Tradução José Filardo
12 de novembro de 2008
Sua mais recente alegação de que o casamento gay causa poligamia é tão absurda quanto ofensiva. Onde eles vão parar?

Tendo em conta os ganhos impressionantes e devastadores da igualdade no casamento, não apenas nas eleições dos Estados Unidos na semana passada, mas na França e Espanha, era inevitável que os homens de saias longas e chapéus engraçados ficassem de cabelo em pé. Mas, o que é mais ridiculamente engraçado sobre a explosão mais recente do Vaticano contra os direitos GLBT é que ele não pode deixar de usar um dos argumentos mais antigos, mais idiotas contra eles no mundo.
Em um editorial neste fim de semana, o principal porta-voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi, o cara que acha que a crise generalizada de abuso sexual da igreja precisa ser vista a partir (não estou brincando) “do contexto mais geral da secularização” — afirmou que “o casamento monogâmico entre um homem e uma mulher é uma conquista da civilização”. E, em seguida, ele acrescentou, “se não, por que não contemplar também a poligamia livremente escolhida e, evidentemente, não discriminar a poliandria?” Por que não? Se dois homens podem prometem seu amor em uma união reconhecida legalmente, o que impede uma mulher de se casar com uma fatia de queijo, não é? Quero dizer, onde acaba?
O Padre Lombardi não é a primeira pessoa com a cabeça cheia de lógica defeituosa a cantar o argumento “Esta ladeira! É tão escorregadia!” , é claro. No mês passado, a deputada republicana americana Judy Biggert declarou, quando pressionada sobre uniões do mesmo-sexo em uma parada de campanha, “Você sabe, nós não temos a poligamia e bigamia e todas estas coisas no governo federal. São os Estados que cuidam disso. ” A propósito; ela perdeu a eleição.
E por que limitar a comparação de uniões de pessoas do mesmo sexo à poligamia? Por que não, afinal, qualquer combinação maluca? Em setembro, o senador australiano Cory Bernardi demitiu-se após ter dito, “O próximo passo, francamente, é ter três ou quatro pessoas que se amam podendo entrar em uma União permanente, aprovada pela sociedade – ou qualquer outro tipo de relacionamento… Existem ainda algumas pessoas sinistras por aí… [que] dizem ser OK ter relações sexuais consensuais entre seres humanos e animais. Será esse um passo futuro? No futuro, vamos dizer: ‘Estas duas criaturas se amam, e talvez eles possam ser unidas em uma união’? Eu acho que essas coisas são o próximo passo.” E no ano passado, em uma peça chamada “Se casamento de mesmo-sexo, por que não a poligamia?” no American Conservative, Rod Dreher humoristicamente argumentou, “Por que, por exemplo, um irmão e uma irmã que concordaram em submeter-se a esterilização como uma condição para sua união conjugal poderiram ter negado o direito de casar, se for seu desejo?” Este é o modelo de como estas pessoas pensam. Direitos civis? O que vem a seguir? Cães e gatos, vivendo juntos! Histeria em massa!
Para aqueles que pensam que uma união amorosa entre duas pessoas é como ter uma sala cheia de irmãs esposas ou o que seja, deixe-me humildemente sugerir: menos, menos…. Conforme Andrew Sullivan pediu há muito tempo, “Poupe-nos este ponto bizarro de que nenhuma nova linha pode ser traçada no acesso ao casamento — ou então vale tudo e, antes que nós saibamos onde estamos, os homens vão ser casar com seus cães. É intelectualmente ridículo.” Em um ensaio do Washington Post no mês passado, John Jr. de Witte, estudioso de religião e lei da Universidade Emory explicou — usando evidências e ciência! — que a natureza sugere que arranjos polígamos produzem “rivalidade e discórdia em casa,” em que “as crianças tem que trabalhar duro para conseguir atenção, carinho e recursos que são dissipados.” Ele acrescentou, “Mulheres e crianças da poligamia moderna são, com frequência mal educados, empobrecidos e cronicamente dependentes da previdência social.” A poligamia produz a escassez e competição. Relações homossexuais não. Talvez por isso não exista nenhuma enorme parada do orgulho polígamo todo mês de junho.
Ninguém espera que a Igreja Católica, com sua longa história de medo e animosidade contra os gays, bem como seu sorrateiro histórico de culpá-los por seus próprios crimes mais desprezíveis, levante a bandeira do arco-íris em futuro próximo. Abrir os corações e mudar normas antigas vai levar muito tempo e um esforço incrível. Mas, é encorajador que aqui nos Estados Unidos, sejam os católicos que ajudaram a empurrar Barack Obama em direção de vitória na semana passada, derrotando o Mitt Romney por 50 a 47 por cento. Católicos que acreditam na igualdade do casamento – ah! e os direitos reprodutivos de nossos concidadãos.
Por isso, embora aqui em casa os bispos possam vociferar “contra todas as formas de seu enfraquecimento” do matrimônio e lá no Vaticano eles possam tentar incutir medo de que direitos iguais vão levar a um surto de haréns, aqueles de nós aqui na terra chamada Realidade não estamos perdendo o sono. Francamente, se você está procurando um motivo para se opor à igualdade do casamento e os direitos fundamentais e dignidade de seus companheiros humanos, você pode muito bem ficar com o , “Não sei, isso só me faz sentir nojo, Eu acho.” Casamento homossexual não leva à poligamia. E, adivinhem? Ele também não corrói uniões heterossexuais. E se você quiser sugerir outra forma, de toda forma, procure bem em seu raciocínio preguiçoso e simplesmente tente prová-lo.
Mary Elizabeth Williams é escritora da equipe de Salon e autora de “Gimme Shelter: My Three Years Searching for the American Dream.” Siga-a no Twitter:@embeedub.
publicado em : http://www.alternet.org/civil-liberties/vatican-hates-gays?akid=9677.253365.tqzfTe&rd=1&src=newsletter743582&t=10&paging=off
