Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

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Balaústre da sessão de fundação do Grande Oriente Brasileiro – 1822

Bibliot3cário

“À Glória do Grande Arquiteto do Universo. — Aos 28 dias do 3.° mês do ano da Verdadeira Luz, de 5822, achando-se abertos os Augustos trabalhos da nossa Ordem em o grau de aprendiz e havendo descido do Oriente o Irmão Graccho[1], Venerável da Loja “Comércio e Artes”, única até este dia existente e regular no Rio de Janeiro e que nessa ocasião reassumia o Povo Maçônico reunido para a inauguração e criação de um Grande Oriente Brasileiro em toda a plenitude de seus poderes, foi por aclamação no meado o Irmão Graccho, que acabava de Venerável, para presidente da sessão magna e extraordinária naquela ocasião convocada para a eleição dos oficiais da Grande Loja na conformidade do parágrafo-Capítulo da parte da Constituição jurada. Tomando assento no meio do Quadro, em uma mesa para esse fim preparada, na qual estavam o Evangelho, o Compasso, a Esquadria, a Constituição e uma urna, disse o Irmão Presidente que era mister nomear um secretário e um escrutinador para a apuração dos votos na presente sessão; e sendo eleito o Irmão Magalhães que servira de primeiro Vigilante e o Irmão Aníbal[2], que servira de segundo, aquele para secretário e este para escrutinador, fez o Presidente ler os artigos da Constituição respeitantes à eleição e logo depois que o Presidente disse que se passasse a fazer a nomeação de Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, foi nomeado por aclamação o Irmão José Bonifácio de Andrada. Propôs logo o Irmão Presidente que se aplaudisse tão distinta escolha com a tríplice bateria, e se despachasse ao novo eleito uma deputação a participar-lhe este sucesso e a rogar-lhe seu comparecimento para prestar juramento de tão alto emprego. Foram nomeados para a deputação o Irmão Diderot[3] e o Irmão Demétrio, os quais voltaram dizendo o Irmão Diderot que o Grão Mestre por motivos de obrigação a que o chamava o seu emprego civil não podia comparecer, que aceitava o cargo com que a Loja o honrava e o agradecia; que protestava a todo o corpo maçônico brasileiro a mais cordial amizade; e todos os serviços que lhe fossem possíveis. Procedeu-se depois à nomeação do Delegado do Grão Mestre; e se bem que a Constituição determinasse que fosse ela feita por votos, o mesmo povo dispensou o artigo, fazendo a escolha por aclamação e foi, com efeito, aclamado o Irmão Joaquim de Oliveira Alvarez. Aplaudiu-se a sua eleição, e enviou-se-lhe uma deputação composta do Irmão Turenne[4] e do Irmão Urtubie, a qual, de volta, participou que se achava na sala dos Passos Perdidos o Irmão Grande Delegado. Saiu uma nova deputação de cinco membros, dirigindo-lhe a palavra o Irmão Diderot. Foi depois introduzido na Loja por baixo da abóbada de aço e estrelada, prestando o juramento do ritual, e terminando por afirmar: ” . . . e de empregar todos os meus esforços sempre que forem necessários a bem de todos os maçons, de sustentar a causa do Brasil, quanto compatível for com as minhas forças. Assim Deus me salve”. Recebeu aplausos, dirigiu a palavra a toda a Grande Assembleia, e pediu depois que o dispensassem de assistir por mais tempo, porque deveres igualmente sagrados do seu emprego o chamavam a casa. Saindo o Grande Delegado, procedeu-se por células nominais à eleição dos mais oficiais da Grande Loja e saíram com a maioria absoluta, para Primeiro Grande Vigilante, o Irmão Diderot; para Segundo Grande Vigilante, o Irmão Graccho; para Grande Orador, o Irmão Kant[5]; Secretário, o Irmão Bolivar[6]; Promotor, o Irmão Turenne; Chanceler, o Irmão Adamastor[7]. Foram gradualmente aplaudidas as suas nomeações e seguiram-se as nomeações dos Veneráveis das três Lojas Metropolitanas[8] que se deviam igualmente erigir, e foram eleitos os Irmãos Brutus[9], Aníbal[10] e Demócrito[11]. Aplaudiu-se a nomeação e em ato sucessivo prestou o Primeiro Grande Vigilante o juramento nas mãos do Presidente, que, subindo ao trono, o de-, feriu a todos os outros Oficiais e Veneráveis. Mandando depois aos Oficiais da Grande Loja que tornassem aos seus lugares e ordenou aplausos de agradecimento a todos os oficiais da pretérita Loja “Comércio e Artes” pelos seus assíduos desvelos na casa da Maçonaria. Proposta pelo Irmão Primeiro Grande Vigilante para a próxima sessão o sorteamento dos membros e a designação dos Dignatários das Lojas então criadas, o Irmão ex-Orador pediu a palavra, após o uso da qual se deram por terminados os trabalhos desta sessão magna e extraordinária, ficando assim instalada a Grande Loja, ordenando-me o Primeiro Grande Vigilante que eu, Grande Secretário da Grande Loja, lavrasse e exarasse a presente ata para perpétuo documento neste livro que deverá servir para as das Assembleias Gerais e igualmente da Grande Loja. Graccho, Presidente, Cavaleiro do Oriente. — Diderot, Primeiro Grande Vigilante, Rosa Cruz”. 

Fonte: A. de Figueiredo Lima , Nos Bastidores do Mistério…, pp. 137-139.


In, Kloppenburg, B. A Maçonaria no Brasil-Orientação para os Católicos, Editora Vozes, Petropolis, RJ. Brasil – 1956


Notas

[1] capitão João Mendes Viana

[2] major Albino dos Santos Pereira

[3] Joaquim Gonçalves Ledo

[4] coronel Francisco Luiz Pereira da Nóbrega Sousa Coutinho

[5] Cônego Januário da Cunha Barbosa

[6] capitão Manuel José Oliveira

[7] Francisco das Chagas Ribeiro

[8] Loja Comércio e Artes, Loja União e Tranquilidade e Loja Esperança de Niterói

[9] major Manuel dos Santos Portugal

[10] major Albino dos Santos Pereira

[11] major Pedro José da Costa Barros