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O Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA): Um caminho de transformação

Por António Jorge, M∴ M∴,

Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) - Avental de Mestre
Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) – Avental de Mestre

Introdução

Rito Escocês Antigo e Aceite é um dos ramos mais ricos filosoficamente da Maçonaria. Ao contrário dos três graus fundamentais da Maçonaria Operativa – que ensinam os princípios universais de iniciação, trabalho e maestria -, o Rito Escocês expande essa base para um currículo profundo de filosofia moral, ética, história, simbologia e responsabilidade cívica.

Do Grau 4 – Mestre Secreto – ao 32° – Sublime Príncipe do Real Segredo -, o Rito Escocês Antigo e Aceite guia o Maçom por uma jornada progressiva de autoexamedisciplina moralexpansão intelectual maturidade espiritual. Os graus não elevam o Maçom em autoridade; eles elevam-no em sabedoria, dever e propósito.

Hoje, enquanto a sociedade luta contra a polarização, a apatia, a desinformação e a incerteza moral, os valores do Rito Escocês Antigo e Aceite são mais relevantes do que nunca. O percurso percorrido pelos maçons, na sua caminhada até ao grau 32º, contribui para o desenvolvimento pessoal e as lições destes graus podem ajudar a construir uma sociedade mais justa, esclarecida e compassiva.

O Rito Escocês como uma escola de filosofia moral

O Rito Escocês Antigo e Aceite não deve ser visto como conferindo graus “superiores” na hierarquia, mas por oferecer graus mais profundos de compreensão. A partir do 4º grau, o Maçom entra numa escalada simbólica de moralidade. Cada grau funciona como uma aula que explora:

  • Dilemas éticos.
  • Deveres de liderança.
  • A luta entre a verdade e a falsidade.
  • As responsabilidades da liberdade.
  • A importância da justiça.
  • As consequências da ignorância e do fanatismo.
  • A universalidade da fraternidade humana.

Em vez de ensinamentos dogmáticos, o Rito Escocês usa o dramao símbolo a alegoria para estimular a reflexão. O objectivo não é a memorização, mas a transformação.

Porque é que a jornada começa no 4º grau?

Após o grau de Mestre Maçom, o Rito Escocês apresenta-se como uma continuação da aprendizagem. O 4° grau – Mestre Secreto – pede ao Maçom que adopte uma atitude mais séria em relação ao dever e à responsabilidade. É o ponto de partida de um caminho que incentiva o Maçom a se tornar, não apenas um homem bom, mas um homem de princípios, esclarecido e corajoso. Os graus podem ser agrupados em blocos temáticos:

  • 4° – 14°: Reflexões sobre dever, disciplina, integridade e fundamentos morais.
  • 15° – 18°: Reflexões sobre liberdade, justiça, fé, esperança e amor universal.
  • 19° – 30°: Reflexões sobre liderança, governança ética e maturidade filosófica.
  • 31° – 32°: Reflexões sobre justiça, equilíbrio e soberania moral.

Cada etapa reforça um novo aspecto do carácter.

Graus 4° a 14°: Construindo os fundamentos morais

A primeira série, frequentemente chamada de Loja da Perfeição, desenvolve traços essenciais para o desenvolvimento pessoal.

Grau 4 – Mestre Secreto – Dever e Responsabilidade

A jornada começa com a compreensão de que o conhecimento traz responsabilidade. O Maçom aprende:

  • A ser fiel às suas obrigações.
  • A praticar a introspecção.
  • A regular os pensamentos e as acções.

Este grau estabelece o princípio de que o desenvolvimento pessoal requer disciplina.

Graus 5 a 8: Integridade, Honra e Fidelidade

Este conjunto de graus pretende alertar para a importância de:

  • Honestidade na conduta.
  • Respeito pelo trabalho.
  • Lealdade aos compromissos.
  • Humildade no serviço.

Do ponto de vista psicológico, estas lições cultivam a confiabilidade, fortalecendo as relações pessoais e profissionais.

Graus 9 e 10: Justiça e coragem moral

Neste conjunto de graus, o Rito Escocês Antigo e Aceite ensina que a justiça deve ser temperada com misericórdia e que a vingança e o fanatismo destroem tanto os indivíduos como as nações. O Maçom aprende:

  • Como enfrentar as injustiças sem ódio.
  • Como ser corajoso sem se tornar tirânico.
  • Como buscar a justiça sem perder a humanidade.

Estas noções desenvolvem a maturidade emocional e o raciocínio ético.

Graus 11 a 14: Fé, reflexão e força interior

Ao chegar ao 14° grau, o Maçom é exortado a:

  • Valorizar a verdade acima do conforto pessoal.
  • Examinar os motivos.
  • Buscar o equilíbrio entre a razão e a espiritualidade.

Estes graus treinam a mente para pensar criticamente e o coração para agir com compaixão. Os maçons que assumem estes conceitos, contribuem para a sociedade ao:

  • Agir com integridade.
  • Resistir à injustiça.
  • Ser confiável nos deveres cívicos.
  • Cultivar a empatia.
  • Promover a liderança ética.

Uma sociedade repleta de indivíduos assim torna-se mais estável, confiável e humana.

Graus 15 a 18: Liberdade, Justiça e Amor Universal

Estes graus constituem o Capítulo Rosa Cruz, focado na liberdade, resiliência moral e valores humanísticos.

Graus 15 e 16: Luta pela Liberdade

Estes graus dramatizam as buscas históricas pela libertação. Eles ensinam que:

  • A liberdade é um direito sagrado.
  • A tirania deve ser combatida.
  • Uma causa justa requer sacrifício.

O Maçom desenvolve um sentido de responsabilidade cívica e consciência da fragilidade da liberdade.

Graus 17 e 18: Fé, Esperança e Caridade

O  grau 18, Cavaleiro Rosa Cruz, é um dos graus mais profundos do Rito e considerado por muitos como um dos graus mais relevantes do percurso. A sua mensagem principal é que a espiritualidade sem amor não tem sentido.

A Ceia Mística, que se celebra na Quinta-feira de Endoenças (o dia anterior à Sexta-Feira Santa) é celebrada neste grau. São ensinamentos relevantes:

  • O amor universal.
  • A tolerância para com todas as crenças.
  • O respeito pela dignidade humana.
  • A reconciliação em vez de divisão.

Uma comunidade baseada na liberdade e no amor é resiliente e justa. A sociedade beneficia destes ensinamentos quando os Maçons compreendem:

  • O valor da liberdade.
  • A necessidade de defender os direitos humanos.
  • A importância da compaixão na vida pública.
  • O dever de se opor à opressão.

Graus 19 a 30: Liderança, Iluminação e Autoridade Ética

Estes graus, conferidos no Conselho de Kadosh, centram-se na liderança ética madura e na visão filosófica profunda.

Graus 19  a 22: Sabedoria, tolerância e razão iluminada

O Maçom aprende a se tornar um indivíduo racional, equilibrado e de mente aberta. Estes graus ensinam:

  • A evitar o fanatismo e o dogmatismo.
  • O respeito por diversas culturas e crenças.
  • A harmonia entre ciência e espiritualidade.

Graus 23 a 26: Honra, Dever e Governança Ética

A lição moral é clara: o poder deve servir à justiça, não ao ego. Estes graus exploram:

  • A lei ética.
  • Os direitos humanos.
  • O dever cívico.
  • As responsabilidades da autoridade.

Graus 27 a 30: Reflexão, coragem e liderança moral

Num mundo onde muitos lutam com a confiança na liderança, os valores ministrados nesta série de graus são profundamente necessários. Estes graus cultivam:

  • O auto sacrifício.
  • A integridade moral.
  • A coragem intelectual.
  • O compromisso com a verdade, apesar das adversidades.

O Grau 30, Cavaleiro Kadosh, desafia o Maçom a:

  • Confrontar a injustiça.
  • Defender os fracos.
  • Permanecer firme na verdade, mesmo quando estiver sozinho.

O Maçom que incorpora estes graus e os reflecte no seu dia-a-dia, está muito mais preparado e pode dar um contributo significativo para a sociedade. Estes valores são fundamentais para termos:

  • Líderes comunitários éticos.
  • Profissionais responsáveis.
  • Cidadãos conscientes.
  • Defensores corajosos da verdade.
  • Indivíduos capazes de orientar instituições com justiça e sabedoria.

Graus 31° e 32°: Justiça, Equilíbrio e Responsabilidade Social

Os graus finais preparam o Maçom para uma liderança na sociedade baseada em princípios.

31° Inspector Inquisidor – Justiça e Julgamento

Este grau cultiva:

  • O julgamento imparcial.
  • A equidade.
  • A honestidade intelectual.
  • A responsabilidade na tomada de decisões.

Os seus principais ensinamentos estão centrados na justiça, sobretudo no que ela requer:

  • A reflexão.
  • A compaixão.
  • A compreensão das circunstâncias.
  • Evitar conclusões precipitadas ou tendenciosas.

32° Sublime Príncipe do Real Segredo – Equilíbrio e Soberania Moral

O 32° grau é a síntese de todo o Rito. O seu ensinamento central pode ser resumido como “o equilíbrio é a chave para o domínio pessoal e a harmonia social”. O percurso enfatiza que o conhecimento deve ser usado de forma ética e benevolente.

O Sublime Príncipe deve ser:

  • Justo.
  • Compassivo.
  • Sábio.
  • Corajoso.
  • Autodisciplinado.
  • Orientado para a paz.
  • Comprometido com o serviço.

Nada disto faz sentido se daqui não resultar crescimento pessoal que se traduza em benefícios para sociedade. Estes ensinamentos ajudam a criar:

  • Juízes e administradores justos.
  • Funcionários públicos éticos.
  • Líderes equilibrados.
  • Mediadores e construtores da paz.
  • Indivíduos capazes de orientar os outros em situações complexas e conflituosas.

Uma sociedade guiada por tais indivíduos é aquela onde prevalece a justiça e a harmonia se torna possível.Como todo o percurso (4° a 32°) beneficia a sociedade

O Rito Escocês não só transforma os indivíduos, como busca dar-lhes as ferramentas para transformar as comunidades. Aplicados na vida quotidiana, os seus valores apoiam:

1. Liderança ética e compromisso cívico

O Rito incentiva:

  • A responsabilidade cívica.
  • O respeito pelos princípios democráticos.
  • A vigilância contra a tirania.
  • O serviço à comunidade.

Estas qualidades são essenciais para instituições saudáveis.

2. Resolução de conflitos e construção de pontes

Através da sua ênfase na tolerância e compreensão, o Rito prepara os indivíduos para:

  • Mediar conflitos.
  • Promover o diálogo.
  • Reduzir a polarização.
  • Criar reconciliação.

Isto são factores fundamentais para promover a harmonia social.

3. Defesa dos direitos humanos

Muitos dos graus alertam contra:

  • A tirania.
  • O preconceito.
  • A opressão.
  • O fanatismo.

Um Maçom treinado nestas lições torna-se um defensor dos vulneráveis.

4. Promoção da educação e do esclarecimento

O Rito valoriza:

  • O conhecimento.
  • O pensamento crítico.
  • A honestidade intelectual.
  • A liberdade de pensamento.

As sociedades que valorizam a educação prosperam económica e politicamente.

5. Construção de uma comunidade compassiva

As lições de caridade, misericórdia e amor universal cultivam:

  • O voluntariado.
  • A filantropia.
  • A ajuda mútua.
  • A solidariedade social.

A compaixão fortalece o tecido social.

6. Responsabilidade pessoal e integridade moral

O Rito Escocês Antigo e Aceite, no seu conjunto, ensina que os indivíduos devem:

  • Ser responsáveis pelas suas acções.
  • Viver de acordo com os seus princípios.
  • Buscar o aperfeiçoamento interior.

Quando os indivíduos se responsabilizam, a sociedade torna-se mais ética.

Conclusão

O Rito Escocês Antigo e Aceite, do 4º ao 32º grau, oferece um programa holístico de desenvolvimento moral, intelectual e espiritual. Ele orienta o Maçom desde a disciplina do dever até ao nível da liderança iluminada.

Na sua essência, o Rito ensina:

  • Integridade.
  • Justiça.
  • Sabedoria.
  • Compaixão.
  • Tolerância.
  • Coragem moral.
  • Equilíbrio.

Estas virtudes moldam o carácter dos indivíduos e têm um profundo poder de elevar a sociedade. Para o Maçom que abraça sinceramente as suas lições, o Rito Escocês torna-se não apenas uma sequência de graus, mas uma vocação para toda a vida: melhorar-se a si mesmo, servir à humanidade e trabalhar incessantemente por um mundo governado pela verdade, justiça e amor fraternal.

António Jorge, M∴ M∴, membro de:

Fontes

  • Rituais dos Graus 4 a 32 do Supremo Conselho para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e Último Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite.
  • Trabalhos elaborados por outros irmãos ao longo do percurso até ao grau 32º.
  • Diversas páginas na Internet.
  • ChatGPT