Por Ivan A. Pinheiro[1]

Após apresentar e debater os fundamentos e a razão de ser das Citações (Pinheiro, 2025) e das Referências Bibliográficas (Pinheiro, 2025a) no ambiente das Lojas de Estudos e Pesquisas (LEP), neste último o autor apresentou a Ferramenta de Análise e Avaliação das Citações vs Referências Bibliográficas (FAA&CRB) – Quadro 1, a seguir – um instrumento que possibilita, em largo senso, promover a autocrítica aos próprios trabalhos (e também os da sua LEP), bem como estimar o grau de cientificidade que, em princípio[2], reveste, senão todas, a maioria das iniciativas intelectuais, sobretudo a produção escrita levada a efeito naqueles ambientes.
Quadro 1: FERRAMENTA DE ANÁLISE & AVALIAÇÃO DAS CITAÇÕES vs REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (FAA&CRB): modelo esquemático geral.
| Hipóteses CRB(*) | Número de Ocorrências | Interpretação/Significado | |
| CIT(**) “c” | RB(***) “r” | ||
| Hip. 1 | 0 | 0 | O texto aparenta ser opinativo, sem CIT e sem RB. |
| Hip. 2 | “c” = “r” | Por suposto, a cada CIT corresponde a sua RB. | |
| Hip. 3 | “c” maior do que “r” e “r” diferente de 0 | Um texto pode ter sido citado mais de uma vez. | |
| Hip. 4 | “c” menor do que “r” | Certamente algumas RB são desnecessárias. | |
| Hip. 5 | “c” diferente de 0 e “r = 0” | Citação sem qualquer RB: erro. | |
Legenda:
(*): Citações & Referências Bibliográficas
(**) Citações
(***) Referências Bibliográficas.
“c” e “r” pertencem ao conjunto dos números naturais: “c” = quantidade de citações; e, “r” = quantidade de referências bibliográficas
À guisa de demonstração da FAA&CRB, também neste último (op. cit.) foi apresentado um exercício realizado a partir dos dados coletados em 3 (três) obras recentemente publicadas no mercado editorial maçônico: “Os Desafios da Maçonaria na Contemporaneidade” (AMVBL, 2025); a “Maçonaria & Democracia” (Leite e Bezerra, 2024); e, “O Futuro da Democracia” (Leite e Altafim, 2023). O Quadro 2, a seguir, reproduz os resultados:
Quadro 2: FERRAMENTA DE ANÁLISE & AVALIAÇÃO DAS CITAÇÕES vs REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (FAA&CRB): dados colhidos na amostra (1).
| Hipóteses CRB(*) | Número de Ocorrências | Resultado do levantamento amostral | Interpretação /Significado | |
| CIT(**) “c” | RB(***) “r” | |||
| Hip. 1 | 0 | 0 | 12 | O texto aparenta ser opinativo, sem CIT e sem RB. |
| Hip. 2 | “c” = “r” | 06 | Por suposto, a cada CIT corresponde a sua RB. | |
| Hip. 3 | “c” maior do que “r” e “r” diferente de 0 | 22 | Um texto pode ter sido citado mais de uma vez. | |
| Hip. 4 | “c” menor do que “r” | 15 | Certamente algumas RB são desnecessárias. | |
| Hip. 5 | “c” diferente de 0 e “r = 0” | 02 | Citação sem qualquer RB: erro. | |
| Total de Ocorrências | 57 | ____ | ||
Legenda:
(1): “Os Desafios da Maçonaria na Contemporaneidade” (AMVBL, 2025), “Maçonaria &
Democracia” (Leite e Bezerra, 2024) e “O Futuro da Democracia” (Leite e Altafim, 2023)
(*): Citações & Referências Bibliográficas
(**) Citações
(***) Referências Bibliográficas.
“c” e “r” pertencem ao conjunto dos números naturais: “c” = quantidade de citações; e, “r” = quantidade de referências bibliográficas
Já neste texto 3 (três) objetivos foram perseguidos:
- a apresentação dos resultados dos levantamentos, também baseados na FAA&CRB, porém, para fins de contraste, realizados em 3 (três) veículos de divulgação maçônica (no que então se assemelham a amostra utilizada no Quadro 2), porém claramente de orientação acadêmica-científica (característica que os distinguem da mesma amostra). Era de se esperar que os dados convergissem para a Hip. 3 ou, em menor frequência, para a Hip. 2, mas nenhuma ocorrência deveria haver nas demais possibilidades: Hip. 1, Hip. 4 e Hip. 5. Ademais,
- a apresentação de alguns dentre os resultados passíveis de extração a partir da matriz-fonte geradora dos dados apresentados no Quadro 2 pois, para apurar as Referências Bibliográficas (colhidas na amostra constituída pelos livros enumerados) foi necessário tabular, entre outros, os registros referentes aos autores, às obras e às fontes; finalmente,
- o terceiro objetivo, por ora, ficará oculto, só revelado ao final.
No tange ao primeiro objetivo, foram consultados:
- o livro “Maçonaria no Brasil – história, política e sociabilidade”, organizado por Michel Silva. Trata-se de um livro com 277 páginas distribuídas em 11 capítulos escritos por pós-graduados, quase todos com titulação de Doutor. Dos 11, um dos capítulos não foi aproveitado no levantamento porque só a inspeção visual (citações: paráfrases ou transcrições) se revelou insuficiente para distinguir (sem margem a erro) as citações das transcrições (parciais) das entrevistas realizadas pelo autor;
- a dissertação de mestrado intitulada “A Etnografia dos Pedreiros Livres da Loja Cavaleiros de Salomão”, de Manoel W. de Assis; e,
- o exemplar mais recente da Revista Ciência & Maçonaria, uma coletânea de 6 (seis) artigos.
Os resultados agregados encontram-se no Quadro 3, a seguir:
Quadro 3: FAA&CRB: resultados comparados – 4 amostras (A, B, C e D).
| Hipóteses CRB(*) | Número de Ocorrências | % s/Total de Ocorrências | ||||
| CIT(**): “c” | RB(***): “r” | (A) | (B) | (C) | (D) | |
| Hip. 1 | 0 | 0 | 21,1 | |||
| Hip. 2 | “c” = “r” | 10,5 | ||||
| Hip. 3 | “c” maior do que “r” e “r” diferente de 0 | 38,6 | 100% | 100% | 100% | |
| Hip. 4 | “c” menor do que “r” | 26,3 | ||||
| Hip. 5 | “c” diferente de 0 e “r = 0” | 3,5 | ||||
Legenda:
(A): “Os Desafios da Maçonaria na Contemporaneidade” (AMVBL, 2025), “Maçonaria &
Democracia” (Leite e Bezerra, 2024) e “O Futuro da Democracia” (Leite e Altafim, 2023)
(B): “Maçonaria no Brasil – história, política e sociabilidade” (Silva, 2015)
(C): “A Etnografia dos Pedreiros Livres da Loja Cavaleiros de Salomão” (Assis, 2010)
(D): “Revista Ciência e Maçonaria (2024)
(*): Citações & Referências Bibliográficas
(**) Citações
(***) Referências Bibliográficas.
“c” e “r” pertencem ao conjunto dos números naturais: “c” = quantidade de citações; e, “r” = quantidade de referências bibliográficas
Esclarecimento:
Não cabe fazer cálculos percentuais quando o número de eventos é menor do que 100, como é o caso da coluna (A); todavia, para melhor comparação e promoção de impacto visual (em última análise, sem distorcer a realidade, chamar a atenção para o que se pretende), os dados do Quadro 2 foram convertidos em percentuais calculados com base no total de 57 casos (ocorrências).
Como pode ser visto, as expectativas se confirmaram: os dados agregados, isto é, sem a identificação da autoria dos textos das novas amostras (B, C e D) revelaram, ao contrário da amostra A, que nos 3 (três) casos o número total de citações superou o das referências bibliográficas, configurando-se, assim, a Hip. 3. Todavia, é importante lembrar que a FAA&CRB é uma ferramenta de caráter essencialmente quantitativo, portanto, não sensível às variações qualitativas internas a cada objeto de estudo; assim, conforme já chamada a atenção em Pinheiro (2025a), é possível que mesmo sendo “c = r” (uma das características de um texto “científico”), nada assegura, apenas pela inspeção visual en passant, que as citações tenham o seu correspondente exato (mesmo autor, mesma data) enumerado em meio às referências bibliográficas, de regra apartadas ao final de várias páginas – e alguns editores preferem colocá-las ao final do livro, ao invés de após cada capítulo, o que dificulta ainda mais os trabalhos desta natureza. Com efeito, nesta segunda rodada do estudo, embora os dados agregados da amostra D tenham atendido às expectativas, a análise interna revelou 2 (duas) ocorrências enquadradas como Hip. 4, o que, mais uma vez, sugere a redobrada atenção tanto dos autores (antes de submeter os trabalhos) quanto dos revisores para que não considerem estes aspectos como de somenos importância, questões meramente burocráticas e normativas; ao contrário, eles também constituem, em si mesmos, informações relevantes. Sim, sem dúvida que o conteúdo (os achados da pesquisa) é o que mais importa; todavia, conforme já visto, há aspectos do fazer ciência através da pesquisa empírica que não podem ser negligenciados sob pena de comprometer o empreendimento per se.
Contudo, isto é, ainda assim, as diferenças nos resultados das amostras “A” versus “B, C e D” são expressivas, reveladoras de que existe sim um modo próprio e bastante típico da expressão escrita de caráter acadêmico-científico e que deve ser seguido por todos aqueles que empreenderem por estas trilhas, como é o caso, supõe-se (na maioria das vezes) dos integrantes das Lojas de Estudos e Pesquisas, mas também e eventualmente das iniciativas conduzidas pelas Academias e outros agentes do ecossistema maçônico (Pinheiro, 2023b).
Já no que tange ao segundo objetivo, os dados a seguir, extraídos do “banco de dados” constituído pelos registros para a análise da primeira amostra – A: os 3 (três) livros mencionados – revelam alguns aspectos do comportamento dos autores e do universo editorial maçônico:
- o número médio de páginas/artigo/livro variou entre 8,0 e 12,9, sendo a média agregada igual a 10,3 páginas/texto. Lembrando que alguns textos não possuem nem citações e nem referências bibliográficas, o número médio de páginas dos textos tendentes à Hip. 3 dever ser, então, maior, talvez entre 12,0 e 13,0. Suficiente? Difícil afirmar. De qualquer modo, o tema oportuniza trazer ao debate uma velha questão na Fraternidade: o “maçom padrão” não gosta de ler e, por vezes, parece que não gosta de quem lê, de quem escreve, apresenta em Loja e posta (nas mídias) textos maiores do que 2 (duas) e admite no máximo 3 (três) páginas. Ora, como então estudar e compartilhar, por exemplo, o conteúdo das Instruções, como analisar e interpretar a simbologia, descobrir os véus, como contribuir para que a Ordem cumpra um dos seus principais desideratos, o que a torna singular frente às demais? E como exercer o compromisso de Mestre para além dos limites da Loja, de até aonde alcançam os ensinamentos orais? E se de um lado as citações ocupam espaço (de regra limitado pelos editores) e por isto incomodam alguns, de outro elas respaldam o autor (pelo reconhecimento da autoridade dos citados), estruturam (conceitos, trajetórias históricas, etc.) e qualificam a argumentação, elevam as discussões (a partir de contraditórios, etc.) e eventualmente, quando oportuno, contribuem para o acerto das tomadas de decisão. Fica claro, também por isso, o que distingue uma Peça de Arquitetura, lida e apresentada em Loja, de uma produção intelectual mais elaborada e enquanto produto no contexto de uma LEP. Por fim, “para dar conta do recado”, manter o foco parece ser o melhor conselho;
- já o número médio de referências/artigo/livro oscilou entre 4,1 e 14,2, tendo a média geral se estabelecido em 7,7. Muito, pouco, adequado? À guisa de comparação, os artigos da amostra B (vide acima) apresentam uma média de 19,4 referências/artigo, enquanto que os da D (idem), 20,7 referências/artigo. Os dados de C, pela sua natureza, foram excluídos desta comparação;
- enquanto que número médio de referências/página/livro variou de 0,5 a 1,1, tendo a média geral se estabelecido em 0,7 referências/página, número bem inferior, por exemplo, ao exigido às submissões à Revista Ciência & Maçonaria (Pinheiro, 2025a): “[…] um mínimo de referências de autores diferentes equivalente a, pelo menos, o mesmo número de páginas do artigo. Exemplo: um artigo de 10 páginas deve ter, no mínimo, 10 referências de autores diferentes”. Independentemente do acerto da métrica utilizada pela Revista, passível de questionamento em razão do enquadramento metodológico do caso em concreto, o fato é que ela exerce uma força positiva e indutora à leitura e à pesquisa no sentido a lograr maior qualidade técnica no produto final.
- Esse distanciamento constatado em 1.2 e 1.3 é a imagem clara e inequívoca da triste realidade apontada em 1.1 e que há tempos configura um verdadeiro círculo vicioso na Ordem: Mestres (Luzes) que não leem, não estudam, não consideram (porque ficaria constrangedor) exigir dos que lhes seguem em linha direta de sucessão e tampouco instituir como critério complementar à admissão, quer nas Lojas Simbólicas, mas também, surpresa, às LEP, daqueles que, um dia, no futuro distante, ocuparão a cadeira de Venerável. E registre-se, mais uma vez, que esse não é um achado de pesquisa, um diagnóstico de uma realidade até então desconhecida, mas antes e tão somente o retrato objetivo de uma realidade que já há tempos é bastante conhecida. Hoje, passados 15 anos de ingresso na Ordem, já posso observar e contabilizar diversas iniciativas, algumas institucionais, mas a maioria individuais, no sentido a melhorar essa realidade; todavia, me parece inequívoco que se a Maçonaria pretende se afastar da imagem de um Clube Social, o ritmo deve ser acelerado, revigorado e coordenado entre os principais agentes do ecossistema. Por fim, sobre o tema sugere-se, entre tantos, a leitura de Pinheiro (2023);
- um passar de olhos pela matriz de dados – dada a diversidade de “critérios extra normas” utilizados pelos autores não se optou, pelo risco de incorrer em erro, por promover uma totalização a exemplo das realizadas acima – evidencia uma grande diversidade de autores-fontes utilizadas pelos escritores que responderam às chamadas da amostra A: desde os clássicos (Platão, Aristóteles, etc.), passando pelos Modernos (Kant, Voltaire, J. Locke, etc.) e mais contemporâneos (Y. Harari, M. Kaku, etc.), em meio aos quais, os autores maçônicos: J. Anderson, W. Preston, A. Mackey, H. Haywood, C. Hodapp, etc. Entre os autores nacionais mais citados, desponta o Prof. K. Ismail, situação que já havia sido observada em levantamento anterior (Pinheiro, 2023a). Um ponto chama a atenção: vários autores, por já terem percorrido uma longa trajetória, acumularem produção própria, com frequência referem aos seus trabalhos já publicados, o que sinaliza estar em andamento a formação de uma massa crítica com produção continuada;
- alguns, pouquíssimos autores, apresentaram o Resumo à frente do corpo do texto – prática habitual, exigência, inclusive com a sua versão em inglês (chamado abstract) ou no idioma oficial do veículo (espanhol, francês, etc.) no caso dos periódicos acadêmicos. Trata-se iniciativa louvável, porém, quando isolada, chama a atenção do leitor: e os demais? Como todos os elementos de um texto, ele também tem a sua razão de ser, daí que é importante: primeiro, atentar para o fato de que o Resumo não é simplesmente um texto pequeno, para ser considerado enquanto tal ele deve reunir, em harmonia, determinados elementos básicos; em segundo, como consequência do item anterior, ter sempre em consideração que a sua elaboração não é de todo livre, pois encontra-se normatizada, no caso brasileiro, pela Norma ABNT 6028[3]. Por oportuno, para aqueles que desejarem qualificar e dotar os seus trabalhos de uma elegância singular, recomenda-se também consultar as Normas ABNT 6027[4], que instrui sobre a apresentação do Sumário (e da distribuição interna das seções) e, a 5892[5], que versa sobre a datação; eventualmente uma Norma remete a outra ora enumerada ou não. Finalmente,
- dois pontos chamam a atenção:
- em relação a levantamento anterior de Pinheiro (2023a) – embora as amostras em nada sejam comparáveis, tendo sido ambas de oportunidade – observa-se a maior incidência de consulta a periódicos, ora considerados em lato sensu, isto é:
- desde jornais diários: Folha e Estado de São Paulo, Gazeta do Povo, etc. É importante esclarecer que embora a Academia ofereça ressalvas contra o uso de periódicos diários comerciais, ela o admite sob condições e medidas cautelares. De outro lado, dado o histórico fechamento da Maçonaria à pesquisa, tanto interna, mas sobretudo desde externamente, é frequente encontrar textos sobre a maçonaria em periódicos acadêmicos cujos autores se valeram de informações públicas veiculadas nos jornais da época objeto de estudo, entre outras tantas fontes vide, por exemplo, o exemplar da Revista Ciência e Maçonaria que constituiu a amostra D, deste estudo;
- periódicos maçônicos nacionais, a exemplo de A Trolha, Ad Lucem, da Revista Ciência e Maçonaria, das Edições “Universum”, etc.;
- bem como internacionais, a exemplo da REHMLAC+, da Retales de Masoneria, do The Journal of Masonic Research & Letters; do I Quaderni di Ipazia;
- e outros com cobertura nos mais variados domínios – filosofia, política, gestão, etc. – nacionais e internacionais: Cadernos de Ética e Filosofia Política; Prometeus – Filosofia em Revista; Revista Culturas Jurídicas; American Behavioral Scientist; Harvard Business Review; Scandinavian Political Studies e outros;
- o segundo também diz respeito ao crescimento, acentuado, dos blogs e sites como fontes de consulta, notadamente o “Freemason” e a “Bibliot3ca Fernando Pessoa”, mas também “O Ponto Dentro do Círculo” e o “No Esquadro”. Trata-se de fenômeno a ser melhor estudado, mas a frequência (o Freemason, por exemplo, publica vários textos/dia), a agilidade (o tempo entre o encaminhamento e a veiculação é bem menor do que, por exemplo, o dos demais veículos com frequência fixa – mensal, bimestral, anual, etc.), a diversidade (no que refere aos temas, à origem das matérias, links para outras publicações – revistas, blogs, etc. – maçônicas, etc.) e o alcance (atinge o público-alvo estabelecido em outros países) parecem contribuir para essa escalada a ponto de, no futuro, poderem vir a ser as fontes preferenciais, tanto para a submissão quanto para a consulta realizada pelo autores nacionais. Mas os mesmos atributos que (supõe-se) têm contribuído para o crescimento dos blogs, sobretudo a agilidade e a frequência, podem vir a comprometer esta trajetória se os periódicos acadêmicos e os editais (a exemplo dos anualmente publicados pela Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil) passarem, por exemplo, a exigir que as citações tenham como fonte autores-textos submetidos à chamada “avaliação por pares” na modalidade double blind review. Talvez fosse o caso de esses canais aproveitarem o know-how e a penetração alcançada, sobretudo, mas não exclusivamente nos países de língua portuguesa, para criarem, por exemplo, algo como o “Freemason Academic” e o seu correlato pela “Bibliot3ca Fernando Pessoa”. De outro lado, não surpreenderia que, a exemplo da Revista Ciência & Maçonaria, outros veículos de perfil acadêmico-científico criassem acessos universais via plataformas na web; por fim,
- dada a dificuldade do maçom brasileiro em não apenas ler[6], mas também adquirir (importar) publicações de outros países e idiomas (devido ao elevado custo – nem tanto dos livros, mas do frete e dos impostos), a oferta de traduções disponibilizadas pelos blogs (Freemason e Bibliot3ca Fernando Pessoa) pode ser um elemento adicional e responsável pelo crescimento observado; ademais, mantém os leitores-assinantes permanentemente atualizados com o que é notícia no universo maçônico nos demais países, sobretudo na Europa.
- em relação a levantamento anterior de Pinheiro (2023a) – embora as amostras em nada sejam comparáveis, tendo sido ambas de oportunidade – observa-se a maior incidência de consulta a periódicos, ora considerados em lato sensu, isto é:
Em síntese, apesar dos senões – e cabe a esta Série apontá-los em razão do seu caráter didático-pedagógico e de compartilhamento de experiências – há indícios de que o ambiente de produção intelectual na Maçonaria brasileira experimenta uma efervescência positiva. A ver.
Sendo este o terceiro número da Série LEP que abordou especificamente a temática das Citações e das Referências Bibliográficas na produção intelectual maçônica e escrita, julga-se que chegou o momento de interrompê-la (sim, porque ela não se esgotou!) para abrir o espaço a outros temas igualmente importantes no contexto das Lojas de Estudos e Pesquisas.
Finalmente, é chegada a hora de declarar o terceiro objetivo prenunciado à p. 2 deste texto: em se tratando de empreendimento no âmbito das LEP, procurou-se demonstrar que, mesmo no deserto de possibilidades oferecidas pelas Potências, existe espaço para a pesquisa maçônica no Brasil para além dos aspectos meramente históricos e culturais. E para tal se fez uso da própria temática (Citações e Referências Bibliográficas) a partir de algumas bases de dados selecionadas por oportunidade, amostras de ocasião; assim, conforme visto, foi possível extrair informações (como os maçons estão escrevendo, quem eles estão lendo, quais as fontes têm consultado, se distinguem ou não textos acadêmicos dos não acadêmicos, se tem havido mudança de comportamento, etc.) de onde, como se diz, “menos se esperava”. Ademais, também restou demonstrado que se houvesse mais zelo dos autores no que refere aos dados primários (registros das citações e referências bibliográficas), não só uma maior quantidade poderia ter sido alcançada, como também a qualidade das informações poderia ter sido refinada, quiçá, provavelmente, para o benefício de todos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMVBL – Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras. Os Desafios da Maçonaria na Contemporaneidade: tecnologia, olhares e impactos na sociedade. São Paulo: Novo Milênio, 2025. ISBN 978-65-83652-02-7.
ASSIS, Manoel W. de. A Etnografia dos Pedreiros Livres da Loja Cavaleiros de Salomão. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências das Religiões) – PPG em Ciências das Religiões, Centro de Educação, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
LEITE, Hélio P.; BEZERRA, Luiz A. de H. (Orgs.). Maçonaria & Democracia. Brasília, DF: A Gazeta Maçônica, 2024. ISBN 978-85-98961-40-80.
LEITE, Hélio P.; ALTAFIM, Ruy A. C. (Orgs.). O Futuro da Maçonaria. São Paulo: A Gazeta Maçônica, 2023. ISBN 978-85-98961-35-4.
PINHEIRO, Ivan A. Sobre as lojas (maçónicas) de estudos e pesquisas – IV. Disponível em Bibliot3ca Fernando Pessoa: https://bibliot3ca.com/wp-content/uploads/2025/05/sobre-as-lojas-maconicas-de-estudos-e-pesquisas-iv.pdf. Publicado em 17.05.25, acesso em 02.06.25.
______ . Sobre as lojas (maçónicas) de estudos e pesquisas – V. Disponível em Bibliot3ca Fernando Pessoa: https://bibliot3ca.com/sobre-as-lojas-maconicas-de-estudo-e-pesquisas-v/. Publicado em 26.05.25a, acesso em 02.06.25.
______ . O Maçom que lê um só livro … Disponível em Freemason: https://www.freemason.pt/o-macom-que-le-um-so-livro/, publicado em 25.04.23. Também disponível em Bibliot3ca Fernando Pessoa: https://bibliot3ca.com/o-homem-macom-de-um-livro-so/. Acesso em 02.06.25.
______ . A Produção Intelectual Maçônica no Brasil – um recorte a partir dos concursos promovidos pela CMSB em 2020, 2021 e 2022 – I/II. Edições “Universum”, Ed. 45, janeiro de 2023a, p. 25-56. Porto Alegre, RS: GLMERGS, Loja de Estudos e Pesquisas Universum n0 147.
______ . A maçonaria e o seu ecossistema. Disponível em Freemason: https://www.freemason.pt/a-maconaria-e-o-seu-ecossistema/. Publicado em 29.04.23b, acesso em 01.06.25.
REVISTA CIÊNCIA E MAÇONARIA. Revista Ciência e Maçonaria, v. 11, n. 1, 2024. Disponível em: https://www.cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem/index. Acesso em 01.06.25.
SILVA, Michel (Org.). Maçonaria no Brasil – história, política e sociabilidade. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2015. ISBN 978-85-8148-876-9.
Notas
[1] MM, Pesquisador Independente, e-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br. Porto Alegre-RS, 03.06.25. O autor não só agradece a leitura e as considerações do Irmão Lucas V. Dutra, Mestre Maçom do Quadro da ARLS Presidente Roosevelt, 75, Or. de São João da Boa Vista, jurisdicionada à GLESP – Psicólogo, Professor Doutor em Psicologia, Especializado em Maçonologia (UNINTER), e-mail: dutralucas@aol.com, como também reafirma a sua responsabilidade pelo conteúdo, erros e omissões remanescentes.
[2] Por certo, conforme já esclarecido, que a condição de cientificidade não se esgota nas Citações e nas Referências Bibliográficas.
[3] Disponível em: https://www.ufrgs.br/cursopgdr/download/NBR6028.pdf. Acesso em: 01.06.25.
[4] Disponível em: https://cnm.paginas.ufsc.br/files/2020/02/ABNT-NBR-6027.pdf. Acesso em: 01.06.25.
[5] Disponível em: https://funesa.se.gov.br/wp-content/uploads/2022/10/ABNT-NBR-5892-Representacao-e-formato-de-tempo-Datas-e-Horas.pdf. Acesso em: 01.06.25.
[6] Realidade também já constatada em Pinheiro (2023a).

