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Grau 29 – Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia ou Patriarca das Cruzadas (REAA)

Publicado em FREEMASON.PT

Por João Anatalino Rodrigues

Painel do Grau 29 - Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia ou Patriarca das Cruzadas (REAA)
Painel do Grau 29 – Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia ou Patriarca das Cruzadas (REAA)

Os doze bairros de Jerusalém

No Grau 29, o Ritual descreve os “doze bairros” da Jerusalém Celeste, com as suas respectivas portas e cada uma delas associada a uma virtude, que se supõe deva ser desenvolvida pelo Irmão.

Ali está o Primeiro Bairro, que é o Primeiro Caminho, com a Porta da Fidelidade, que induz à abnegação; nele está também o Segundo Caminho, com a Porta da Castidade, que conduz à Temperança. Estas portas guardam no seu frontispício a Equidade e no seu interior a Justiça. Assim, no Primeiro Bairro da Jerusalém Celeste encontraremos as seis virtudes de primeira ordem, representadas pela Abnegação, Fidelidade, Temperança, Castidade, Equidade e Justiça. Este bairro, segundo a interpretação do Ritual, estaria vinculado às artes da Pintura e do Desenho, ou seja, as Artes da representação pictórica e representativa em geral.

O Segundo Bairro contém o Terceiro Caminho com a Porta da Percepção. Nestas portas, o que se emula são as virtudes da Ordem e da Harmonia. Nas Belas-Artes, estas virtudes estariam associadas à Música e ao Canto.

O Terceiro Bairro, com o Quarto Caminho, conduz à Porta da Imortalidade. Fortaleza e Verdade são as virtudes ali guardadas, que o ritual associa à arte da Escultura.

No Quarto Bairro temos o Quinto Caminho, que conduz à Porta da Fé. Céu e Liberdade são as palavras que o inspiram. A Literatura é-lhe associada.

No Quinto Bairro temos o Sexto Caminho, tendo a Fraternidade como lema e a Dedução como porta. As virtudes a ele associadas são a Dignidade e a Pureza. A Arte que se lhe associa é a Cortesia.

No Sexto Bairro encontramos o Sétimo Caminho, que tem a Indústria como lema e a Analogia como Porta. As virtudes que emulam são a Paciência e a Força. A ele se associa a Arte da Geometria, representada pelo plano geométrico.

No Sétimo Bairro, O Oitavo Caminho indica a União através da Porta da Indução. Tem como virtudes a Tolerância e a Paz. Como Arte é-lhe associada à Filosofia.

No Oitavo Bairro, temos o Nono Caminho que tem a Memória como lema, a Ciência como Porta, a Prudência e a Saúde como virtudes e a Gastronomia como Arte associada.

No Nono Bairro, o Décimo Caminho indica a Perfeição através da Porta da Modéstia. Por ele se adquire Confiança e Alegria. A Arte que lhe é associada é a Dança.

No Décimo Bairro, temos o Undécimo Caminho que nos leva à Candura pela Porta da Limpeza. Ali se cultiva a Honra e a Cultura, tendo como Arte a Estética.

No Décimo Primeiro Bairro temos o Duodécimo Caminho, onde se cultua a Associação, tendo como Porta o Valor. Aqui as virtudes a serem emuladas são a Disciplina e a Sabedoria. A elas se associa, como Arte, a Oratória.

No Décimo Segundo Bairro, o Primeiro e o Último Caminho se entrelaçam como a serpente uraeus, significando que todo ciclo recomeça, alimentando-se de si mesmo. Aqui encontramos as virtudes da Gratidão e da Igualdade, associadas com as Artes Dramáticas [1].

A alegoria do Grau 29 tem, claramente, fundo cabalístico. De acordo com esta tradição, o Grande Arquitecto do Universo fez o mundo utilizando os seus três poderes de expressão: luz, som e número. A primeira destas expressões, a luz, é a energia que formata o mundo. As duas outras estariam representadas no alfabeto hebraico, que é composto por vinte e duas letras e nas suas combinações conteria o som da criação, sendo cada letra um aspecto da vida universal. Ainda segundo ainda esta tradição, o universo foi criado com 32 caminhos (ou leis naturais / morais). Elas estariam representadas pelas dez séfiras da Árvore da Vida e pelas vinte e duas letras do alfabeto hebraico [2].

Os bairros de Jerusalém, com os seus caminhos da sabedoria, representam as doze letras simples do alfabeto hebraico (He, Vau, Zayn, Cheth, Teth, Yod, Zamed, Nun, Lameck, Ayin, Sadi, Koph), já que elas são representativas das forças que actuam no mundo fenoménico para fins de execução. Além de representar as doze tribos de Israel (modelo de virtude segundo o qual a humanidade se deveria pautar), eles são também os doze signos do Zodíaco. E no corpo humano, são os doze componentes da sensibilidade, que são a visão, audição, olfacto, voz, paladar, sexo, acção, movimento, descanso, ira, amor, contemplação. No corpo humano estes componentes correspondem, respectivamente, às duas mãos, dois pés, dois rins, fígado, baço, bile, estômago, pulmão e intestinos.

Finalmente, no Centro da Jerusalém Celeste, encontramos a imagem do Cordeiro Imaculado, que aqui representa o Sol, tendo consigo o Livro dos Sete Selos, onde está escrito o destino da humanidade. Esta alegoria também tem uma correspondência nos ensinamentos da Cabala. Estes sete selos representam as sete letras duplas do alfabeto hebraico (Beth, Guimel, Daleth, Kalph, Re, Resh, Tau), que significam as forças de mutação, ou leis de transformação da matéria, segundo a física. No simbolismo arcano eles são também os sete planetas do céu gnóstico (Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vénus, Mercúrio, Lua), os sete dias da criação, os sete continentes, os sete mares, as sete portas da percepção humana (dois olhos, duas narinas, duas orelhas uma boca) [3].

O facto de eles estarem nas mãos do Cordeiro (símbolo de Jesus Cristo), significa que o destino da humanidade está nas mãos dele.

João Anatalino Rodrigues

Fonte

  • Do livro Mestres do Universo – Biblioteca 24×7 – São Paulo 2010

Notas

[1] Há uma clara inspiração esotérica nesta alegoria das Doze Portas de Jerusalém. Na verdade, no simbolismo iniciático, cada grau de iniciação é a passagem por uma “porta”, que encerra um ensinamento. Os Mistérios de Elêusis, simbolizado nos Doze Trabalhos de Hércules, também se valia desta alegoria. Da mesma forma os Mistérios Egípcios, sendo a “porta” do último ensinamento a visão gloriosa da Estrela Sha, ou Spa.

[2] Enfim, tudo que se relaciona com número doze, que é número sagrado de Israel.

[3] Na tradição hebraica este simbolismo também é representado na Menorá, o candelabro de sete braços.