1714,[11] é possível estabelecer uma conexão entre esses dois textos. Encontram-se nesses textos escoceses, os elementos rituais mais importantes, o que nos permitem pensar, com efeito, que eles são uma das fontes localizáveis ​​da primeira maçonaria inglesa.

Não há nenhuma relação com a Maçonaria dos “Antigos” e as fontes da divulgação que estudamos são desconhecidas.

As hipóteses que se pode avançar com certa prudência são muito tênues. Por exemplo, se observará que nenhum atestado de um ritual dos “Antigos” é conhecido na Inglaterra antes da década de 1750. Agora, sabemos que os “Antigos” eram essencialmente de origem irlandesa.

Pode-se inferir, então, que o ritual dos “Antigos” seria inspirado por um sistema maçônico que teria nascido na Irlanda a partir de fontes indeterminadas?

Será assim a única fonte para o estudo da história da primeira maçonaria irlandesa, estudar profundamente, o que nos permitirá, talvez, responder a essa pergunta.

Sabe-se que a existência de uma loja, pelo menos com uma atividade maçônica, se localiza em Dublin desde 1688 a Loja Trinity College.

Alguns pesquisadores consideraram que essa primeira maçonaria irlandesa poderia ser uma espécie de maçonaria arcaica inglesa, na medida em que a Maçonaria teria sido introduzida nesta terra católica pelos colonizadores ingleses e protestantes. (Ver trabalho sobre a Querela entre os Antigos e Modernos) Com o passar do tempo, esses últimos foram se tornando anglo-irlandeses, depois irlandeses e assim é que esta maçonaria agora irlandesa seria o testemunho vivo de um primeiro sistema maçônico inglês do final do século XVII.

Este sistema teria desaparecido da Inglaterra, onde fora substituído pelo dos “Modernos”, para perdurar e se desenvolver somente na Irlanda. Infelizmente, essa hipótese é atraente, mas não se baseia em nenhum documento que possa hoje nos dizer algo sobre isso.

Abordemos então os mistérios de “Três Distintas Batidas” de outro ângulo, estudando o texto em si, agora. Desde o primeiro momento em que o examinamos, descobrimos uma extraordinária estranheza, bem como novidade em relação ao sistema descoberto por S. Prichard. Ficando expostas várias diferenças, ainda maiores entre essas duas tradições.

  • A posição dos vigilantes.

No texto de Prichard, que parece recolher um uso mais antigo e mais simples da Maçonaria Escocesa, o Venerável Mestre está no Oriente e os dois Vigilantes no Ocidente. Este sistema dos “Modernos” será desenvolvido em todo o Continente; e é fundado sobre o eixo Leste-Oeste.[12]

Na maçonaria dos “Antigos”, os três oficiais estão dispostos maneira diferente: um Vigilante é colocado em pleno Ocidente e o outro completo ao Sul. Além disso, o texto do ritual de Abertura associa o lugar dos oficiais a três posições notáveis ​​do Sol: leste para o Venerável, o Oeste para o 1º, Vigilante e o Sul para o 2º. Vigilante.

  • A posição dos 3 grandes candelabros.

Em Prichard, encontram-se dois candelabros no Oriente e um só no Ocidente (posição em se encontra evidentemente no Rito Francês ou Moderno). Estes candelabros não são associados aos oficiais e representam o Sol, a Lua e o Mestre de Loja[13].

Por outro lado, no sistema dos “Antigos”, esses candelabros são associados a cada um dos 3 oficiais e às virtudes Sabedoria, Força e Beleza[14].

* As três grandes luzes.

De acordo com os “Modernos”, essas luzes são o Sol, a Lua e o Mestre de Loja.

Para os “Antigos”, é o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso ou Três grandes luzes as três grandes luzes; o Sol, a Lua e o Mestre de Loja tornam-se as três luzes menores[15].

* A posição das palavras sagradas.

Essa questão é complexa e a diferença entre as duas tradições talvez não seja tão fundamental quanto se pretendeu dizer.

Prichard dá duas palavras como J. e B. desde o 1º grau,[16]; enquanto os “Antigos” dão apenas uma palavra B. Sem entrar nos detalhes, nós simplesmente observamos que a reprovação dirigida aos “Modernos”, que teriam invertido as palavras sagradas, está, de fato, longe de ser provada[17].

É muito mais verossímil, na verdade, que as duas palavras estivessem na origem associadas conforme testemunha o texto de Prichard[18] e então elas teriam sido dissociadas. Isto poderia explicar por que os “Modernos” escolheram a palavra J. e os “antigos” a palavra em B. em todo caso J que está no 1º grau do sistema francês nascido dos “Modernos” e B. no 2º grau no sistema dos “Antigos”, é B. aquele que se encontra no 1 grau e J. no 2 grau.

Essa diferença terá consequências incalculáveis. Ao longo de quase 60 anos, as duas grandes Lojas rivais se enfrentarão sobre esta questão e este debate se perpetuou no Continente até nossos dias.

Outras diferenças poderiam ser evocadas: por exemplo, a abertura que é mais curta nos “Modernos” do que nos “Antigos”, porque eles repetem as funções dos oficiais[19], bem como a arquitetura do primeiro grau dos “Modernos” é profundamente diferente daquela dos “Antigos”.

Para propor uma hipótese sobre a origem da tradição dos “Antigos”, falta-nos considerar, depois de todas essas diferenças, e de maneira paradoxal, os pontos comuns entre esses rituais, percebe-se que dentro da maçonaria anglo-saxônica do início do século XVIII, um certo número de temas pertencentes tanto aos “Modernos” quanto aos “Antigos”: os Oficiais, Venerável ​​e Vigilantes, as palavras J. e B., as 3 luzes, a Bíblia, o Esquadro e o Compasso, as pedras, as joias, os 4 pontos cardeais. Poderíamos avançar a hipótese de que esse inventário foi organizado de maneiras diferentes e específicas para formar os dois sistemas que conhecemos.

De fato, no final do século XVII, o conteúdo simbólico da maçonaria anglo-saxônica (ritos, cerimônias e instruções) é extremamente simples e reside essencialmente no juramento e na Palavra. No início do século XVIII, a Maçonaria se estrutura. É bem possível que essa vontade de organização tenha trazido as diferentes escolhas na Inglaterra e na Irlanda. As estruturas ainda eram embrionárias e a disposição da documentação simbólica básica pôde ser feita sob as circunstâncias, os interesses locais, as ideias, os gostos, a imaginação de cada um.

Desse ponto de vista, fica evidente que a interpretação simbólica dos significados fundamentais dessas escolhas torna-se muito relativa à colocação coerente de todos esses elementos, o que indubitavelmente oferecia inúmeras e infinitas possibilidades.

As soluções conservadas são, sem dúvida, aquelas que nos pareceram mais interessantes, mais confortáveis, até bonitas, sem significado específico em relação umas às outras. Por outro lado, para nos atermos à questão da ordem das palavras sagradas, seria bom poder distinguir a diferença de significado conforme as palavras sejam dadas em uma ordem ou outra! Finalmente, não nos esqueçamos de que não é apenas segundo Hutchinson[20], em 1775, que a Maçonaria inglesa realmente alcança o status de Maçonaria especulativa, simbolista, o que não era o caso, um pouco antes, quando se contentava em harmonizar os elementos muito simples.

Para coroar o todo, a mistura desses dois sistemas uma vez constituída vai piorar e se isso ainda fosse possível, a confusão inerente a essas associações a ponto de torná-la quase inextricável.

Foi o caso na Inglaterra em 1813, mas também foi o caso anterior na França de uma dezena de anos, com o Guia dos Maçons Escoceses, “Guide des Maçons ecossais” quando a tradição dos “Antigos” foi combinada com os usos franceses “ modernos “[21].

Debate:

* Uma comparação entre os sistemas maçônicos escocês e irlandês seria, sem dúvida, muito instrutiva, pois há relações muito antigas entre esses dois países. Desde o século VI, os “Scots” irlandeses colonizaram a Escócia. Navegadores corajosos, povoaram, entre outros, os mosteiros do norte da Europa. Em outro nível, a Grande Loja da Escócia, fundada em 1736, teve em seguida relações muito boas com a Grande Loja dos “Antigos”, pelos quais não escondia sua simpatia. Isso diz, a Maçonaria dos “Antigos” que se converte rapidamente em uma maçonaria inglesa, o que certamente facilitou a aproximação com os “Modernos”.

* Vê-se que os mistérios dessa divulgação revelam os problemas fundamentais sobre a origem da Maçonaria Britânica. Além disso, teve uma grande repercussão sobre os sistemas maçônicos contemporâneos. São os “Antigos” que finalmente moldaram a face da Maçonaria Inglesa de hoje, e seria preciso muito trabalho para descobrir o que resta da herança dos “Modernos”. Assim, este sistema maçônico, do qual sua origem está mergulhada em mistério, conseguiu suplantar praticamente toda a tradição dos “Modernos” e se instalar como dono e senhor no mundo anglo-saxão.

ROGER DACHEZ

Do livro: Rito Francês. História, reflexões e desenvolvimento – de Victor Guerra

Pode ser encontrado em Amazon: https://www.amazon.com.br/dp/B07KS4ZRLB

ou no Clube de Autores: https://clubedeautores.com.br/livro/rito-frances-ou-moderno-5


Notas

[1] A Maçonaria Dissecada 1730 (foi adaptada para o francês em 1738). Inversamente, foi L’ordre des francs-maçons trahis 1745, que foi traduzido para o inglês em 1760. Isso dificulta apreciar o impacto dessas mudanças.

The Three distinct Knocks, Ahora té Door of thé most antient freemasonry, Opening to all Men, Neither Naked nor Cloath’d, Bare-fútbol nor Shod, c. (…) Este texto foi publicado na revista English Masonic Exposures, 1760-1769 pelo Cabo A. C.F. Jackson, 1986, Lewis Masonic, Terminal House, Shepperton, TW17 8AS, Middx.

Existe uma tradução francesa publicada em Travaux de la Loge Nationale de Recherches Villard de Honnecourt por Gilles Pasquier, n ° 13, p. 95-129, 1o. grau, n ° 14, p. 95-129, 2o grau, n ° 14, p. 133-165, 3o. grau).A loja Louis de Clermont em Ghimel, estudou na sua época, esta revelação.

[2] La Maçonnerie disséquée, em La franc-maçonnerie: documents fondateurs p. 323-324, o Herne, 1992.

[3] Estas duas divulgações foram publicadas por Johel Coutura, Le parfait maçon, les debuts de la maçonnerie française (1736 -1748), Publicações da Universidade de Saint Étienne. (No texto anterior fala-se dessa divulgação

[4] Da mesma forma La Recepción de un Frey-maçon, divulgação de 1737 das mãos do tenente da polícia, René Hérault, não contradiz fundamentalmente o texto de Prichard, exceto em relação à difícil questão da ordem das palavras.

[5] Se a tradição maçônica da Grande Loja de Londres, que passa a ser logo chamada de “Moderna”, pejorativamente, havia se implantado muito bem na França no século XVIII, o mesmo não acontecerá com a tradição dos “Antigos”. Para isso, terá que esperar até 1804.

[6] No século XVIII, uma Grande Loja era, em primeiro lugar, a Loja de um Grão-Mestre.

[7] Sobre esta questão, deve-se ler Les deux Grandes Colonnes de la Franc-Maçonnerie por René Désaguliers, Dervy, 1997.

[8] Esta é a famosa expressão – “affecting independency” – que pode significar “ser generoso com os ares de independência, “ ou seja, “assumindo sua independência”.

[9] As relações dos irmãos com sua obediência eram à imagem dos cidadãos diante dos poderes civis: havia uma grande liberdade, inclusive nas lojas. Até certo ponto, ainda é semelhante hoje em dia, se não melhor.

[10] Na verdade, teve uma descendência quase fortuita na França com Le Guide du Maçon Ecossais em 1804, esqueleto dos rituais dos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

[11] Sobre estes manuscritos, ver R. T. No. 47, julho de 1981, p. 161-169 – Os três rituais maçônicos mais antigos‖ tradução e apresentação de René Désaguliers.

[12] A expressão ” em seu meridiano “, usada em certos rituais franceses e que há quem traduza como “at high Meridian” não tem realmente nenhum significado.

[13] Eles terão entendido que, neste caso, o Mestre de Loja, não é o Venerável.

[14] A associação do Sol, da Lua e do Mestre de Loja que também existe, mas é posterior e resultou da união de 1813 que misturou as duas tradições. Notemos que ao passar ao R.E. A.A., isso trará complicações adicionais recolocando os candelabros no centro e os associando aos vigilantes, mantendo o antigo significado…Encontra-te se podes ou pudesse!

[15] Sobre esta questão, pode-se ler o artigo de Harry Carr em The Freemason at Work, p. 207-212. Isso será ainda mais a fonte de grande confusão. Por exemplo, encontram-se em certas formas atuais do Rito Francês ou Moderno as 3 grandes luzes dos “Antigos”, isto é, o Volume da Lei Sagrada com o Esquadro e o Compasso colocados em cima, quando na verdadeira tradição dos “Modernos”, é a Bíblia, e não o Volume da Lei Sagrada, que era colocado no altar do Venerável da Loja com a espada sobre ela. Essa diferença também tem uma consequência sobre o procedimento do juramento porque, ao contrário dos “Modernos”, os “Antigos” colocam o Volume da Lei Sagrada sobre um altar separado diante do Venerável..Para fazer um juramento, este último se move e toma o Livro em suas mãos. Essa é a origem do ” Due garde.”

[16] Eu te darei a Palavra. – B. (…(…) – Dai-me a outra palavra. – J. (…- “in L’Herne La franc-maçonnerie: documents fundateurs, p. 318.

[17] Sobre essa questão tão complexa, recomenda-se ler As Duas Grandes Colunas da Maçonaria, de René Désaguliers, Ed. Dervy, cabildo II, que é um texto indispensável.

[18] Os três mais antigos rituais maçônicos conhecidos (aqueles do grupo Haughfoot) de 1696-1720: “Onde se encontram as palavras? No livro I dos Reis (..) as palavras -Jachin et Boaz. – (em R. T. Nº 47, ant.cit., p. [169]. Trata-se de uma questão de uma palavra a ser distribuída, uma ação de dar as cartas a primeira e outra a segunda, o que nos permite nos reconhecer. Por outro lado, este uso tradicional também está de acordo com a definição etimológica da palavra símbolo, do grego Symbolon, – pedaço de um objeto compartilhado entre duas pessoas para servir entre elas como sinal de reconhecimento. Prichard dá ainda as duas palavras, mas introduz o uso de soletrá-las. Com efeito, a partir deste momento já se pensou em separar as palavras, que tem que restringir a separar as letras da palavra restante, se quiser continuar a usá-las como sinal de reconhecimento. Harry Carr nos ensina que a criação de um segundo grau levou a separar um certo número de elementos, entre eles a Palavra sagrada

[19] Deve-se notar que em “Três batidas distintas ” é o oficial da grau inferior que anuncia em loja ao oficial de grau superior, o que já estava no Guia dos maçons escoceses. Quando da união de 1813, o sistema foi simplificado e cada oficial indica a si mesmo e seu próprio lugar.

[20] William Hutchinson publica Spirit of Masonry (Espírito da Maçonaria).

[21] Um estudo interessante seria levar adiante o inventário das confusões nos graus simbólicos do R.E. A. A. e as do rito inglês e compará-las depois.


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