Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

RER – Cadernos de Estudos: VII

            Ivan A. Pinheiro[1]

INTRODUÇÃO       

            Por oportuno, uma breve pausa na sequência natural desta série que após apresentar o surgimento dos primeiros seres – os espíritos e o homem, este um espírito revestido de matéria aparente – no contexto da teogonia de M. de Pasqually (Pinheiro, 2024), deveria, agora, apresentar as características deste último, bem como relacioná-las com a cerimônia (o drama) da Recepção (ao Grau de Aprendiz), correspondente à primeira etapa da sua Iniciação que, no âmbito do RER, só será concluída com a Recepção ao Grau IV – o de Mestre Escocês de Santo André (MESA)[2] -, fechando o ciclo da Maçonaria Simbólica, também referida como Ordem Externa, antecedente obrigatória ao ingresso na Ordem Interna, os Graus de Cavalaria – Escudeiro Noviço (EN) e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (CBCS).

            Tal configuração, estranha à maioria dos Ritos, oportuniza a emergência de inúmeros problemas de ordem administrativa, política, mas também de condução doutrinária, cuja origem pode ser encontrada nos estatutos do RER firmados já há quase 3 (três) séculos, o que de pronto traz à tona a questão do anacronismo e as sempre presentes tensões entre a tradição e, senão a renovação, a adequação à contemporaneidade, talvez mesmo às idiossincrasias mais locais e pontuais.

            Como parte do problema no âmbito dos anacronismos, a adesão do “RER” (dos seus dirigentes e representantes) à organização da Maçonaria Moderna que divide a administração dos Graus: 1) os Simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) sob a responsabilidade das Potências; e, 2) os Altos Graus (habitualmente referidos como Filosóficos) aos cuidados dos Supremos Conselhos ou órgãos análogos, a exemplo, no Brasil, do Grande Priorado Retificado. Não cabe, aqui, tecer considerações acerca das motivações de ordem política e estratégica que levam à referida adesão, e tampouco apreciar as vantagens vis-à-vis as desvantagens da iniciativa, seja porque de regra os seus objetivos e resultados estão voltados para o médio e longo prazos, mas também porque estes só se apresentam com maior clareza aos tomadores de decisão. Dessarte, o que se pretende é antes chamar a atenção para um ponto mais próximo do tema a ser desenvolvido: as dificuldades e as tensões adicionais que se colocam para um Rito de natureza sistêmica, concebido para funcionar enquanto um Regime – para maiores detalhes vide Pinheiro (2024).

            Desenvolver as questões acima, bem como trazer à mesa uma proposta para o debate, se constituem como os objetivos deste texto.

A GÊNESE E OS PROBLEMAS

            O Código Maçônico das Lojas Reunidas e Retificadas (Souza, 2023, p. 35) no seu Capítulo III estabelece que

Todas as Lojas podem conferir os três graus simbólicos a todos aqueles que foram considerados dignos; o quarto grau, que havia sido reservado exclusivamente às Grandes Lojas Escocesas, foi cedido por ela às Lojas na última assembleia nacional; mas elas são obrigadas a ter o consentimento da Grande Loja Escocesa, para qualquer recepção por meio de formulário enviado pelo Deputado-Mestre, com o nome, idade, qualidade civil, seu local de nascimento e domicílio.

Ainda que sucinta, a citação traz elementos que vão ao encontro do que foi dito acima: a separação administrativa dos Graus. Ademais, o tempo decorrido desde a época em que foi redigido (1779) e os dias atuais explica a alteração nas denominações: o papel antes desempenhado pelas Grandes Lojas Escocesas (GLE) cabe, hoje, aos Grandes Priorados Retificados. Assim, enquanto as Potências administram os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre (Lojas Azuis), o de MESA (Loja Verde) está sob a esfera do Priorado.

            Todavia, o que mais importa é a ausência de critérios para a passagem do III para o IV Grau pois, conforme se lê, são apenas exigidas informações para a identificação do candidato: “[…] nome, idade, qualidade civil, seu local de nascimento e domicílio”. Ora, quando todos os Graus, Lojas e Quadros estavam sob a mesma estrutura organizacional, ou mesmo quando ainda próximo à data da autorização concedida pelas GLE às Lojas Azuis (que passaram a recepcionar para os 4 (quatro) Graus) essa exigência única, praticamente uma formalidade cadastral, ia ao encontro da realidade da época, e poderia mesmo ser visto como uma descortesia qualquer iniciativa no sentido a ampliá-la. Todavia, os tempos, a realidade e as pessoas (valores, atitudes e comportamentos, etc.) são outras. No Brasil, a rede de Lojas Azuis e Verdes já ultrapassa a centena, e os efetivos são contados com 4 (quatro) dígitos.

Quadro 1 – Distribuição, ao Longo do Tempo, das Competências Administrativas no contexto do RER

    Áreas     de   Com- petên- cias         UNIDADES ADMINISTRATIVAS    CRONOLOGIA        E GRAUS       UNIDADES ADMINISTRATIVAS
  T0  T1  …2024 
          GLE(*)  VI  VI   VI          GPRB(**)
  V  V   V
  IV    IV
      Lojas Simbólicas  III  IV   III      Lojas Simbólicas
  II  III   II
  I  II   I
   I  

         (*): Grande Loja Escocesa;    

         (**): Grande Priorado Retificado do Brasil

            O Quadro 1, acima, ilustra as alterações, quanto às competências administrativas, pelas quais passou a gestão do Grau de MÊSA. A situação descrita, tal como hoje configurada, já é em si mesma potencialmente responsável por problemas na agenda de estudos dos MX. Isso ocorre porque nada assegura, antes o contrário, que os Mestres provenientes das Lojas Retificadas tenham recebido as instruções e os esclarecimentos (históricos, doutrinários e simbólicos) indispensáveis à continuidade dos estudos doutrinários para, então, ser concluída a Iniciação, a aptidão para a Ordem Interna. A falta da compreensão revelada por alguns pode comprometer o planejamento da agenda, seja dos conteúdos (em amplitude e profundidade), mas também do ritmo da condução dos trabalhos dos MX, o que, na outra parte do efetivo, pode causar desmotivação e absenteísmo.

            Todavia, o cenário ainda não está completo: quando existentes os acordos de reconhecimento e reciprocidade entre as Potências (lato sensu), efetivas alianças estratégicas, cuja análise do balanço das perdas e ganhos foge ao escopo deste trabalho, qualquer Mestre Maçom regular, que se declare cristão e independentemente da Potência ou Rito, pode se habilitar a ser Recepcionado ao Quarto Grau do RER. A rigor, além do atendimento das “exigências” mencionadas na citação anterior, a única condição necessária e suficiente é o relacionamento com alguém que direta (o Deputado Mestre) ou indiretamente (um conhecido que o referende junto àquele) endosse o requerimento. Claro que há uma hierarquia a ser obedecida, mas de regra o de baixo indica para o de cima e este, por sua vez, para o superior e, assim, sucessivamente, em um encadeamento de confiança.

            Ora, conforme visto, se nem mesmo a ascensão “interna corporis” é isenta de problemas, o que se dirá, então, dos candidatos Iniciados e formados em outros Ritos e Potências, cada qual já com os seus usos e costumes, “verdades” consolidadas? Os problemas relacionados à docência são então elevados à nova grandeza, pois o RER, conforme já reiteradas vezes mencionado, é sistêmico: a falta do conhecimento e da compreensão de qualquer uma das etapas, a exemplo de uma das Recepções, compromete o entendimento das demais, notadamente a ritualística e a liturgia de uma Loja de MESA. Se possível, como superar esse impasse? Como, a alguém, – um Recepcionado não proveniente do RER – será conferido um certificado de conclusão dos Graus Simbólicos, quando efetivamente é considerado Iniciado, se este sequer participou e tem conhecimento das etapas (Recepções e Instruções) anteriores? E é importante destacar que a diferença entre o RER e os demais Ritos não é de grau, mas de natureza, a ponto de ele ser o único Rito que exige a declaração na fé cristã; ainda: é o único Rito no qual o Recepcionado está sujeito à regressão – se de Escudeiro Noviço não for Recepcionado como CBCS, retorna à condição de MESA.  

            Contudo, os problemas não se inscrevem apenas no âmbito da docência, instruções e estudos. Por exemplo, um dos aspectos mais sensíveis diz respeito à gestão das Lojas Verdes. O Deputado Mestre, a cada exercício, após apresentar e debater com o Quadro da Loja o planejamento da sua gestão, informa o cronograma e distribui as tarefas entre todos os integrantes. De regra, a maioria dos MX compartilha as mesmas Lojas Azuis Retificadas, e quando não, as visitas recíprocas os mantém próximos, em permanente contato, o que alavanca o envolvimento e o mútuo comprometimento entre os integrantes, seja para assegurar o quórum para a abertura das Lojas Verdes, mas também pelas entregas compromissadas.

            Frente a essa realidade, é razoável manter o mesmo nível de expectativa em relação aos Recepcionados provenientes de outros Ritos e Potências? Devotarão empenho para preencher as lacunas doutrinárias, superar as demais dificuldades, manter a assiduidade e realizar as entregas conforme o planejamento? Infelizmente, abstraindo as exceções que confirmam a regra, e pensando estatisticamente, isto é, em um conjunto representativo da população, eu arrisco a afirmar que não, sobretudo quando se sabe existirem os “maçons de arribação”[3], sempre aqui e ali em busca de mais um Grau, mais uma comenda, mais um avental, atuando como efetivos carreiristas. Se desses, de um lado parece ser legítimo conjecturar que terão menor comprometimento com as Lojas Verdes, de outro é certo que não contribuem (com a presença, o trabalho e o custeio) com as Lojas Azuis na formação dos novos Quadros, a começar pela Recepção daqueles que, no futuro, atenderão à demanda das primeiras. O difícil, para não dizer impossível, é, à primeira vista, separar o joio do trigo, pois quem indica, de regra tece “juras de amor e confiança”; todavia, sobre os seus ombros não recai qualquer responsabilidade e tampouco o ônus pelo erro.

            Esse panorama, que não pretende ser exaustivo, creio ser suficiente para recomendar prudência, reflexões e cogitar alternativas procedimentais. Ademais, embora o RER, por base doutrinal, seja eminentemente hierárquico, distante da democracia consultiva-participativa (ingenuamente reivindicada por muitos), parece também ser de bom alvitre avançar em mecanismos de transparência que desestimulem casuísmos, favorecimentos pessoais e desvios de conduta (a exemplo de fazer da Ordem um instrumento dos seus objetivos e interesses pessoais) que, ao fim e ao cabo, podem alimentar o sentimento de injustiça – senão por outros motivos, por coerência, dado que o seu oposto, a justiça, é uma das virtudes mais caras à Maçonaria e que, no RER, desde a Primeira Recepção ocupa um espaço singular. Ademais, a existência de critérios não só e naturalmente se impõe, como ganha especial relevância quando as indicações (candidaturas) adquirem caráter competitivo devido ao espaço útil (limitado) das Lojas, quando então as escolhas (ainda que entre 2 – dois) se impõem. No limite, a demanda reprimida será um indicador da necessidade de expansão do número de Lojas, posto que o aumento indiscriminado do Quadro pode mesmo vir a comprometer a condução e a qualidade dos próprios trabalhos – cada Loja, à luz do perfil do seu efetivo, deve ter em mente qual o tamanho ótimo, considerado ideal para que o enriquecimento das atividades e os ganhos coletivos.

            Portanto, o que se propõe, dado que a realidade contemporânea, no que ora é relevante, se mostra deveras distinta do momento (1779) em que foram instituídos os códigos normativos que regem a matéria, é o estabelecimento de “Critérios para a Seleção dos Candidatos à Recepção ao Grau de Mestre Escocês de Santo André”. Se tais critérios não asseguram “cortar o mal pela raiz” – isto é, os problemas que não escapam às conjecturas indispensáveis à gestão -, podem vir a contribuir não só para minimizá-los como também para registrar e informar, com transparência e impessoalidade, os rumos da Ordem, as questões para as quais o Quadro, posteriormente, será chamado a dar a sua contribuição. Entende-se que o estabelecimento de critérios não fere o espírito subjacente à norma, mas antes a regulamenta e a ajusta ao espírito do seu tempo. É lição antiga que a sobrevivência das instituições, com a pureza dos princípios que lhe deram causa, em grande medida passa pelo reconhecimento e pela diferenciação entre o essencial e os acidentais, pois estes se modificam ao longo do tempo e são passíveis de ajustes ao Zeitgeist, enquanto o primeiro é perene e, no longo prazo, identifica e distingue as instituições. Na mesma linha, é ponto pacificado que a harmonia, o senso de pertencimento e a motivação, entre outros fatores críticos para o sucesso de um grupo no sentido à realização da sua visão e missão institucional, dependem, e por isto respondem com muita sensibilidade, à qualidade da seleção (adequação do perfil) dos futuros integrantes ao grupo já estabelecido.

CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO AO GRAU DE MESA       

            A proposta, ora aberta ao debate para acolher sugestões de melhoria, é simples e sua operacionalidade não demanda mais do que uma planilha (Excel) com algumas poucas fórmulas bastante elementares e se desenvolve em 2 (duas) etapas, ambas a partir de ponderações: a primeira é eminentemente cronológica; enquanto que a segunda privilegia as iniciativas do candidato.

            Diretrizes: fortalecimento do Regime (“Que a Ordem Prospere”), estímulo e reconhecimento do Quadro Retificado. Estratégia: parametrizar o “tempo de casa” continuado (em Loja) a serviço da Ordem bem como as demais iniciativas. Objetivo para além dos estritamente pessoais: fazer dos MESA agentes de qualificação nas Lojas Simbólicas Retificadas. Por fim, para assegurar o cumprimento dessas condições, sugere-se que os Recepcionados não atuantes em Lojas Simbólicas Retificadas não ultrapassem a 1/4 do Quadro da Loja Verde. Operacionalização:

  • Primeira Etapa: basicamente existem 5 (cinco) situações-tipo, uma das quais corresponde a do candidato. Cada situação pode ser identificada a partir das suas datas-chaves que, então, devem ser registradas:
  • ter sido recepcionado ao Grau I em Lj. Azul/RER – (../../..),
    • recepção ao II Grau – (../../..),
    • recepção ao III Grau – (../../..);
  • iniciado em outro Rito, ingresso (p/transf. ou reg.) na Lj. Azul/RER na condição de Aprendiz – (../../..),
    • recepção ao II Grau – (../../..),
    • recepção ao III Grau – (../../..); 
  • iniciado e elevado em outro Rito, ingresso (idem) na Lj. Azul/RER na condição de Companheiro – (../../..),
    • recepção ao Grau III – (../../..);
  • iniciado, elevado e exaltado (../../..) em outro Rito, ingresso (idem) na Lj. Azul/RER na condição de Mestre[4] – (../../..);
  • candidato ativo em Lj. Azul de outro Rito,
    • Exaltação – (../../..),
    • Data da Proposta – (../../..). 

A partir desses registros, 3 (três) datas adquirem relevância: a da proposta; a do ingresso no RER; e, a da exaltação/recepção ao Grau de Mestre. Todas, em um primeiro momento, serão utilizadas para calcular os tempos/candidato, obtendo-se, p. ex., “tempo de dedicação ao RER” (contabilizado desde o ingresso ou a Recepção ao Primeiro Grau), “tempo de mestrado” e outros, inclusive combinando categorias: “maior tempo de mestrado dedicado ao RER”. Essa iniciativa, ainda que simples, já disponibiliza para Administração um rol de critérios básicos: selecionar o que apresenta mais tempo de mestrado, ainda que nem todo no âmbito do RER, ou aquele com maior dedicação ao RER ainda que pouco tempo de mestrado? Na sequência, para preencher algumas lacunas eventualmente consideradas como injustiças, o procedimento pode ser refinado mediante a aplicação de fatores corretivos, assim, tanto os candidatos-RER quanto os externos poderão ser bonificados. Por exemplo: o candidato externo poderá ter a sua pontuação (medida em dias ou meses) alavancada por um fator de 10% (multiplicada por 1,1) desde que participe, antes da Recepção ao IV Grau, de uma Recepção ao I, ao II ou ao III Grau. A participação nas Recepções poderá ser espontânea, estimulada (inclusive com fatores acumulativos por Grau) ou mesmo uma conditio sine qua non, a critério da Administração. Desse modo, ao tempo em que trava conhecimento básicos com os elementos doutrinários e ritualísticos, o candidato estabelece as pontes entre os seus eventuais futuros Irmãos de Rito; ademais, é claro, reduz a distância que o separa dos candidatos internos. Conforme se observa o algoritmo é flexível e comporta adequações às realidades particulares. Casos excepcionais serão tratados à parte da modelagem.

  • Segunda Etapa: se a etapa anterior tem caráter eminentemente quantitativo, esta possibilita uma apreciação mais ampla, todavia o seu foco é dirigido ao público interno, o das Lojas Azuis Retificadas formadoras dos quadros para as Lojas Verdes. Variáveis que podem ser consideradas: frequência; trabalhos apresentados; e, outras atividades (organização, participação e colaboração em eventos, atividades beneficentes extra-Loja, etc.), tudo a critério da Administração. Cada variável deve ser mensurada de acordo com a unidade de medida mais apropriada, a frequência, por exemplo, pode ser estabelecida em percentual; já em relação às “outras atividades”, o cuidado deve ser evitar “comparar os incomparáveis”: a organização de um evento não pode ser equiparada à simples participação.

            Finalmente, tudo, então, deve ser ponderado. Por exemplo, que seja denominado “Vínculo” o ranking formado na Primeira Etapa. E conforme descrito acima, as demais categorias (mais, ou menos, a critério) podem ser consideradas: Frequência, Instrução e Outras. A cada uma a Administração atribui um peso, p. ex.: Vínculo: 45%; Frequência: 25%; Instrução: 20%; e, Outras: 10%. É possível, assim, fazer um novo ranking auxiliar à tomada de decisão, bem como variar os pesos para eventualmente corrigir alguma “injustiça” ressaltada, fazer simulações, etc., com bastante flexibilidade no sentido a fundamentar e qualificar a decisão.

            O que se pretende com o que está contemplado na “segunda etapa”, é que desde o primeiro contato com a Loja Azul, o futuro candidato à MX saiba que as suas iniciativas, do I ao III Grau, no momento oportuno serão consideradas, razão pela qual ele deve se ocupar da construção do seu Memorial Descritivo (MD – em outros termos, o curriculum vitae maçônico), em síntese, o conjunto das suas iniciativas, desde os trabalhos apresentados em Loja, palestras, publicações externas, visitas, eventos, cargos ocupados, mas também as participações em atividades de caráter assistencial-comunitário. Infelizmente, não faz parte da realidade, e há indícios de que está longe do horizonte das Lojas Simbólicas no Brasil, o emprego de técnicas básicas de Gestão de Loja, do planejamento ao controle das atividades, encerrando o exercício com um balanço avaliativo, o que muito contribuiria para a formação dos MD individuais.

            Conforme inicialmente comentado, nada assegura a qualidade da formação recebida pelos Recepcionados nas Lojas Azuis; ademais, estando estas e as Lojas Verdes subordinadas a Potências distintas, observadas as competências uma não pode, diretamente, se imiscuir nas matérias afetas à outra. Assim, a adoção de “Critérios para a Seleção dos Candidatos à Recepção ao Grau de Mestre Escocês de Santo André” poderia, senão por indução espontânea, mediante a colaboração das Secretarias de Ritualística (ao amparo dos já referidos Acordos), fomentar o estudo da doutrina, da simbologia, da ritualística e da liturgia Retificada nas Lojas Azuis.  Se adotados coletivamente, ainda de forma gradual, com experimentações, testes e ajustes, decorrido um tempo, quando os procedimentos já estiverem uniformizados, os “Critérios …” (na verdade os dados reunidos em relatórios, analisados e convertidos em informações), em si, passam a constituir um Sistema de Gestão aplicável aos 3 (três) níveis (Lojas, Prefeituras e Priorado) e do qual se poderão extrair valiosas contribuições para que a Ordem Prospere em todos os aspectos que não apenas os quantitativos.

            Por fim, conforme esclarecido, este ensaio é uma proposta aberta às contribuições. Será que as questões levantadas povoam apenas o universo mental do autor ou, com as variações admissíveis, podem ser encontradas alhures e algures, no Brasil ou nas comunidades na qual a Maçonaria Retificada experimenta os primeiros passos? Algumas das iniciativas apontadas já estariam em uso, de modo informal e experimental, por alguma Loja? Quais as soluções encontradas pelas comunidades já mais amadurecidas? Na nota de rodapé, à primeira página deste texto, encontra-se o e-mail do signatário para aqueles que desejarem (sob anonimato ou não, de acordo com a manifestação expressa), mediante a troca de informações, contribuir para refinar os procedimentos ora sugeridos no sentido a constituí-los como uma Ferramenta de Gestão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PINHEIRO, Ivan A. RER – Cadernos de Estudos: VI. Disponível em: https://bibliot3ca.com/2024/06/15/rer-cadernos-de-estudos-vi/. Acesso em: 26.06.24.

SOUZA, Alexandre Ferreli (trad). Rito Escocês Retificado – normas e regras. Rio de Janeiro: Autor, 2023. ISBN 978-65-00-65611-4.

Notas

[1] Mestre Maçom. O autor não expressa o ponto de vista das Lojas, Obediências ou Potências das quais participa, mas tão somente exerce a sua liberdade de pensamento e expressão, daí porque muitas vezes comunica na primeira pessoa do singular. E-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br. Por oportuno eu agradeço a leitura sempre arguta da versão preliminar deste texto realizada pelo Irmão Lucas Vieira Dutra, Mestre Maçom do Quadro da ARLS Presidente Roosevelt, 75, GLESP, Oriente de São João da Boa Vista. Porto Alegre-RS, 27.06.24.       

[2] Também referido com Mestre X = MX.

[3] Em geral eles são vaidosos, aproveitam todas as oportunidades para declamar os seus Graus e as Ordens das quais “participam”, os grandes eventos e cerimônias nas quais estiveram presentes, bem como salientam a proximidade, quando não intimidade, com as autoridades da alta hierarquia, etc. Todavia, em Loja, de regra eles “entram mudos e saem calados”, raramente trazem alguma contribuição original, que não seja “mais do mesmo” para as reflexões e os debates, e tampouco compartilham os seus conhecimentos, pela via da docência estruturada, com os Aprendizes e Companheiros; somente sob demanda e ocasionalmente.   

[4] Foi esta a condição de ingresso, do autor, no RER.